O nosso código de ético é enfático – “é proibido ao médico prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente”. Sem espaço para atendimento virtual.
A pandemia levou o Conselho Federal de Medicina a flexibilizar esta norma e implementar em caráter emergencial e temporário a telemedicina no país. A liberação ocorreu em 23 de março - tínhamos então 34 óbitos pelo novo coronavírus.
Os evidentes riscos do atendimento presencial para os pacientes e profissionais da saúde tornou a decisão inevitável. E nós que havíamos aprendido que o exame físico era inseparável da consulta médica, tivemos que nos adaptar.
Melhor que na nossa especialidade quase sempre o diagnóstico é inferido ao final da anamnese - a fase inicial da consulta onde ouvimos, de forma padronizada, a história do paciente.
Logo surgiram as plataformas de atendimento que inclusive permitem a gravação de toda a consulta, gerando a necessária segurança jurídica. O agendamento é feito da forma tradicional, com a secretária no consultório.
Combinado o horário, a conexão é feita através do endereço de e-mail. Aí a primeira surpresa nesta medicina virtual – muitas pessoas não têm e-mail. Buscamos um emprestado. Mas as vezes só o WhatsApp mesmo – esse é universal, até os
mais velhos se viram bem com ele.
Sempre no início da consulta uma preocupação – a conexão vai dar certo? O paciente vai saber acessar a plataforma? A tranquilidade chega quando vemos e ouvimos o paciente – o sistema está funcionando. Daí para a frente é como se estivéssemos no consultório.
É fácil estabelecer a empatia - relação médico paciente independe da forma de conexão. A expressão facial e o padrão respiratório do paciente já nos permitem avaliar de pronto a gravidade da situação.
A falta do exame físico pode ser parcialmente substituída por uma anamnese mais acurada e detalhada. Os exames laboratoriais e radiológicos, quando necessários, são solicitados e os resultados rapidamente acessados.
Em novo contato virtual explicamos as condutas a serem tomadas e encaminhamos o tratamento. A receita chega diretamente no celular do paciente que, apresentando o QR code na farmácia, retira seus medicamentos. Diferente da consulta tradicional, o que realmente muda é a frequência dos retornos.
Especificamente no caso dos pacientes com coronavírus, o acompanhamento é diário até a resolução do processo. Método laborioso, mas fundamental numa doença em que tudo pode mudar em poucas horas.
Com suas limitações a telemedicina tem muito a oferecer. Bem regulamentada e feita de forma ética deve permanecer após a pandemia.