Cada coronavírus contém quase 30.000 letras de RNA em seu código genético. Aí estão as informações que permitem ao vírus infectar células e sequestrá-las para fazer novos vírus.
A multiplicação viral se faz através de cópias, teoricamente idênticas, de seu RNA.
Quando mais se multiplica, maior a probabilidade de cometer erros ao copiar essas informações – são as chamadas mutações.
Essas mutações são eventos normais dentro da biologia evolucionária dos vírus. São aleatórias: algumas os tornam mais fracos, enquanto outras os deixam mais aptos a proliferar ou causar mais infecções.
Diversas mutações terminam por gerar uma nova variante e as mais agressivas são adequadamente chamadas “de preocupação”.
Em publicação de 28 de abril, o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças publicou o resultado de um estudo realizado em 7 países do bloco.
O estudo foi conduzido entre outubro de 2020 e meados de março de 2021.
Foram analisados 19.995 casos de pessoas infectadas com as variantes de preocupação da época – a britânica (B.1.1.7), a sul africana (B.1.351) e a P1, a variante brasileira.
Comparando com pessoas infectadas com o vírus sem essas mutações, o risco de hospitalização para a variante britânica foi 1,7 vezes maior; para a sul africana, 3,6 vezes maior; e para a P1, 2,6, vezes maior.
Também houve aumento na necessidade de atendimento em unidades de tratamento intensivo: 2,3 para a britânica, 3,3 para a sul africana e 2,2 para a P1.
Esses achados salientam o risco de formas severas da doença associado a essas variantes e enfatizam a necessidade de rápida cobertura vacinal associada à contínua aderência às conhecidas medidas sanitárias para prevenção da disseminação e do surgimento de novas variantes, que podem se tornar “de preocupação”.
Variantes circulantes no país
A Rede Genômica Fiocruz, formada por grupo de pesquisadores que tem como foco atual o estudo do genoma do Sars-CoV-2, relatou recentemente que existem em circulação no país 92 cepas do SARS-CoV-2.
A prevalente é a variante amazônica P1, detectada na maioria das unidades da federação, seguida pela variante inglesa, a B.1.1.7.
A preocupação do momento– a variante indiana
Uma nova variante do SARS-CoV-2, denominada B.1.617, detectada recentemente na Índia, está sendo acompanhada com preocupação pelos organismos internacionais.
Apesar de não haver comprovação de que seja mais transmissível ou mortal, parece estar por trás do aumento exponencial de casos de Covid-19 na Índia nas últimas semanas.
Diferente de outras variantes de preocupação, carrega não apenas uma, mas duas mutações na proteína Spike – aquela responsável pela penetração do vírus nas células.
Essa dupla mutação também foi associada à menor capacidade de neutralização do coronavírus, tanto por anticorpos, como pelos linfócitos T, os principais responsáveis pela imunidade adquirida.
Isso significa que pessoas vacinadas ou que já tenham sido contaminadas podem estar menos protegidas contra a variante indiana. É a temida mutação de escape.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou no dia 27 passado que a variante indiana do novo coronavírus já foi detectada em pelo menos 17 países ao redor do mundo.
Vacinas de viagem
Com maiores parcelas da população mundial vacinadas, abre-se a possibilidade da retomada das viagens turísticas.
No entanto, países e/ou blocos de países, como a União Europeia, planejam restringir a entrada de viajantes vacinados com imunizantes não aprovados em seus territórios.
Seguindo essa corrente de pensamento, os vacinados com a Coronavac não teriam acesso a países da União Europeia, nem aos EUA.
Essa vacina hoje está aprovada na China e tem uso emergencial permitido no Azerbaijão, Chile, Colômbia, Egito, Hong Kong, Uruguai, México, entre outros.
Os vacinados com a Oxford/AstraZeneca teriam maior possibilidade de escolha: seu uso está liberado na União Europeia, Canadá e dezenas de outros países.
Mas não ainda nos EUA.