A Vigilância Sanitária de Morro da Fumaça está visitando moradores para passar orientações sobre o aparecimento de caracóis em residências. O órgão já contabilizou algumas incidências do animal, que pode transmitir doenças aos seres humanos. Em entrevista ao programa Conexão Sul desta terça-feira (10), na Rádio Som Maior, o professor do curso de Ciências Biológicas e do Museu de Zoologia da Unesc, Tiago Moreti, falou sobre o caramujo africano.
“Esses animais já estão aqui conosco há algum tempo. É uma espécie exótica trazida da África por cooperativas do Paraná que queriam uma substituição para o escargot. Queriam introduzir um novo prato na culinária, só que não deu muito certo, então eles simplesmente liberaram esses animais na natureza”, explicou o professor.
A espécie se espalhou por outros estados do Brasil e chegou em Santa Catarina. “Esses animais tem uma tolerância animal bem alta. São bem tolerantes ao frio, à seca, ao sol intenso, então você vai encontrar ele em mais de 16 estados no Brasil. Todos os estados do Centro-Sul do país têm o registro dele”, relatou.
Sendo considerada como não pertencente à fauna silvestre nativa, espécie exótica invasora, nociva às espécies silvestres nativas, ao ambiente, à agricultura e à saúde pública, a espécie é proibida para comercialização e cultivo no Brasil. Isso é previsto na Instrução Normativa nº 73 de 18/08/2005 do IBAMA.
Podem causar meningite
Esses animais podem abrigar dois tipos de vermes: o angiostrongylos costaricensis e o angiostrongylos cantonensis. O costaricensis pode provocar no ser humano a chamada angiostrongilíase abdominal, que, se desenvolvendo, pode causar perfuração intestinal, peritonite e hemorragia abdominal. O segundo pode provocar meningite eosinofílica.
Na região da Amrec, praticamente todos os municípios já tem a ocorrência do caracol africano. “Tivemos um caso de meningite eosinofílica, que veio parar no Hospital São José, mas esse caso veio de Balneário Camboriú”, informou Tiago. Segundo ele, os casos não são relatados com muita frequência.
Riscos à agricultura
O chamado “caramujo” africano, é, na verdade, um caracol gastrópode terrestre. E, como todo caracol, ele é um herbívoro e vai se alimentar de folhas. “Ele escala os muros, entra no quintal das casas, então ele é bem frequente aqui”, alertou. Além de riscos à saúde, o caracol danifica plantações e lavouras. “Ele é uma praga. Dá grandes prejuízos para a agricultura”, completou.
No próprio muco do animal, presente na viscosidade deixada por onde ele passa, podem estar presentes os vermes contagiosos. “Ingerindo essas verduras sem lavar, você pode estar ingerindo esses dois vermes”, destacou biólogo.
Orientações
Caso o cidadão encontre uma possível criação do caramujo africano, a recomendação é de que um órgão municipal responsável seja chamado, como a Vigilância Sanitária ou o Centro de Controle de Zoonoses, para que as devidas providencias sejam tomadas. O animal pode ser de outra espécie que não oferece riscos à população.
“Primeiro de tudo: não é todo caracol, então se você encontrou um caracol que acredita ser o africano, procure a vigilância epidemiológica do município”, advertiu Tiago. “E o segundo ponto é: lavar bem as verduras antes de consumir, fazer a limpeza do terreno, nunca jogar sal no solo e não jogar o caracol vivo no lixo, tem várias medidas a serem realizadas”, concluiu.