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Novo comandante da 6ª Região tem o militarismo no sangue

O tenente-coronel Cristian Dimitri Andrade assumiu o posto mais alto da PM regional

Por João Zanini Criciúma, SC, 07/08/2021 - 14:37 Atualizado em 07/08/2021 - 18:22
Fotos: Arquivo pessoal e Guilherme Hahn/Especial 4oito
Fotos: Arquivo pessoal e Guilherme Hahn/Especial 4oito

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Nascido em Porto União, em 12 de fevereiro de 1972, o pequeno Cristian desde muito cedo sabia o que queria ser quando crescesse. E a vontade sempre foi seguir carreira militar.

Filho de Saulo Amadeu Andrade (in memorian), soldado, cabo e depois sargento do Exército Brasileiro, sempre viu o pai como fonte de inspiração para o seguimento de sua carreira.

O novo comandante recebeu o Toda Sexta em seu primeiro dia de comando e falou sobre trajetória, demonstrando que tem vocação para a carreira militar, e por isso chegou ao posto máximo da região, como comando da 6ª Região de Polícia Militar - vaga antes pertencente ao coronel Evandro de Andrade Fraga, bastante conhecido e com trabalho sólido nos comandos pelos quais passou.

Dimitri relembrou seus primeiros passos, acompanhando o pai para onde ele ia sendo transferido, como profissional do Exército. “Meu pai foi uma referência para mim em todos os aspectos, e com certeza esse convívio fez com que admirasse as forças militares e o seu trabalho”, pontua.

A trajetória com o pai e nos estudos 

Saindo de Porto União, logo a família estava morando em Lages em meados dos anos 80, onde seu Saulo permanece trabalhando no 1º Batalhão Ferroviário, por um tempo. De lá, novas transferências viriam e a vida o iria levando sempre para o meio do ambiente militar. “Como em Brasília, onde morei com a minha família entre os militares, e assim fui pegando mais gosto por esta área, admirando-os”, afirma.

E assim foi a vida do jovem: sempre acompanhando o pai e sua mãe, Daizi Terezinha Andrade, até atingir a maioridade. Em uma das transferências do pai para Florianópolis, após ficar dois anos na capital Boa Vista, ainda em Roraima, a pedido do próprio, que gostaria de retornar a Santa Catarina, Cristian continua seus estudos no ensino médio, sempre estudando em colégios públicos, pois, o militar, quando é transferido, seus filhos têm a vaga assegurada pela legislação. Lá, continua os estudos de maneira intensa para conseguir seu objetivo. Porém, no caminho, mais uma transferência de seu pai, Saulo, desta vez para a capital do Distrito Federal no ano de 1989, a pedido dele. Cristian queria estudar no Colégio Militar de Brasília, então viajou sozinho antes da sua família, e ficou no internato por dois meses, até que todos se unissem novamente. Lá, aprende o que é realmente estudar, pois no contra-turno havia reforço das disciplinas com maior dificuldade. Falou das boas lembranças. “Logo que minha família chegou, mudei com eles para a quadra 305 da Asa Norte, em que o convívio e a união, na minha adolescência, com os filhos de outros militares do Exército era diário. Isso só aumentava o meu anseio por seguir carreira”, se empolga o comandante. 

“Eu voltei, agora é pra ficar”

Quando o trabalho em Brasília termina, é hora de voltar para Santa Catarina. Seu pai é promovido a subtenente e, mais uma vez, o jovem Cristian acompanha os pais, já em 1991, mas agora com o objetivo de sua vida ainda mais perto: se tornar um militar. Estudou no Colégio Geração, que era também um curso preparatório na chegada ao Terceirão. O tão esperado vestibular estava chegando, mas o dele era um tanto quanto diferente do convencional. “Eu tinha a opção de fazer a prova do vestibular da Acafe para o Curso de Formação de Oficiais, considerado curso superior pelo MEC. Só que, fazendo essa prova, você não poderia eleger uma segunda opção, caso não desse certo. E eu optei, mesmo assim, por fazer, pois era o que eu sempre quis”. E fez, passando por várias etapas rumo ao oficialato da Polícia Militar de Santa Catarina. “O estudo no colégio militar me ajudou muito, em especial nas ciências exatas, onde eu costumava ajudar os meus colegas do Terceirão nas disciplinas de física, matemática, química, pois o conteúdo eu já tinha estudado no ano anterior em Brasília”, lembra Dimitri.

E chegou a hora das provas. As etapas pareciam nunca acabar. A cada uma vencida pelo então jovem Cristian, uma comemoração diferente. “Eu via as pessoas que estavam concorrendo, e a cada etapa muitas eram desclassificados, ainda assim havia 16 vagas para 1500 inscritos, o que era muito pouco”, comenta. E, diante de todas as dificuldades, chegou a tão esperada notícia: ele havia passado, e faria parte do Curso de Formação de Oficiais (CFO) da Polícia Militar de Santa Catarina. “Eu me emocionei porque sempre tive certeza que uma das vagas seria minha, eu tinha essa fé. Então conversei com meu pai que nunca vou esquecer. Eu disse a ele ‘pai, agora não vou mais te dar qualquer incomodação’, e ele derramou uma lágrima e respondeu: ‘filho, eu sempre soube que você iria conseguir’”, relembra emocionado Dimitri.

Honraria recebida do pai   

Depois de quatro anos em regime de semi-internato e com dedicação exclusiva, em íngremes testes intelectuais e de aptidão física, o agora aspirante-a-ofcial Dimitri teve a honra de receber a espada (símbolo do oficial militar) das mãos do seu pai, em 1995. Dali para frente, ele continuou se especializando, mas sem esquecer o árduo trabalho como aluno oficial no curso de formação. “Foram quatro anos de estudos em período integral, ainda concorrendo a escala de serviço de sentinela, muitas vezes na madrugada e realizar no outro dia, logo cedo, a faxina das instalações (alojamento, banheiro), tudo isso era feito por nós, para fortalecer o exercício da humildade” conta.

Lembranças do passado e reflexões

Saudosista de carteirinha - o que ele não esconde, quando mostra orgulhoso fotos com datas de todas as etapas cumpridas em sua vida, o comandante relembrou uma história que o marcou na trajetória de vida dele ao lado da família, nos tempos de transferências de seu pai no Exército Brasileiro. “Algumas lembranças que eu tenho foram bem marcantes, como uma viagem que fizemos quando ele foi transferido para Roraima. Viajamos de carro, uma Variant (semelhante à Brasília) que tínhamos na época, e fomos dormindo em hotéis e viajando cerca de 800 quilômetros por dia. Eu tinha 11 anos, meu irmão Alex tinha 15 e a minha irmã caçula, Olívia, tinha 4 anos. Aquilo serviu para unir a nossa família. A Variant foi com as bagagens em cima, amarradas naquele suporte que era usado no teto, enquanto a gente se revezava para dormir em um colchão improvisado atrás”, relembra. “Então, antes de chegar a Roraima, depois de muitos quilômetros rodados, passamos por Belém e fomos seguir a viagem de barco, por longos 5 dias, contemplando a bela vista do Rio Amazonas, com destino a Manaus. A comunidade ribeirinha vinha com suas canoas próximo ao nosso barco, e lá de baixo, exibiam as suas araras, macaquinhos, cobras. Como retribuição, os passageiros lançavam na água sacolas com frutas aos descendentes de indígenas”, conta, ao relembrar o momento que o marcou.

A escolha por Criciúma e região

O agora aspirante a tenente Dimitri, depois que se formou na escola dos oficiais, precisava escolher um Batalhão para trabalhar. Poderia ter escolhido cinco cidades do Estado, mas opta por Criciúma. “Estávamos entre amigos no curso de oficiais, então eu optei por escolher o batalhão para o qual iriam sete aspirantes, assim teria companhia deles, então eu escolhi a cidade e aqui permaneci, desde 1995, com minha esposa Leila Minatti Andrade, e em Criciúma nasceram meus filhos, Saulo e Milena, com 19 e 17 anos”, afirma.
Analisando uma parte do curriculum do comandante, nota-se que ele desempenhou sua carreira essencialmente no Sul Catarinense.
 

Principais funções desempenhadas como Oficial PM

 

Chefe da Seção de Operações do 9º Batalhão de Criciúma (2013-2014) Subcomandante do Batalhão de Araranguá (Maio de 2014 - Agosto de 2016) Comandante do Batalhão de Araranguá (Agosto de 2016 - Maio 2017) Convocado pela SENASP para ser o Coordenador de Operações Integradas de Segurança Pública no Estado do Rio Grande do Sul, onde atuou em Porto Alegre por 5 meses (de Março a Julho de 2018)
Chefe do Estado Maior da 6ª Região PM (março de 2017 - setembro de 2018) Comandante do 9º Batalhão PM de Criciúma (setembro de 2018 a março de 2021) Chefe do Estado Maior da 6ª Região PM (março a julho de 2021)

A perda do pai

Precocemente, o alicerce de Dimitri, Saulo, o pai exemplo, descobriu que estava com câncer, em Florianópolis, em 1997. “Era câncer na garganta. Eu ainda era segundo tenente servindo em Criciúma,  após inúmeras sessões de quimioterapia e radioterapia, ele aparentemente havia melhorado. Minha mãe, a Dona Daizi, foi uma guerreira, pois quando o meu pai mais precisou, ela estava lá ao lado dele, honrando o juramento do matrimônio: “na saúde e na doença”. Saulo, em 1998, descobre outro câncer, já com metástase no pulmão. “Eu estava fazendo um curso de polícia comunitária na capital e um militar abriu a porta do auditório em que eu estava e perguntou quem era o Dimitri. Na hora, imaginei que não seria  coisa boa, já que meu pai estava debilitado e eu sabia disso”, declara. Mas, ainda não era o  pior. O policial o avisou para ir até o hospital Celso Ramos, então “naquela noite eu dormi com meu pai, ajudei ele em suas necessidades, mas aos 51 anos, em 16 de maio de 1998, meu pai faleceu. Antes dele morrer, estávamos todos rezando em volta da cama”, e Dimitri e os irmãos o fizeram uma promessa: “pai, obrigado por tudo, prometemos ao senhor que vamos cuidar bem da mãe”. Durante a oração, ele faleceu diante dos familiares presentes.

A experiência no BOPE

No ano de 2000, Dimitri recebe a oportunidade de realizar o Curso de Operações Especiais em Florianópolis. Todos os batalhões tinham duas vagas, uma de oficial e outra para sargento para a especialização de difícil lida, em que poucos conseguem chegar até o fim, devido à dificuldade imposta pelo curso. “Eu me prontifiquei a ir, pois sempre tive o sonho me especializar. Fomos ao curso, onde o acampamento foi realizado na Serra do Tabuleiro, no Maciambú de Palhoça. E dos 42 que chegaram até a fase mais difícil, considerada a fase rústica, 30 desistiram. Somente doze alunos ‘sobreviventes’ obtiveram o brevê de Caveira, que é como chamamos aqueles que consegue superar todos os seus limites e vencer esse imenso desafio”, afirma. “Foram três meses longe da minha esposa, em um curso que exige muito: o participante terá que ser testado sobre todos os seus limites. Não pode ter fobias, pois elas serão confrontadas: água, altura, animais peçonhentos, agentes químicos, explosivos. Instruções de sobrevivência, patrulha rural com sargentos guerra na selva do Exército Brasileiro, construção de abrigos, busca terrestre, comer e dormir pouco, utilizar mochila pesada de 30 kg nas costas. Após um dia intenso, por volta das quatro da manhã, você dorme, à seis já tem que estar de pé, com a barba feita, fuzil limpo e equipamento pronto, pois haveria a inspeção dos instrutores”, declara.

O curso o credenciou a ministrar também outros, motivando a tropa a seguir o caminho de mais preparação e estudo. Hoje, apesar de quaisquer fatos que envolvam negociações de sequestro ou esquadrão-antibombas necessitarem de chamar o BOPE da capital, Dimitri estaria credenciado.

O trabalho no Complexo do Alemão 

Dimitri foi convocado para compor a Força Nacional de Segurança Pública no ano de 2007, quando os Jogos Pan-Americanos aconteceram no Brasil. “Eu estava na missão que tinha como objetivo realizar a contenção no conjunto de Favelas do Alemão, por dois meses, e tivemos êxito nisso, apesar de todo o risco. A experiência também foi incrível. Foi mais uma missão de muito engrandecimento na carreira militar”, garante a autoridade.

Característica operacional

Dimitri possui, por conta da experiência com esses cursos alternativos, uma característica particularmente operacional, ou seja, gosta de estar nas ruas sempre que possível, na linha de frente, junto com as guarnições de serviço. “Tenho muita afinidade com a tropa, porque habilitei a maioria no uso da pistola semiautomática calibre .40, quando a PM deixou de usar revólver, a partir do ano de 2001, e começou a utilizar a pistola. Isso me aproximou muito dos policiais militares da 6ª Região. Eu fui instrutor em todas as companhias, pois fui credenciado pelo departamento de tiro da PMSC. Até o ano de 2016 ministrei instruções para a tropa, quer seja de carabina, fuzil e pistola, além de táticas policiais”, diz.

Agora como comandante da 6ª Região de Polícia Militar, que abrange os 27 municípios da Amrec e Amesc, Dimitri realizou reunião com os oficiais dos três batalhões, pois a PM estadual, através do comandante geral Dionei Tonet, elaborou o Plano de Comando 360, que alinhará estratégias para os próximos cinco anos. “Estamos alinhando e traçando as nossas metas administrativas e operacionais, fazendo um diagnóstico dos nossos indicadores e dados estatísticos para o planejamento da 6ª Região, e isso irá nortear as nossas ações”, constata. E o coronel finaliza, com um recado para a população: “podem continuar contando e confiando na Polícia Militar, nossa região vai manter os projetos já implantados e que estavam sob o comando do meu grande amigo pessoal coronel Fraga, qualificando nossos policiais, inclusive com treinamentos para crimes violentos para evitar o ‘novo cangaço’ (alusão ao roubo ocorrido no Banco do Brasil, em novembro de 2020), contando sempre com as nossas Redes de Vizinhos, Conselhos Comunitários de Segurança, e com as demais forças de segurança, como a Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Instituto Geral de Perícias (IGP), Polícia Penal, Ministério Público, Poder Judiciário, além de outras instituições parceiras, como as Prefeituras Municipais, Câmeras de Vereadores, Associações Empresariais, Câmaras de Dirigentes Lojistas, Universidades da Região, e demais Entidades e Forças Vivas da Sociedade, conclui o coronel. A cerimônia de passagem de comando aconteceu em 22 de julho, na sede da 6ª Região.

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