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A fábula dos 5 macacos

Entenda a maldição do "sempre foi assim"

Por Arthur Lessa Edição 11/03/2022

O texto de hoje parece história de criança, mas é uma das experiências mais importantes que já fizeram sobre comportamento. Não sobre comportamento humano, mas sobre comportamento. Afinal de contas, os protagonistas não são nem humanos.

Em um laboratório, um grupo de cientistas colocou em um ambiente cercado cinco macacos (que podemos chamar de 1, 2, 3, 4 e 5), uma escada e um cacho de bananas, que, obviamente, foram o foco de atenção (e tentação) do grupo.

A primeira fase do experimento consistia em esperar que um dos indivíduos cedesse à tentação e subisse na escada para pegar uma banana. Cada vez que um deles pegava uma banana, os outros recebiam um jato de água gelada.

O 1 pegou a banana, 2, 3, 4 e 5 acabaram molhados. Um tempo depois, o 3 pegou uma banana, 1, 2, 4 e 5 receberam a punição. E assim por diante.

Depois de algumas bananas, e de todos terem sentido o jato, surgiu no grupo um padrão de agredir aquele que tentasse subir a escada. Cedeu a tentação, pisou no primeiro degrau, bordoada na cabeça.

Passado mais um tempo, além da experiência do jato, todos já haviam sentido a experiência da surra. Sendo assim, ninguém mais se atreveu a pensar em subir aquela escada maldita.

Com esse padrão plenamente estabelecido, inicia-se a segunda parte da experiência, que consiste em substituir um dos macacos. Digamos que o 1 sai para a entrada do A, continuando com cinco integrantes no grupo.

O A, coitado, não tinha a mínima noção do que havia se passado naquele ambiente. Nada sabia de bananas, escadas e jatos gelados. Ao ver as bananas ali, apetitosas e acessíveis pela escada, não pensou duas vezes e foi buscar uma pra si. Seguindo o padrão estabelecido, o quatro “veteranos” o tiram da escada, aplicam uma caprichada surra, e fim de papo.

O calouro desavisado tenta mais uma ou duas vezes, toma mais uma ou duas surras, e entende o recado. Nem passa mais pela sua cabeça tentar pegar as bananas.

Segue o processo, 2 é substituído por B, que tanta pegar umas bananas, toma uns cascudos e aprende a lição. Depois 3 dá lugar a C, 4 por D e 5 por E. Por fim, não há mais veteranos no grupo. Nenhum dos atuais membros do grupo teve a experiência do jato gelado.

Se mudaram todos, as surras acabaram, certo? ERRADO!

Cada um que entrava aprendia que não podiam chegar às bananas e, se alguém insistisse, era necessário puni-lo violentamente. Mas, se nenhum deles teve a experiência do jato de água, por que mantiveram o comportamento de evitar as bananas?

Porque sempre foi assim! (na minha opinião, a pior frase que pode existir num ambiente produtivo).

Mesmo sem saber o motivo, cada macaco que entrava no grupo absorvia o comportamento como sendo algo óbvio, algo que é assim por si só.

Se falassem, o diálogo seria algo como:

- Por que eu apanhei?
- Porque não pode pegar banana!
- Por que?
- Porque se pegar, apanha. Foi assim comigo e com os outros dois que chegaram antes de mim.

Tenho certeza que, enquanto lia essa história, você lembrou de um caso parecido que acontece no seu ambiente de trabalho, faculdade ou algo do tipo.

Mas, só pra exercitar um pouco mais o tema, transforme os macacos em pessoas e eu tenho um exemplo humano que ouvi de um amigo hoje mesmo. Vamos chamá-lo de Pedro.

Ele precisava assinar um contrato de aluguel para a empresa da qual ele é sócio único. No documento constavam o nome dele e da esposa, que seria avalista do negócio. Pedro argumentou que seu casamento era em regime de separação total de bens e, por isso, a ligação da esposa com a empresa é completamente inexistente. Sendo assim, ele pediu a retirada desse campo de assinatura.

Depois de muito diálogo com o representante da outra empresa, ele ouviu que “se fosse assim, não haveria negócio” já que, em 15 anos, ele nunca havia visto um contrato daquele ser firmado sem esse campo assinado.

Pedro encerrou a conversa, contatou o departamento jurídico da imobiliária, explicou a situação e recebeu um novo contrato, com as mesmas definições, diferente apenas pela ausência do campo de assinatura da esposa avalista.

Feliz, Pedro voltou ao representante e informou que havia feito algo que não acontecia há 15 anos.

Não foi uma questão complexa. Não demandou grande estudo em jurisprudências. Não demandou uma reengenharia organizacional.

O que travou, e quase inviabilizou um negócio, foi a preguiçosa e confortável frase: É porque sempre foi assim.

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