A cerimônia de premiação do Oscar 2022 no último domingo (27) gerou muita repercussão após o tapa que o ator Will Smith deu no comediante Chris Rock. Chris, que estava apresentando uma categoria na premiação, fez uma piada com Jada Pinkett Smith, mulher de Will. A atriz sofre de alopecia, uma doença autoimune que faz com que a pessoa perca seu cabelo, e Rock fez uma brincadeira sobre isso.
No programa Ponto a Ponto da Rádio Som Maior de terça-feira (29), o menino Erik Valentini Leal, de 10 anos, falou sobre o assunto. O garoto mora em Criciúma e possui a mesma doença que Jada, a alopecia areata. Inicialmente ele teve problemas para se aceitar e para que os outros o aceitassem, mas, com o acompanhamento de uma psicóloga, não só superou o desafio como fala livremente sobre.
Erik inclusive resolveu se pronunciar publicamente após a polêmica. Ele não achou a piada nem um pouco engraçada e comentou que, quando as pessoas descobrem que não é câncer, acham que podem brincar com isso apenas por não ser nada grave. “É uma coisa que eu acho que a sociedade tem que mudar. Se tivesse graça ela teria rido. Nas gravações dá pra ver que ela fez uma careta virando o olho”, opinou. “E a minha pergunta: o que dói mais agressão física ou mental?”.
Preconceito e superação
Assim como Erik sofreu com o bullying, ele acredita que a atriz também já deva ter ouvido piadas daquele tipo. No início da queda de seus cabelos, ele usava boné para esconder a careca. As outras crianças da turma ficavam tirando o acessório e perguntavam se a doença era contagiosa. “Várias coisas que eu tive que enfrentar, principalmente as piadas que eu não sabia. Eu soube por um colega que amigos dele faziam piadas com atores carecas e apontavam pra mim. Eu só fui saber por ele”, lamentou Erik.
Na rua as pessoas olhavam com pena. “Quando eu saio na rua todo mundo me olha, e é muito chato isso. Eu sou normal, a única coisa que aconteceu comigo é que eu perdi o cabelo”, desabafou. O problema fez com que ele procurasse uma psicóloga.
“Eu recebi ele de boné, jaqueta, todo encapuzado, em um dia que não era frio. (…) Isso acionava muito a questão da vergonha e insegurança. Ele estava com raiva, medo e muito angustiado com esses olhares, foi uma coisa muito forte. E aí a gente foi mostrando pra ele, ‘eu olho pra ti, não pra tua careca’, pra ele começar a se valorizar e enfrentar”, disse a psicóloga de Erik, Anie Fabris Casagrande.
“O Erik sempre teve uma comunicação muito boa conosco em casa, mas a alopecia o amadureceu no sentido de ele mostrar a força que tinha. Não foi fácil e é muito importante o Erik estar dando o depoimento dele principalmente para crianças e pessoas que estão acometidas na mesma condição”, orgulhou-se a mãe, Melissa Valentini. “Lá em casa a gente não fala que é doença, por que ele está muito bem de saúde, então é uma condição de não ter pelos”, completou.
A condição também o levou a buscar a prática de um esporte. Erik procurou um professor da escola que o auxiliou com o basquete, jogo que ele se identificou e mostrou muito talento e empenho. Ações como esta trouxeram maior segurança a Erik, mas o boné, que ele ainda usava por vergonha, o atrapalhava. Então eles iniciaram um trabalho em cima disso.
“Realmente atrapalhava muito, então eu me perguntei: por que eu vou continuar usando isso se eu to de boa e as pessoas que tem que me perguntar? Um dia eu resolvi tirar o boné e foi bem melhor. Parece que foi um pássaro saindo do ninho”, relatou o menino. Hoje, ele utiliza o acessório apenas para se proteger do sol.
Alopecia areata
Erik e a mãe também explicaram sobre os dois tipos da alopecia: a universal e a parcial. Na alopecia areata parcial, há somente a queda dos cabelos, já na universal, que é o caso de Erik, todos os pelos do corpo caem. Hoje, o menino possui apenas os cílios. Em seu caso, ele nasceu com a condição, mas ela só apareceu há dois, iniciando com a queda lateral dos cabelos. Porém ele não sente nenhuma dor física por isso.
Diversos fatores estão envolvidos no seu desenvolvimento, como a genética e a participação autoimune. Os fios começam a cair resultando mais frequentemente em falhas circulares sem pelos ou cabelos. Fatores emocionais, traumas físicos e quadros infecciosos podem desencadear ou agravar o quadro.
“A alopecia já é rara, os médicos explicam que só existe em um 1% da população, a alopecia universal é mais rara ainda. Existe tratamento, só que é um pouco agressivo e prolongado. Não há ainda uma garantia da volta dos pelos”, explicou Melissa. “A gente não sabe por que o Erik está nessa situação, a gente suspeita. Não temos esse nível de comprovação”, completou.
Ouça a entrevista no Ponto a Ponto de terça-feira (29) completa: