Venâncio da Silva Anschau, 40 anos, era operador de áudio da Banda Gurizada Fandangueira. Hoje servidor público, ele foi a primeira testemunha ouvida nesta terça-feira (7/12) no júri do caso Kiss. O colaborador do grupo musical foi arrolado pela defesa do vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e é o 21º depoente, desde que o julgamento começou, em 1º/12. Segundo ele, o grupo já havia se apresentado na Boate Kiss fazendo uso de artefatos pirotécnicos. Também afirmou que desabilitou o áudio no momento em que viu uma pessoa subindo no palco, por não saber do que se tratava. “Errei ao bloquear o som”, afirmou, chorando.
A Banda Gurizada Fandangueira, nos seus primeiros anos, só se apresentava em CTG. Era frequente o uso dos fogos de artifício e isso era considerado comum, segundo o relato. Venâncio disse que, até onde sabia, só era feito uso de fogo frio. Danilo (gaiteiro que faleceu no incêndio) era o líder e quem realizava as negociações. Luciano era encarregado da produção, inclusive, da compra dos artefatos. “Era um rapaz que, tranquilamente, era um freelancer”, afirmou, referindo-se ao vínculo do produtor musical com a banda. Luciano trabalhava na empresa de sonorização de Danilo e, posteriormente, o gaiteiro o convidou para participar da Gurizada Fandangueira.
Segundo Venâncio, houve uma reformulação na banda, que passou a tocar também em clubes e boates. Ele contou que, numa conversa de Danilo com Elissandro Callegaro Spohr, o sócio da Kiss sugeriu ao músico a troca de nome do grupo, redução no número de integrantes e mais uso de pirotecnia, como forma de tornar o trabalho mais atrativo.
Sobre as reformas realizadas na casa noturna, ele disse que percebeu uma elevação na pista. Mas não viu obras em execução. Informou que sabia que Mauro Londero Hoffmann era sócio da Kiss, mas nunca se cruzaram. No que se refere ao uso de espuma, o ex-operador de áudio afirmou que eram “raros os estabelecimentos que não a aplicavam”.
Na noite do incêndio, a banda subiu ao palco por volta das 2h30min. Venâncio estava na mesa de som no momento em que foram acionados os fogos de artifício. Os artefatos ficavam nas laterais do chão do palco. Ele não percebeu o momento em que o fogo começou. “De repente, a banda parou de tocar”. O sonorizador viu os integrantes do grupo com garrafas de água.
Disse que desabilitou o som no momento em que viu uma pessoa subir no palco, por não saber, até então, o que estava acontecendo. Posteriormente, viu que o rapaz tentava usar um extintor de incêndio. E aí, Venâncio percebeu um princípio de fogo. “Depois, já na Delegacia, perguntei a Marcelo (que também havia tentado usar o equipamento) o que aconteceu; e ele disse que não sabia, que batia nele e não saía nada”.
No microfone não foi feito nenhum anúncio ao público do que ocorria: “Eu não sabia o que estava acontecendo. Errei ao bloquear o som”, disse a testemunha, chorando neste momento. A acusação (MP) confrontou essa afirmação da testemunha, citando trechos de depoimentos de pessoas que estavam no local naquele momento, que indicam que ninguém fez menção de avisar o público ou mesmo que teriam ouvido o som aberto.
Na fuga, Venâncio disse a pessoas próximas para saírem do local e informou para um dos segurança: “está abrindo fogo lá atrás”. A testemunha disse que, na saída da boate, encontrou Kiko “transtornado”. “Ele dizia: 'o que aconteceu com a minha boate', 'o que aconteceu com vocês'”. Venâncio ficou internado no hospital, por exposição à fumaça. Evitou buscar atendimento porque a esposa estava grávida de 40 semanas. Ele foi conhecer a filha, que nasceu em 2/2, quando ela já estava em casa. “Nunca conversei com ninguém, nem com a família eu converso sobre a tragédia”. O ex-operador de áudio chegou a fazer tratamento médico, tendo ficado com sequelas pulmonares.
O julgamento foi suspenso por 1h15min para almoço. A próxima testemunha a ser ouvida é Nivia da Silva Braido, indicada pelo Ministério Público (acusação).