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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Henrique Packter 15/03/2022 - 16:43 Atualizado em 15/03/2022 - 16:43

CAÇANDO NA SERRA

Nos anos 60 e 70  muitas personalidades criciumenses, nas épocas em que a prática da caça a animais dos altiplanos era permitida, subiam em caravanas a Serra do Rio do Rastro para embrenhar-se nos matos e matas em busca do prazer trazido pelo esporte de reis. O percurso era  sempre o mesmo e as personagens também. Entre os mais assíduos caçadores vou destacar o médico Dino Gorini e o juiz Francisco May Filho.

O ROTEIRO

Criciúma a Lauro Muller = 51km

Lauro Muller a Bom Jardim da Serra = 35km

Bom Jardim da Serra a São Joaquim = 46km

Descer (ou subir) a Serra do Rio do Rastro sempre foi uma aventura. O trecho ultrassinuoso da SC-438, com 284 curvas, fica entre Lauro Müller e Bom Jardim da Serra de 23 km. A partir de Lauro Müller, os primeiros 16 km são asfaltados. Nos outros 7 km (total 23km), em concreto, a emoção é outra: subidas íngremes e curvas de 180°. Há vários mirantes para admirar o visual.

São Joaquim é próxima das cidades de Bom Jardim da Serra (46 km), Urubici (60 km) e Urupema (78 km). Bom Jardim 1232ms, São Joaquim 1354ms. Com 2.993,80 m de altitude o Pico da Neblina é o ponto mais alto do Brasil.

A serra do Rio do Rastro localiza-se no município de Lauro Müller, 220m de altitude, alcançando mais de 1421 metros de altitude em apenas 23 km. O ponto mais elevado, próximo da sua descida a sudeste, é o morro da Ronda, possibilita o acesso pela rodovia, a sul (cerca de 500 m da SC-438) que leva ao interior de Bom Jardim da Serra, junto aos Aparados da Serra e tem 1507 m de altitude. Dele, avista-se o ponto mais elevado do RS (Monte Negro com 1398 m), dias claros, sempre olhando ao S. Ao N-NW, avista-se um dos três pontos mais elevados de SC, o Morro da Igreja com 1822 m.

A rodovia SC-390 tem subidas íngremes e curvas fechadas. Coberta pela mata Atlântica, fauna diversificada, com felinos de pequeno, médio e grande portes, fauna de macacos, quatis, pacas, mãos-peladas, tatus, tamanduás e iraras. Tem avifauna de águias chilenas, tiês-sangue, tucanos, araras, papagaios. A rodovia SC-390 que atravessa a Serra do Rio do Rastro é a Carretera Asombrosa (Estrada Espetacular) de revista espanhola.

O DIFÍCIL CENÁRIO ECONÔMICO SERRANO DA ÉPOCA

Época difícil, araucárias em desaparição, serrarias  minguando, população serrana defende-se como pode. Economia chega a  extremos. Mesas para refeições têm gavetas onde a família esconde os pratos, mal apontava na estrada possível visita. Compadre Onofre vai visitar compadre Honorato. Pratos são escondidos nas respectivas gavetas, a visita deixando-se ficar. Chega hora de dormir. Tradicional bacia d´água quente é levada ao quarto da visita para que, descalçadas as botas e meias grossas, os pés pudessem ser lavados. Compadre-visita, atônito, parece não saber o que fazer:

- Compadre, não vai lavar os pés para dormir?

- Num fará mal lavar os pés em  jejum?     

Por Henrique Packter 31/01/2022 - 09:09 Atualizado em 31/01/2022 - 09:09

Morre em Florianópolis aos quase 90 anos este médico formado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná (FMUFPR) em 1959. Foi meu colega da turma que também formou ZILDA ARNS NEUMANN e WALDYR MENDES ARCOVERDE, este ex-ministro da Saúde. Nesta mesma turma médica despontaram LINO LIMA LENZ, professor da UERJ na cadeira de Urologia e falecido neste mês de janeiro que passou, no Rio de Janeiro. Era natural de São Francisco de do Sul. Esta mesma turma médica formou também AFONSO ANTONIUK e CORIOLANO CALDAS SILVEIRA MOTTA, professores aposentados na FMUFPR, o primeiro na cadeira de Neurocirurgia.

Esta Turma de Medicina notabilizou-se pelo número de  professores que legou à história da Medicina Brasileira.  Nossos ex-colegas, ANTÔNIO PELISON e ANTONIO CARLOS SPRENGER lecionaram CLÍNICA CIRÚRGICA e WILSON CIDRAL, lecionou OTOLOGIA, todos na Federal do Paraná. Já MÁXIMO GONZALES DONOSO lecionou CIRUGIA PLÁSTICA na Faculdade Estadual de Medicina de Londrina, PR. INGEBORG CHRISTA LAUN foi chefe do Serviço de Endocrinologia do Hospital do IPASE no RJ e professora desta cadeira na Faculdade de Medicina de Petrópolis, RJ.

Outros colegas nossos, ÉLIA GOMES, natural de Florianópolis, pediatra em SP, era orientadora e professora na USP. Padre JOSÉ  RAUL MATTE, abnegado médico e padre, dedicou sua vida a cuidar dos índios da  Amazônia brasileira. Já falecido, doava parte de seu modesto aposento de dois salários mínimos a esta obra que abraçou e à qual serviu em jornadas com voluntários, buscando aldeias de indígenas ao longo do Rio Negro, entregando-lhes vestuários, alimentos, medicamentos e concertos de música de solos de flauta-doce. “Nunca tive plateia mais atenta e respeitosa”, dizia. NEON DE MELLO E OLIVEIRA foi outro colega nosso a dedicar-se ao ensino em São José do Rio Preto, onde ocupou a cadeira de OTTORINOLARINGOLOGIA. Já JOAQUIM DE PAULA BARRETO FONSECA, anestesista de especialidade, não só lecionou, mas também criou a Faculdade de Medicina da UNICAMP em Campinas, SP. Há outros, cujas vidas abordarei em outra ocasião, se Deus quiser. 

E quanto a EGÍDIO MARTORANO NETO, PAI DO CIRURGIÃO PLÁSTICO EGÍDIO MARTORANO FILHO?

Sempre fomos muito ligados, embora nos últimos anos tenhamos nos afastado por questões de trabalho. Egídio nasceu em 25.10.1932, em São Joaquim/SC. Filho de Domingos Martorano e de Alzina Vieira Martorano, seu antepassado, Domingo Martorano (1841-1923), natural de Casteluccio, Basilicata, Itália, filho de Egídio e de Mariana Gioia, foi pioneiro da colonização italiana em São Joaquim (1880).

Meu colega, Egídio Martorano Neto, ex-Deputado estadual, cursou o ginasial e o colegial no Colégio Catarinense, em Florianópolis/SC, formando-se em Medicina pela Universidade Federal do Paraná, especializando-se em Clínica Geral e Cirurgia Geral, em Porto Alegre/RS.

Casou com Leda M. Couto Martorano e é pai de Egídio Martorano Filho (conhecido médico cirurgião-plástico), Simone, Fabrício e Fabiano.

Elegeu-se duas vezes Prefeito de São Joaquim, em 1966 e em 1972. A iniciativa de atrair japoneses, instalados em SP, para São Joaquim  afim de dedicar-se ao plantio e cultivo de maçãs é atribuída a Egídio, quando prefeito. As florestas de Araucária estavam dizimadas pelas serrarias que funcionavam 24 horas por dia,  urgia substituir esta cultura de terra arrasada por outra que trouxesse empregos, respeitando e preservando  o meio ambiente.

Foi Diretor do Hospital Coração de Jesus de São Joaquim, Chefe da Unidade Sanitária no mesmo município, médico da Companhia de Águas e Saneamento do Estado de Santa Catarina (CASAN) e Diretor-Presidente da CLINIMED, Florianópolis.

Nas eleições de 1978, concorreu ao cargo de Deputado Estadual pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), elegendo-se com 12.392 votos, tomando posse à 9ª Legislatura (1979-1983).

Em 1979, dirigiu a Divisão Hospitalar da Secretaria da Saúde do Estado de Santa Catarina e em 1981, exerceu as funções de Vice-Governador do Estado (14 a 23 de julho e de 28 de agosto a 21 de setembro).

Buscou por duas vezes a reeleição de Deputado Estadual no Parlamento catarinense, mas não se elegeu. Em 1982, pelo Partido Democrático Social (PDS), obteve 14.256 votos e, em 1986, pelo Partido da Frente Liberal (PFL), obteve 3.777 votos. EGÍDIO e  JORGE KONDER BORNHAUSEN sempre foram ligados por amizade pessoal e político-partidária marcante.

Pai amoroso, marido dedicado, profissional correto, EGÍDIO deixa lacuna difícil de ser preenchida e grande pesar em todos nós que o admirávamos e por quem nutríamos  amizade inabalável. Vai com Deus, amigo Egídio, até breve!

Por Henrique Packter 07/01/2022 - 08:55 Atualizado em 07/01/2022 - 08:55

Deixa casa e consultório, bengala de junco ao ombro, chapéu Borsalino de grande aba larga e gravatinha branca de tope, habitualmente usada.  E lá se ia, bamboleando o corpo grandalhão, gingar de marinheiro, olhos semicerrados, pequenos, vivos, perdidos muitas vezes em elocubrações. César Avila  já estava pronto e lá se ia, rua 15 de novembro acima, rumo ao hospital, o velho convento de pedras. Seis e meia da manhã e já se preparavam na sala pequena, onde o sol ensaiava entrar pela janela.

Seu escovar era um dilúvio de espuma e água. Antes, pince nez a cavaleiro no nariz, tesoura em punho, cortava as próprias unhas e examinava as de seus assistentes. Está ali com as calças arregaçadas até o meio das canelas. A lavagem das mãos durava os longos 15 minutos clássicos.

Sartori sempre cumpriu escrupulosamente, com rigor fanático os detalhes mínimos da técnica. Era intransigentemente exigente em relação à lavagem das mãos e à desinfecção do campo operatório, a assepsia e a antissepsia. Ao executar uma cesariana seu jeito desengonçado se transfigura na cirurgia. A cabeça irradia autoridade e aquelas mãos que pareciam pesadas, adejam leves, manejando o bisturi. É um artista operando. A calma que vem da segurança em si. O entusiasmo jovem não diminuiu, mesmo tendo Sartori emagrecido pela velhice, a face sulcada de rugas. Um homem consciente da responsabilidade do ato cirúrgico.

A sala de operações era um Templo onde se ciciava. Mas, se algo não corresse bem, pobre do assistente ou da enfermeira.

Deus romano tonitroante acordava numa tempestade de palavras e palavrões, mistura de italiano e português, blasfemando em duas ou mais línguas...

Terminado o ato cirúrgico, passava a tempestade, era o primeiro a cumprimentar a todos e a pedir críticas. Jamais atingiu a autossuficiência e, por isso, sempre foi moço.  Tinha a tortura da perfeição. Na véspera relera a familiar anatomia topográfica daquela operação,   tão sua conhecida e tantas vezes praticada. Hábil escultor, sabia que estava esculpindo o frágil material que é o corpo humano, sempre um grande risco. Era, a um tempo, mestre-parteiro, grande clínico, grande cirurgião, grande coração.

César Sartori e César Ávila voltam para casa, sempre conversando. E, nessa volta param cinco a seis vezes. Parados, ele bate no ombro do interlocutor para sublinhar o raciocínio. Parados alguns minutos várias vezes no calor da conversa, a volta do hospital dura, assim, perto de uma hora.

Para, bate no ombro e diz: -“Hóstia! Veja a inteligência do Povo. Puseram apelido de bicho numa porção de gente. Quando sonham com um desses, jogam no bicho correspondente. Sturgo é o cachorro. Caetano é o pavão.  E eu, diga-me: com que bicho sou parecido? Olha! Sou o urso. O urso do polo. E sou parecido mesmo”.

Na casa almoçam a imbatível culinária, cardápio de dois mundos, responsável por sua obesidade. Macarrão de vários tipos. Salada de feijão branco e alho. Fumegantes assados. Paca, perdiz, polenta. Tudo regado a vinho.

Com gesto autoritário, dedo em riste, exigia repetissem várias vezes a taça de vinho ou o copo de cerveja: “Semel in anno insanire potes.” (Uma vez por ano podes ficar maluco, diziam os latinos). Beba “que te fa bene”.  E assim, várias vezes por mês seguiam o preceito anual dos latinos. Café, vermute. Depois dormia religiosamente a sesta. Dona Senhorinha e Matilde preparavam-lhe o almoço e cuidavam de seu sono reparador pós-prandial.

O Consultório

Três degraus. Corredor estreito. Na porta o horário de anúncio de jornal: Consultório Dr. César Sartori, médico, operador e parteiro. Entrava-se por uma porta ao lado. O consultório de Sartori era peça pequena e modesta em sua residência particular. Um esqueleto humano completo a um canto, pendurado na parede. Dois grandes armários com livros.

Mesas pequenas lembravam um museu. Havia, entre outras coisas, queixada de piranha do interior do Mato Grosso, minérios de ouro colhidos por suas próprias mãos nas galerias de Morro Velho, arcos e flexas de muitas tribos, dois crânios de indígenas e outros, de animais. Um grande couro de jibóia contornava a peça, paralelo ao teto. Antigos recortes de jornais e de revistas nas janelas de vidro dos armários: Stalin, a Passionária, Plutarco, Luiz Carlos Prestes, fotos de crianças, colegas, amigos.

E livros: bíblias e livros comunistas ao lado de manuais de cirurgia e de obras de Biologia. Tudo lido. Tudo anotado. Em outra peça, seu arquivo. Eram de contas que quase nunca mandava e ficavam ali à inútil espera de pagamento com tudo em ordem, dia e hora do atendimento. Algumas pitorescas. Esquecera o primeiro nome do paciente e especificara como lembrete:”Santos (o sem orelha) 10 injeções de 914 semanalmente de 2.6.1925 a 4 de agosto".

Ali examina doentes com cuidado e técnica, aflorando o diagnóstico acima dos sintomas, com aquele sexto sentido que dá ao clínico a intuição da doença, qualidade nele hipertrofiada. Depois das consultas, estuda, escreve. À noitinha sai e visita amigos; ao pé da lareira transborda o formidável causeur. Penosamente, surge, caleidoscopicamente, suas aventuras pelos caminhos do mundo.

Profissão de fé

Orador de mão cheia, assim sintetizou num discurso de saudação, sua vinda a Lages:

“Deixa que tudo isso te diga, um médico do interior, que chega aqui, vindo de Urussanga, consumindo 8 dias a cavalo, 41 anos atrás. Médico que cobria distâncias imensas em transportes muitas vezes incômodos, sem horas de descanso, escalando montes em noites de temporal, enfrentando as mais duras intempéries pelas caladas da noite, sem repouso para o físico e sem tréguas para o espírito. Transportado no lombo das mulas, ao frio, ao vento, à neve.  Esperando na noite negra, que baixasse a água do rio para poder vadeá-lo. Dormindo ao relento ou no catre duro, tendo travesseiro como única roupa, onde, uma vez, estava escrito:” Duma bem e viva a República.” O dramático, o trágico, o cômico, tudo misturado. Precisava ser enciclopédia viva, um improvisador, médico e enfermeiro, parteiro e dentista; muita vez batizei crianças agonizantes. Fiz minha primeira operação cesárea em Lages, no quarto da paciente, assistido por Hermelino Ribeiro e Antônio Amorim".

Antifascista

Levanta-se num banquete pedindo a palavra para condenar a invasão da Abissínia pelas tropas de Mussolini. Na guerra de 14 vai à Itália. Ainda não naturalizado brasileiro dirige parte de um hospital e não aceita remuneração ou posto de oficial. Sartori levava a extremos sua ética profissional. Por princípio, adversário de qualquer guerra, não queria tirar proveito daquela.

Sofreu o que a Itália sofria com o domínio de Mussolini. Recalcou suas tendências políticas, denunciado que foi por colega cônsul italiano, como antifascista. Tinha familiares na Itália e suas atitudes, no Brasil, podiam vir a prejudicá-los, comprometê-los. Recebe carta de um parente, catedrático em Milão, o professor Colosi, enviada clandestinamente da Suiça, em pleno período fascista: “...Caríssimo tio, não sublinhe nada em suas cartas. Não escreva a palavra LIBERDADE. Não fale nem na Democracia brasileira. Evite tudo isso. Poderemos sofrer muito!” Um a um seus parentes vão morrendo.

Por Henrique Packter 31/05/2021 - 09:49 Atualizado em 31/05/2021 - 09:51

Remexendo meu baú encontro muitas vezes algumas esquecidas pérolas. Algumas nem título tem, a maioria não tem autor. Esta aqui é uma delas, mas desconfio, pelo estilo, que se trate de coisa do falecido médico, professor, jornalista, hipnotizador e eutanásico escritor, OSMARD DE ANDRADE FARIA.        

Como certos músicos amadores autodidatas, escrevo de ouvido.

Tais devaneios me assombram após ter lido no jornal Estado de S. Paulo, artigo assinado por economista aborígene sobre o mau uso da língua-pátria por brasileiros. Como vocês veem, até economista entende mais de gramática do que nós. Queixava-se ele  -  e engrosso o coro  -  que nunca antes neste país se americanizou de tal forma o idioma pátrio. Citava a estupefação de amigo seu, norte americano, fluente em português pois nos visita com certa assiduidade, que trocando pernas pelas ruas da paulicéia, sentia-se como se estivesse em Nova York. Dizia: aqui, já não mais se estaciona, faz-se parking, liquidações são sales, descontos nos preços, offs, pizzarias fazem delivery, edifícios agora são buildings, Towers and Centers, coisas que tais. O que, porém, mais chamou sua atenção foi um novo edifício paulista punido como Augusta High Living, já que esse termo, high, nos EUA é usado para referir-se a alguém drogado ou embriagado.

Lembrei-me do que vejo acontecer no meu entorno em Floripa. Além de macaquearem a língua alheia, ainda a usam com erros crassos. Próximo ao meu banco há um restaurante chamado  Squina´s que não pertence a nenhum Sr. Esquina. Do outro lado da rua, um salão de beleza oferece up-to-date hair designs. E, mais adiante, uma casa vende carimbos com o gracioso título Carimbo´s.  O restaurante na Lagoa da Conceição era gloriosamente conhecido como o Lagoa´s.

Ainda não é o pior. Suponho, aquelas denominações partiram de pessoas consideradas desprovidas de melhores  atributos culturais. Temos na cidade um moderno hospital, bilingue de nascimento e batizado de Baía Sul Medical Center. Por que não Centro Médico Baía Sul? Ou então, logo de uma vez, South Bay Medical Center? Ocorre o mesmo com seu irmão gêmeo de besteirol, o Celso Ramos Medical Center.

Reclama ainda o ecônomo-linguista supra epigrafado do desordenado uso de metáforas, ditados e parâmetros vulgares nos artigos de imprensa. Como: trocar seis por meia-dúzia, misturar alhos com bugalhos (que seriam bugalhos?), heróicos soldados do fogo, no frigir dos ovos, o que cair na rede é peixe, calcanhar de Aquiles, adentrar o gramado, chover a cântaros (que seriam cântaros?), calor abrasador, forte como um touro, cautela e caldo de galinha, antes tarde do que nunca, enquanto há vida há esperança, quem espera sempre alcança e outros que tantos.

E após algumas outras oportunas considerações, o articulista cita alguns conselhos do escritor George Orwell  para o bem escrever, não só da dele mas também da nossa culta e bela flor amorosa de três raças tristes, o castigado português. Eis oito dessas proveitosas lições:

         1. Nunca use uma metáfora, símile ou outra figura de linguagem que está acostumado a ver na imprensa;

         2. Nunca use uma palavra longa quando uma curta dará conta do recado. (Escorregão do autor na regra anterior usando metáfora vulgar).

         3. Se é possível cortar uma palavra, corte-a!

         4. Nunca use a voz passiva quando pode usar a ativa;

         5. Nunca use uma expressão estrangeira, uma palavra científica ou um jargão se puder pensar num equivalente do português usual;

         6. Infrinja qualquer uma destas regras antes de dizer alguma coisa totalmente bárbara;

         7. Evite frases longas, dessas que dobram a esquina;

         8. Evite a prolixidade e as explicações logorreicas usadas para mostrar falsa erudição;

Finaliza transcrevendo ensinamento colhido em Jacques Barzun: escrever é reescrever e cortar palavras desnecessárias, sobretudo pletóricos adjetivos.

Diante do exposto  e absorvidos os ensinamentos, saio do  consultório para pagar uma conta pendurada quando encontro conhecido colunista citadino, cercado por plateia de seguidores. Justo quando anunciava: brothers, vou a Floripa para drinques e comemorar o weekend dilatado no The Sins, Blues Velvet, Scuna Bar, Fields Floripa ou Jivago Lounge. Que tal?

Por Henrique Packter 24/12/2020 - 10:59 Atualizado em 24/12/2020 - 11:01

FELIZ NATAL, GENTE! FELIZ 2021! SAÚDE!

 Ao sobrevoar a Fazenda Tronqueiras, proximidades de Santa Maria, RS, Irineu embicou o Paulistinha numa série de rasantes sobre a mesma, espantando umas vacas que o peão Euclides Guterres acabara de apartar. No alto de uma das elevações, Euclides cuidava de uma novilha com bicheira e não gostou nem um pouco do que ocorria.  As passagens sobre a casa grande e a mangueira fizeram o peão passar a mão do laço de treze braças e 4 tentos que arremessou por diversas vezes em direção ao pequeno monomotor. (1 braça = 1,83 metros; tentos: pequenas tiras de couro às quais se prende o que se quer trazer à garupa).

 Eram os primeiros anos de  1952. A cada arremetida Irineu voava desafiadoramente mais baixo para inticar com o laçador. Na terceira ou quarta tentativa o avião foi laçado. Balançou, só não caindo porque a hélice cortou o laço de couro que acertara o bico do teco-teco. Por estar preso na cincha do arreio sobre o cavalo, o laço, com o impacto, rebentou na presilha e seguiu pendurado no avião. Estava feito!

 Outra versão dá conta que o peão Euclides Guterres, para não ser carregado pelo avião, largou o laço. Mas, a hélice, de golpe, já havia partido em duas as 13 braças de couro cru trançado. O jovem piloto tinha na frente dos olhos um pedaço do laço. Virou o nariz do aparelho e voou em direção a Camobi com a hélice partida!

O motor pipocou algumas vezes, perdeu altura para depois nivelar e sumir em direção a Santa Maria, levando preso na fuselagem um pedaço de laço gaúcho de treze braças, quatro tentos, couro cru.

Assustado, tratou de pousar. Ainda na cabeceira da pista, longe do hangar, teria retirado o laço que escondeu no meio das macegas. Como houve dano na hélice do aparelho, o piloto estava ameaçado de demissão, por ter agido de forma imprudente e provocativa, e por não ter comunicado o fato às autoridades aeronáuticas. Três dias depois do evento, A RAZÃO promoveu um encontro entre os protagonistas do episódio.

http://wp.clicrbs.com.br/almanaquegaucho/files/2012/11/0086115f.jpgHá quem afirme que a diretoria do aeroclube percebeu o pedaço do laço enrolado na hélice e obrigou o piloto a contar tudo, tin tin por tintin. É quando os diretores do aeroclube decidem cassar a licença do piloto Noal. Ele ainda pagou multa pela transgressão. Em 1999, aos 68 anos, perguntado sobre o fato, não se sentiu muito à vontade para falar sobre a façanha.

Disse:

-Foi uma brincadeira de guri. Mesmo arredio, o piloto admitiu o perigo da manobra e desdenhou da habilidade do peão. (Aquele não laçava nem vaca. Foi uma sorte muito grande). Noal não conseguiu lembrar o dia exato do episódio.

 A FAMA

Irineu falava dos namoricos e dos amassos vindos com a fama inesperada.

Nem sempre gostava de falar sobre o assunto, embora a história lhe rendesse certa fama. Irineu foi casado com Maryolanda, com quem teve três filhos - Alexandre, Giovani e Lorraine.  Versões validam as declarações de um dos filhos de Irineu, Alexandre Noal. – Não por acaso Irineu era conhecido como Gringo Louco. Ele gostava de pilotar e, mais ainda, de aventura. O meu avô tinha medo de voar. Mas, uma vez, meu pai o convenceu a voar com ele. Quando o vô percebeu, eles estavam passando por baixo da ponte do Passo do Verde – lembra o filho Alexandre Noal, 48 anos. Segundo Alexandre, apesar das diferentes versões para o fato, seu pai afirmava que pretendia devolver as cartas de uma ex-namorada. Por isso, resolveu dar rasantes na fazenda Tronqueiras, onde a moça morava e que até hoje pertence à família Xavier. Esperava que ela saísse de casa e ele pudesse arremessar as correspondências.

O voo de Noal entre a fazenda e o aeroclube não demorou nem oito minutos. Ao pousar mentiu que sofrera um acidente. Porém, foi denunciado pelo pedaço de laço enrolado na hélice. Acabou multado, foi expulso, teve o brevet cassado. Irineu guardou a hélice do paulistinha com o pedaço do laço. 3.803

Por Henrique Packter 30/11/2020 - 08:28 Atualizado em 30/11/2020 - 08:43

"Nada nos pode parecer mais estranho do que a notícia de que um homem tenha laçado um avião. A vontade que a gente sente é de duvidar. Mas, a verdade é que a extraordinária façanha aconteceu no pampa gaúcho, em Tronqueiras, na rica fazenda de Arroio do Só, município de Santa Maria."

(Abertura da reportagem de 3 páginas, publicada n’O Cruzeiro, em 23.2.1952, assinada por Cláudio Candiota).

Há 68 anos atrás, inacreditável acontecimento colocou Santa Maria no mapa do mundo. Felizmente não foi nenhuma tragédia como esta mais recente da boate Kiss a responsável pela súbita notoriedade.

Irineu Gabriel Noal

Causou o reboliço meu colega do 2º ano científico do Colégio Santa Maria, Santa Maria, RS, Irineu Gabriel Noal. Avançava na escola com grande dificuldade, demonstrando pouco apetite para o estudo. Deu-se por satisfeito com a conquista do término deste segundo ano científico, não prosseguindo os estudos. Não ingressou em nenhum curso superior, que se saiba.

Lembro-me dele, falando sem olhar o interlocutor nos olhos, cigarro preso em dois dedos em pinça da mão. Acompanhava a fala desenhando (com o cigarro), semicírculos rápidos e nervosos no ar, na linha da cintura.

Era alto, moreno, cabelos crespos, lavados. Irineu, pilotando um teco-teco foi laçado por um peão de fazenda, justo quando recente tragédia aérea aconselhava prudência aos aeronautas. Em 12.7.1951 um avião das Linhas Aéreas Paulistas chocou-se com uma árvore a 3 km do aeroporto de Aracaju. No acidente morreram 32 pessoas entre passageiros e tripulantes.

O começo

Irineu voava num dia de janeiro de 52 para demostração, para impressionar a filha de rico e influente estancieiro. Teve sorte de ser apenas laçado. E se o pai da moça resolvesse atirar contra o imprudente piloto do monomotor que realizava rasantes em sua propriedade?  E se o peão-laçador mantivesse o laço preso nas mãos? Irineu foi notícia na imprensa mundial merecendo reportagem de destaque  n’O Cruzeiro, nº 19 (23.02.1952), a mais importante revista do país.

A imprensa da época

O José Adelor Lessa de então

Tarde de janeiro de 1952, o jornalista Cláudio Candiota, diretor do jornal A Razão, de Santa Maria, foi procurado em sua sala pelo comandante Fernando Pereyron, do aeroclube da cidade. O visitante trazia uma notícia de impacto, mas não queria sua divulgação. Pelo contrário, queria escondê-la. Temia causar prejuízo à imagem da escola de pilotagem sob sua responsabilidade, no aeroporto de Camobi. 

Quem era Fernando Pereyron Mocellin?

Herói da IIª Grande Guerra, foi Aspirante Aviador da Reserva, convocado durante o conflito. (Nome de Guerra: Mocellin). Era filho do joalheiro João Pereyron Mocellin. Nasceu em 20.06.1922 em Santa Maria e faleceu a 05.06.2001 (78 anos) em POA. Escreveu Missão 60, relatando sua preparação para combate na Segunda Guerra  Mundial, assim como algumas de suas 59 missões de combate. Para ele, a 60ª missão foi escrever o livro onde narra suas vivências da guerra. Apresentou-se ao 1o Grupo de Caça em Suffolk, vindo de uma escola de caças americana. Piloto de combate de esquadrilha, sua primeira missão foi em 12.11.44 e a última em 01.5.45. Ferido em combate por estilhaço da artilharia inimiga durante sua 24º missão em 02.1.45, foi promovido a 2o Tenente, 19 dias depois.

Recebeu várias Condecorações: Cruz de Sangue, Cruz de Aviação com 2 estrelas, Distinguished Flying Cross(EUA); Campanha da Itália, Air Medal 2 palmas (EUA); Presidential Unit Citation (EUA).

Pouco tempo após regressar ao Brasil pediu baixa da FAB, e voltou para Santa Maria e  para trabalhar na Joalheria do pai.

Por Henrique Packter 03/11/2020 - 09:25

Na madrugada de domingo, 27 de janeiro de 2013, o mundo foi abalado por uma das mais espantosas tragédias ocorridas em casa de diversão ao longo da história. No incêndio da boate Kiss em Santa Maria, RS, rua dos Andradas 1925, morreram 242 pessoas e 680 outras ficaram feridas.

Há relatos e fotos chocantes da tragédia que roubou vidas jovens, a maior parte delas na casa dos 20 anos. Os corpos das vítimas, pisoteados, calcinados e irreconhecíveis, amontoavam-se por toda a parte. À destruição somou-se horror e sofrimento.

A notícia propagou-se e alcançou o mundo todo num instante.

Hoje, identificados e enterrados os mortos cuida-se ainda dos sobreviventes e de seus familiares aniquilados e traumatizados para todo o sempre. A sociedade busca ainda hoje respostas para perguntas que atormentam a cidade: Algum engenheiro assinou o projeto fatídico da boate? Quem, na Prefeitura e nos Bombeiros, autorizou o funcionamento da casa noturna? Qual a justificativa para o disparo efetuado por músico(s) de artefato incendiário em ambiente confinado e apinhado de pessoas? Porque extintores não foram utilizados e quando o foram não funcionaram? Como entender que o teto de uma boate-armadilha seja revestido por material inflamável?  Quem autorizou essa alteração? Qual a lotação da casa e quantas pessoas lá se encontravam quando da tragédia? Quantos funcionários da casa sobreviveram? Quem eram na realidade os proprietários da casa? Seria verdade que menores tiveram acesso à casa e consumiram bebidas alcoólicas?

Uma tragédia anunciada, resultado de prevenção negligenciada pelos órgãos públicos, funcionários e autoridades responsáveis. Pela segunda vez na história os olhos do mundo voltavam-se para Santa Maria. A primeira vez ocorrera 61 anos antes em 1952 e por razão exatamente oposta, um acontecimento hilário, inédito. É desse acontecimento que me ocuparei, porque de tragédias a humanidade está saturada.

Santa Maria, RS

Na foto o centro da urbe, a famosa primeira quadra da rua Dr. Bozano, fechada ao trânsito de veículos nas noites de sábado para footing de jovens estudantes, quando o tempo permitia.

Santa Maria já foi reconhecida como cidade ferroviária ou cidade coração do Rio Grande por estar situada em local estratégico, entrecruzamento de ferrovias, transbordo obrigatório para que pessoas da fronteira, do norte do estado gaúcho alcançassem POA. Aos nossos vizinhos Uruguai e Argentina também se ia pelo trem na minha época de estudante, anos 40 e 50. Rodovias inexistiam ou eram precárias. Santa Maria se tornou o maior entroncamento ferroviário do estado e talvez do país, ponto de encontro de comerciantes. A Avenida Rio Branco, que tinha no seu início a Gare da Estação, era nesse particular a via mais importante da cidade.

Livros registram a saga dos ferroviários gaúchos. Em 2007, lançamento de Fragmentos da História Ferroviária Brasileira e Riograndense, de João Rodolpho Flores. Numa das  Feiras do Livro santa-mariense foi lançado  Trabalhadores da V.F.R.G.S. – profissão, mutualismo, cooperativismo,  iniciativa editorial  da Câmara de Vereadores da cidade (Lei do Livro). Experiências de trabalho e de cidadania dos trabalhadores ferroviários do estado entre  1898 e 1957.

Com o declínio do transporte ferroviário e a ocupação ocorrida pelos investimentos em educação, a cidade passa a ser reconhecida como cidade universitária.  O professor e mais tarde reitor da Universidade de Santa Maria, José Mariano da Rocha Fº tem tudo a ver com isso. Em 1992, Marianinho, como era conhecido, recebeu o título de cidadão santa-mariense do século. Em 1999, com votação consagradora, foi eleito Gaúcho do Século, sendo o mais votado na Promoção da RBS TV/Zero Hora que escolheu 20 gaúchos que marcaram o século 20.

Santa Maria tem hoje 32 mil estudantes universitários em 7 Universidades. São 167 cursos de graduação, 51 de mestrado, 32 de doutorado, 4.106 professores  e 510.209 livros nas bibliotecas.  

Por Henrique Packter 28/12/2020 - 12:00 Atualizado em 28/12/2020 - 12:04

Há quem afirme que a diretoria do aeroclube percebeu o pedaço do laço enrolado na hélice e obrigou o piloto a contar do que escapara. Diante do fato, os diretores do aeroclube, em reunião, decidiram cassar a licença do piloto Noal. Ele ainda pagou multa pela transgressão. Em 1999, aos 68 anos, perguntado sobre o fato, não se sentiu muito à vontade para falar sobre a façanha.

Disse: -Foi uma brincadeira de guri. Mesmo arredio, o piloto admitiu o perigo da manobra e desdenhou da habilidade do peão. (Aquele não laçava nem vaca. Foi uma sorte muito grande). Noal não conseguiu lembrar o dia exato do episódio. A façanha tornou famosos piloto e peão. A ousadia do piloto rendeu sucesso entre as garotas da época. Noal recebeu cartas que elogiavam sua coragem.

A RAZÃO CONQUISTA PREMIO DA ARI PELA REPORTAGEM HISTÓRICA

A matéria valeu À RAZÃO o 49º prêmio ASSOCIAÇÃO RIOGRANDENSE DE IMPRENSA (o caso do peão que laçou um avião).

Autor da façanha de laçar um avião pelo focinho, o peão Euclides Guterres, 24 anos, solteiro, foi descrito na época como vivaz, fazedor e contador de proezas e espanholadas. Quase todos os peões das estâncias do Rio Grande são assim. Morreu de leucemia em 1981. Nascido em Santa Maria, tornou-se celebridade instantânea em 20.1.1952, ao laçar o avião CAP4/Paulistinha (prefixo PP-HFP), que dava rasantes na fazenda de seu patrão.

"Eu não fiz por maldade. Foi pura brincadeira. Para falar a verdade, não acreditava que pudesse pegar o aviãozinho pelas guampas num tiro de laço." (Peão Euclides Guterres).

O fato (20.1.1952, 15 horas) encontra-se registrado em jornais da época (A Razão, Diário de Notícias, Almanaque do Correio do Povo e até na Time Magazine americana, que circulou em 11.2.1952). Em 1999 o feito mereceu ampla reportagem na Zero Hora, jornal de POA. A Base Aérea de Santa Maria também mantém em seu acervo vários jornais e revistas da época, relatando a incrível façanha do peão Euclides Guterres, que acabou conhecido como o Rei do Laço. Não existem registros de casos semelhantes.2.026

Por Henrique Packter 13/11/2020 - 08:55 Atualizado em 13/11/2020 - 08:57
Cine Independência com a velha sede de A Razão ao lado

Residi em Santa Maria até 1953, quando conclui o Curso Científico no Colégio Marista, e ingressei na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná.  Havia dois cinemas de rua na cidade na década de 50, : Independência e Imperial, este o cinema da elite. Claro, tivemos antes outros cinemas, como Theatro Treze de Maio onde ocorreu a primeira sessão cinematográfica da cidade em 17.2.1898 graças a Germano Alves responsável por levar a magia do cinema a várias cidades gaúchas. A programação do Theatro, publicada no jornal O Combatente daquele dia, dava ênfase à estreia do Cinematógrafo Lumiére. 

Até início da década de 1910 apresentações de filmes na urbe eram em lugares improvisados, surgindo em 1908 espaço que mantinha programação contínua: o Cinematógrafo Seyfarth, esquina da rua dos Andradas com Rio Branco, antiga Cervejaria Seyfarth. Cinema Recreio Ideal (1911) segundo andar do Theatro Treze de Maio teve curta existência.

O Cine-Theatro Coliseu Santamariense (dezembro de 1911), construído em acomodações de madeira ofuscou o nosso Treze de Maio. As projeções vão ganhando espaço sobre as apresentações teatrais e musicais. Apenas em 1918, surge Cine Odeon, com capacidade para 350 pessoas, localizado onde fica a Caixa Econômica Federal no calçadão, durando apenas 1 ano. Nessa época e até início da década de 30  possuíamos cinema ao ar livre. 

Em 1935 foi inaugurado o Cine-Theatro Imperial que funcionou até 1979, 44 anos,  quando os herdeiros do proprietário do prédio, alugado à empresa Cupello, também proprietária do Cine Independência, retomam o prédio. Já em 1937, surge o novo Cinema Odeon, numa sala do Clube Caixeiral, de mesmo dono do Coliseu, ambos fechados em 1940.

O Cine-Theatro Independência abriu suas portas em 15.8.1922 nos fundos da Praça Saldanha Marinho e recebeu este nome em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil, 48m de profundidade por 40m de frente. Exibia filmes mudos, o cinema sonoro é de 1926. Suas primeiras exibições de filmes mudos contavam com acompanhamento de música orquestral. Possuía duas entradas, uma pela praça (para a elite da cidade) e outra na lateral da rua do Comércio para os menos abastados. Em 1946, este cinema e o Imperial são adquiridos pelo Circuito Cinematográfico Gloria, que foi o responsável pela inauguração do Cine Glória, no local onde ficava o antigo Cine Coliseu, rua Roque Calaje, tornando-se detentor das três salas de cinema da cidade.

Cine Glória, na década de 90, chegou a ter 2.000 cadeiras, passando a 1.350 poltronas estofadas dobráveis, aumentando a área do palco para teatro. Feito maior da petizada nas sessões vespertinas era burlar a vigilância do lanterninha e assistir ao filme do mezanino e dê-lhe jogar pipocas no público do andar inferior. Já próximo de encerrar suas atividades, o Independência  apresentava peças e filmes adultos. Sua última sessão (27.9.1995, 73 anos de atividade), às 8:30h. Depois disso o prédio abrigou templo religioso, mesmo com a pressão da população para preservar esse patrimônio cultural.

Cine Independência (1922, ano de sua fundação)

O Cine-Theatro Independência abriu suas portas em 15.8.1922 nos fundos da Praça Saldanha Marinho e recebeu este nome em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil, 48m de profundidade por 40m de frente. Exibia filmes mudos, o cinema sonoro é de 1926. Suas primeiras exibições de filmes mudos contavam com acompanhamento de música orquestral. Possuía duas entradas, uma pela praça (para a elite da cidade) e outra na lateral da rua do Comércio para os menos abastados. Em 1946, este cinema e o Imperial são adquiridos pelo Circuito Cinematográfico Gloria, que foi o responsável pela inauguração do Cine Glória, no local onde ficava o antigo Cine Coliseu, rua Roque Calaje, tornando-se detentor das três salas de cinema da cidade.

Cine Glória, na década de 90, chegou a ter 2.000 cadeiras, passando a 1.350 poltronas estofadas dobráveis, aumentando a área do palco para teatro. Feito maior da petizada nas sessões vespertinas era burlar a vigilância do lanterninha e assistir ao filme do mezanino e dê-lhe jogar pipocas no público do andar inferior. Já próximo de encerrar suas atividades, o Independência  apresentava peças e filmes adultos. Sua última sessão (27.9.1995, 73 anos de atividade), às 8:30h. Depois disso o prédio abrigou templo religioso, mesmo com a pressão da população para preservar esse patrimônio cultural.

Interior do Cine Independência na reinauguração em 1956

Desde 1959 Santa Maria ficara apenas com o ótimo Cine Glória, contando com mais de 2.000 lugares em suas duas salas. Pouca demora e a cidade fica órfã de cinema, com o encerramento das atividades do Glória em 1997 exibindo 2 filmes em sua última semana. A festa do vestibular de 1997 foi lá, utilizando algumas poucas cadeiras remanescentes, um misto de alegria e tristeza.  O que parecia ser o ponto forte do cinema, quantidade de lugares e tamanho, se tornou um empecilho. As salas não lotavam em consequência das locadoras de VHS e pela falta de segurança no entorno dos cinemas. Não é de hoje que a praça Saldanha Marinho à noite  não é segura. A  cidade amargou quase um ano sem cinema até a inauguração do Cine Big, no Shopping Monet, com míseros 400 lugares.

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