Mutações virais são normais e extremamente frequentes. Mais comuns ainda quando há código genético formado por RNA, como é o caso do novo coronavírus.
Geralmente, essas mutações, que ocorrem aleatoriamente, não modificam as características básicas do vírus.
Mas um conjunto de várias mutações pode dar origem a novas cepas, que, por apresentarem vantagens sobre as originais, acabam se tornando as dominantes.
As novas e as “velhas” vacinas
Tradicionalmente, as vacinas eram feitas com vírus inativados ou atenuados, que, após serem misturados a conservantes e adjuvantes – substâncias com a função de intensificar a resposta imune – eram aplicados nas pessoas.
Têm como desvantagem a necessidade de formação de imensas colônias de vírus, para posteriormente serem inativados.
A vantagem, além de décadas de uso, é que o vírus é introduzido por inteiro, com diversos pontos de ancoragem (proteínas) que podem ser reconhecidos pelo sistema imunológico. Havendo mutação numa dessas proteínas, outras continuam sendo distinguidas – e a imunidade se mantém.
A urgência desencadeada pela pandemia tirou dos laboratórios de pesquisa uma tecnologia que já vinha sendo testada há vários anos – vacinas feitas por engenharia genética. Mais facilmente manufaturadas, sem a necessidade das gigantescas criações de vírus e mais prontamente modificáveis, representam o que há de mais avançado na fabricação de vacinas.
Duas técnicas mostravam-se mais promissoras, o que foi comprovado na eficácia que apresentaram quando submetidas aos ensaios clínicos: mRNA e vetor viral. Das conhecidas, Pfizer e Moderna são vacinas mRNA, enquanto a Oxford/Astra Zeneca usa o vetor viral.
De formas diferentes, ensinam as nossas células a gerarem proteínas que serão reconhecidas pelo sistema imunológico – como se um pedacinho do vírus tivesse sido colocado à disposição para que nosso organismo pudesse reconhecer o vírus e montar toda a estratégia de defesa.
Essas novas técnicas induzem a síntese de uma única molécula – a proteína S (de Spike – a molécula que forma as espículas que dão ao coronavírus o aspecto característico).
O problema é que se essa proteína viral sofrer mutações importantes, pode deixar de ser reconhecida pelo sistema de defesa – e lá se vai a imunidade.
Das cepas originadas pelas inúmeras mutações que o SARS-CoV-2 sofreu nesses meses de pandemia, três trazem maior preocupação no momento: a variante britânica, a sul-africana e agora a de Manaus, todas já devidamente reconhecidas por sequenciamento genético.
Usando como referência as FAQs publicadas pelos editores do New England Journal of Medicine, o que se tem de concreto até agora?
Estudos preliminares (ainda não revisados por pares e não publicados) sugerem que as vacinas podem ser mais protetoras contra algumas variantes do vírus.
Uma limitação importante a ser considerada nesses estudos é que a proteção induzida pelas vacinas é mais complexa do que simplesmente a medida pela resposta dos anticorpos.
Em um dos estudos publicados, os níveis de anticorpos neutralizantes produzidos pela vacina da Moderna contra a variante B.1.351 (a sul-africana) foi 6 vezes menor do que o induzido pelas cepas tradicionais. Apesar da farmacêutica afirmar que esses títulos ainda são protetores, eles já estão trabalhando num reforço especificamente visando essa variante.
Baseado num estudo pequeno, não revisado, que mostrou menor eficácia da vacina Oxford/Astra Zeneca (a mesma fabricada pela Fiocruz) contra a variante sul-africana, responsável por 90% dos novos casos naquele país, o governo daquele país resolveu suspender sua aplicação até maiores esclarecimentos.
Ainda não temos estudos específicos sobre a eficácia das vacinas contra a variante de Manaus.
Na dúvida, dezenas de países fecharam a fronteira com o nosso país, entre eles EUA, Canadá, Reino Unido e 27 países da União Europeia.
Por aqui, nenhum cuidado em especial para evitar sua propagação.