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Raiva contra a vacina

Por Dr. Renato Matos 29/07/2020 - 10:19 Atualizado em 29/07/2020 - 10:20

Já percebendo que não será simples sair desta pandemia, as pessoas buscam insistentemente saber quando teremos uma vacina eficaz e disponível. 

Moderna, Sinovac e Oxford são as marcas do momento. Mas existem quase 200 vacinas sendo testadas contra o coronavírus. A sua descoberta certamente ficará como um marco na história – como uma nova corrida espacial, laboratórios brigando para ser o primeiro a “pisar na lua”.

No meio de tanta expectativa, chama a atenção e preocupa o crescente movimento antivacina. 

Que não é novo.

A primeira vacina eficaz foi contra a varíola.

Em 1796, o médico britânico Edward Jenner imunizou um menino de 8 anos, utilizando o pus de uma ordenhadeira que apresentava uma forma branda da doença, a varíola bovina.

Aí começou a briga.

Naquela época alguns já não aceitavam a técnica. Não só por motivos médicos ou sanitários. A vacina seria “uma tentativa dos homens se oporem às punições de Deus por seus pecados”.

Alguns anos atrás Andrew Wakefield publicou um estudo na revista Lancet, levantando a possibilidade de um "vínculo causal" da vacina MMR, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba, com autismo.Descobriu-se depois que Wakefield estava envolvido com um pedido de patente para uma vacina contra sarampo que concorreria com a MMR. Outros autores do artigo admitiram depois que diversos dados do trabalho haviam sido falsificados. Acabou tendo seu título de médico cassado.

Mas o estrago estava feito. E as redes sociais não perdoaram.

Teorias da conspiração e desinformação circulam livremente. Até Bill Gates entrou agora no rolo – estaria ajudando a desenvolver vacinas que inoculariam microchips na população.

Bobagem e coisa de ignorantes?

Artigo recente (“Mesmo o Covid 19 não pode matar o movimento antivacina”) publicado no British Medical Journal mostra que entre 1000 pessoas entrevistadas em Nova Iorque somente 59% aceitariam tomar a vacina. E apenas 53% a dariam para seus filhos.

Antony Fauci, o epidemiologista norte americano que orienta presidentes desde a década de 80 – e tenta segurar Donald Trump - já fez as contas: se a vacina for 70 a 75% efetiva e 1/3 dos americanos se recusarem a usá-la, a imunidade de rebanho será improvável.

E todo o imenso trabalho poderá ser desperdiçado.
 

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