O governador Carlos Moisés escolheu o dia 10 de março para dois anúncios de candidato a governador. Primeiro, encerrou a novela sobre sua filiação partidária, confirmando em Brasília a filiação ao Republicanos - destino que ele já havia decidido tomar semana passada, mas que ainda dependia de acertos que ele fez pessoalmente com o presidente nacional da legenda, o deputado federal Marcos Pereira (de São Paulo). O segundo anúncio foi o vídeo em que ele confirma que o governo estadual vai editar decreto para ser publicado no sábado com o fim de qualquer obrigatoriedade de uso de máscaras.
É curioso observar o que ambos os anúncios têm de diferente. Na questão partidária, Moisés tomou a rédea do próprio destino e agora será o responsável único pelos efeitos dessa decisão. Deixou de lado a articulação engendrada na Casa Civil, pilotada por Eron Giordani, para uma composição com Mdb, Podemos, Psdb e dissidências relevantes do Psd em nome de um projeto mais inusitado, mais seu. A bordo de um partido em que será o único nome de peso e de ambição, vai tentar juntar quase a mesma aliança que vinha sendo desenhada por Giordani, mas com suas feições.
Na questão sanitária, Moisés traz uma notícia que todos esperam, mas muitos ainda desconfiam. É uma decisão técnica, respaldada pela Secretaria de Saúde e baseada nos resultados alcançados no combate à pandemia ou o governador se entrega ao populismo viral? Pode ser uma decisão de convicção de governo ou a reação possível diante de uma série de decretos municipais editados para contrariar a restrição estadual - iniciada, semana passada, pelo prefeito chapecoense João Rodrigues (Psd), aliado de Giordani, ensaiando um retorno à ribalta eleitoral. Cedo para saber.
O governo estadual ganhou algum sossego na relação com os municípios nas questões da pandemia quando aprendeu a só exigir regras que a maioria estivesse disposta a cumprir. O uso obrigatório de máscaras, já flexibilizado formalmente em áreas abertas e abolido informalmente em boa parte dos lugares fechados por falta de empenho estatal de fiscalizar as restrições que impõe, era quase letra morta. Assim, Moisés anuncia o fim do uso cenográfico das máscaras. Os desconfiados certamente vão continuar mascarados.
Os anúncios sobre o partido e as máscaras também trazem uma semelhança. Ambos acenam ao eleitor simpático ao presidente Jair Bolsonaro (Pl). Repare, leitor, que eu escrevi "eleitor simpático" e não bolsonaristas - porque estes Moisés já perdeu em 2019. Bolsonaro sempre foi um crítico do uso de máscaras e sempre se mostrou muito incomodado quando era cobrado por não usá-las - especialmente se fosse uma mulher jornalista. Bolsonaro deve ter em sua coligação para reeleição o Republicanos escolhido por Moisés para disputar um novo mandato. O Mdb e o Podemos, estejam onde estiverem, não estarão com o presidente. Assim, o governador catarinense pode tentar amenizar a fama de traidor do bolsonarismo.
E como Moisés é inegavelmente um homem de sorte, ainda há o fator Luciano Hang. O donos das Lojas Havan chegou a anunciar o dia 10 de março como data para anúncio do partido em que vai se filiar para levar adiante o projeto da pré-candidatura ao Senado, mas desmarcou. Seria 10, marqueteiramente, para vincular com o número da legenda do Republicanos. Há pressão, no entanto, para que ele migre para o Pl de Bolsonaro e do senador Jorginho Mello, pré-candidato a governador. Essa conversa ter esfriado fez com que o Republicanos no Estado se voltasse novamente a Moisés, o que definiu os termos do acerto ao longo da semana que passou.
Mas a direção nacional Republicanos não desistiu de Hang e continua negociando com Bolsonaro que alguns nomes de peso de seu grupo político fiquem no 10 em vez de optar pelo 22, como forma de ajudar a fortalecer o aliado. O empresário também não abre mão da condição de ignorar as candidaturas a governador em Santa Catarina e pedir votos apenas para o presidente. Com alguma dose de sorte, coisa que nunca faltou a Moisés, Hang ainda pode cair no Republicanos.