Na época da faculdade, meados da década de 80, tínhamos aulas de psiquiatria na Clínica Olivé Leite, conhecida em Pelotas como Roxo. Este termo vinha do antigo nome, Sanatório Dr. Henrique Roxo, apesar de alguns fazerem referência as cores dos altos muros. Na ocasião a política para tratamento de parte dos doentes mentais eram internações prolongadas. Era o nosso antigo Rio Maina.
Nosso professor era o Dr. Sérgio Olivé Leite, filho do fundador do manicômio.
Tínhamos pouco mais de 20 anos. Aquela experiência era esperada, mas temida. Como lidar com pessoas que pareciam tão diferentes, numa época em que aquela especialidade dispunha de tão poucos recursos?
Até onde sabíamos não eram mais utilizados eletrochoques, mas estava escrito que em 1949 Avelino Costa trouxera de Chicago para Pelotas esta técnica – “achavam” naquela época que era um tratamento eficaz. Ainda não havia surgido a medicina baseada em evidências, o que valia era a experiência de médicos bem considerados pela comunidade – científica e local.
As aulas eram frequentemente interrompidas por enfermeiras que vinham dizer que determinado doente estava muito agitado, outros, que por seu estado depressivo, não queriam sair do quarto ou alimentar-se.
E, inexperientes, ficávamos curiosos quando nosso professor tranquilamente dizia: pode dar aquela dose do Materiner. Dependendo da intensidade dos sintomas mudava a cor prescrita, mas sabíamos que os casos graves recebiam o Materiner Vermelho. E como geralmente a enfermeira não voltava, entendíamos que o doente havia melhorado.
Na sequência do curso aprendemos que Materiner significava Matéria Inerte – cápsulas de talco colorido. Ali tivemos a primeira experiência prática do poder do placebo.
Quem nunca recebeu da mãe um copo de água com açúcar, para acalmar “os nervos”?
Placebo por definição é qualquer substância ou tratamento inerte, empregado como se fosse ativo. Mas que realmente provoca um efeito positivo, com real melhora dos sintomas.
Mas nada a ver com o coronavírus.