No início do século passado as principais causas de morte eram, de longe, as doenças infecciosas. Pneumonia, tuberculose e gastroenterite matavam a maior parte das pessoas, muitas vezes ainda crianças. “Quem tem um não tem nenhum”, era um provérbio da época, que retrata o dado demográfico de uma mortalidade infantil ao redor de 50% e nos recorda que, para ter um filho, as famílias deviam colocar no mundo pelo menos dois.
As melhorias nas condições sanitárias, os tratamentos efetivos e as vacinas foram mudando gradualmente este cenário. No Brasil e no mundo. Hoje as principais causas de mortes são as doenças cardiovasculares, entre elas o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral. Na sequência as mortes provocadas por câncer. Um pouco abaixo, os homicídios - no ano passado tivemos pouco mais de 40 mil assassinatos no país - uma das mais altas taxas por habitante do mundo, segundo a
Organização Mundial da Saúde. Para chamar a atenção sobre a magnitude das doenças cardiovasculares no país, a Sociedade Brasileira de Cardiologia criou o Cardiômetro.
No modelo do Impostômetro, que fornece em tempo real o que o país está arrecadando (este ano já um pouco mais de 1,3 trilhão de reais), busca chamar a atenção sobre o número absurdo de mortes.
Como a maior parte destas perdas podem ser evitadas ou postergadas, este instrumento, além de mostrar o tamanho do problema, chama a atenção sobre importância do tratamento dos fatores modificáveis de risco – obesidade, sedentarismo, hipertensão arterial, diabete mellitus, tabagismo, entre outros. Acessando hoje o Cardiômetro vemos que nos últimos 22 dias morreram 23.800 pessoas por todas as doenças cardiovasculares no Brasil – infarto, arritmias, insuficiência cardíaca, miocardite, acidente vascular isquêmicos e hemorrágicos etc. Dividindo pelo número de dias, em torno de 1000 mortes diárias – a média histórica dos últimos anos.
Aproveitando, uma das afirmações que mais circulam nestes meses de pandemia é que morrem muito mais pessoas infartadas ou de câncer do que por complicações associadas ao novo coronavírus.
Há alguns meses morrem tantas ou mais pessoas pelo Covid-19 no Brasil do que todas – todas - as doenças cardiovasculares. E muito mais do que de câncer, doenças respiratórias crônicas, acidentes ou homicídios.
No texto introdutório do Cardiômetro a Sociedade de Cardiologia afirma que criou este medidor porque, apesar das doenças cardiovasculares serem as que mais matam no país, muita gente não se preocupa. Com o coronavírus também não.
Blog Renato Matos
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