Alguns dizem que as medidas mais rigorosas adotadas em nosso estado no início da pandemia só atrasaram a chegada para valer do coronavírus – seria preferível ter logo enfrentado o problema, sem o tal do achatamento da curva.
Será?
Compartilho a opinião de vários especialistas – nenhum de nós viveu uma situação tão dramática, tão fora de controle. O coronavírus nos pegou totalmente vulneráveis. Os conhecimentos foram surgindo em tempo real, quando já estávamos tratando pacientes extremamente graves. Informações vindo de todos os lados. Das fontes tradicionais às mais bizarras.
Nós, profissionais da saúde, aprendemos a nos proteger melhor. Estamos nos infectando e morrendo menos. Logo compreendemos que não estávamos lidando apenas uma doença do aparelho respiratório – não era só uma pneumonia viral. O coronavírus traz também importantes alterações no sistema de coagulação do sangue – trombos se alojando em vasos pulmonares eram corresponsáveis pela brutal insuficiência respiratória.
O uso correto de anticoagulantes melhorou - e muito - o prognóstico destes doentes.
Fomos reconhecendo – e apreendendo a manejar - manifestações cardíacas, neurológicas, gastrointestinais e renais. Percebemos a imensa cascata inflamatória. Na tentativa de vencer o vírus o organismo lança mão de diversas substâncias que podem se voltar contra células saudáveis.
Nesta linha, naqueles pacientes que precisam de oxigênio, o uso da dexametasona - um corticoide barato e antigo, desenvolvido em 1957 – reduziu a mortalidade em 30%. Nenhum outro medicamento até agora mostrou eficácia comparável na redução do número de mortes.
O uso de soro de convalescente, tratamento centenário, voltou à tona, apesar de resultados ainda discutíveis.
A utilização correta de técnicas de ventilação mecânica - muitas otimizadas durante a pandemia – e o treinamento das equipes, salvou milhares de pessoas. Uma análise recente de 24 estudos observacionais, publicado no jornal Anaesthesia, mostrou que a taxa de mortalidade em pacientes com Covid19 que precisaram de atendimento em unidades de cuidados intensivos, caiu de 60 para 40% de março até maio deste ano. Bom, mas uma taxa ainda muito alta comparada com os 20% observados em outras pneumonias virais.
E, sim, aprendemos que medidas de isolamento físico, higiene pessoal e uso adequado de máscaras podem fazer uma imensa diferença, permitindo inclusive que voltássemos a trabalhar com maior segurança.
Este tempo também nos deixou mais perto de uma vacina que pode virar o jogo definitivamente a nosso favor.
Sem dúvidas, está valendo a pena.