Talvez um dos grandes aprendizados que adquirimos durante a pandemia foi a eficácia das máscaras. Já assimiladas culturalmente por alguns povos asiáticos, mas, até meados do ano passado, a própria Organização Mundial da Saúde ainda não recomendava oficialmente o seu uso. Mas, logo o seu papel ficou claro. Numa doença altamente transmissível, de evolução imprevisível e sem tratamento, a transmissão por via aérea precisava de barreiras que reduzissem a sua propagação. Além dos trabalhos científicos que mostram sua eficiência, é visível na rotina de consultório a sua importância. Costumo brincar com meu filho, também pneumologista, que, se as pessoas continuarem a usar máscaras depois da pandemia, precisaremos mudar de especialidade.
Máscaras funcionam. Porém, dado o grande impacto das vacinas na redução e gravidade dos casos das infecções por coronavírus, já está na hora de pararmos com seu uso? A experiência de outros países que nos precederam com altos níveis de vacinação mostra que ainda não. Nos EUA, contra a opinião da maioria dos epidemiologistas, o presidente Biden liberou o uso de máscaras. Sabemos no que deu: as infecções aumentaram muito, a mais transmissível variante Delta assumiu o posto e a doença voltou com força. O mesmo aconteceu em Israel e em diversos países europeus.
Aqui, com vacinação atrasada em relação a esses países, apesar de algumas posições políticas contrárias, a máscara e o afastamento físico foram nossas melhores armas. Interessante notar que esse é um dos motivos que os especialistas usam para explicar o menor impacto da variante Delta em nosso país. O não uso de máscaras em ambientes externos por pessoas vacinadas, desde que não haja aglomerações, parece seguro. O problema quando se coloca isso como lei é a sensação do “já passou”. Tomara que sim, mas talvez ainda tenhamos um bom caminho a percorrer.