A gripe espanhola de 1918 é considerada uma das piores pandemias da história. Estima-se entre 20 e 50 milhões as mortes no mundo – para comparação, estamos alcançando agora o primeiro milhão com o coronavírus. Chegou no Brasil por Salvador, onde havia aportado o navio britânico Demerara, com vários infectados a bordo. Rapidamente espalhou-se pelo país.
No auge da pandemia, na cidade de São Paulo - que possuía na época 500 mil habitantes - morriam em torno de 250 pessoas por dia. No Rio de Janeiro, em meados de outubro, foram enterrados em apenas três dias 1087 pessoas. Os detentos eram “convocados” para proceder ao transporte e enterro dos diversos corpos que permaneciam insepultos nas ruas da cidade.
Assim como agora, as pessoas achavam impossível não ter algum medicamento que pudesse prevenir ou curar a infecção. Estava pronto o espaço para a venda e abuso de produtos inúteis, viabilizado pelo pânico das pessoas.
Contra a espanhola, como era conhecida, uma alternativa era o Extrato Tonsilar do Instituto Butantã, que também oferecia o Extrato Suprarrenal e o Óleo Canforado. De outros laboratórios eram recomendados a Água Purgativa Queiroz e as Pílulas Sudoríficas de Luiz Carlos, estes como preventivos e curativos.
A doença poderia ser enfrentada também com o Salkinol número 1. Mas, havendo tosse, o indicado era o Salkinol número 2.
Um dos medicamentos mais procurados, anunciado como “o remédio da gripe espanhola”, a Grippina era produzida pelo laboratório de Alberto Seabra, famoso médico homeopata paulista. A Bayer trouxe a fenacetina, sintetizada na Alemanha poucos anos antes – “tiro e queda contra a influenza”.
Hoje proibida na maioria dos países por seus efeitos cancerígenos e outros graves efeitos colaterais, a fenacetina atualmente é a substância mais misturada com a cocaína no Brasil – barata, de consistência e cor semelhantes, aumenta o volume da droga sem chamar a atenção.
Como nos conta João Paulo Martino, no seu livro “1918. A Gripe Espanhola – os Dias Malditos” o Serviço Sanitário utilizava espaço nos jornais para divulgar os cuidados que a população deveria seguir. No boletim de 16 de outubro era publicado: “Para evitar a influenza, todo indivíduo deve fugir de aglomerações, principalmente à noite, não frequentar teatros, cinemas, não fazer visitas e tomar cuidados higiênicos com as mucosas”.
Inacreditavelmente, um século depois, a história se repete.