Se ela já personificava, em vida, a luta em defesa das mulheres via Patrulha Maria da Penha, será ainda mais agora. "Tragédia" é a palavra mais utilizada, tanto na mídia quanto entre familiares, amigos e conhecidos para definir a morte da sargento Regiane Terezinha Miranda, 37 anos, assassinada pelo ex-marido no fim da manhã desta segunda-feira, 13, em sua casa, no bairro Vila Lourdes, em Forquilhinha.
Nas redes sociais, os relatos são os mais variados e todos de muito respeito à memória da policial. "Nós forquilhinhenses te agradecemos por todos os serviços prestados, pela dedicação e exemplo, que Deus te leve nos braços dele para sua glória e dê forças aos que aqui ficaram. Jamais serás esquecida", postou uma internauta no Facebook.
"Querida, não tem como aceitar isso" Inconformada. Que Deus dê forças à sua família, especialmente à sua mãe, que ela contava que se preocupava tanto com ela", respondeu outra internauta, no Instagram.
Confira também - PM é morta por ex-marido em Forquilhinha
De defensora a vítima
"O que mais incomoda é isso. Ela trabalhar na patrulha ajudando mulheres vítimas de violência e ter morrido dessa forma", contou a jornalista Francine Ferreira, que tantas vezes entrevistou a policial e sempre colheu dela as melhores impressões. "Ela era muito querida, conversava com as pessoas, se comunicava bem. E recém tinha conquistado a promoção a sargento quando trabalhou para estruturar a Patrulha Maria da Penha em Forquilhinha", referiu Francine.
A Patrulha Maria da Penha, que Regiane ajudou a montar em Forquilhinha, é o serviço da Polícia Militar que acompanha preventiva e periodicamente as mulheres que vivem situação de violência doméstica e familiar. Trata-se de um universo de medidas protetivas que são garantidas pela Lei Maria da Penha.
Regiane do Proerd
Ao confirmar a ocorrência à redação do 4oito, no começo da tarde, o tenente-coronel Cristian Dimitri Andrade, comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), ao qual Regiane estava lotada, ainda estava abalado. "Ela era nossa instrutora do Proerd", recordou, referindo outro trabalho que confirmou a competência da sargento para lidar com jovens e crianças, por intermédio do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência.
Por nota oficial, a prefeitura de Forquilhinha lamentou a morte da sargento:
O Governo Municipal de Forquilhinha lamenta profundamente a morte da policial militar, sgto Regiane Terezinha Miranda, nesta segunda-feira, 13, vítima de feminicídio no bairro Vila Lourdes.
Regiane se destacava pelo seu carisma, competência e dedicação nos trabalhos realizados na Polícia Militar, e angariou uma admiração ainda mais especial da comunidade como instrutora do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd).
O Governo Municipal de Forquilhinha se solidariza com os familiares, amigos, colegas do 9º Batalhão da Polícia Militar e presta condolências neste momento de profunda tristeza.
Como foi o crime
O ex-marido de Regiane - eles estavam em processo de separação - integrou a Polícia Militar, da qual exonerou-se em 2004 para atuar em uma atividade pública no Rio Grande do Sul, aprovado em um concurso. Detalhes do caso ainda estão sendo investigados, mas o primeiro relato chegou pelos filhos do casal, menores de idade - de 3 e 7 anos -, que presenciaram o crime.
Eles fugiram correndo para a casa do vizinho - tio deles e irmão de Regiane - avisando que os pais estavam mortos. De pronto, ele correu até a casa da irmã e a viu caída na garagem, perto da porta de acesso à cozinha, com marca de tiro no tórax. Em uma rápida verificação, percebeu que a vítima não tinha mais pulso. Ao se deslocar na garagem, percebeu, do outro lado de um carro que ali estava estacionado, o ex-cunhado também caído no chão, com marca de disparo no peito e sem apresentar sinais vitais. Samu e Polícia Militar foram acionados. O cenário do crime levou à constatação de que tratou-se de um feminicídio seguido de suicídio.
Ao chegar, a guarnição confirmou tratar-se da sargento Regiane a vítima. O comando geral da PM publicou uma nota de pesar:
É com grande pesar que a Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) informa o falecimento da 3º Sargento Regiane Terezinha Miranda do 9° Batalhão de Polícia Militar. A tragédia aconteceu na manhã desta segunda-feira, dia 13, no bairro Vila Lourdes, em Forquilhinha. As informações iniciais dão conta que a Sargento Regiane foi vítima de feminicídio praticado pelo ex-marido, que após cometeu suicídio. A policial militar ingressou na corporação em 2004, foi por muitos anos instrutora do PROERD e atuava com grande ênfase no policiamento de proximidade. A sargento atualmente estava lotada na guarnição da Polícia Militar em Forquilhinha. A policial deixa dois filhos, de 3 e 7 anos.
A comarca de Forquilhinha também se pronunciou por nota:
A comarca de Forquilhinha, sob a titularidade da juíza Luciana do Nascimento Lampert, presta suas condolências e solidariedade aos filhos, familiares, amigos e a Polícia Militar de Santa Catarina pelo falecimento da Sargento Regiane Miranda, hoje, 13/07, em Forquilhinha.
A sargento estava a frente da Rede Catarina de Proteção à Mulher, que atua no combate e prevenção à violência doméstica, desde sua implantação, no município de Forquilhinha.
Sua atuação impactou positivamente a vida e o futuro de mulheres em situação de violência, bem como o de milhares de crianças e adolescentes através do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd).
Lamentável e avassaladora a perda não apenas da figura importante e participativa da segurança pública municipal mas, sobretudo, do ser humano tão especial, marcante, doce e forte.
Seu legado para sempre será lembrado. E sua louvável bandeira, tremulada com tanto vigor, continuará sendo erguida e corajosamente defendida.
Luciana do Nascimento Lampert
Juíza de Direito - comarca de Forquilhinha
Homenagem nesta terça
Os atos militares de homenagens fúnebres à sargento Regiane serão realizados a partir das 9h desta terça-feira, 13, no Ginásio do Ideal, em Forquilhinha.