Todos os dias, a pequena Valentina Contessi vem ao Hospital São José de Criciúma para pegar seus “superpoderes”. Aos três aninhos, a menina que mora em Urussanga, vem acompanhada dos pais para as sessões diárias de radioterapia, que são necessárias para o tratamento de um tumor no sistema nervoso central diagnosticado em agosto deste ano. Com a força de uma verdadeira super-heroína, Valentina encara com muita determinação as etapas do tratamento.
Além da coragem da paciente, que é essencial durante o processo, uma grande equipe se esforça diariamente para fazer com que o seu tratamento seja mais leve e com o mínimo de sofrimento.
O cuidado vem desde a chegada ao HSJosé. O atendimento das recepcionistas, a atenção na sala de espera que ganhou uma mesa, cadeiras especiais e muitos desenhos e lápis coloridos para que o local seja mais divertido. O carinho vem também da enfermeira responsável pelo setor de radioterapia, Carina Demétrio. “A Valentina sai de casa e diz que vem trabalhar com a tia Carina. Até um crachá ela usa para dizer que vai ajudar”, comenta a mãe Jaqueline Craveiro Lessa Contessi.
Depois de aguardar, vem o momento da sessão de radioterapia. Ali, é a hora da pequena receber seus superpoderes. “Eles criaram uma máscara especial para ela, da mulher-maravilha. Ela tem a roupinha especial e todo um ambiente diferente foi desenvolvido para que esse momento se tornasse mais fácil. Até a mulher-maravilha já veio aqui para visitá-la. Ela sabe que todos os dias precisa vir ao hospital para receber seu superpoder. A maioria das crianças precisa de sedação para fazer a radioterapia, na Valentina, acredito que por todo este cuidado, até esse momento não foi preciso”, comenta a mãe.
Máscaras preparadas especialmente para os pequenos
A máscara especial da mulher-maravilha utilizada por Valentina foi carinhosamente pintada pelo técnico em radioterapia do HSJosé, Luiz Henrique Nascimento dos Passos. Ele é o responsável pela pintura das máscaras das crianças desde 2015. “A ideia surgiu de alguns cursos que fizemos e comecei a ver que algumas pessoas estavam iniciando o processo de humanização nesta área, especialmente para as crianças. Como a vinda dos pequenos começou a ser mais frequente no setor de radioterapia, e era comum que essas crianças precisassem ser anestesiadas para realizar o procedimento, começamos a pintar as máscaras, com o intuito de fazer com que elas pudessem se estimular de alguma forma e não precisassem fazer o tratamento com o uso de anestésico, ou seja, sem que a criança fosse sedada durante as sessões”, explica Luiz Henrique.
De acordo com o técnico em radioterapia, o fato de tirar a anestesia, é muito melhor para todos. “Em algumas crianças conseguimos isso somente com a máscara que acaba dando força e encoraja para o tratamento. Foi assim que iniciou esse trabalho e que vem dado certo ao longo dos anos”, aponta.
Segundo Henrique, com a Valentina não foi diferente. “A pintura da máscara ajudou a criar toda a coragem que ela tem para vencer o tratamento com mais tranquilidade, tanto para a menina, como também para todo mundo. Eu fico feliz de fazer parte desse trabalho. Todos os dias a gente se esforça ao máximo para que essas crianças tenham um tratamento mais feliz e que a família sofra o mínimo possível. A gente sabe que por trás do tratamento da criança, tem toda a família que está com ela. Enquanto eu tiver condições de me doar ao máximo para que essas crianças possam ter um tratamento mais humano e leve, vou fazer tudo o que eu puder”, garante o profissional.
Preparação especial nas sessões de radioterapia
Além da máscara especial, toda a preparação para a sessão de radioterapia envolve uma música infantil que é colocada no ambiente, a presença da mãe é mantida até o momento de iniciar o procedimento. Para que a menina não sinta falta dos pais, um pesinho é colocado em uma das perninhas para que ela sinta que alguém está ao seu lado, enquanto, do lado de fora da sala, pelo microfone, todos motivam a pequena para que os cinco minutos que ela precisa ficar imóvel passem rápido e de forma tranquila. Todo este acompanhamento é realizado todos os dias, para que estes cinco minutos diários passem ainda mais rápido. Assim a família está vencendo as 28 sessões de radioterapia.
“É um cuidado que envolve todos os setores, todos os profissionais, da médica que nos passou esse diagnóstico tão difícil até quem nos acompanha em todo esse processo. Sem dúvida, tudo isso tem feito esse momento tão difícil ser mais leve”, comenta o pai de Valentina, Carlos Contessi. “É o que eu sempre digo, ninguém quer estar ali, mas que bom que estamos no São José com essa equipe maravilhosa e humana. Fizemos muitos amigos ali, e eu só tenho a agradecer a cada pessoa que cruzou nosso caminho desde o diagnóstico. Nos sentimos muito acolhidos e com certeza torna nossa caminhada mais leve”, complementa a mãe Jaqueline.
Na quimioterapia, foco também é na humanização
O cuidado com a menina se estende também durante a internação que é realizada todas as quintas-feiras, para que seja feita a sessão semanal de quimioterapia. No quarto, o cuidado se mantém desde as brincadeiras com a enfermagem, a minestra especial preparada para ela pelas profissionais da copa e cozinha, além de toda a atenção dispensada pelos demais profissionais que convivem com a menina.
“Toda essa atenção não é somente com a Valentina. Nós procuramos fazer com que tudo isso se estenda a todos os nossos pacientes. E é algo que é repassado para toda a família, afinal, criamos vínculos muito fortes com todos. Pode ser pouco o que fazemos, mas faz uma grande diferença. Nossa intenção é fazer com que, mesmo que o momento seja difícil, ele possa ser superado da forma mais leve possível”, aponta médica responsável pelo tratamento da menina, dra. Adalisa Reinke, oncologista pediátrica e responsável pelo serviço no HSJosé.
Atualmente o Hospital São José conta com 42 pacientes diagnosticados com câncer infanto-juvenil em tratamento. A instituição que trabalha sempre com o foco na humanização disponibiliza os tratamentos de quimioterapia, radioterapia, internações e cirurgias oncopediátricas. Somente os transplantes infantis que são realizados fora de Santa Catarina, já que não há hospitais que realizam estes procedimentos no estado.
Saiba mais:
No mês de setembro é lembrado o Setembro Dourado, período que foi criado para alertar a todos sobre a importância de se atentar aos sinais e sintomas sugestivos do câncer nas crianças e jovens, auxiliando na sua detecção e tratamento precoces.