Faltando menos de 17 meses para as eleições de 2020, o contraponto ao prefeito Clésio Salvaro vai levantando o tom na Câmara. Foi o que mais se percebeu ontem, em um apanhado das falas de vereadores como Ademir Honorato (MDB), Zairo Casagrande (PSD) e Julio Kaminski (PSDB), cujos discursos de oposição ao Paço já são mais que reconhecidos. As farpas de Julio Colombo (PSB) e as críticas de Edson Paiol (PP) colocaram um tempero a mais, por razões partidárias.
O vereador Ademir foi à tribuna com um número inquietante em mãos. Apontou que hoje a fila de espera por consultas na rede municipal de saúde já conta com 36 mil pessoas. Um número alarmante. Seria como se 17% da população de Criciúma estivesse nessa fila. E ele fez um comparativo preocupante, mencionando que em 2017 o Governo Salvaro referia que a mesma fila contava com 8 mil pessoas.
A partir da fala do vereador emedebista, multiplicaram-se as críticas à secretária Francielle Gava, que recentemente esteve na Câmara mas parece não ter agradado muito nos esclarecimentos prestados. Ademir lavrou mais um requerimento pedindo explicações.
No embalo das filas, o vereador Edson Paiol expôs o caso de uma moradora do Bairro Santa Luzia que está há nove meses com o pé quebrado esperando consulta com ortopedista. Ela aguarda também, desde janeiro, por um otorrinolaringologista, pois vem sentindo uma surdez parcial em um dos ouvidos.
O vereador Zairo aderiu às contas para abordar o caso Criciumaprev, que vem sendo objeto de uma comissão especial de investigação na Câmara. Ele apontou que, com o saldo positivo que o caixa da prefeitura vem tendo, poderia normalmente estar pagando a contribuição patronal mensal de R$ 2 milhões para manter o fluxo do fundo municipal de Previdência. Abaixo, os números que o vereador citou, da tribuna, referentes ao superávit do caixa da prefeitura em meses recentes.
Julho: +44,4 milhões
Agosto: +46,2 milhões
Setembro: + 46,3 milhões
Outubro: +47,5 milhões
Novembro: + 54,7 milhões
Dezembro: +64,6 milhões
Janeiro: + 68,1 milhões
E a lógica do vereador Zairo é a seguinte: ao não pagar os R$ 2 milhões mensais, como não vem fazendo, a prefeitura transforma essa parcela, com juros e correção, em mais de R$ 3 milhões, mesmo tendo dinheiro em caixa. Mais um porém a essa enroscada novela do Criciumaprev.
O vereador Kaminski requereu à Afasc os números da instituição. Citou que uma entidade que movimenta R$ 42 milhões de janeiro a dezembro é passível de acompanhamento, e informou que, em um dos documentos encaminhados, a Afasc garante que não tem funcionários seus cedidos à prefeitura, uma das dúvidas apontadas pelo parlamentar.
A ponte pênsil do Parque dos Imigrantes foi lembrada pelo vereador Julio Colombo. Ele contou que pediu providências à prefeitura e que recebeu uma resposta que julgou simples: "temos prioridades". O parlamentar emendou: "isso cheira a desdém com essa Casa".
Sobre requerimentos ao Executivo e respostas que não agradam, o vereador Zairo voltou com outro cálculo. "Menos de 20% das solicitações dos vereadores alocadas e aprovadas em orçamento foram realizadas. Cabe questionar a validade do trabalho do vereador e o reconhecimento do Executivo".
E Ademir Honorato voltou à carga, citando que houve "duas respostas diferentes para requerimentos encaminhados à prefeitura sobre gastos da Fundação Cultural de Criciúma e outras informações. É muita pichotada apresentar algumas respostas dessas", emendou.
As críticas de Ademir, Zairo e Kaminski não surpreendem. Ademir é do MDB que quer uma candidatura de oposição a Salvaro. Zairo está no PSD mas já com passe livre, tem um namoro com o PDT, pode ser o seu destino. Kaminski está com um pé no DEM, embora tenha sido visto em flagrante namoro com o PSL e gostaria de uma legenda para concorrer a prefeito. Não terá espaço no PSDB - que já o liberou - nem para buscar a reeleição à Câmara.
Os casos mais dignos de estudo das críticas de agora focando 2020 são Julio Colombo e Edson Paiol. O primeiro, está no PSB, mas sem qualquer vínculo e em vias de sair. Andou com um pé no PSDB, mas seu posicionamento pela CPI do Criciumaprev fez azedar a conversa com o prefeito Salvaro. Paiol é do PP, que encontra-se dividido, tem uma fração - que não é a dele - que gostaria de alinhar com Salvaro para 2020, tese defendida, por exemplo, pelo outro progressista na Câmara, o presidente Miri Dagostim.
Hoje será outro bom termômetro. Salvaro vai à Câmara falar sobre a Casan. A partir das 17h. Uma boa pedida para conferir.