Investigações sobre disseminação de notícias falsas e ameaças ao Supremo Tribunal Federal, conduzidas pelo próprio STF e operadas pela Polícia Federal (PF) vivem uma quarta-feira, 27, movimentada. Estão sendo cumpridos 29 mandados de busca e apreensão em Santa Catarina e outros quatro estados - São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Mato Grosso - mais o Distrito Federal.
Em Santa Catarina, os mandados são cumpridos pelo menos três mandados em Balneário Camboriú e Brusque, mas podem haver outros alvos. Um investigado catarinense é o empresário Luciano Hang, proprietário da rede de lojas Havan e um dos mais ferrenhos defensores do governo Jair Bolsonaro. De Hang, a PF levou o telefone celular e um computador de uso particular. "Estou tranquilo, tudo é transparente. Meu computador e meu celular vão mostrar que jamais fizemos algo contra membros do STF", disse Hang, em uma live no Facebook.
O presidente nacional do PTB, um deputado paulista, um blogueiro bolsonarista e um humorista também estão entre os investigados em outros. estados.
O foco da investigação está em suspeitas sobre ataques à honra e ameaças aos ministros do STF. O inquérito, conforme a PF, visa apurar "notícias fraudulentas que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros e familiares". A apuração começou em março, provocada pelo ministro Dias Toffoli, presidente da Corte. Não houve pedidos de autoridades policiais nem participação do Ministério Público.
Roberto Jefferson na lista
Um dos mandados da operação está sendo cumprido na casa do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, no Rio de Janeiro. Em entrevista recente à Rádio Gaúcha, Jefferson defendeu que o presidente Jair Bolsonaro usasse a força para retirar os atuais 11 ministros do STF. “A toga não é mais forte que o fuzil”, disse na ocasião.
Também foram alvos de mandados as deputadas federais Carla Zambelli (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF). Colegas delas de Câmara que estão na relação dos mandados também são Daniel Lúcio da Silveira (PSL-RJ), Filipe Barros (PSL-PR), Junio do Amaral (PSL-MG), Luiz Phillipe Orleans e Bragança (PSL-SP) e o deputado estadual Gil Diniz (PSL-SP).
Outro visitado em sua residência pela operação da PF foi o blogueiro Allan dos Santos conforme postou o deputado federal Júnio Amaral (PSL-MG). Allan, que reside em Brasília, é identificado com o bolsonarismo. PF está na casa do @allantercalivre e em outros endereços cumprindo ordens de busca e apreensão do inquérito inconstitucional que corre no STF. O crime? "Ofensas" à corte!", postou o parlamentar.
Em São Paulo, o deputado estadual Douglas Garcia, do PSL, também foi visitado logo cedo pela PF, que fez buscas em seus computadores na Assembleia Legislativa, em outro cumprimento de mandado de busca e apreensão.
Na lista dos mandados, ainda, o humorista Reynaldo Bianchi Júnior, conhecido como Rey Biannchi. Ele gravou um vídeo e postou nas suas redes sociais mostrando os agentes federais na sua casa às 6h18min, mostrando o mandado judicial e a sua esposa chorando. "Eu vou processar o STF. O inquérito para mim, humorista?[...] Vou mandar esse vídeo para todo mundo. A Bia Kicis, deputada federal, lá em Brasília, vou mandar para Carlos Bolsonaro. Eu não tenho medo de nada, não. Eu pago meus impostos", afirmou, na postagem. "Eu não devo nada a ninguém", completou. Assista o vídeo do humorista:
Ministro será ouvido
Como parte da apuração, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, seja ouvido em até cinco dias na PF. Ele deverá se explicar sobre falas contundentes na reunião ministerial de 22 de abril cujo conteúdo foi tornado público na última sexta-feira, 22. Weintraub chamou os ministros do STF de "vagabundos" e afirmou que eles deveriam ser presos.
O ministro Moraes solicitou, ainda, que o procurador-geral da República, Augusto Aras, diga se considera necessário acompanhar o depoimento de Weintraub, "bem como para que se manifeste em relação às providências cabíveis para o prosseguimento das investigações".
Filho do presidente se manifesta
Carlos Bolsonaro, filho do presidente e vereador no Rio de Janeiro, postou o seguinte: "O que está acontecendo é algo que qualquer um desconfie que seja proposital. Querem incentivar rachaduras diante de inquérito inconstitucional, político e ideológico sobre o pretexto de uma palavra politicamente correta? Você que ri disso não entendo o quão em perigo está!".