Quando assumimos a Rádio Som Maior, setembro de 2003, primeiro passo foi contratar uma pesquisa para apurar o que estava faltando no mercado.
Qual o perfil de rádio que não tinha na cidade e o público que não estava sendo atendido.
O professor Marcos Back comandava o instituto de pesquisas da Unesc. O seu braço direito era Renato Rampinelli, na época acadêmico, hoje professor e dono do seu próprio instituto de pesquisas.
Da pesquisa, saiu uma rádio focada na informação e no entretenimento. Informação era passada com os programas de jornalismo às 7h e 18h, e com o debate ao meio-dia.
Entretenimento, pela programação musical padrão adulto contemporâneo.
Deu certo. Mas, decidimos avançar, um passo adiante. Contratar e produzir shows musicais.
Estava em sintonia com o compromisso de oferecer entretenimento, atendia a um público que estava carente, que era o nosso ouvinte em potencial, e ampliava os horizontes do negócio.
Primeiro show: Emmerson Nogueira.
Era um cover de músicas internacionais, não tinha músicas próprias, só cantava dos outros, mas era um fenômeno.
Beto Colombo era meu sócio na rádio.
Em duas reuniões avaliamos ameaças e oportunidades, e fizemos a aposta.
Local definido, o melhor que a cidade tinha. Salão principal do Mampituba Clube.
Em poucos dias, todos os ingressos vendidos. Sucesso garantido.
Por via das dúvidas, fizemos questão de trazer antes o produtor e empresário do cantor para aprovar o local.
Ele veio, 15 dias antes, e deu sinal verde.
A partir dali, era só sair pro abraço!
Tiro certeiro, no alvo!
E chegou o dia!
A cidade estava mobilizada. A impressão é que todo mundo iria no show, porque só se falava nisso.
Para se ter uma ideia, os salões de beleza todos com agendas lotadas.
No Mampituba, encostou um caminhão com os esquipamentos de som e iluminação. Tudo começou a ser montado e o ambiente ia sendo preparado para o grande evento.
Ansioso naturalmente, naquele caso estava mais ainda porque seria o primeiro. Passei o dia lá.
De repente, mais ou menos meia tarde, chegou Emmerson Nogueira para fazer passagem de som. Fiquei só observando a muvuca, de longe, para não atrapalhar.
Afinal, passagem de som faz parte do processo. Ele estava trabalhando. Depois, falaria com ele, com calma.
Até que o Arthur, meu filho, fala no meu ouvido: “O Emmerson foi embora”.
“Quem? Que Emmerson?”, perguntei.
“O Nogueira, o cantor, foi embora”, confirmou.
“Foi pro hotel?”, tentei.
“Não, pelo que entendi, foi embora”, arrematou.
Quando Arthur terminou de falar, o empresário veio falar comigo. “Deu problema, o Emmerson não aprovou o local, e foi embora”, comunicou.
Foi um teste para o coração. Se fosse cardíaco, teria caído duro. Respirei fundo, e fiz apelo ao empresário: “Por favor, todos os ingressos vendidos, a cidade vem pra cá, você aprovou o local”.
“Pois é, mas ele não curtiu. Não gostou da altura do palco. Não vai fazer o show”, confirmou. E quando disseram que ele foi embora, é foi embora mesmo. Saiu dali direto para a BR-101, sentido Florianópolis.
Peguei no braço do empresário e não larguei. Ficamos andando pelo Mampituba, no gramado, nas pistas, nas quadras, e conversando. Primeiro, conversas duras, depois foi aliviando. Eu queria uma saída.
Até que passamos pelo ginásio de esportes e ele entrou. Olhou para um lado, para o outro, e proclamou: “Pode ser aqui”.
“Mas no ginásio? Lá no salão principal do clube é mais bonito, acústica melhor, tudo melhor”, argumentei. “É aqui, ou não tem show”, concluiu.
Se era a única solução, solucionado estava. Tinha que encaminhar as providências.
O show estava marcado aqui para sexta-feira, Emmerson Nogueira tinha show no sábado em Curitiba e domingo estava livre.
Então, o show foi transferido de sexta-feira para domingo. Do salão principal, para o ginásio de esportes. Acertamos que a rádio mandaria um ônibus para buscar Emmerson Nogueira e banda em Curitiba.
Mas, tinha que comunicar ao público. Que estava com ingresso na mão, há poucas horas do show. “Agora é com vocês, fiz minha parte, vou para o hotel”, disse o empresário.
Mas, ainda segurando forte no braço dele, anunciei: “Agora é conosco, nós dois vamos para a rádio e vamos fazer o anúncio. Você vai ser o porta voz do Emmerson Nogueira para explicar o aconteceu, dar as justificativas e garantir que ele volta no domingo”.
E lá fomos para a rádio. Tinha programa no ar, entramos direto no estúdio. Passamos a informação, com as justificativas e ficamos no ar por 30 minutos.
Quando terminou, o empresário entendeu que a missão estava concluída e poderia ir para o hotel. “Nada disso, vamos para o clube, esperar o pessoal que não ouviu o anúncio na rádio e vai aparecer lá”, avisei.
E seguimos para o Mampituba.
Ficamos mais de duas horas na entrada do clube. Para nossa surpresa só apareceu um casal de Sombrio. E mais de 2 mil pessoas estavam com ingressos comprados.
Foi a melhor pesquisa de audiência. E o primeiro show, esquecer jamais.
Pelo menos o show, no domingo, foi maravilhoso!