Familiares dos detentos do Presídio Santa Augusta se reuniram em frente ao presídio na manhã deste sábado, 11, em busca de reinvindicações para melhorias no atendimento os presos. Entre as bandeiras levantadas, estavam a entrega de roupas e cobertores, banhos quentes, liberação das visitas e marmitas quentes. Outra preocupação dos familiares é a questão sanitária do coronavírus, já que atualmente 21 detentos estão contaminados dentro do presídio.
A manifestação foi pacífica e reuniu os familiares nos arredores do Presídio. As reivindicações vêm em face a informações que os familiares receberam de detentos que deixaram o presídio e informaram esses familiares da situação que se passa dentro do prédio.
“Estamos ouvindo o que se passa lá dentro de quem está saindo com alvará. Eles que saíram que passaram essas informações para a gente. Ainda tem as visitas virtuais que ficamos sabendo de algumas coisas”, explicou a familiar Ane Michele Florentino Mazzucco.
A administração prisional e Vara de Execuções Penais de Criciúma e Região contestam as informações, informando que presam pelo bem estar, segurança e pela saúde dos apenados.
“Nós estamos em um momento excepcional. Estamos trabalhando com ordem e todas as medidas do Covid-19 para isso. Não é momento de criar pânico, fazer uma manifestação lá fora que possa gerar uma dos presos aqui dentro e colocar todo o nosso trabalho a perder”, comentou o gerente do presídio, gerente da Unidade Prisional, Rodrigo Ferreira.
Conforme a juíza da Vara de Execuções Penais de Criciúma e Região, Débora Zanini, no presídio não há impunidade e ninguém quer o mal de ninguém. “Os familiares estão fazendo uma manifestação com repercussão e comoção para forçar uma soltura em massa por causa do Covid-19. Os presos estão aqui porque fizeram algo errado e estão cumprindo a pena. O que não é correto e justo é soltar eles sem necessidade e colocar em risco toda sociedade”, enfatiza.
Banhos quentes
Conforme Ane, os detentos estão tomando banhos gelados e com o frio isso agrava ainda mais a situação da saúde dos presos.
Segundo a juíza, há duas semanas toda a região sofreu com uma onda de frio, o que refletiu também dentro do presídio, mas que já foi solucionado. “O sistema de água quente é por caldeira e o banho é à noite. O prédio tem duas horas de água liberada por dia para os detentos. Como o banho era à noite, a caldeira acabava esfriando um pouco, porque paravam as atividades e de fato a água esfriou por uns dias, mas logo que isso foi percebido e informado, a Administração mudou o horário dos banhos. A agora é na hora do meio dia, quando a cozinha está funcionando e água é mais quente”, explicou.
Marmitas geladas
Segundo os familiares, as marmitas das refeições estão sendo entregues frias na hora das refeições.
Conforme Débora, se isso ocorreu não foi proposital. “A marmita e a mesma desde sempre. Se esfriou, pode ser por causa da temperatura ambiente e pode ter esfriado. Até tirar da cozinha e levar para os detentos pode ter ocorrido isso, mas acredito que isso não ocorreu”, responde a juíza.
Conforme Ferreira, a temperatura dos alimentos é medida dentro da própria cozinha e encaminhada nas hotboxs, caixa térmica, para os apenados.
Situação do coronavírus
Na semana passada o presídio contava com apenas um caso positivado de coronavírus, atualmente conta com 21. “Tem muita rotatividade no presídio então apesar de todos os cuidados que estamos realizando aqui no presídio, infelizmente um deles entrou com o vírus. Felizmente dos positivados nenhum está apresentando sintoma. Eu inclusive conversei com eles ontem (sexta-feira, 10), e eles estão bem”, afirmou a juíza.
Ao lado da ala da saúde, o presídio conta com um bloco chamado Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), que é destinado aos presos de alta periculosidade. Como no momento não há presos que se enquadrem nesse setor, a ala está sendo utilizada para acolher os positivados pela Covid-19.
A ala será ampliada e usada no atendimento ao Covid. “A gente sabe que a doença pode aumentar no presídio, mesmo com todos os cuidados. Qual é o plano? É fazer a espécie de um mini hospital, com beliches e todos os equipamentos necessários caso alguém apresente uma manifestação mais séria. Até o momento nenhum presentou nada do estilo”, complementou Débora.
A juíza ainda ressalta que o presídio conta com três enfermeiros, dois técnicos em enfermagem, um médico e duas estagiárias, para assistir os detentos. “Eu penso que aqui eles estão mais seguros do que lá fora. Muito se fala que tem que dar domiciliar para os presos, mas eu lhes asseguro que aqui eles estão seguros aqui dentro. Se estiverem fora, quem garante que terão o mesmo atendimento do que aqui?”, questiona.
Ela ainda afirmou que caso tenha necessidade de encaminhar ao hospital, o doente será encaminhado para os atendimentos médicos necessários.
Atualmente os 21 positivados estão separados em dois grupos, para não aglomerar e para prevenir disputas internas. “A nossa preocupação é dividir os detentos do ‘seguro’ e do ‘convívio’, pois eles são rivais. A gente não pode nem colocar eles juntos, pois um é faccionado ou ex-faccionado, ou é crime sexual que não é bem visto, ou então dívida com facção. Então os presos de facções diferentes são separados tanto no cotidiano e agora com o Covid também”, explicou Débora.
Entrega de roupas e cobertores
Antes da pandemia do novo coronavírus, os familiares poderiam levar roupas e cobertores para os detentos, mas agora com a doença eles não podem mais. “Isso ocorre porque a peça pode vir contaminada da rua e entrar no presídio”, explica a juíza. “Não fomos nós que inventamos que não pode trazer. É uma portaria do Estado de Santa Catarina que vale para todos os presídios do estado”, completou.
Os familiares podem comprar alimentos e roupas em um supermercado credenciado ao presídio, onde a administração prisional orienta ao estabelecimento como realizar a higienização. Os presos também recebem do próprio presídio roupas e cobertores.
Visitas
As visitas presenciais estão suspensas. O que está ocorrendo atualmente são as visitas virtuais, uma vez por mês com 10 minutos por vídeo chamada, além de cartas por email, para não ter contato com o papel. “A gente recebe a carta por email, imprime, passa para eles, eles respondem, a gente scaneia e manda de volta, para não ter contato”, explicou o gerente.
Situação atual do presídio com a manifestação
Dentro do presídio a situação é tranquila no momento. “Dentro está tranquilo. Temos informação do que está ocorrendo. Temos informações de pessoas na rua que estão fazendo isso para criar instabilidade aqui dentro, mas nossa equipe de inteligência está atuando nisso. Mas a cadeia de funcionamento em si está controlada. É o nosso dia a dia normal” afirmou Ferreira.