A depressão ainda é uma doença bastante complexa. Há muitas décadas, cientistas e médicos buscam conhecê-la totalmente. Alguns mecanismos envolvidos foram descritos, mas, até o momento, nenhuma teoria foi capaz de explicar toda a sua gênese. Por isso, acredita-se que a causa seja multifatorial, isto é, pela associação de diversos fatores, como a genética, o ambiente e as atividades das células.
"Uma das alterações demonstradas nos estudos é sobre a transmissão do glutamato, neurotransmissor mais abundante do cérebro, envolvido em funções excitatórias do órgão. Partindo disso, vários pesquisadores viram a cetamina como um potencial antidepressivo", explica a psiquiatra e Diretora Técnica Médica do Instituto de Neurociências Dr. João Quevedo (InJQ) de Criciúma e professora da Unesc, Dr.ª Kelen Cancellier Cechinel Recco (CRM-SC 13.394 e RQE 10.277).
Ela explica que a cetamina age sobre os locais que recebem o neurotransmissor, atuando como oponente dele. "Isso faz com que haja respostas intracelulares que regulem as sinapses do sistema nervoso, diminuindo a neuroinflamação e equilibrando os mecanismos envolvidos na produção de energia dessas células", acrescenta ela.
A medicação já era usada e aprovada no Brasil para uso na anestesia e analgesia há mais de 50 anos. Em novembro do ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a escetamina intranasal para uso na psiquiatria para o tratamento do transtorno de humor.
"Nessas doses menores, ela não tem efeito sedativo, mas funciona como antidepressivo. Nas pesquisas, o foco é principalmente sobre aqueles pacientes com depressão resistente, ou seja, aqueles que não respondem à terapia convencional, e sobre pessoas com ideação suicida. A maior parte deles tiveram êxito no uso desse fármaco", detalha Dr.ª Kelen, adicionando que a cetamina também é indicada em alguns casos de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Resposta rápida
Outro fato que muda o cenário da doença é a rápida resposta clínica que a medicação permite quando comparada a outros antidepressivos. A psiquiatra expõe que alguns indivíduos relatam melhora dentro de horas após a administração da cetamina, enquanto outros precisam de algumas semanas, visto que cada organismo trabalha de uma maneira.
As evidências mais aceitas usam a cetamina intravenosa. Ainda não há estudos suficientes que apoiem o uso da substância por outras vias de administração. A recomendação é de que o uso seja feito em ambientes com equipe especializada, para que haja monitoramento dos sinais vitais e também de possíveis efeitos psiquiátricos e neurológicos.
Mesmo trazendo muita esperança e ânimo no tratamento para a depressão, a indicação de uso deve ser criteriosamente avaliada por um especialista. "Seu uso sem supervisão médica traz riscos graves, até mesmo o óbito", alerta a especialista do InJQ.
Colaboração: Maria Eduarda Mendes Botelho
Instituto de Neurociências Dr. João Quevedo (unidade Criciúma) - Diretora Técnica Médica: Kelen Cancellier Cechinel Recco - Psiquiatra (CRM-SC 13.394 e RQE 10.277)