Manter a memória de uma cidade viva é fundamental e algumas pessoas se dedicam a isso. Um dos exemplos em Criciúma é o jornalista Nei Manique que criou o blog Idade Mídia no final de 2001 quando renunciou à coordenação do curso de Comunicação na Unisul, campus Tubarão e resolveu voltar para Criciúma. Na época, conta ele, aceitou convite da direção do Jornal da Manhã para escrever uma coluna de página inteira às segundas-feiras e acabou por inserir o nome “Idade Mídia, uma coluna de segunda”. “Na mesma época, passei a migrar todo o conteúdo da coluna para o blog com o mesmo nome, mas focado nos nossos emigrantes em Boston e Londres. Deixei o JM no início de 2005 e a partir dali o blog e o domínio ‘nei.jor.br’ ganharam autonomia, mas um ano depois suspendi seus conteúdos em razão de um projeto coletivo: implantar com um grupo de colegas o primeiro portal de notícias do sul do estado”, recorda.
“Agente da história”
Manique costuma repetir que jornalista não é historiador, mas é agente da história. “Somos os escribas dos fatos, autores de infindáveis atas históricas. Não por acaso, os historiadores recorrem tanto a artigos e reportagens. No meu caso, desde a década de 1990 tornei-me um memorialista apaixonado. Entre 1995 e 1997, publiquei dezenas de fotos antigas na coluna do Jornal da Manhã. Em 1996, produzi 12 minidocs (minidocumentários) de 10 minutos que foram exibidos no Canal 20 da TV a Cabo em Criciúma”, cita.
Esta série de minidocs de Nei Manique chamava-se “Janela do Tempo” e resgatou fatos e ambientes importantes da cidade entre as décadas de 1950 e 1970, alguns deles disponíveis no blog. “Como exemplo, por que surgiram e foram removidos o Monumento aos Homens do Carvão e o Viaduto da Estrada de Ferro? Importante salientar que maioria dos entrevistados nessa série já migrou e em breve restarão também poucos da minha geração. Então vai ser muito difícil obter informações precisas sobre situações relevantes que cronologicamente nem estão tão distantes assim”, relata.
Zelo pela memória
Para o jornalista, zelar pela memória é zelar pela história. “Quem preserva um passado vivo lega um futuro menos complicado às futuras gerações. É por esta razão que acredito que os trilhos voltarão um dia à principal avenida da cidade. O leito da antiga ferrovia há anos implora um metrô de superfície, mas falta vontade política”, acredita.
Manique descreve alguns fatos relatados por ele e que lhe chamam atenção e também tece suas opinições. “Em 1975, quando o viaduto sobre a estrada de ferro foi retirado, ele não foi simplesmente desmontado e sucateado. Foi levado ao bairro Milanese, onde serve até hoje de passarela aos moradores. A estação ferroviária deu lugar ao Terminal Central e o viaduto foi substituído pelo túnel. Até aí estamos bem, mas percorra a Avenida Centenário de norte a sul e não irá ver uma única passarela. É inadmissível que não haja uma à frente do Bairro da Juventude e outra diante da Rodoviária. Estou otimista com o projeto de revitalização da Avenida Santos Dumont, embora me assuste o comprometimento financeiro do município. Por outro lado, me entristece o descaso com a rótula da Álvaro Catão com a Luiz Lazzarin e a rodovia de acesso a Siderópolis. Quem trafega por ali já pagou os pecados de várias encarnações”, completa.