A manhã nublada de segunda-feira era de uma cidade parada em torno de dois objetivos: limpar e recomeçar. Sangão, a 34 quilômetros de Criciúma, foi o lugar mais castigado com o temporal da última sexta-feira no sul de Santa Catarina. "Foram mais de 200 milímetros em poucas horas, não tinha como resistir", lamentou o prefeito Dalmir Cândido, com semblante carregado e trabalho multiplicado desde então.
O prefeito formalizou nesta segunda-feira, após reunião de balanço dos estragos com o secretariado, o decreto de situação de emergência, avalizado pela Defesa Civil estadual que assumiu o compromisso de se desdobrar para agilizar a liberação de apoio. "Não temos como calcular os prejuízos ainda", comentou, enquanto contava que sua residência virou ponto de apoio informal para donativos. "As pessoas estão indo lá entregar agasalhos para quem precisa. Minha esposa está organizando a distribuição".
Não é para menos. Sangão precisa de ajuda. Tem moradores que perderam literalmente tudo, em especial os vizinhos do pátio de máquinas, o terreno de onde ônibus boiaram com a força da água do Rio Sangão que por ali passaou e subiu rapidamente. "Subiu tão rápido que parece que estourou uma represa ou algo assim e veio toda aquela água", contou a comerciante Elisangela Sorato, cuja padaria foi atingida em cheio. Ela perdeu estoque, produtos e equipamentos com o rápido alagamento. Até seu carro foi levado pela cheia. "Saiu boiando, arrastado, foi parar longe daqui de casa", contou.
Depois da cheia, não tem água
A tese da represa rompida não é absurda. Ocorre que o município dispunha de uma estrutura na qual investiu algumas dezenas de milhares de reais para equipar o Samae - o serviço de água é municipal em Sangão - e distribuir água para as casas. Toda essa estrutura, em uma área rural, foi destruída pela chuva. "A nossa represa rompeu, e não temos mais condições de abastecer a cidade", confirmou o prefeito.
A previsão é de no mínimo 15 dias para recompor o sistema. Enquanto isso, o prefeito recorre a pedidos como o que fez hoje pela manhã. "Vocês podem mandar dois caminhões de água aqui? A gente enche umas caixas d'água para o povo pegar água", disse Dalmir a um representante do Corpo de Bombeiros Voluntários de Jaguaruna. Em 30 minutos eles estavam na cidade entregando a tão necessária água.
Enquanto isso, os moradores estão fazendo uso do recurso que dispõe para limpar as casas tomadas de barro. "É, a gente busca água ali no rio", confessou Maria das Dores de Souza, apontando para as águas barrentas do mesmo rio que, ao subir na sexta-feira, atingiu em cheio a casa dela, que fica defronte ao ponto de onde o ônibus das imagens que viralizaram foi arrastado.
A mãe do ex-prefeito
Enquanto atendia a reportagem do 4oito na manhã desta segunda em sua casa - suja e com mau odor resultantes do alagamento -, dona Maria olhava para um quadro na parede. Ao observar mais atentamente, descobrimos que a foto em questão é de Anderson de Souza. O filho da dona Maria das Dores é vereador em Sangão e foi prefeito interino do município no início de 2017, quando uma eleição suplementar precisou ser realizada e confirmou a eleição do prefeito Dalmir Cândido.
"Ali o estrago foi grande", confirmou Dalmir, referindo-se à casa de dona Maria e seus vizinhos. Os muros não restaram em pé. Foram todos arrastados. Um forno da padaria localizada na esquina boiou até o pátio da dona Maria.
O decreto
O prefeito não conseguiu publicar no fim de seman ao decreto de emergência pois Sangão estava sem internet. Recuperado esse problema, e reunidas as informações, o documento foi expedido hoje. "Autoriza-se a convocação de voluntários para reforçar as ações de resposta ao desastre e realização de campanhas de arrecadação de recursos junto à comunidade", diz parte do decreto. Confira a íntegra do documento abaixo:
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