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DEIXE AQUI SEU PALPITE PARA O JOGO DO CRICIÚMA!
* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Henrique Packter 21/10/2024 - 14:00

O que passo a contar é quase a mais pura realidade e verdade, salvo erro ou omissão. Quem vivo estiver, talvez lembre, ou talvez não. Penso que os fatos não chegaram ao conhecimento do grand monde criciumense por envolver recursos em dinheiro mal havidos segundo alguns e não levados ao conhecimento das autoridades.

Os nomes dos personagens foram alterados e  algumas situações também foram. Se mais personagens estiveram envolvidas não me lembra mais. Acho que as atividades profissionais dos atores principais podem também ter sido modificadas. O resto, o que sobrar, é quase tudo verdade. 

UM CENÁRIO

No Centro Cirúrgico Hospitalar (CCH) atuam enfermeiros (as), médicos (as), odontólogos (as). Vez que outra, vê-se algum religioso azafamado distribuindo extremas-unções. Trocada a roupa de rua pela indumentária apropriada, adentra-se em estreitas dependências, reservadas aos habitués do setor.

Sentados, degustando cafezinhos esfriados pela espera, troca ideias a população local. Houve um dia em que o doutor anestesista, eu, doutor Tiradentes e Dr. Proto), falávamos o de sempre: a difícil  luta do dia-a-dia humano.

OS PERSONAGENS

Dr. Proto discorria sobre seus investimentos, dólares adquiridos a troco de reais de primo, comerciante em Foz do Iguaçu. O primo vinha eventualmente, com as malas fornidas de verdes notas estrangeiras, vendidas todas elas ao primo Proto, também empresário. Dr anestesista tratava de fazer calar o falastrão sem grande sucesso. Tiradentes nada dizia. Limitava-se a tudo ouvir em silêncio respeitoso. 

O prudente Dr. anestesista dizia: "estamos contentes com teu êxito financeiro Proto, mas não precisa ficar espalhando coisas por aí". Proto retrucava: "não tem perigo. Aluguei  cofre (no Bradesco?) e os dólares estão todos lá, tudo muito seguro, garantido pelo Lázaro de Mello Brandão, Amador e Denise Aguiar. Tem mais: tudo muito baratinho."

OUTROS CENÁRIOS

Passam-se os dias e a família Protor espera em sua mansão móveis comprados na Casa Europa, São Paulo. Às doze horas de uma sexta-feira ensolarada a faxineira abre os portões do palacete para entrada de grande caminhão. Imediatamente, dele saltam quatro homenzarrões que encerram a dona de casa, filhos e faxineira no banheiro. Os convivas passam a beber o uísque do doutor que está para chegar. Ele chega afinal, para ouvir os planos dos estranhos indivíduos.

Primeiro: Protor mais três dos homens iriam ao banco para sacar os dólares do doutor, guardados no seguríssimo banco. Protor e um dos homens retirariam as economias doutorais.

Segundo: qualquer contratempo produzido por Protor, sua família sofreria sérias consequências e imediatamente

Terceiro: De posse do dinheiro todos voltariam para casa de Protor.

Quarto: A faxineira ficaria com a menina que era muito pequena e nem sabia o que estava se passando. A mãe e o menino, este pouco mais velho, seriam levados de automóvel até empresa das Granjas Suely, situada na BR101 ainda não duplicada, frente ao acesso para Morro da Fumaça. Lá seriam deixadas. Protor seria levado em outro automóvel e deixado em Florianópolis. Ele só deveria comunicar-se com a família quando recebesse autorização para tal. Quanto à família: bico calado! Inacreditável que plano tão complexo não tivesse gorado. Essa história, que parece pouco verossímil, ainda é contada assim em certas esferas.

UM SUSPEITO

Protor garantia ter visto jipe de frequentador do CCH, no trajeto sua casa à Içara. Era frequentador que sabia tudo o que lá se passava. Proto dizia ter visto tal personagem, jipe estacionado às margens da rodovia, enquanto era sequestrado. Jurava por tudo quanto era santo e beatos católicos.     

Tudo resolvido, até hoje não se sabe que fim levou o dinheiro (certamente mal havido) de Protor. Doutor anestesista divorciou-se e já faleceu, Tiradentes ficou mais próspero, proprietário que se tornou de extensas terras.  Já faleceu, também. Protor e Tiradentes passaram a não falar-se mais e também já faleceram. Tiradentes deixou seu trabalho hospitalar, buscou e encontrou  outro profissional para substituí-lo naquela faina, que, aliás, não era lá grande coisa.

OUTRO AFFAIRE COM UMA MESMA PERSONAGEM

Conto noutra ocasião e também é quase inacreditável.

De todos os personagens que começaram essa história, acho que sou o único sobrevivente. Ou não?

Por Henrique Packter 04/11/2024 - 12:30

A 3 de novembro de 1994, sendo prefeito de Criciúma o médico-cardiologista Eduardo Pinho Moreira, nossa cidade estava na rota de eclipse solar total, o último do século.

Éramos um dos melhores locais do mundo para observar o fenômeno, pela duração do eclipse. Iniciando-se às 9 horas, 44 minjutos e 4 segundos, o término total seria às 12 horas 22 minutos e 32 segundos. Precisão astronômica! Então, do início ao fim seria 4 minutos e 3 segundos.

O doutor prefeito incumbiu a Fundação Cultural de Criciúma de cuidar de tudo que se referisse ao fenômeno: dos cuidados oculares da população à recepção dos especialistas que certamente aqui acorreriam com seus instrumentos e publicações.

Se a cobertura resultasse em fracasso certamente a responsabilidade seria minha. Como tudo ocorreu como planejado, nada se noticiando ..., população e imprensa ignoram solenemente (e até hoje) os autores dos eventos paralelos ao espetáculo celestial e que tanto trabalho significaram para a FCC.

PREPARATIVOS PARA O EVENTO

O Projeto foi desenvolvido pela Divisão de Turismo da FCC.

No início tratava-se de informar nossa população dos cuidados a tomar visando sua segurança e integridade ocular na observaão do raro fenômeno astronômico.A divulgação e distribuição do material educativo iniciou-se seis meses antes, nos eventos AÇÃO MUNICIPAL e AÇÃO GLOBAL. Na verdade, principiou um pouco antes, em 24.03.1994, com as primeiras reuniões de funcionários municipais, voluntários e interessados outros.

A FCC enviou funcionários seus a Chapecó, Americana (SP) e Rio de Janeiro, mantendo assim, os primeiros contatos com autoridades em Astronomia. Meses depois, em agosto, realizamos o curso Jornalismo em Ciências e Tecnologia  que atraiu 46 órgãos da imprensa no sul de SC.  A Comissão Executiva ECLIPSE 1994 da Sociedade Astronômica Brasileira elaborou a cartilha do Eclipse.

Como se sabe, durante os eclipses, fixar o que é visível do sol, oculto pela lua nos eclipses totais, pode provocar lesões oculares irreversíveis e que prejudicarão a visão do incauto observador pela vida. Sendo eu oftalmologista, diretor-presidente da FCC e responsável por informar e levar nossa população a informar-se e cuidar da visão,  passamos a organizar um programa que abrangesse todos os aspectos da indispensáavel proteção.

Prefeitura e FCC distribuiram nos meses que antecederam o eclipse solar, panfletos com essa finalidade. Nossa posição geográfica atraiu o interesse e depois a presença de astrônomos do mundo inteiro.

Entre os voluntários do trabalho executado pela FCC é imprescindível destacar o trabalho de Guiomar Back, astrônoma amadora. Ela era esposa do Pediatra Solon Back, médico graduado pela primeira turma formada na UFSC. Ele clinicou por longos anos em Criciúma, na sua especialidade e no Hospital São José, migrando mais tarde para Florianópolis.

O Professor Luiz Carlos da Silveira do Departamento de Engenharia Agrimensura da UNESC, elaborou um impresso: Fundamentos de Astronomia, Eclipse de 03.11.1994, além de distribuir na população filtros solares em grande quantidade.

A jornalista Adilamar Rocha, Diretora de Eventos da FCC e que dirigia a Casa da Cultura na Praça Nereu Ramos, passou a colaborar com as atividades astronômicas desenvolvidas no período. Juntaram-se a ela Liline Motta da Silveira (Diretora Superintendente Executiva da FCC), Gilberto João de Oliveira (Diretor Administrativo e Financeiro da FCC), Sayonara Meller (Diretora de Ação Cultural da FCC), Dr. Edson Miguel de Souza (Diretor de Turismo da FCC).

RESUMO E RESULTADO DAS AÇÕES

Todas essas ações e cuidados foram divulgados à exaustão pela nossa imprensa (rádio, TV, jornais, revistas, festas populares, eventos) que neste mister, se houve com excelência. Acredito que, pela vez primeira na história, não foi registrado nenhum caso de retinopatia solar neste tipo de eclipse.Trata-se, parece-me, de fato virgem na história dos eclipses totais de sol: não se registrou nenhum caso de lesão na retina pela observação do eclipse! 

Atenção Turma do Portal: quem sabe aí quais são os riscos oftalmológicos de olhar o fenômeno astronômico eclipse solar total?

Oftalmologistas alertam: olhar diretamente para o eclipse pode causar diminuição permanente da visão central  relacionada à retinopatia solar. Até agora, não existe tratamento conhecido para essa condição, por isso a prevenção é muito importante.

Um estudo de entidade internacional revelou que apenas 53% dos principais jornais europeus mencionaram risco para os olhos e apenas 42% descreveram medidas seguras para ver o evento. Nossa atuação enquanto órgão admistrativo municipal foi, portanto, exitosa.

Para 2017, a American Society of Retina Specialists publicou documento com orientações para observar o fenômeno com segurança. Entre elas, uso de lentes com filtros especiais ou de um projetor especial.

A observação do eclipse solar é a causa mais comum de retinopatia solar. A condição se caracteriza por lesões maculares (no local do olho de melhor visão), causadas por fototraumatismo em indivíduos que olham diretamente para o sol. A lesão nos olhos pode desaparecer espontaneamente  entre 1 e 2 semanas após a exposição. No entanto, a recuperação parcial ou total da acuidade visual pode levar meses e até não ocorrer.

Os sintomas podem surgir logo nas primeiras horas pós-exposição: diminuição da visão, cefaleia, perda total ou parcial da visão e dificuldades para enxergar pontos próximos. Em alguns casos, os olhos acometidos podem apresentar sequelas permanentes.

Por Henrique Packter 11/11/2024 - 14:35

Nestes muitos anos em que tenho me dedicado a escrever sobre nossos vultos do passado e personalidades contemporâneas, dou a mão à palmatória: há toda uma classe profissional  de grande importância que vem sendo negligenciada por mim: os farmacêuticos (as).

Lá no nosso interiorzão são bem voláteis as fronteiras entre a prática médica e a prática farmacêutica. Quem não lembra de Adamastor Martins da Rocha, nascido em 1922, piloto amador além de farmacêutico?  Integrante do Aeroclube criciumense, árbitro de futebol, em Criciúma desde 1937, veio do Alegrete e era, também, entusiasta do escotismo. Ele e a esposa, Ruth Becke da Rocha, trabalharam muitos anos na Drogaria e Farmácia São José, localizada na central Praça Nereu Ramos e da qual eram proprietários.

E do João Balestro, quem ainda lembra? Veio do Guaporé, também lá do Rio Grande e casou aqui com Wolynira Sampaio, filha de Carlos Pinto Sampaio e de Ladislava Angulski Sampaio, a dona Ladi. Trabalhava na Farmácia Sampaio, na praça Nereu Ramos.

Álvaro Pedro da Costa, falecido muito jovem, casado com Zoê, filha de Jorge Cechinel e que tinha farmácia no prédio do sogro, na praça Nereu Ramos. Álvaro era mais conhecido pelo apelido: Bolinha. Este era, também, o apelido da mãe do farmacêutico, artista plástica que exibia com frequência suas obras nos hotéis do Gravatal. Álvaro era de Tubarão e graduou-se em Curitiba.

Já Juca da Içara, nascido em 26.02.1918, era filho de Amaro Mauricio Cardoso, próspero empresário que vivia de comprar farinha de mandioca dos agricultores da região e revender o produto das compras a atacadistas, em geral do centro do país. Juca era proprietário da farmácia São Carlos.  Entre os irmãos que possuía, é de se ressaltar Abílio Cardoso. Autodidata, Abílio sabia muita química e intitulava-se alquimista.

Meu cliente, nas vezes em que o atendi em meu consultório, então no Hospital São José, mostrava-se atilado e inteligente, muito acima da média.

Discutia de tudo, com propriedade.

O OVO APOCALÍPTICO

Dona Antônia, ia diariamente ao galinheiro apanhar os ovos das galinhas, sempre em grande quantidade. Vai daí, certo dia volta ensimesmada da coleta. Um dos ovos trazia uma frase ou quase uma frase: “o mundo durará mais ...”. Dona Antônia, impressionadíssima corre a chamar Juca, filho mais velho. Corria o ano de 1946, ano caracterizado em Criciúma por não haver transmissão radiofônica, que só chegaria em 17.11.1947 e sem jornal impresso, este só em 02.05.1955 com a Tribuna Criciumense.

Ninguém sabia que coisa era aquela. Padre Boleslau, da paróquia São Donato e até o delegado foram chamados sem que o mistério se esclarecesse. A falta de uma mídia mesmo incipiente (e insipiente), também dificultava que as gentes se manifestassem. Muita água rolou até que se descobrisse que o autor do trote estava bem ali, era o Abílio!

Por Henrique Packter 21/11/2024 - 15:00

Pois é, Lessa, deste modo passaram-se 64 anos. Em 1960, quando fui convidado a trabalhar em Criciúma, quase nenhum forasteiro aceitava exercer a profissão médica na cidade. Um pó de carvão espesso pairava sobre as coisas e enegrecia as gentes. Otorrino que trouxe a família (mulher mais lactente), debandaram todos, apavorados, quando o bebê passou a ter crises de asma. Foram refugiar-se em Vacaria no RS, onde ainda  devem estar: o mais longe possível dos eflúvios da terra carvoeira catarinense.

Eu era solteiro o que facilitava as coisas. Ou dificultava? Já imaginou médico solteiro trazendo a noiva para conhecer sua futura residência e perceber subitamente ser ela intolerante ao odor aurífero do carvão mineral? Deve ter acontecido algumas vezes na historiologia médica da cidade, o que explica uma certa tardança em substituir médicos que nos deixavam. E não foram poucos. Só no Hospital Santa Catarina, TODA UMA GERAÇÃO MÉDICA NOS DEIXOU NOS ANOS 60,TROCANDO-NOS POR OUTRAS PLAGAS. Foram-se o radiologista Lourenço Cianci Filho, Carlos Deslandes, o cirurgião Anohar Zacarias (sobrinho de Manif), Naby Zacarias (cardiologista e irmão de Manif), o pediatra Luiz Eduardo dos Santos, Antônio Osvaldo Teixeira de Freitas (o Bola), o oftalmologista Ruy César Esmeraldino Orlandi (trazido pelo advogado Hélcio Góes, ambos procurando-me para as devidas apresentações em minha residência. Ruy teve consultório montado e de maneira surpreendente nas lonjuras onde se encontrava no Hospital Santa Catarina. Radicou-se mais adiante em Tubarão, onde faleceu neste ano da graça de 2024). E tem a Maria Formentim Fernandes, inigualável enfermeira do XIII de Maio.

Seria o legado  “da terra árida e da água contaminada” no dizer de um de seus mais ilustres prefeitos, o arquiteto, funcionário público e político Altair Guidi?

2. CHEGAM NOVOS MÉDICOS, ALGUNS PARA O SANTA CATARINA EM  CRICIÚMA  

Em 1962 graduam-se no curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná, entre outros, Anohar Zacharias, Antônio Osvaldo Teixeira de Freitas (o Bola), Luiz Eduardo dos Santos e Arary Cardozo  Bittencourt. Os três primeiros médicos viriam para o recém-criado Hospital Santa Catarina de Criciúma, Arary voltaria para Tubarão, sua terra  natal, dando início a uma carreira médica  brilhante como Pediatra. Ele é autor de livro autobiográfico de real importância, especialmente para aqueles que estudam a ganância dos outros, desvio psicológico (neste caso alheio), e que tanto prejudicou a carreira médica de Arary. 

Nem vou citar outros nomes formados nesta Turma, como David Saute, que em 1954 apanhou em Carazinho, alta madrugada, o mesmo trem da Viação Férrea do RS que eu apanhara em Santa Maria, ambos rumando para Curitiba, onde iríamos prestar exame vestibular para a Faculdade de Medicina. Eu seria aprovado e iria formar-me em 1959, turma da Zilda Arns, Waldir Mendes Arcoverde, Padre José Raul Matte. Já David Saute ingressaria alguns anos depois, como já ficou dito, formando-se em 1962.

Anohar dedicava-se à cirurgia-geral e, poucos anos depois, 1965-1966, deixaria Criciúma para dedicar-se à cirurgia cardiovascular em Tolledo, Ohio, EUA. Casou-se por lá com americana legítima, do qual casamento resultaram quatro filhos.   Não há vácuos em Medicina e logo após a saída de Anohar, chega um novo cirurgião para a cidade, o Dr. Portiuncola Caesar Augustus Gorini Augustus Gorini, formado em Santa Maria, RS, em 1964. Chega para trabalhar em 1965.

Antônio Osvaldo, mais conhecido como Bola, também pouco trabalhou entre nós, voltando logo-logo  a Curitiba para a prática de clínica-geral. Faleceu em 13.03.2018 na capital das Araucárias, terça-feira, aos 80 anos de idade.

Luiz Eduardo faleceu faz muitos anos. Participou da equipe de Alceni Ângelo Guerra, médico paranaense (mas nascido em Soledade -RS), que assumiu o Ministério da Saúde no (des)governo Collor de Mello, de quem Deus nos livre e guarde. Parece que Luiz Eduardo não suportou o fardo que representou assessorar o ministro, demitido em favor de Adib Jatene. Luiz Eduardo casou com Santina, moça aqui de Criciúma, que se conheceram no Hospital Santa Catarina, onde ela exercia enfermagem. Portiuncola, filho do célebre médico Dino Gaetano Fermo Gorini, viria a casar-se com Onei Chaucooski, também enfermeira do mesmo Hospital Santa Catarina.

O Pediatra Arary dedicou parte de seu tempo a escrever e publicar livros. Neles, fala da cidade de Tubarão, sua história, seus médicos e sua gente. Estas publicações mereceram os mais rasgados elogios de autores pátrios, são sucesso de crítica e de público, sendo de justiça ressaltar-se O MENINO DE OFICINAS, no qual o destaque é sua infância sofrida e a formação médica em Curitiba.

Luiz Eduardo dos Santos era profissional inteligente, dotado de rara sensibilidade e apreciável grau de cultura. Dedilhava o piano em contadas ocasiões e praticava futebol apesar de exibir pronunciada protuberância da circunferência abdominal.

Em 1964 estoura a Revolução Redentora promovida por militares brasileiros. Criciúma foi especialmente visada pelo movimento militar. Logo o exército estava na cidade e muita gente foi presa, acusada de subversão. Para minha surpresa comandava a tropa o coronel Newton Machado que, na Curitiba de 1954-1955, comandara o CPOR quando fui chamado para servir à pátria.

Luiz Eduardo apresentou-se na secretaria do HSC mal chegara à cidade. Havia necessidade de preencher certos papéis, alguns convênios, regularizar a situação médica; essas coisas. Na secretaria hospitalar trabalhava a sra. Marlene Scariot, mas coube ao sr. Morais atender a Luiz Eduardo. Moraes era autoritário, vistosa calva luzidia. Aliás, ele explicava que há dois fatores diferentes que determinam se um homem tem uma cabeça calva brilhante. Um é a suavidade do couro cabeludo. Aqueles que são naturalmente carecas tendem a conseguir o aspecto brilhante muito mais facilmente do que aqueles que raspam a cabeça.

Moraes pergunta se Luiz Eduardo tem alguma habilidade especial, algum predicado, especialização médica ou não que possa ser aproveitada no hospital. Luiz Eduardo fala de eleições na Universidade que o tinham elevado a duas ou três vice-presidências de organismos médicos.

Moraes, olhando por cima dos óculos, informa:

- Já temos 12 vice-presidentes!

- Olha, não sou  nem um pouco supersticioso!

3. AS PRISÕES NA CRICIÚMA DE 1964 

Manif foi preso, Dauro Martinhago foi preso, Antonio Cologni, Addo Faraco, Jorge Feliciano, todos presos. 

A chefia do serviço médico do IAPETC local, depois INAMPS, e mais depois SUS, foi demitida sendo nomeado em seu lugar o médico Ângelo Lacombe, nascido em Cruz Alta, RS e formado em Medicina na URGS em 1937. Era médico em Criciuma desde 1944 e aqui viveu até aposentar-se em 1972 quando transfere residência para Florianópolis onde vem a falecer em 19.04.1991.

Lacombe, em Criciúma, aos poucos se desatualiza, pouco frequenta o meio médico, fica superado como profissional. Sua atuação resume-se em ser médico-chefe burocrata do Posto de Saúde, médico do ambulatório do IAPETC, membro da Junta Médica para concessão de CNH. Na chefia do IAPETC, Lacombe recebe orientação vinda de Brasília para negar todas as guias para realização de cirurgias eletivas, antes até estimuladas. Em Criciúma, por conta de autorização de chefias anteriores, havia uma espécie de Medicina social. Mineiros e seus familiares eram internados para tratamentos clínicos porque não dispunham de recursos que permitissem adquirir medicamentos de que necessitavam. Na cidade havia cardiologistas que tinham número elevado de leitos cativos no hospital, 20 para ser exato permanentemente ocupados para trat amento de hipertensão arterial e outras mazelas, perfeitamente passíveis de tratamento em domicílio. Sofria agora a população realmente necessitada de internação por conta da orientação anterior. Tudo estava sendo coibido.

Luiz Eduardo sofria para internar crianças, cujas baixas eram sistematicamente negadas. Certo dia, na agência local do INAMPS, LACOMBE brandia uma guia de internação para pediatria e solicitada por Luiz Eduardo. Exibia o documento, erguido bem alto com uma das mãos enquanto dizia:

- Essa sim é solicitação criteriosa! Ela está dentro do que a Revolução está a exigir!

Pedimos para olhar: Luiz Eduardo diante do absurdo de ver negada sua pedida para internar criança desidratada, escrevera em diagnóstico provisório: Síndrome Paradoxal de Flandres, não só aceita, como recomendada!

A síndrome nunca existiu.

Lacombe era dos quadros partidários da UDN, oposição ao PTB e outras siglas de esquerda. Oposição a Getúlio Vargas de quem Ângelo Lacombe e o pai foram defensores acérrimos em 1930.

4. O CIENTIFICISMO

Pois vim, fui aceito pela população e pelo cheiro do carvão. Casei-me com moça de São Gabriel, do RS, mas vinda de Porto Alegre com ligeira escala em Cacequi. Vieram os filhos, todos os quatro criados e trabalhando em atividade que eles mesmo escolheram, sem qualquer interferência dos pais. Nenhum deles é médico; Lúcio talvez o mais perto disso.

Como vinha dizendo eis-me aqui no limiar do marco final de minhas atividades médicas, pelo menos aqui em Criciúma. Dado a atividades que privilegiam a ciência ou  o cientificismo, encontrei aqui no sul catarinense muitos adeptos deste modo de pensar. Grande expoente desta corrente em Criciúma foi Manif Zacarias, médico, maçom, comunista, escritor, radialista, jornalista, político e filantropo.

Houve outros mais como Max Finster. Já Madre Teófora e Madre Hilda eram meio cá meio lá; privilegiavam a religião.  Almir Fernandes (policial civil aposentado e presidente voluntário da Cruz Vermelha local), foi fundamental para o incremento do Banco de Olhos de Criciúma e para a realização de transplantes de córnea em nossa região.

Lessa -, Gilberto João de Oliveira, da Fundação Cultural de Criciúma, antes disso da CECRISA, que não sabia o que era cientificismo, foi um de seus maiores cultores e praticante. Também adepto do cientificismo foi o garoto, aluno do São Bento, que viu meu celular cair na calçada frente à Caixa econômica e devolveu-o sem pestanejar.

E o meu amigo Dom Anselmo Pietrulla?  

Alguns médicos fizeram história no sul-catarinense. Em especial PAULO CARNEIRO, MANIF ZACARIAS, DAVID LUIZ BOIANOvSKI, OTTO FEUERSCHUTTE, o político EDUARDO PINHO MOREIRA, SÉRGIO HERTEL ALICE & ALBINO JOSÉ DE SOUZA FILHO & VALDIR DE LUCA, estes três últimos pelos trabalhos sobre Pneumoconiose humana, as lesões fatais pulmonares produzidas na exploração subterrânea do carvão mineral.

Paulo Carneiro, entrevistado pelo rádio sobre a morte, declarou:

- Sou radicalmente contra!

Esbarra em Gaguinho, conhecido barbeiro da Laguna, na porta de afamado café, em Florianópolis. O apelido diz tudo sobre a maneira pela qual se comunicava o ilustre personagem. Paulo pergunta a que vinha ele:

- P-Pois, do-doutor Paulo, vim prum cu-curso de ga-gagueira...

- Mas, prá que homem de Deus? Se você já gagueja tão bem!

Paulo Carneiro, mineiro mas que estudou Medicina no Rio, menino pobre que teve o curso subsidiado por parenta rica, é nome de quase tudo na Laguna. Existe a Sociedade Esportiva Paulo Carneiro, há um busto (erigido em vida) ali na frente do Cine Mussi, é nome de rua, de praça, de escola municipal e é até nome de time de futebol.

ATÉ MAIS!

Por Henrique Packter 05/02/2025 - 16:11 Atualizado em 05/02/2025 - 16:13

Que Sartori, um de nossos mais antigos médicos, era botafoguense de quatro costados, não se discute. Que, em razão disso, odiava o Flamengo e outros times de cores dessemelhantes ao alvinegro, também não padece discussão.

O FLAMENGO EM 1981

Na final da Libertadores de 1981 a torcida rubro-negra brasileira preparava-se para mais um sucesso do time carioca no torneio continental.

Mas, lembrando da emocionante decisão vencida pelo supertime de Zico, fica a dúvida: afinal, que fim levou o Cobreloa, clube chileno que era uma das grandes potências do Chile e do continente - e que vendeu caro esse título para o time brasileiro?

Quando ficou claro que o título de Campeão da Libertadores seria decidido pelo Flamengo do Rio de Janeiro contra o desconhecido Cobreloa do Chile, imprensamos Sartori contra as paredes do vestiário do centro cirúrgico do Hospital São José de Criciúma:

- Sartori, agora não tem jeito. Afinal, chegou o dia, vais torcer pelo Flamengo, claro, nesses jogos.

A resposta veio instantânea:

- Sou Cobreloa desde pequenininho!

PATROCÍNIO ESTATAL

O Cobreloa, fundado em 1977 é clube relativamente jovem, criado pela Codelco (Corporación Nacional del Cobre de Chile), empresa estatal chilena de mineração de cobre. Já pensou? Recebendo muito dinheiro via patrocínio do governo, o clube do deserto do Atacama rapidamente tornou-se potência local e depois continental

No mesmo 1977, ano de fundação, vem o acesso à elite do Chile. Três anos depois, 1980, as "Raposas do Deserto" conquistaram pela primeira vez a liga nacional, classificando-se para a Libertadores. Na temporada seguinte, Cobreloa chega à final do torneio da Conmebol, sendo derrotado pelo Flamengo na melhor de três na final.

O dinheiro da Codelco seguiu jorrando e o clube laranja alcançou novamente a final da Libertadores em 1982, perdendo para o consagrado Peñarol, do Uruguai.

De 1980 a 90, até a metade dos anos 2000, as "Raposas" seguiram como potência futebolística, sempre apoiada no cofre-forte da mineradora. Foram oito títulos chilenos conquistados: 1980, 82, 85, 88, 92, 2003 Apertura, 2003 Clausura e 2004 Clausura), além de uma semifinal de Libertadores (1987) e uma Copa do Chile (1986).

Porém, as coisas mudam drasticamente em 2011...

FIM DO DINHEIRO DA MINERAÇÃO

Até 2011, a Codelco depositava algo como US$ 1,5 (R$ 6,21 milhões em dólares americanos), anualmente, nas contas do Cobreloa, fazendo a equipe nadar de braçada no futebol chileno. Mas, naquele ano, a estatal muda seu contrato com o clube, reduzindo escalonadamente seus investimentos até 2017, quando encerrou de vez o patrocínio.

E, como o time laranja nunca se estruturou para viver vida sem os recursos governamentais, o clube desce ladeira abaixo.

Em 2015, as "Raposas", rebaixadas para a 2ª divisão chilena, têm direito a pontos perdidos no tapetão por escalar irregularmente o treinador (acredite se quiser) - O episódio envolvendo o técnico Alejandro Hisis ficou conhecido como "Caso Hisis". Em 2016, antes do final do contrato com a Codelco, divulgou-se que o time estava insolvente, correndo sério risco de falir e sumir.

Era o fim?

VIDA DURA NA SEGUNDONA

Desde a queda, o Cobreloa nunca mais retornou à 1ª divisão chilena. Porém, por conta da gestão responsável de recursos do presidente Walter Aguilera, as "Raposas" conseguem subsistir, sem risco de falir.

Hoje, o Cobreloa tem elenco bem jovem, média de idade de 24,4 anos,  formado em boa parte por revelações das categorias de base, misturados a alguns veteranos. Todo o plantel atual da agremiação vale 3,78 milhões de euros (R$ 17,27 milhões), praticamente 20% do atacante Gabigol, avaliado em 18 milhões de euros (R$ 82,25 milhões).

Hoje, as "Raposas" (5º lugar da Primera B, zona de playoffs), disputa o acesso à elite. (Playoffs: série de jogos para indicar o vencedor entre times que empataram num campeonato ou torneio). Com apenas 39 pontos, o lugar não está garantido, sendo a distância atual para o 11º colocado, o Deportes Santa Cruz, de apenas 2 pontos. Presidente Walter Aguilera  esperançoso de recolocar a equipe na 1ª divisão do Chile. Ele revelou que conversa com o Codelco para retomar o patrocínio da estatal -, porém com números diferentes e reduzidos daqueles do passado.

"(...), aprendemos a viver sem a Codelco", finalizou.

BOTAFOGO e FLAMENGO em 1981

Quando o juiz apitou o final de jogo, Zico praguejou. Braços erguidos, tinha sangue  no nariz e no rosto resultado de jogada desleal do chileno Mário Soto, Cobreloa. Em contrabalança tinha também dois gols no placar do estádio Centenário de Montevidéu e o título da Taça Libertadores da América de 1981. Na segunda-feira, 23.11.1981 há 43 anos, o Flamengo conquistava seu primeiro torneio mundial. Torneios eram, então, marcados pela truculência dos rivais, que jogavam pouca bola, mas batiam muito. Um clima de vale-tudo.

Foi até melhor que o Flamengo não ganhasse em Santiago. Naquele clima hostil era possível que não tivesse saído vivo de lá. O time ficou em estado de choque.

Anselmo foi escoltado por policiais, após expulsão na final de 1981, sendo o torneio decidido em três confrontos. No primeiro, o Flamengo venceu o Cobreloa por 2 a 1, no Maracanã. No segundo, os adversários ganharam por 1 a 0, em Santiago. A terceira partida, de desempate, foi realizada na capital do Uruguai, onde,o rubro-negro disputaria mais uma final da Libertadores, contra o Palmeiras.

O jogo em Santiago foi o mais tétrico. Na época, o Chile era governado pelo ditador-general Augusto Pinochet e o clima reinante na capital era de tensão nacionalista extremada, quando o time rubro-negro aterrizou. Chilenos em peso queriam a vitória a qualquer preço, o gramado cercado por soldados com metralhadoras e pastores alemães treinados para atacar. No campo as regras pareciam não existir. Jogando com uma pedra na mão, Mário Soto nocauteou Adílio e Lico; este precisou de pontos na testa no intervalo e não retornou para o segundo tempo.

Na Libertadores, o sanguinário Mario Soto recebeu cartão vermelho na final de 1981 na Libertadores.

- Sabe lá o que é olhar para os lados e ver o Adílio cheio de sangue, o Lico com o rosto deformado? Na beira do gramado, Isaias, nosso massagista, quase é preso pelos soldados. Aquilo não foi jogo de futebol, foi uma carnificina. Futebol é o que jogamos aqui. Em matéria de futebol, nosso time não perde para o deles de jeito nenhum. Nem se jogar sem goleiro.

No confronto em Montevideo, chilenos continuaram agredindo, mas flamenguistas já revidavam. Aos 35 minutos do primeiro tempo, Andrade entrou deslealmente em Jimenez e foi expulso. No segundo tempo, Mario Soto deu uma pancada em Tita, mas, minutos antes de terminar o jogo, Paulo Cesar Carpegiani colocou em campo o zagueiro Anselmo para lesionar o camisa 4 do Cobreloa. Ele socou tão forte que teve de enfaixar a mão. Soto perdeu dois dentes. Os dois foram expulsos. Anselmo, conduzido pela polícia.

O GLOBO

- Vocês viram aquele covardão do Mário Soto? Deu em mim sem bola, deu no Tita, deu em uma porção de gente. Bem fez o Anselmo. Aquele soco não foi só dele. Foi um soco coletivo, de todo o time, naquele valentão de meia tigela. Esse tal de Soto não joga nada - disse Zico no vestiário. - Viram como eles ficaram tontos em determinados momentos? Mais tontos do que se tivessem levado um soco. Futebol é isto. Futebol brasileiro é arte, não pancadaria. Por isso, temos o melhor futebol do mundo e vamos agora ganhar o Campeonato Mundial Interclubes no Japão.

Naquela noite, o Rio não dormiu. Chão da cidade coberto de papel picado, bares lotados e carros buzinando para todos os lados. O time voltou no dia seguinte para o Rio, festou durante o voo. Peu puxava o coro, enquanto Zico batucava nas mesas do avião. Júnior, Nunes e Tita se exibiam nos reco-recos. Todos cantavam sambas clássicos até o comandante anunciar a descida para o Galeão, quando todos passaram a cantar o hino rubro-negro. No aeroporto, foram recebidos por mais de três mil torcedores em festa.

OS TIMES BRASILEIROS

Flamengo, 1981:

Raul; Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Adílio, Andrade, Zico, Tita; Nunes e Lico. técnico: Paulo César Carpeggiani.

Botafogo, 1981(!):

Perivaldo, Gaúcho Lima, Gaúcho, Rocha, Paulo Sérgio e Zé Eduardo. Ziza, Mendonça, Marcelo, Ademir Lobo e Gerson. Técnico Paulinho Almeida.

É o fim. FIM

Por Henrique Packter 10/02/2025 - 13:24 Atualizado em 10/02/2025 - 13:28

Criciúma perdeu, com o falecimento de dona Zulcema, uma das mulheres mais marcantes da sua história. Faleceu Dona Zulcema Póvoas Carneiro aos 100 anos de idade. Ela completou seu centenário em 23 de novembro 2019. Professora, ela foi fundadora da primeira escola particular de Criciúma, em 1941.

Dona Zulcema nasceu em Florianópolis em 22.11.1919, vindo a falecer cem anos depois em 19.12.2019.

Zulcema era filha de Agenor Mamede Póvoas e Ernestina Lemos Póvoas. Casou-se com Mário da Cunha Carneiro, filho de Jorge da Cunha Carneiro e Vitória Búrigo Carneiro.

Era mãe de 4 filhas: Zurene (casada com Vilson Sônego), Kátia (casada com Clodomir José Crippa), Maria Ernestina (casada com Dr. Celso Thadeu Menezes) e Sílvia Regina (casada com Reinaldo Stuart Júnior).

Professora normalista, desembarca em Criciúma em 1941. Passa a lecionar no Grupo Escolar Professor Lapagesse e em 1942 funda o Curso Particular Póvoas Carneiro, do qual foi diretora e professora  até sua extinção em 1962. Dirigiu os grupos escolares Professor Lapagesse, Humberto de Campos e Heriberto Hülse.

Foi Inspetora Regional de Educação da 4ª Região Escolar (Criciúma, Urussanga, Içara, Siderópolis, Nova Veneza e Morro da Fumaça). Presidiu o Centro Cultural José de Alencar em Criciúma.

Aposentada como diretora do Serviço de Arquivos do Tribunal Regional do Trabalho, instituição para a qual serviu através de concurso público, em 02.08.1994 é Cidadã Honorária de nossa cidade.

ONDE JOSÉ ADELOR LESSA E DONA ZULCEMA PÓVOAS CARNEIRO SE ENCONTRAM 

José Adelor Lessa relembra seu início como jornalista em Criciúma, vindo de Araranguá, fazendo cobertura de uma eleição do Sindicato dos Mineiros de Rio Maina. Este sindicato era uma espécie de sindicato teleguiado, acoimado de pelego e que existia porque interessava à classe patronal sua existência. Assim, estabelecia uma espécie de contrabalanço com o sindicato na cidade de Criciúma, sem vinculação de dependência com a classe mineradora patronal. Esta eleição, como as outras do mesmo sindicato eram marcadas por troca de votos e urnas para favorecer a chapa patronal. 

Lessa escreveu sobre tudo o que ocorreu na eleição, como era de seu costume. Porém, intuindo da periculosidade de divulgar eleição sindical em Criciúma, onde nervos e cafeteiras ferviam, procurou esconder sua condição de jornalista. 

Vai daí e ele peticiona para obter seu registro como jornalista. Registro de classe era concedido sem qualquer restrição, delonga ou demora, porém, na vez de sair o registro de Lessa, as coisas foram diferentes e o bendito registro não saia. Foram muitas as vezes que viajou a Florianópolis atrás do documento. 

A coisa não andava e calha ele viajar a Florianópolis justo em dia de feriado facultativo. Não havia vivalma no prédio, exceto por uma senhora que se acerca de Lessa e quer saber o que ele deseja naquela repartição em dia de meio-feriado. Faz perguntas, manifesta solidariedade quando sabe tratar-se de criciumense postiço, como ela. Dá-lhe água, cafezinho... 

E, só assim o registro profissional saiu. Era juiz togado do Ministério do Trabalho o Dr. Airton Minoggio do Nascimento. Teve ele nomeação em 21.08.1984 e posse em 10.09.1984, nomeado que fora em 1984. Dr. Airton Minoggio do Nascimento  foi nomeado para exercer o cargo de juiz togado daquele Tribunal do Trabalho, em vaga destinada ao Ministério Público da União, pela aposentadoria do juiz Dirceu de Vasconcelos Horta.

Airton Minogio fez questão de entregar pessoalmente o documento, assinalando que Lessa devia o recebimento do seu registro graças à Professora Zulcema Póvoas Carneiro.

A FORMATURA NA ESCOLA PARA FORMAÇÃO EM TÉCNICOS DE ENFERMAGEM

Dona Zulcema estudou na escola de enfermagem do Hospital São José, Criciúma, escola que hoje conta 54 anos e forma Técnicos em Enfermagem. Ela já não era tão jovem assim, mas o entusiasmo era o de uma garotinha. Titulada, passam-se alguns anos e um dos genros, filho do Dr. Celso Menezes,  decide estudar Medicina, em Buenos Aires. Lá, bastava apresentar alguns poucos documentos e, sem vestibular, sem mais nada, você já estava estudando para ser médico. Dona Zulcema decide acompanhar o neto e acaba se matriculando juntamente com o menino e se constitui em pouco tempo em grande atração no país do Prata. Uma celebridade. Era entrevistada nos canais de TV, rádio, nos jornais e revistas. Os jornais disputavam-na para entrevistas, palpites, para propagandas ou o que fosse.Apontada nas ruas e no comércio, Zulcema brilhou em toda a linha.

Infelizmente, o que é bom dura pouco e eis que chega o inverno platino e com ele uma afecção crônica de brônquios que obriga nossa heroína a abandonar os estudos, nos quais, diga-se de passagem, ela estava se saindo muito bem.

DONA ZULCEMA CEM ANOS DEPOIS

Zulcema retorna a Criciúma e o sonho de tronar-se médica é abandonado para todo o sempre. Os jornais amanhecem, certo dia, abrindo manchetes: 

“Criciúma perde dona Zulcema Povoas Carneiro” e “Professora, foi uma das fundadoras da primeira escola particular da cidade”.

“Criciúma acaba de perder uma das mulheres mais marcantes da sua história. Faleceu Dona Zulcema Póvoas Carneiroagora, faz pouco, aos 100 anos de idade. Ela completou centenário de existência mês passado, dia 23 de novembro. Professora, ela foi fundadora da primeira escola particular de Criciúma, em 1941 (19.12.2019)”

Por Henrique Packter 18/02/2025 - 08:56

Criciúma, cem anos em 2025
Fundação em 06/01/1880
1892, 12 anos depois, distrito de Araranguá
1914, capital brasileira do carvão
04 de novembro de 1925: A emancipação

Colegas centenaristas: Jornal O Globo, Corrida rústica de Rua São Silvestre, General Motors. Nascem Inesita Barroso, Tony Curtis, Paul Newman e a Marvada Pinga. John Baird, engenheiro escocês, realiza a primeira transmissão televisiva de objeto em movimento. Seu sistema de 240 linhas de varrimento mecânico foi adotado de modo experimental pela BBC até ser substituído pelo sistema de 405 linhas da Marconi. 1925: é feriado pela 1ª vez no Brasil. O presidente Artur da Silva Bernardes decreta 1º de maio feriado nacional, sancionando a resolução legislativa e brasileiros (do comércio, da indústria e banco) já podem gozar 15 dias de férias ao ano.

A maior empresa automobilística norte-americana, a General Motors, inaugura fábrica em São Paulo e começa fabricando 25 carros por dia. No Rio, Irineu Marinho, funda jornal O Globo a 29 de julho. Em São Paulo, começa a circular o Jornal da Tarde. Encontro da Coluna Paulista com a Coluna Prestes e em 10.06.1925 Prestes assume a chefia do estado-maior tornando-se líder das forças rebeldes, a Coluna Prestes. O astrônomo americano, Edwin Hubble, anuncia a descoberta de galáxias fora da Via Láctea. O pianista Art Gillham, na Colúmbia, realiza a primeira gravação elétrica do som. Surge a canção Chuá, Chuá (“E a fonte a cantá/ chuá, chuá / e a água a corrê/chuê, chuê…”), fácil de cantar, motivo de su a popularidade. Foi o maior sucesso do maestro gaúcho Pedro de Sá Pereira. Letra de Ari Pavão, lançada no Teatro Recreio, na revista Comidas, Meu Santo, Rio de Janeiro, 1925. Em 31.12.1925 foi realizada a 1ª Corrida de São Silvestre, em São Paulo, somente entre brasileiros. Em 1945 estrangeiros passariam a competir. Após assistir às Olimpíadas de 1924, o jornalista Casper Líbero criou a rústica. É inaugurada a sede do Senado Federal do Brasil, o Palácio Monroe, centro do RJ. O primeiro campeonato sul-americano de futebol, disputado pelas seleções da Argentina, Brasil e Paraguai é vencido pela primeira.

OS FILMES DE 1925

1. O Encouraçado Potekim (1925) · Grigori Aleksandrov
2. Em Busca do Ouro (1925) · Charles Chaplin
3. O Grande Desfile (1925) · King Vidor

O AUTOR DA MARVADA PINGA, MÚSICA DE 1925

Nome completo: Ochelcis Aguiar Laureano

Nascimento:  1º.05.1909, Votorantim, São Paulo
Morte, São Carlos,16.01.1996 (86 anos)
Local de morte: São Carlos, São Paulo

Gênero(s): Sertanejo

Ocupação: Cantor, compositor, violeiro

Ochelcis Aguiar Laureano (Sorocaba, Rio Acima, depois Votorantim, 1º.05.1909 — São Carlos, 16.01.1996); violeiro, poeta, cantor e compositor brasileiro.

Chuá, chuá foi o maior sucesso do maestro Pedro de Sá Pereira. Esta modinha, enquanto composição original, teve letra de Ari Pavão e foi lançada no Teatro Recreio, na revista Comidas, Meu Santo, no Rio de Janeiro, em 1925.

BIOGRAFIA

Ochelsis Aguiar Laureano foi casado com Maria Augusta Soares Laureano e teve seis filhos, três homens, já falecidos, e três mulheres, Marcis, Judith e Glaucia. Desde pequeno, tocava viola e fazia repentes e canções sertanejas. Como artista sertanejo, atuou em programas de rádio e shows artísticos de 1920 a 1942.  Formou as duplas “Irmãos Laureano”, “Laureano e Soares”, “Laureano e Mariano”, entre outras.

Escreveu poemas como “Capim Teimoso”, “Lenço Preto” e “O Barranco” além de músicas de sucesso como “Roseira Branca”, “O Balão Subiu”, “A Caçada”, “É Mió num Casá”, “Meu Sertão” e “Marvada Pinga”.

Em 1942, após 7 anos, contados desde 1925, Laureano estudou música tornando-se professor de canto orfeônico e de educação musical. ASSIM, A MARVADA PINGA É ANTERIOR A 1942. Laureano foi amigo pessoal e aluno do maestro Heitor Villa-Lobos.

Em 1948 passa a lecionar em várias cidades (Passo Fundo, Presidente Prudente, Caraguatatuba, Jundiaí, Santos e Bauru), onde ministrou aulas em diversas instituições por 14 anos e, em 10.09.1984 foi agraciado com o título de cidadão bauruense.

Laureano morreu aos 86 anos, a 16.01.1996, em São Carlos, cidade onde morou por quatro anos.

DADOS ARTÍSTICOS

Professor de música, estudou canto coral com Villa-Lobos. Tornou-se evangélico passando a viajar pelo país ensaiando corais das igrejas. Um dos seus grandes sucessos como compositor foi a moda de viola "Moda da Pinga", também conhecida como "Festança no Tietê", gravada em 1937 por Raul Torres. A canção foi posteriormente regravada por Inezita Barroso (1953), conhecendo ainda diversas outras regravações, entre as quais uma de Pena Branca e Xavantinho (1980). Formou dupla com diversos parceiros. A primeira com Soares, uma das pioneiras formadas no rastro de FÉ da Turma Caipira de Cornélio Pires, da qual fizeram parte.

Em 1931, lançou com Soares, "Desafio", seu primeiro disco e a moda de viola "Casamento", ambas de autoria da dupla. Com Soares gravou 14 discos em 78 rpm, interpretando entre outras as modas de viola "Valentia de voluntário" e "A mulher e o relógio", ambas de sua autoria. Participou com Cobrinha, Mariano e Arnaldo Meirelles do Quarteto da Saudade. Em 1938, sua valsa "Harmônica chorosa" foi gravada por Arnaldo Meirelles ao acordeom. No mesmo ano, gravou, com seus irmãos, a moda de viola "O crime do restaurante chinês", de sua autoria e com o Capitão Furtado e Dulce Malheiros as imitações "Amanhecer no sertão", dele e Ariovaldo Pires.

Em 1941, a dupla Nhá Zefa e Nhô Pai lançou, de sua autoria, a toada "Sonho de matuto". Foi parceiro de Ariovaldo Pires, com quem trabalhou no programa "Repouso", na Rádio Tupi. "Destinos iguais", outro grande sucesso, gravado entre outros por Chitãozinho e Xororó, Duo Glacial, Inezita Barroso, Marcelo Costa e Tonico e Tinoco. Formou dupla com Mariano em 1945, fazendo sucesso com a toada "Destinos iguais", dele e Ariovaldo Pires, lançada no mesmo ano. Com Mariano gravou ao todo três discos, interpretando entre outras a moda de viola "Lola Mariana" e o recortado "Boiadeiro folgado", ambas de Mariano. Em 1978, Craveiro e Cravinho gravaram de sua autoria e Ariovaldo Pires a toada "O sonho do matuto". Foi considerado um dos maiores violeiros dos anos 1930 e 1940. Em 1980 teve as composições "Deixei de ser carreiro", com Mariano e "Destinos iguais", com Ariovaldo Pires, gravadas por Rolando Boldrin no disco "Giro a giro", lançado pela Continental.

Em 1993, Rolando Boldrin regravou pela RGE sua "Moda da pinga (Marvada pinga)" no CD "Disco da moda".

LITERATURA EM 1925

25.02 - É fundada a Biblioteca Mário de Andrade, na cidade de São Paulo, Brasil.

Livros de 1925

O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald

O Processo - Franz Kafka

Mein Kampf - Adolf Hitler

Nascimentos

Data Nome - Profissão Nacionalidade

14 de Junho - Dalton Trevisan Brasil                           

3 de Outubro - Gore Vidal, EUA

PRÊMIOS LITERÁRIOS

Nobel de Literatura - George Bernard Shaw.

George Bernard Shaw (Dublin, 26.07.1856 – Ayot St Lawrence, 02.11.1950), dramaturgo, romancista, contista, ensaísta e jornalista irlandês. Cofundador da London School of Economics, também autor de comédias satíricas de espírito irreverente e inconformista.

Shaw impacientava-se quando percebia exploração da classe trabalhadora. Socialista, escreveu folhetos e discursos  para o Socialismo, tornando-se orador dedicado à promoção de suas causas, que incluem ganhos e direitos iguais para homens e mulheres, aliviar os abusos contra a classe trabalhadora, rescindir a propriedade privada de terras produtivas e promover estilos de vida saudáveis. Em pouco tempo, era ativo na política local, no London County Council.

Ele e o cantor Bob Dylan foram os únicos a terem obtido um Nobel de Literatura (1925) e um Óscar (1938), recusando-os. Shaw por suas contribuições para a literatura e por seu trabalho no filme Pygmalion (adaptação de sua peça de mesmo nome). Shaw quis recusar o Nobel porque não tinha gosto por honrarias públicas. Mas, acabou aceitando, a pedido da esposa que considerava aquele Nobel homenagem à Irlanda. Contudo, rejeitou o dinheiro, pedindo que os fundos fossem usados para financiar traduções de livros suecos para o inglês.

VIDA E OBRA

Placa no local onde nasceu em 1856, em Dublin na Irlanda: "Bernard Shaw, autor de muitas peças, nasceu nesta casa em 26 de julho de 1856".

Filho de George Carr Shaw (1814-1885), e Elizabeth Lucinda Gurly (1830-1913), cantora profissional, nasceu numa tradicional mas empobrecida família protestante. De início foi instruído por um tio, e, aos 16 anos empregou-se num escritório. Adquiriu amplo conhecimento artístico graças à mãe, Lucinda Elizabeth Gurly Shaw, e às frequentes visitas à Galeria Nacional da Irlanda. Decidido a tornar-se escritor, transferiu residência para Londres em 1876, porém, por mais de dez anos, seus romances foram recusados por todos os editores da cidade, assim como a maior parte dos artigos enviados à imprensa. Tornou-se vegetariano, fervoroso defensor do socialismo, orador brilhante, polemista. Fez as primeiras tentativas como dramaturgo.

Em 1885, conseguiu trabalho fixo na imprensa e, durante quase uma década, escreveu resenhas literárias, críticas de arte e colunas musicais. Sua atividade literária, em especial a produção teatral, foi sequência de sucessos; destacou-se também na crítica literária, teatral e musical, na criação de panfletos e ensaios sobre assuntos políticos, econômicos e sociais. Foi, ainda, prolífico epistológrafo. Como crítico de teatro da Saturday Review (1895), atacou insistentemente a pobreza qualitativa e artística da produção teatral vitoriana.

Durante a Primeira Guerra Mundial, interrompeu sua produção teatral e publicou polêmico panfleto, Common Sense About the War, no qual considerava o Reino Unido, os aliados e os alemães igualmente culpados e reivindicava negociações de paz.

Recusou o Nobel de Literatura de 1925 e, em suas últimas peças, intensificou as pesquisas com a linguagem não-realista, simbolista e tragicômica. Por cinco anos deixou de escrever para o teatro e dedicou-se ao preparo e publicação da edição de suas obras escolhidas (1930-1938), e a tratado político. Sua correspondência também foi publicada, destacando-se a troca de cartas com o escritor H. G. Wells.

Faleceu em 02.11.1950. Seu corpo e o corpo da esposa foram cremados, as cinzas misturadas e lançadas no jardim de sua casa ao longo da estátua de Joana d'Arc em Shaw's Corner, Hertfordshire, Inglaterra.

George Bernard Shaw (Socialista) e Winston Spencer Churchill (Conservador) tratavam-se desrespeitosamente mas era evidente que os dois reconheciam as grandes qualidades que ambos ostentavam. Bernard Shaw teria peça de teatro de sua autoria representada em Londres. Remete, então, dois ingressos para Churchill acompanhados de recado: venha assistir à peça e traga um amigo, caso ainda tenha algum. Churchill respondeu quase imediatamente que, infelizmente, não poderia assistir à estreia da peça por haver assumido compromissos políticos inadiáveis para a data. Mas, iria, claro a uma segunda exibição da peça, caso houvesse uma segunda apresentação. 

Por Henrique Packter 24/02/2025 - 11:32 Atualizado em 24/02/2025 - 14:24

Há homens que são escritores e fazem livros que são verdadeiras casas e ficam. Mas, o cronista de jornal é como o cigano que toda a noite arma sua tenda e pela manhã a desmonta e vai.

 

Há casos lindos de amor por toda a vida, já me falaram, já vi. Mas, não entendo bem por que falamos de casos assim com uma ponta de pena   (Eles são tão unidos, coitados). De certo modo é mesmo muito bonito, consola ver. Porém, como certas telas, a gente deve olhar de uma certa distância.

 

As eleições ainda estão longe mas não se fala em outra coisa nas colunas dos jornais. O governador já anda fazendo alianças e distribuindo cargos para vencer novamente nas próximas eleições.

 

Lembro do meu amigo Romeu Lopes de Carvalho, o Romeu Penicilina, zeloso funcionário do IAPTEC e enfermeiro, na vida civil, sempiterno candidato a vereador e que conseguiu (uma única vez) eleger-se em Criciúma.

 

Romeu Penicilina, véspera de eleições, ao encontrar um incauto eleeitor na área de sua jurisdição, a grande Póspera,  onde reinava  o PTB de Vânio Faracco.

 

Romeu se exercitava, fazia contas:" Veja o vereador João Aderbal Agostinho da Silva. Chegou à Câmara entre 1967 e 70. Foi vereador na época em que não se ganhava salários para exercer a função. Fora eleito pela Arena na disputa de 1966 com 1,3 mil votos. “Foi o segundo mais votado, quase 10% da cidade, poucos votos atrás do seu Algemiro Manique Barreto, o mais votado”.

 

Romeu continuava "Com qualquer 500, mil votos eu me elejo. Só entre colegas do IAPTEC contei seguros 200 votos. Sou Presidente da Banda Musical Cruzeiro do Sul, só aí são 100 votos. Sou presidente da Associação Ciclistas de Criciúma, só aí são mais 200 votos, Um total de . E a presidência da Escola de Samba Vila Isabel? São, garantidos, outros 200 votos Os mais antigos vão lembrar-se dos desfiles de bicicletas adornadas com as cores pátrias, sua responsabilidade nos desfiles de 7 de setembro.

 

Exatava-se, agredindo inconscientemente o eleitor com o cotovelo direito golpeando várias vezes a barriga eleitoral:

 

- E os curativos, as injeções feitas no gratis (fazia com dois dedos a simulação de uma faixa, como no manto sagrado do Vasco da Gama, RJ), isso não conta? (Ajeitava com os ombros a camisa debaixo de um casaco que nunca deixava de usar).Demonstrava aqui irritação com a ingratidão do eleitorado.    

 

Vereador com mandato de 1970-1972, era vice-presidente do legislativo. Foi suplente de deputado federal. Desenvolveu intensa atividade social, sobretudo em inúmeros eventos de caráter esportivo.  também fundou e foi  presidente da Associação Ciclistas de Criciúma e presidente da Escola de Samba Vila Isabel. Os mais antigos vão lembrar-se dos desfiles de bicicletas adornadas com as cores pátrias, sua responsabilidade nos desfiles de 7 de setembro. 

 

 

ROMEU PINICILINA, natural de Itajaí, 29.12.1921, era filho de José Lopes de Carvalho e de Etelvina Ramos de Carvalho, casou-se com Carmezinda (Carmem) Freitas de Carvalho: o casal não teve filhos. Funcionário autárquico do IAPETEC de Criciúma, onde executou as funções de enfermagem ambulatorial, incorporado depois ao INAMPS, era dotado de zelo e capacidade invulgares.

 

Romeu Pinicilina era personagem menor do folclore criciumense, mas não menos importante. Filiado ao PTB tentava galgar os degraus da política pela Câmara de Vereadores.

 

ROMEU LOPES DE CARVALHO, O ROMEU PENICILINA. ENFERMEIRO, MEMBRO DO DIRETÓRIO DO PTB, CICLISTA                        

 

OS COMEÇOS. FICHA DE ATENDIMENTOS EM OFTALMOLOGIA

 

Conheci ROMEU LOPES de CARVALHO, o Romeu Pinicilina, atendendo-o profissionalmente em 08.9.1960, quando ele contava 38 anos de idade. Natural de Itajaí, agora residia em Criciúma. Tinha pterígios internos . Voltou a consulta em 29.3.1962.  Era míope de -2.00 graus.  Tinha pressão arterial e ocular normais. Ainda consultou em 20.1.1967, 08.1.1969, 11.2.1976, 8.1.1969, 11.2.1976, 17.10.1979, 11.1.1983, 23.3.1983 quando remove seu pterígio interno no OE.  Os pontos são removidos em 29.3. 1983. Tinha queixa de estafa em 13.3.1990.  A PA sobe e chega a 14x10.  Em 29.10.1992, aos 71 anos de idade  seu último exame em minha clínica já apresentando um catarata em AO e com PA normalizada.

 

 

1945, ANO ZERO

 

Nesse ano, morre o presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, por AVC. Assume seu cargo o vice-presidente Harry Truman. 08.5.1945 é o dia da vitória na Europa, dia em que a Alemanha nazista rendeu-se incondicionalmente às forças aliadas. A 6 e 9 de agosto Hiroshima e Nagasaki são bombardeadas com armas nucleares. A Segunda Guerra Mundial vai terminar a 2.9.1945 com a vitória dos aliados. A 24 de outubro a ONU é fundada e a 29 de outubro Getúlio Vargas é deposto da presidência do Brasil, finda o Estado Novo. Aporelly, o Barão de Itararé se regozija. Eterna vítima da violência da polícia política carioca, em seu box de trabalho no Jornal A Manhã (sua coluna chamava-se A Manha), pendurara aviso:

 

- Entre sem bater! 

 

Quando HENRIQUE DAURO MARTIGNAGO  retorna a Criciúma, início dos anos 60, a cidade está em efervescência, exatamente o ambiente que sua personalidade inquieta requeria. Imagino-o apresentando armas ao chegar:

 

- Quem mandava aqui?

 

BRASIL, PAÍS SEM MEMÓRIA. O IMBECIL COLETIVO

 

Noutros países o passado integra o presente; mesmo vilões como GUEVARA ganham investigadores e admiração. Na Argentina há verdadeira disputa em torno de personagens enterrados, embalsamados e de seus ossos – o caso de Perón. No Brasil essas coisas não são levadas muito a sério e há ossos ilustres perdidos por aí.

 

A vida de ROMEU LOPES DE CARVALHO, vivida em Criciúma, é tanto mais notável por se passar num momento decisivo de nosso desenvolvimento, quando todos grandes protagonistas de nossa história já aqui estavam e contracenaram com nosso singular personagem. Às vezes, ler registros daquela Criciúma exige visão ampla e estômago forte. A indústria carvoeira, suas semelhanças e estranhamentos com todo o resto; seus sindicatos, empresários e mineiros, políticos, religiosos, comerciantes, médicos, engenheiros, contadores, jornalistas -, estranho, cruel e impiedoso mundo de negócios em que tudo precisava estar em seu devido lugar sob pena de catástrofe. 

Historiadores sabem que o passado não é um campo imóvel de contornos definidos. As interpretações históricas favorecem a ampliação do conhecimento possibilitando conhecer os fatos tal como eles realmente ocorreram. A análise do passado não nos obriga à ingestão de pratos feitos, quase sempre indigestos. Assassinos da memória parecem não ter dúvidas a respeito do caminho percorrido e a percorrer. Para ficar numa só voz crítica, vinda do universo religioso, Leonardo Boff disse a respeito:

 

 

- Quem tem tanta certeza não pode ter misericórdia. Não pode entender e respeitar a convicção alheia – condição indispensável da vida democrática.

 

AS LARANJAS DE ROMEU PINICILINA

 

Nos anos 55 era intensa a movimentação no sentido de vacinar o maior número de pessoas contra a PARALISIA INFANTIL. Romeu ideou treinar voluntários para aplicação da vacina de JONAS SALK, que era injetável. Para tanto aplicava água em seringas, injetadas numa laranja.

 

Passa-se o tempo e a Próspera reclama que as vacinas do Romeu não funcionam, o índice de morbidade e de mortos é o mesmo. Romeu vai verificar o que havia: os voluntários continuavam a injetar a vacina, desta vez ainda na laranja!  

 

Por Henrique Packter 03/03/2025 - 13:25 Atualizado em 03/03/2025 - 13:27

NUR NA ESCURIDÃO, livro com o qual SALIM MIGUEL conquistou o PRÊMIO MACHADO DE ASSIS da ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, representa uma luz na História da Imigração árabe no Brasil. Mas, NUR é também o nome dado à ursinha polar, primeira da espécie nascida na América Latina, e no Aquário de SP, indagorinha, em novembro de 2024,  quando é apresentada ao público. Desde o nascimento  esteve num espaço isolado com a mãe, a ursa polar Aurora. Batizada como Nur, em imagens divulgadas pelo Aquário, ela aparece rolando pela área destinada aos ursos polares. Ela corre, explora o espaço e brinca no gelo.

Vinda ao mundo em 17.11.2024, desde o nascimento estava numa espécie de toca com a mãe - a ursa polar Aurora. Ia esquecendo de informar que Nur é filha de Aurora com Peregrino - dois ursos polares nascidos na Rússia e que vivem faz 10 anos em São Paulo.

O nascimento da bebê foi gravado por câmeras que ficam na área dos animais no Aquário. Em imagens divulgadas pela instituição é possível ver o animal nascendo sem pelos .Após o parto, a mãe lambe e depois deita a ursinha no seu corpo, provavelmente para aquece-la. Segundo veterinários do Aquário, o primeiro ano de vida de um urso polar, em especial as primeiras horas, representa período crítico para sua sobrevivência. Por serem frágeis, os filhotes precisam de atenção 24 horas/dia e também monitoramento diário para se intervir, caso exista algum problema.

GESTAÇÃO

Segundo o Aquário, a suspeita da gravidez de Aurora surgiu da observação atenta da equipe às mudanças no comportamento da ursa. Ela começou a passar mais tempo na toca, parecia mais cansada e reduziu a interação com Peregrino. "A separação entre fêmea e macho, no contexto da reprodução de ursos polares, é um comportamento crucial e natural. Na natureza, ursos polares são animais solitários, com exceção do período de acasalamento. Após a cópula, o macho não desempenha nenhum papel nos cuidados com a prole. A fêmea, por sua vez, afasta-se dos machos, buscando um local seguro para construir sua toca e dar à luz", afirmou o Aquário. O macho por perto seria um fator de estresse, vejam só.

ISSO, COM RELAÇÃO À NOSSA URSINHA POLAR NUR. E QUANTO A SALIM MIGUEL, TALVEZ O MAIOR ESCRITOR CATARINENSE?

A imigração árabe de sírios e libaneses no Brasil teve início no final do século 19 e início do século 20, sendo tema de grande relevância histórica e cultural. Estes imigrantes enfrentaram enormes desafios ao se estabelecerem num país com cultura, crenças e língua diferentes. Milhares de famílias de libaneses desembarcaram no Brasil e grande parte desses imigrantes eram cristãos. Somente no século 20, com a derrocada do Império Otomano  (1918), a imigração de libaneses não cristãos (judeus e muçulmanos) passou a ser mais significativa. Aqui chegando, já na primeira etapa, compreendendo os anos de 1880 a 1938, desembarcavam ou no porto de Santos (SP) ou do RJ, estabelecendo-se  tanto aí como partiam para Minas Gerais, Goiás, Amazonas e Sul do Brasil.

Esses imigrantes muito contribuíram para o crescimento econômico brasileiro, também chamando a atenção para uma cultura distante da Europa, até então a grande referência para a formação do nosso cenário cultural. Quantos vieram? Não há como precisar, pois o censo nacional não permite registro da identidade étnica, apenas a racial. Mas, faz pouco, a Câmara de Comércio Árabe Brasileira encomendou pesquisa ao Ibope Inteligência para se aproximar dos números dessa imigração, uma vez que em pesquisas empíricas os números poderiam variar de 3 a 16 milhões de descendentes.  Concluiu-se que a população árabe no Brasil pode variar de 9,50 a 13,70 milhões de pessoas, ou 6% da população br asileira. Essa diáspora se destaca no cenário nacional, pela sua contribuição para a formação cultural e pela crescente presença de seus descendentes na política e na literatura.

as, como classificá-los? Não havia uma  característica identitária definida, não eram brancos europeus, asiáticos, muito menos negros. A identidade étnica-racial, consequência da falta desta identidade, representa na literatura produzida no país por autores brasileiros, o estereótipo do imigrante árabe. É disso que NUR trata.

RESUMO

No centenário de nascimento do escritor líbano-Biguaçu Salim Miguel, analisemos  a história da imigração libanesa no Brasil a partir do  romance NUR NA ESCURIDÃO e a partir do personagem José Miguel, o pai, quando crescentes desafios e dilemas do personagem ressoam com a experiência humana.  

Em 2024 celebramos o centenário da publicação do Manifesto da Poesia Pau-Brasil e o nascimento do escritor líbano-brasileiro SALIM MIGUEL, radicado desde sempre em Florianópolis. Data oportuna para considerarmos a formação da nossa identidade. O Manifesto da Poesia Pau-Brasil é divisor de águas do Modernismo, segundo o próprio autor, Oswald de Andrade, o qual   articula o projeto da construção da identidade da cultura brasileira. Desconsagrando a cultura imposta pela colonização, busca a nacionalidade pela recuperação e valorização de nossas raízes étnicas híbridas. Já as comemorações e celebrações do centenário de nascimento  de Salim Miguel, permitem refletir sob re Nur na Escuridão (1999), na medida em que ele fornece testemunho da assimilação e integração de uma família de imigrantes no Brasil.

Machado de Assis, ícone da literatura brasileira, tratando em suas crônicas destes imigrantes já esboça um Orientalismo Tropical, na medida em que a visão estereotipada do cotidiano desse imigrante não é apresentada negativamente, mas de forma positiva e com o refinado humor machadiano. No século 20 Jorge Amado e Oswald de Andrade seguem o modelo.  Autores descendentes da Diáspora só viriam a partir da segunda metade do século 20. Com a fixação dos imigrantes no Brasil e sua inserção em diferentes segmentos da vida cultural brasileira, o século 20 colocaria os descendentes dos primeiros imigrantes no protagonismo da produção literária brasileira, na medida em que pro duzem literatura com tomada de consciência de sua identidade, reproduzindo suas angústias e questionamentos.  Além de Salim Miguel há Raduan Nassar em Lavoura Arcaica (1975), narrada do ponto de vista do imigrante, e que expõe a história da imigração e os conflitos existenciais que envolvem diaspóricos e seus descendentes. Milton Hatoum (1989) publica obra-prima da literatura brasileira contemporânea, Relatos de um Certo Oriente, romance que se destaca por sua poética narrativa, densidade temática e habilidade em retratar as complexidades das relações familiares, bem como as tensões sociais e culturais vividas pela família de libaneses estabelecida em Manaus. Hatoum  mistura passado e presente, revelando as intricadas relações entre os membros da família. Contada através de múltiplas vozes , oferece perspectivas para a compreensão dos personagens e suas motivações.

O líbano-Biguaçu Salim Miguel, também autor filho da diáspora, tem no romance NUR NA ESCURUDÃO (1999) a história da imigração árabe no Brasil através da inserção da família Miguel na sociedade, mas que poderia ser de qualquer outra família sírio-libanesa . Nascido no norte do Líbano, no vilarejo de Kfarsaroun,  distrito de Khoura (1924), Salim Miguel e sua família chegam ao Brasil quando ele contava três anos de idade. Foi um dos líderes do Grupo Sul, movimento artístico e literário que levou o modernismo para SC,  transformando o ambiente cultural local nas décadas de 1940 e 1950. Também atuou como jornalista, tinha livraria, foi um dos editores da revista literária Ficção no RJ.  Com Cruz e Sousa são os mais importante escritores de SC. De 1983 a 1996, ocupou cargos de chefia na Editora da UFSC e na fundação cultural de Florianópolis.

Em 1999, o romance autobiográfico Nur na Escuridão ganha os prêmios de melhor romance da Associação Paulista de Críticos de Arte  e da Nona Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo. Em 2009, Salim Miguel  ganha o Prêmio Machado de Assis concedido pela Academia Brasileira de Letras. 

Yussef/José Miguel, personagem central, representa as lutas e triunfos enfrentados pelos imigrantes libaneses no Brasil. “Nur na escuridão” trata da adaptação do imigrante libanês, especialmente através da trajetória do personagem principal, José Miguel ou Yussef Miguel, pai do autor. Essa trajetória oferece um vislumbre dos desafios de forjar uma nova vida num ambiente desconhecido. Questiona-se deveria ter imigrado? No livro trata das maneiras pelas quais a cultura libanesa se transforma na realidade brasileira.

Nur  significa luz em português, a primeira  palavra aprendida por Yussef, a luz que ele procurara lançar para compreender toda a sua trajetória de vida, a luz que se enfraquece quando “o pai agoniza”, a luz que   o narrador tenta manter acesa enquanto a mão paterna vai se soltando da mão do filho na derradeira despedida: “ A mão do pai solta-se da mão do filho, tomba mole.”

A cena inicial do romance retrata a chegada da família ao Cais do Porto do RJ na Praça Mauá, 1927. A travessia do oceano durou pouco mais de um mês desde Beirute. Yussef Miguel começava a gravar na memória as últimas imagem de seu país, o Líbano, o Mar Mediterrâneo atuando, assim,  como fronteira para a família, o fim e o início.  A família Miguel era uma das inúmeras famílias que no Brasil aportavam durante a segunda onda migratória, entre as duas guerras mundiais. Destinos como Austrália e EUA tornaram-se de difícil acesso para os imigrantes, por conta das cotas migratórias. Passam eles a imigrar para a América Latina. Entre 1920 e 1926, a instalação do Mandato Francês no Oriente Médio, causou grande instabilidade na r egião, resultando na retomada do fluxo migratório que havia perdido força com a Primeira Guerra. O destino para as Américas era invariavelmente reorientado, fosse pela imposição de cotas migratórios por países como os EUA, fosse pelo atraso na emissão de vistos nos portos europeus para os árabes, na medida em que não havia representação diplomática brasileira no Líbano e na Síria. 

A família Miguel pretendia partir para os EUA, mas cotas para os orientais se esgotaram. Decidiram então, entrar no país pelo México: “(…)Optam pelos EUA.  Embora exista outro empecilho: a cota para orientais está esgotada. Terão que se aventurar, entrar, como tantos, pelo México, de contrabando”. Porém, os planos mudariam: Yussef apresenta infecção ocular que, mesmo tratada não cede, e o visto para o México é negado definitivamente:

“Um dia Yussef chega em casa transtornado. Desaba numa banqueta, esconde o rosto entre as mãos. Tamina, sua mulher, interrompe o que fazia, aproxima-se, preocupada. E ouve o que lhe é transmitido aos trancos: negado o visto para o México.” Decidem-se pela América do Sul como destino. Havia os irmãos de Yussef no Brasil e o pai dela na Argentina. Após mais de um mês de viagem,  como outros imigrantes, desembarcavam no RJ e depois de tentativas frustradas de  lá se estabelecerem,  seguem para o sul do Brasil, para SC; as cidades de São Pedro de Alcântara,  Biguaçu e  Florianópolis receberiam a família Miguel. 

Grandes mudanças ocorrem na vida do patriarca Yussef/José Miguel, que navega entre as expectativas de sua cultura de origem e as demandas da sociedade brasileira. Vive jornada marcada por sucessos e fracassos, momentos de conflito e de integração, todos eles contribuindo para compreensão maior da experiência imigrante. Distante das obras produzidas por aqueles que não pertenciam à cultura oriental,  a história dos árabes no Brasil é resgatada em  Nur na escuridão.”

No passado desta família, sem espaço para sobreviver em sua terra natal e com esperança de enriquecer na “América”, parte para uma “nova pátria”. Imigrantes árabes, eram aceitos no Brasil, dando o primeiro passo integrando-se na sociedade local pela via econômica, mascateando pelo interior. Recorrendo à ideia de pioneirismo presente na figura histórica do bandeirante paulista, a participação cultural e econômica dos sírio-libaneses das grandes levas migratórias foi legitimada pela sociedade brasileira que ao absorvê-los culturalmente, concedia ao mascate árabe título de “bandeirante oriental”, forjando-lhes cidadania concebida pela sua contribuição econômica:

O segundo passo para a legitimação do imigrante no cenário nacional seria sua absorção e assimilação da cultura local. A coexistência cultural entre brancos, negros e índios traçou um perfil particular na cultura brasileira, formando-se aqui uma estrutura culturalmente plural. Com isso, a aculturação ou assimilação dos imigrantes transcorria aparentemente pacífica e naturalmente, porém, nada impedia que um traço étnico da identidade dos imigrantes persistisse, por mais que estivessem integrados na “nova pátria.” Como aconteceu com a maior parte dos imigrantes que vieram para o Brasil, a absorção e assimilação da cultura brasileira fora quase integral. No caso do patriarca da família Miguel, seu nome foi sendo alterna do conforme assimilava os hábitos da nova terra.

“Ao longo do romance, várias alusões são feitas à maneira pela qual Yussef é chamado, traço identitário revelador da posição que seu interlocutor adota na relação. No capítulo inicial, quando Yussef fala a outros libaneses na igreja ortodoxa do RJ, o narrador sublinha que seu nome pode variar: "E tu Yussef (ou José, dependendo do perguntador […]) » (p. 21), « (na igreja o pai volta a ser Yussef) » (p. 23). É em São Pedro de Alcântara que começa a deformação de seu nome para o equivalente em língua portuguesa (Yussef/Josef – p. 98). Ao longo do tempo, os epítetos se multiplicam: seu José, seu Zé, seu Zé Miguel, seu Miguel, seu Zé Gringo, seu Zé Turco, Zé Turco. At&eac ute; Tamina acaba por interpelá-lo de diferentes maneiras: Yussef, José, e por um nome híbrido, Yusé (p. 181). No entanto, quando ela está preocupada, é em sua língua materna que ela o chama: "(às vezes, entre eles, na intimidade, quando está preocupada, é Yussef)" (p. 123), "a mãe, mais prática, preocupada, costuma repetir: José, precisas cobrar (…) um horror as dificuldades, a fome, a miséria, onde vamos parar, Yussef?" (p. 125).

A riqueza de Nur na escuridão arrasta o leitor para uma reflexão sobre as relações entre imigrantes e a “nova pátria”, lança um olhar crítico sobre o passado daqueles que acreditaram na prosperidade de um país totalmente adverso ao deles. Recorrendo a um texto literário, como a narrativa de Salim Miguel, é possível reviver e compreender a história não só dos imigrantes árabes no Brasil, mas de todos aqueles que abandonaram seu país em busca de “nur” (luz) para sua sobrevivência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para compreender a inserção do imigrante árabe no Brasil e como se configura sua representação na literatura no  âmbito  dos  Estudos da Imigração no Brasil e tendo como motivação o centenário do escritor Salim Miguel, atentemos como procedeu a inserção do imigrante no Brasil. Nur da Escuridão insere-se  numa  linha  para reflexão acerca da produção literária dos “filhos da Diáspora” iniciada pela segunda geração de descendentes dos primeiros imigrantes bem como, em momento mais recente, compreender  os desafios vividos pelas ondas de deslocados pelo mundo.

 Na medida em que os filhos desta diáspora conquistavam espaços nos campos político, econômico e cultural do país, no  âmbito  da  História e da Crítica Literária,  atentemos  para  o romance em questão para que possamos compreender os encontros do Brasil com o Oriente Médio ao serem dadas múltiplas vozes para as narrativas que compõem o cenário literário nacional e o sentimento que afeta os imigrantes que voluntária ou involuntariamente deslocam-se para o exílio. Nesta análise, então, não poderíamos passar distante da reflexão de Edward Said sobre a experiência do exílio, vista por ele como complexa e multifacetada, como nos é apresentada a partir do personagem Yussef/José M iguel. As narrativas dos “filhos da diáspora” representadas aqui pelo romance de Salim Miguel desafiam as narrativas dominantes que tendem a reduzir o imigrante a figura sem voz, sem poder, ou ainda e talvez pior, estereotipada.

Em última análise, “ Nur na Escuridão” mergulha nas águas turbulentas da travessia da diáspora as questões identitárias, apresentando visão emocionante sobre a experiência humana. Salim Miguel se consolida como um dos principais escritores da literatura brasileira contemporânea, oferecendo narrativa rica e envolvente despertando reflexão profunda sobre as complexidades da vida e da identidade. Assim, em tempos em que os deslocamentos parecem ser o único meio para a preservação do humano  e que paradoxalmente aumentam os muros para impedi-los, “Nur, na Escuridão”, é convite para refletir sobre as complexidades do processo de adaptação, e como isso impacta a identidade e experiência do imigrante seja ela em qualquer tempo.

 

Por Henrique Packter 20/01/2025 - 18:05

Em primeiro lugar as pessoas não estão tão interessadas em mim como sempre imaginei. Sempre fiquei surpreso com as festividades promovidas pelos vendedores de livros didáticos de Medicina. Logo após o vestibular fui entrevistado várias vezes pelas rádios e jornais locais pelo meu 16º lugar no vestibular. Em todos as entrevistas o repórter buscava saber e enaltecer minha escolha de livros. Eles, os livros, naturalmente, eram da editora que os livreiros representavam.

Em segundo lugar nem todo mundo tem de gostar de mim. Afinal, nem eu gosto de todo o mundo. Fiz amizades e grandes inimizades durante minha vida. Muitas inimizades que conquistei eram de pessoas que nem cheguei a conhecer. Eram inimizades gratuitas e despontavam logo aos primeiros encontros.

Em terceiro lugar se formos honestos de forma brutal, a maior parte do que fazemos é para nós mesmos. Imprescindível parar de se preocupar com o que os outros pensam e fazer apenas aquilo que nosso coração almeja. Ser honesto da maneira habitual já é mais do que suficiente. O professor oftalmologista Sugar, após curso de cirurgia da catarata no Hospital dos Servidores, RJ, foi acompanhar nossas cirurgias. Eu era residente e operei catarata com o Dr. Fernando Machado, das Alagoas. A presença do professor fez com que os cirurgiões se excedessem em brilhos durante a cirurgia. A certa altura, Sugar chegou-se ao meu ouvido e disse:

- Don’t be too ambicious! (Não seja muito ambicioso!).

Esta parece ser uma boa norma de vida.

Por Henrique Packter 13/01/2025 - 13:39 Atualizado em 13/01/2025 - 13:43

Nasceu na granja do avô em Monte Bonito, Pelotas RS 08-11-1901, hoje município Manoel Alves da Conceição (homenagem a seu futuro sogro). Meirelles veio a falecer em 07-12-1975, 74 anos, em Porto Alegre (RS).

O sobrenome Meireles tem origem toponímica  (geográfica), e vem da quinta de Meireles, em Trás-os-Montes, norte de Portugal.

A origem do nome estaria no baixo-latim (Villa) Maiorelli, que significa "a quinta de Maiorelo" e  encontra-se na Galizia como Merelle..

O primeiro portador do sobrenome foi dom João Rodrigues de Chacim, senhor da quinta de Meireles, que o repassou ao filho Nuno de Meireles.

Algumas personalidades com o sobrenome Meireles são:

• Victor Meirelles (1832-1903), pintor

• Cecília Meireles (1901-64), escritora

Significado do nome Meirelles

Esse sobrenome é nome de uma quinta localizada em Trás-os-Montes, na região norte de Portugal.  Meireles significa "aquele que provém da quinta de Meireles". É possível que alguma família o tenha usado como apelido, que depois se transformou em sobrenome.

A origem também poderia estar na família judia Sashim que, no auge da perseguição aos judeus europeus se refugiou num vale, no interior de Portugal.

Então, originário da região norte de Portugal, hoje é encontrado em todo o mundo, especialmente em países lusófonos como o Brasil, Moçambique, Angola...

Outros acreditam que família Meireles vem de família Meira a qual vem de Pedro de Novaes (o velho), rico homem de el-rei D.Sancho II.

Meireles (Meirelles?) Vem da onde, mesmo?

Sendo seu pai militar, durante a infância e juventude residiu sucessivamente em Alegrete, Bagé, Rio Grande e Uruguaiana, RS. Formou-se em 1927 em Medicina na faculdade da atual Universidade Federal do RJ, Praia Vermelha. Graduado, clinicou em Paraisópolis (MG), transferindo-se logo após casar-se com uma prima, neta do irmão de sua avó paterna, para Rio Pardo, RS. Ali exerceu a Medicina (clínica geral), organizou o hospital local, fundou clube de futebol (América) e clube de tênis que funcionava na sua casa.

Em 1932 transferiu-se para o RJ onde se especializou em pediatria no curso do professor Carlos Abreu. Em 17.02.1934 chega a Santa Maria, RS, instalando-se inicialmente no Hotel Leon, onde passou a exercer a medicina pediátrica e foi também médico da Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários, Inspetor de Ensino, presidente da Sociedade de Medicina, assistente da Delegacia de Saúde, professor da Faculdade de Farmácia e da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria, da Escola de Enfermagem e médico do Posto de Puericultura da Legião Brasileira de Assistência.

Foi prefeito de Santa Maria de 15.01.1942 até 24.03.1947, quando renunciou ao cargo. Fora nomeado pelo Interventor, marechal Cordeiro de Farias e confirmado pelos que lhe sucederam no governo do Estado. Em 15.05.1964 foi eleito pela Câmara de Vereadores para o mesmo posto, ocupado até 18.12.1964, quando renunciou. Em 25.05.1947 elegeu-se diretor médico do Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo, cargo exercido até 23.03.1961. Foi Secretário da Fazenda (RS), de 20.01.1965 a 08.05.1965.

Morou em Santa Maria de 17.02.1934 a 25.01.1965. Durante esse período manteve diário encerrado com as seguintes palavras: “25 janeiro 1965 - Afasto-me de Santa Maria às 16 horas, com pesar e, porque não registrar, Nice e eu, chorando deixamos a nossa casa e assim Santa Maria, após 30 anos, 11 meses e 10 dias, de alegrias, vitórias e muito pouco aborrecimento. Obrigado, Terra querida”. Deixou instruções para seu enterro, “um pouco de terra da casa de número 1599 da rua dos Andradas, em Santa Maria” (obtida por seu fraternal amigo Dr. Francisco Alvares Pereira), colocada sobre sua cabeça. Está sepultado no Cemitério da Irmandade Arcanjo São Miguel e Almas, Porto Alegre, RS.

Bonito, não? Meu endereço em Criciúma era Lauro Müller, 696, onde Frida e eu vivemos 59 anos com muitas alegrias, vitórias e muito pouco aborrecimento.

 

Por Henrique Packter 09/01/2025 - 14:10 Atualizado em 09/01/2025 - 14:16

Você já teve a impressão de que seu chefe, seu representante político, seu padre-confessor ou seus colegas de trabalho estão ficando menos inteligentes a cada ano?

Pior que isso: que essa onda está afetando inclusive você? Que o mundo está cada vez mais difícil de entender? Se você está se sentindo cada vez menos inteligente, fique tranquilo, estamos todos emburrecendo a passos largos. O conhecimento humano aumenta explosivamente. Antigamente, dizia-se que o conhecimento humano dobrava a cada dezoito meses. Hoje, parece que ele dobra a cada nove. Embora coletivamente o mundo esteja ficando mais inteligente, individualmente estamos ficando cada vez mais burros.

Antigamente, você precisava entender de mecânica para dirigir um carro. Hoje, os computadores são foolproof (à prova de idiota), graças a Deus! É justamente por isso que sobrevivemos. Equipamentos incorporam conhecimento, e muitas vezes tomam decisões por nós. É a sobrevivência dos menos inteligentes.

Se você ler três livros por mês, dos 20 aos 50 anos, serão 1.000 livros lidos numa vida, que nem chegam perto dos 40.000 publicados todo ano, só no Brasil. Comparado com os 40 milhões de livros catalogados mundo afora, mais 4 bilhões de home pages na internet, teses de doutorado, artigos e documentos espalhados por aí, talvez seu conhecimento não passe de 0,0000000000025% do total existente. Há intelectual que acha que tem o direito de mudar o mundo só porque já leu 5.000 livros. É muita arrogância. A ideia de intelectuais superesclarecidos governando nações, hoje não faz o menor sentido, é até perigosa.

Como sobreviver num mundo onde cada um de nós só poderá almejar saber 0,0000000000025% do conhecimento humano ou até menos? O segredo é cada um se esforçar para saber 100% de um pequeno nicho, uma parcelinha do conhecimento humano.

Não basta mais tirar a nota mínima 5 e achar que um diploma vai resolver sua vida. Não basta mais saber 90% de uma única matéria acadêmica. Você precisará saber 100% de algo que seja útil para os outros. Vai ter de ser o maior especialista do mundo num assunto e vender o que sabe fazer bem aos demais miniespecialistas do planeta, e vice-versa.

Quantos alunos se formam especialistas em coisa alguma? Infelizmente, as universidades atualmente formam generalistas, porque é bem mais barato do que formar especialistas.

Só que generalista sem uma especialidade não arruma o primeiro emprego. Faculdades oferecem basicamente o mesmo curso todo ano, obedecendo a um mesmo currículo, chamado de mínimo. Não é à toa que há tanto desemprego.

Antigamente, superespecialistas poderiam morrer de fome por falta de mercado. Hoje, a globalização permite mercados cada vez maiores.

O segredo daqui para a frente é ignorar uma série de leituras, publicações e jornais que você lia anteriormente. Curiosamente, você vai ter de se tornar um ignorante, alguém que deliberadamente ignora milhares de informações para se concentrar na sua especialidade. O segredo não é mais ser um intelectual que sabe um pouquinho de tudo, mas ser um ignorante que sabe tudo sobre um pouquinho.

Por Henrique Packter 31/12/2024 - 13:17 Atualizado em 31/12/2024 - 13:19

Publicado em 1940, na ressaca da Primeira Guerra, o poema reflete um mundo ainda abalado diante do terror do fascismo.

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo

cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,

Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido

(mal vivido talvez ou sem sentido)

para você ganhar um ano

não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;

novo

até no coração das coisas menos percebidas

(a começar pelo seu interior)

novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,

mas com ele se come, se passeia,

se ama, se compreende, se trabalha,

você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,

não precisa expedir nem receber mensagens

(planta recebe mensagens?

passa telegramas?)

 

Não precisa

fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar arrependido

pelas besteiras consumadas

nem parvamente acreditar

que por decreto de esperança

a partir de janeiro as coisas mudem

e seja tudo claridade, recompensa,

justiça entre os homens e as nações,

liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

direitos respeitados, começando

pelo direito augusto de viver.

 

Para ganhar um Ano Novo

que mereça este nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo,

tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,

mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo

cochila e espera desde sempre.

 

O  sujeito lírico parece falar diretamente com o seu leitor ("você"). Procurando aconselhá-lo, partilhar sua sabedoria, formula neste seus votos de transformação para o novo ano. Começa recomendando que este seja realmente um ano diferente dos anteriores (tempo "mal vivido", "sem sentido"). Para isso, é necessário buscar uma mudança real, que vá além da aparência, que gere um futuro novo.

Prossegue, afirmando que a transformação deve estar presente nas pequenas coisas, tendo origem no interior de cada um, nas suas atitudes. Para isso, é preciso cuidar de si mesmo, relaxar, se compreender e evoluir, sem precisar de luxo, distrações ou companhia. Na segunda estrofe, consola seu leitor, determinando que não vale a pena se arrepender de tudo o que fez, nem acreditar que um novo ano será a solução mágica e instantânea para todos os problemas.

Pelo contrário, tem que merecer o ano que chega, tomar a decisão "consciente" de mudar a si mesmo e, com muito esforço, mudar a sua realidade.

Por Henrique Packter 23/12/2024 - 15:11 Atualizado em 23/12/2024 - 15:17

Qual é a melhor ocasião para aposentar-se? Alguém sabe?

Estou na faixa de idade na qual as pessoas procuram a melhor época para isso e para a qual data pedem que seja próxima! Colegas meus da Turma 1959 começam  a mostrar sinais de desmemorização  e me pergunto quando tal fenômeno ocorrerá comigo. Já percebo que clientes, amigos e colegas fazem-me questionamentos só para sondar se ainda estou firmei. Posso garantir que ainda estou. Por algum tempo estarei trabalhando em Criciúma dois dias por semana e mais um dia em Florianópolis, onde Frida estará com acompanhamento de Bruno, nosso outro filho que reside em Florianópolis, onde é Filósofo Clínico.

No outro dia estive sozinho no supermercado de nossa preferência em Criciúma. O gerente, mal me avistou, lançou-se em meu encalço até encurralar-me  entre doces e chocolates e padaria.

-O que é que eu queria?

Respondi-lhe da melhor forma possível. Não foi o suficiente. Seguiu-me ele como uma sombra até o caixa, indagando e sugerindo sobre artigos que eu deveria adquirir. Muito bom esse gerente, Zefiro, onde quer que você esteja.

Na fila do caixa, um cidadão parecido com o Roger Machado, mas sem os óculos, ofereceu-me a mão em cumprimento. Mais que depressa uma senhora de óculos ofereceu-me seu lugar na fila, afinal, minha compra era pequena e a dela bem maior. Aceitei e aí houve problema com meu cartão e demora em atender-me e à minha benfeitora. Desculpei-me como pude, mas percebia-se que ela parecera ficar se recriminando:

- Que é o que eu tinha que ceder meu lugar? Olha no que deu...

No momento em que eu pagava pela compra, uma senhora de meia-idade trombou comigo e abraçou-me com grande violência. Pediu para tirar foto nossa com o celular, para perpetuar aquele momento único em sua vida. Concedi, é claro, lisonjeado. Terminado o episódio, a senhora considerou-me melhor com a mão no queixo e afinal disse:

- Não que o senhor não é o doutor Eduardo Pinho Moreira, finado ex-prefeito de Criciúma!

Expliquei que o doutor Eduardo estava vivo e bem vivo, residindo em Florianópolis e depois que ela estava enganada, eu era...

Não foi necessário esclarecer quem eu era, ela já se desinteressara do papo, virara para a saída do estabelecimento e corria para o estacionamento com carrinho repleto de compras...

Pois bem, gente, é chegada a hora de dizer adeus

Meus colegas de turma (são já raridade maior a cada dia que passa), perguntam-me nos nossos cada vez mais infrequentes encontros, quase todos eles em salas de espera de aeroportos:

- Qual é a tua? Tás ainda trabalhando? Prá provar o quê?

A essa indagação que me foi endereçada por colega que reside (e ainda trabalha) em Campinas, SP, reenderecei a colega residente em Campos do Jordão. Ele me respondeu:

- Já comecei a desmobilizar-me. Trabalho um ou dois dias por semana, nos outros dias descanso, leio, vejo TV, escrevo, ouço música, faço quimioterapia e radioterapia para câncer de próstata...

Pois é, e aí, estando aposentado como preencher o tempo? Acordar mais cedo para ficar mais tempo sem fazer nada? Fazer como meu finado amigo Vitor Fontana que ligava diariamente, longos e dispendiosos telefonemas, para os filhos, todos residentes em São Paulo. Quem saberá dizer? 

Até a próxima, gente.

Por Henrique Packter 12/12/2024 - 16:52 Atualizado em 12/12/2024 - 16:55

Pois um noticiário vindo pela televisão faz poucos dias disse ser crítica a situação cultural de nosso país que é, tecnicamente, um país de analfabetos. Pesquisa realizada entre o povo, pelas ruas ou onde quer que fosse, levantou que a esmagadora maioria da população não lera nenhum livro ou fração de livro nos últimos 3 meses. Não me refiro aqui a livros didáticos, cuja leitura é obrigatória.

Já li em algum lugar aquilo que escrevi a seguir. O ensino escolar pode ser considerado inútil quando não é capaz de proporcionar aos alunos uma aprendizagem estimulante e motivadora. Fatores que podem contribuir para o fracasso escolar incluem: desinteresse do aluno ou do professor, falta de acompanhamento da família, problemas com a metodologia utilizada, desrespeito à singularidade do aluno, problemas cognitivos do aluno. 

A falta de educação escolar pode ter consequências graves para os indivíduos e para a sociedade. Para os indivíduos, pode significar menos oportunidades de emprego, renda e qualificação profissional, além de maior risco de envolvimento com drogas, criminalidade e violência. Para a sociedade, pode significar a perda de cidadãos mais educados, produtivos e conscientes de seus direitos e deveres. A escola é um ambiente fundamental para o aprendizado, principalmente das crianças e adolescentes. Ela possibilita a troca de conhecimento, o amadurecimento intelectual e amistoso, contribui para o convívio social. 

AÍ, VOCÊ FICA PENSANDO NAS POTÊNCIAS MUNDIAIS COMO A CHINA

São monumentais as exibições bélicas chinesas. Os milenares fastos da China passaram por cima do longo período em que Mao Tsé-tung ameaçava ser maior do que o país que ele governou com mão de ferro, coadjuvado por sua mulher, que também fez das suas, na decantada Revolução Cultural, que pretendia mudar não apenas a China mas o mundo todo.

Vamos admitir que a situação daquele país, em termos políticos e de direitos humanos é preocupante, criando uma discussão paralela: o atual e portentoso desenvolvimento da economia chinesa compensa, atenua, justifica o regime de força?

OBRIGAÇÃO ESTATAL

Obrigação de um Estado é, antes de mais nada, criar condições de liberdade para o povo. O progresso é necessário e bem-vindo, mas o importante é garantir que o cidadão seja livre para inclusive poder se beneficiar do progresso. Mussolini propôs aos italianos: pão ou canhão. Preferiram o canhão. Pois é.

Os entendidos estão prevendo que o século 21 será o século da China. Ela será a única superpotência mundial nas próximas décadas. Uma escola em Washington, entre outras matérias, ensina o mandarim - a língua oficial dos chineses. É um sintoma ao mesmo tempo cultural e pragmático. É bom que as novas gerações se preparem para o futuro. Não o futuro alegórico de Mao, mas o futuro real, que aponta para a economia e a ditadura do mercado. De minha parte, já passei da idade de aprender o mandarim ou qualquer outra coisa de utilidade imediata. Estou mais preocupado em não esquecer o pouco que aprendi.

VISÃO POLÍTICA

Ex-ministro do STF no outro dia teria deixado escapar, tratando de outra agenda: "Eu não sei definir pornografia, mas reconheço-a quando a vejo".

POR TUDO ISSO, VAMOS LER!

Todo indivíduo só será capaz de se tornar um leitor ativo, se estiver comprometido com a busca do saber. O ato de ler não pode ser uma obrigação, é uma virtude que precisa ser cultivada com todo cuidado. O aluno precisa de incentivo, ajuda e apoio, para se tornar um leitor. Caso algum desses incentivos seja ignorado por parte de alguns profissionais, este aluno poderá ser um eterno leitor frustrado.

Borges, quando professor de literatura na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires, recusava-se a dar bibliografia a seus alunos: “ Porque vocês não estudam diretamente os textos? Se tais textos lhes agradam, ótimo. Caso contrário, não continuem, pois a leitura obrigatória  é uma coisa tão absurda quanto falar em felicidade obrigatória”.

Mário Quintana dizia: “analfabeto é precisamente aquele que, sabendo ler, não lê”.

FICAR EM CASA

Os jovens de hoje se sentem miseráveis se não podem viajar nas férias. Eu nunca viajei. A gente ficava era em casa mesmo, tempo preguiçoso  e vazio à nossa frente. Que fazer com o tempo?  Meu pai entrou de sócio para um “clube do livro”. Todo mês chegava um livro novo. Eram uns livros feios – brochuras de papel jornal, as páginas vinham grudadas – a gente tinha de ir abrindo com uma faca à medida que lia. Isso irritava porque interrompia o ritmo da leitura.

Para que a leitura dê prazer é preciso que quem lê domine a técnica de ler. A leitura não dá prazer quando o leitor sabe juntar as letras, dizer o que significam – mas não têm o domínio da técnica. O leitor dominou a técnica da leitura quando não precisa pensar em letras e palavras: só pensa nos mundos que saem delas; quando ler é o mesmo que viajar.

Ensina-se nas escolas, muita coisa que a gente nunca vai usar, depois, na vida inteira. O ensino escolar pode ser considerado inútil quando não é capaz de proporcionar aos alunos uma aprendizagem estimulante e motivadora. Fatores que podem contribuir para o fracasso escolar incluem: desinteresse do aluno ou do professor, falta de acompanhamento da família, problemas com a metodologia utilizada, desrespeito à singularidade do aluno, problemas cognitivos do aluno. 

A falta de educação escolar pode ter consequências graves para os indivíduos e para a sociedade. Para os indivíduos, pode significar menos oportunidades de emprego, renda e qualificação profissional, além de maior risco de envolvimento com drogas, criminalidade e violência. Para a sociedade, pode significar a perda de cidadãos mais educados, produtivos e conscientes de seus direitos e deveres. 

A escola é um ambiente fundamental para o aprendizado, principalmente das crianças e adolescentes. Ela possibilita a troca de conhecimento, o amadurecimento intelectual e amistoso, e contribui para o convívio social. 

Obrigaram-me a aprender muita coisa que não era necessário, que eu poderia ter aprendido depois, quando e se a ocasião de sua necessidade o exigisse. Nunca usei seno ou logaritmo, nunca usei meus conhecimentos sobre as causas das Guerras Napoleônicas, nunca tive de empregar os saberes  da genética para determinar a prole resultante do cruzamento de coelhos brancos com coelhos pretos, nem a escolha do sistema modelo primário de Mendel, nunca houve ocasião para que eu me valesse de saberes sobre sulfetos ou que tais.

LEITURA E BURRICE

Muitas pessoas inteligentes por nascimento, ficaram burras por excesso de leitura. Esta afirmação contraria aquilo que os professores normalmente dizem e fazem. Eles acreditam que livros, quanto mais melhor. E, a partir deste princípio, emprestado por analogia da antiga etiqueta culinária mineira, obrigam seus alunos a ler listas infindáveis de livros – provas da seriedade de seu saber e do rigor de seus cursos.

Sei que o excesso de leitura faz mal para a inteligência. Encontrei um aliado no livro “Sobre livros e leituras” de Arthur Schopenhauer: “Quando lemos, outra pessoa pensa por nós: só repetimos seu processo mental. Durante a leitura nossa cabeça é apenas o campo de batalha de pensamentos alheios”.

Em outras palavras: ler é um exercício de alienação. A palavra vem do latim, alius, “o outro”. O alienado é uma pessoa que está fora de si, caminha num mundo que não é o seu; é de outro. Mas isso, precisamente, é o que a leitura faz. A alienação é uma das fontes de prazer da leitura. Por meio dela sou capaz, ainda que por um curto espaço de tempo, de sair de  minha realidade e viver a realidade de outro

Mas, aquilo que é remédio no varejo, vira veneno no atacado. Schopenhauer  também diz: “aquele que lê muito e quase o dia inteiro e que nos intervalos se entretém com passatempos triviais, perde, paulatinamente, a capacidade de pensar por conta própria.” “É por isso que, no que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante”. “Este é o caso de muitos eruditos: leram até ficar estúpidos. Porque a leitura contínua, retomada a todo instante, paralisa o espírito ainda mais que um trabalho manual contínuo, já que neste ainda  é possível estar absorto nos próprios pensamentos”. Nietzsche disse no ECCE HOMO: “Os eruditos, que hoje nada mais fazem que “dedar”livros (ir virand o páginas com os dedos), acabam por perder inteiramente a capacidade de pensar por eles mesmos. Enquanto vão lendo, não pensam. Os eruditos gastam todas as suas energias dizendo Sim e Não na crítica daquilo que outros pensaram – eles mesmo não têm mais a capacidade de pensar”.

Borges, numa conferência sobre “O livro”, cita Sêneca, que censura o dono de uma biblioteca de 100 livros. “Quem”, ele pergunta, “é capaz de ler 100 livros?”

Valendo-me das metáforas culinárias, atrevo-me a dizer que, com frequência, as chamadas avaliações escolares (as provinhas) são ocasiões pós-refeição em que se provocam vômitos intelectuais nos alunos, para verificar se o vomitado é idêntico ao que foi engolido.

A MAIOR PARTE DAS ESCOLAS SÃO MUITO CHATAS

A prova de que uma criança gosta de ir à escola é se, na hora do recreio, ela está conversando com os amigos sobre as coisas que a professora ensinou. E não se vê isso. Então fica evidente que elas gostam da escola por causa da sociabilidade, dos amiguinhos, por causa do recreio. Mas elas não estão interessadas naquilo que se ensina na escola. Você acha que um adolescente, vivendo na periferia, pode ter interesse em dígrafos (grupo de duas letras usadas para representar um único fonema)? Não tem interesse-nenhum.

Bem reparado, as crianças fazem perguntas incríveis para conhecer melhor o mundo. Uma delas: ''Quem inventou as palavras?''. Há outras boas: ''Gato podia chamar cavalo e cavalo chamar gato? Por que canteiro chama canteiro? Devia chamar planteiro, que é onde ficam as plantas! Por que a chuva cai aos pinguinhos e não toda de uma vez? Se na Arca de Noé havia leões, por que eles não comeram os cabritos?'' E vai por aí. Elas estão fazendo perguntas interessantes, mas as respostas não se encontram nos programas.

''Às vezes vejo os professores como esses guias turísticos que vão todo dia ao mesmo monumento, levando um grupo diferente e repetindo as mesmas palavras''.

"As escolas são chatas porque não levam em consideração as crianças, eles (burocratas) estão preocupados com administração.

O erro das escolas é ensinar coisas que os alunos nunca vão usar e, mais que isso, estão longe da realidade de vida deles. "Crianças de uma favela de São Paulo não podem aprender as mesmas coisas que alunos da Amazônia", diz, ressaltando que há coisas básicas e instrumentais, como a tabuada e a matemática, que devem ser as mesmas.

Resumindo: são duas, apenas duas, as tarefas da educação. (1) Explicações conceituais são difíceis de aprender e fáceis de esquecer, por isso recomendo a quem ensina andar sempre pelo caminho dos poetas, que é o caminho das imagens. Uma boa imagem é inesquecível. Assim, em vez explicar o que disse, mostro o que disse por meio de uma imagem.

(2) Ferramentas são melhorias do corpo. Os animais não precisam de ferramentas porque seus corpos já são ferramentas. Eles lhes dão tudo aquilo de que necessitam para sobreviver. Os seres humanos são desajeitados  quando comparados com os animais! Veja, por exemplo, os macacos. E os saltos dos cangurus, das pulgas e dos gafanhotos! Já prestou atenção na velocidade das formigas? Mais velozes a pé, proporcionalmente, que os bólidos de F-1! Nossa inteligência se desenvolveu para compensar nossa incompetência corporal. Inventou melhorias para o corpo:  pilões, porretes, facas, flechas, redes, barcos, jegues, bicicletas, casas... Disse Marshall MacLuhan corretamente que todos os "meios" são extensões do corpo. É isso que são as ferramentas: meios para viver. Ferrame ntas aumentam a nossa força, nos dão poder. Sem ser dotado de força de corpo, pela inteligência o homem se transformou no mais forte de todos os animais, o  mais terrível, o maior criador, o mais destruidor. O homem tem poder para transformar o mundo num paraíso ou num deserto.

Arte de pensar: ponte para o desconhecido. Tão importante quanto a aprendizagem do uso das ferramentas existentes —de aprendizagem mecânica— é a arte de construir ferramentas novas. Na caixa das ferramentas, ao lado das ferramentas existentes, mas em gaveta separada, está a arte de pensar.

(Fico a pensar: o que as escolas ensinam? Elas ensinam as ferramentas existentes ou a arte de pensar, chave para as ferramentas inexistentes?)

Por Henrique Packter 05/12/2024 - 15:34

Ainda no outro dia escrevi e transmiti minhas despedidas de terras criciumenses após 64 anos de feliz convívio. Aqui pratiquei minha honesta medicina oftalmológica e criei meus 4 filhos. Túlio, filho engenheiro-agrônomo, que trabalha terra urussanguense e lida com bichos maiores acima dela, é, na aparência, rude trabalhador braçal. Nossa casa, em Criciúma, fica com Eraldo Rosa, o grande empresário do ramo da construção civil no sul de SC e hoje um dos maiores nesta atividade.

Após todos esses 64 anos trabalhando em meu consultório de oftalmologia em Criciúma e depois também em Florianópolis e contando já a idade de...  bem, deixa essa questão de idade prá lá...

Enfim, já é hora de trabalhar num local só e não andar zanzando pela mortífera BR101 todas as semanas ida-e-volta. Minha escolha citadina recaiu em Florianópolis Beira Mar. Poderia ter sido Rincão Beira Mar mas ganhamos o mar da capital.

Já escrevi e falei quase tudo quando escrevi Despedidas neste PORTAL; não vale a pena repetir velhas glórias ou repisar antigas mágoas.

Em 24.05.2017, escreve Ives Gandra, elementos do PT e do MST invadiram o Congresso Nacional destruindo e incendiando dependências do Parlamento, fazendo com que o Presidente Michel Temer decretasse estado de emergência. Foi tal a gravidade do atentado a ponto do presidente determinar ao exército que tomasse medidas para que o episódio chegasse ao fim  com a desocupação do Legislativo.

Apesar da gravidade do atentado nenhum dos depredadores, agressores, bagunceiros, arruaceiros, badernistas, brigões, desordeiros ou que outra designação os invasores pudessem ganhar, eles, os agressores de funcionários, não sofreram qualquer processo judicial.

Complacência? Leniência do poder judiciário? Agressão pouco significativa? Importante peso político dos chefes políticos envolvidos?

O presidente Michel Temer, anos depois de ocorrido o episódio, esclareceu não ter punido os baderneiros porque seguira o exemplo do ex-presidente JK, anistiando os armados revoltosos de Aragarças e Jacareacanga que intentavam desfechar golpe de estado em seu governo.

16 anos separam os dois episódios de Brasília. Neste último, de janeiro, houve maior número de participantes mas não se contabilizou qualquer agressão a funcionários públicos. Depredações houve no Executivo e no Legislativo, mas não se decretou estado de emergência. Neste último episódio o presidente Lula, com inexpressivo contingente militar, encerrou a baderna prendendo 1.700 manifestantes desarmados, sem disparar um tiro sequer. As destruições de prédios públicos foram as mesmas nos dois episódios. Em 2023 a extensão dos danos foi maior, mas só houve feridos em 2017.

A tal de hermenêutica de Ives Gandra

Ives Gandra confessa ser cada vez mais difícil interpretar nosso Direito, tendo a nítida impressão de que o Brasil possui duas espécies de hermenêutica jurídica em que fatos e circunstâncias semelhantes devem ser punidos quando praticados por conservadores e desconsiderados quando quem os pratica milita na esquerda. 

Hermenêutica, graças a Deus, é apenas substantivo feminino, significando tão somente ciência, técnica que tem por objeto a interpretação de textos religiosos ou filosóficos, especialmente das Sagradas Escrituras. Ou ,interpretação dos textos, do sentido das palavras. Gandra disse mais. Parafraseou o poeta, perguntando: "Mudou o Brasil ou mudei eu?"

Por Henrique Packter 26/02/2024 - 08:37 Atualizado em 26/02/2024 - 14:13

Tenho escrito sobre o Dr. David Luiz Boianovsky, pediatra e nutrólogo que clinicou em Criciúma entre 1958 e 1968. Casado com Rosa Nuch Boianovsky, o casal teve 4 filhos: Mauro, André, Celso e Daniela. André e Celso são oftalmologistas em Brasília. David morreu em acidente aéreo quando embarcava em São Paulo no aeroporto de Congonhas, rumo ao RJ. O voo teve duração de 20 segundos e vitimou cem pessoas.

Considero David Luiz   – e sobretudo – ao programa SATC, por ele criado para minimizar os números absurdos alcançados pela mortalidade infantil   em nossa região, um dos maiores índices, como no país uma das maiores, senão a maior figura humana em nosso meio. Foram 10 anos de trabalho e planejamento. Resolvido esse problema intolerável, David Luiz Boianovsky mulher e filhos, deixam Criciúma e se instalam em Brasília onde, entre outras atividades, ele cria o PAT, programa destinado a alimentar o funcionário das empresas de maneira higiênica, acessível e diária. 

O Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) é programa governamental de adesão voluntária, instituído em 14.04.1976. Ainda em execução é o mais longevo programa do governo federal em todos os tempos. O objetivo principal do programa é a melhoria das condições nutricionais dos trabalhadores visando promover a saúde e prevenção das doenças profissionais, por meio da concessão de incentivos fiscais. Sua gestão é compartilhada entre o Ministério do Trabalho e Emprego, a Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da Fazenda e o Ministério da Saúde. Grande sucesso até hoje, nutre mais de 20 milhões de funcionários de empresas instaladas em nosso país.

A FAMÍLIA BOIANOVSKY EM CRICIÚMA E BRASÍLIA
 
O pediatra e nutrólogo David Luiz Boianovsky clinicou em Criciúma entre 1958 e 1968. Como já foi dito, David era casado com Rosa Nuch Boianovsky; o casal teve 4 filhos: Mauro, André, Celso e Daniela. André e Celso são oftalmologistas em Brasília.
David morreu em acidente aéreo quando embarcava em SP no aeroporto de Congonhas, rumo ao RJ. O voo teve duração de 20 segundos e vitimou cem pessoas.

Considero David Luiz Boianovsky uma das mais importantes figuras da história de Criciúma, graças – sobretudo – ao programa SATCE, por ele criado para minimizar o número absurdo de crianças mortas, um dos maiores índices de mortalidade infantil em nosso país. Resolvido esse problema intolerável, David Luiz Boianovsky mulher e filhos, deixam Criciúma e se instalam em Brasília onde, entre outras atividades, ele cria o PAT, programa destinado a alimentar o funcionário das empresas de maneira higiênica, acessível e diária. O programa é grande sucesso até hoje, nutrindo mais de 20 milhões de funcionários de empresas instaladas em nosso país.

SEXTA-FEIRA, 21 DE FEVEREIRO DE 2024

Nota de pesar - Morre Mauro Boianovsky

O Instituto de Economia da Unicamp expressa profundo pesar pelo falecimento do Professor Mauro Boianovsky da Universidade de Brasília (UNB). Reproduzimos a seguir a mensagem escrita, a pedido da ABPHE, pelo colega Mauricio Coutinho. "Faleceu hoje (21.02.24) nosso colega Mauro Boianovsky, professor de Economia da UNB. Formado pela UNB, mestre pela PUCRJ e doutor em economia por Cambridge (1996), deixa vastíssima produção em história do pensamento econômico, com livros e artigos publicados nas principais editoras e revistas internacionais. Mauro escreveu sobre inúmeros expoentes do pensamento econômico internacional: Wicksell, Domar, Joan Robinson, Tinbergen, Samuelson e produziu vários estudos sobre pensamento econômico latino-americano, incluindo Sunkel e Celso Furtado.

Mauro teve ainda atuação nas principais associações da disciplina, como a History of Economics Society (HES), a European Society for the History of Economic Thought (ESHET), a Associação Latinoamericana de História do Pensamento Econômico (ALAHPE). No período 2016-17 foi presidente da HES.

Sua presença em conferências era habitual e sempre esperada. No Brasil, participou de inúmeros Encontros da ANPEC e se esforçou pela difusão das contribuições de vários colegas brasileiros.

Neste momento de luto, expressamos nossa mais sincera solidariedade à família, amigos, colegas e a todos aqueles tocados pela vida e obra de Mauro Boianovsky.

O professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Boianovsky morreu na manhã desta quarta-feira (21.02.2024), aos 64 anos, em decorrência de câncer. Referência no campo de História do Pensamento Econômico, foi considerado um dos pesquisadores mais influentes do mundo, conforme lista elaborada pela Universidade de Stanford e pelo repositório de dados Elsevier em 2023.

Formado em Economia pela UnB, em 1979, Mauro fez mestrado na PUC do RJ e doutorado em Cambridge, na Inglaterra. Era professor titular na Universidade de Brasília, onde lecionava Teoria do Desenvolvimento Econômico na graduação, e História do Pensamento Econômico na pós-graduação. Com a morte de Mauro, o Brasil perde duas referências da área da economia no mesmo dia. Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, também morreu nesta quarta-feira.

Durante o doutorado, o professor   elaborou tese sobre o pensamento do economista Knut Wicksell e aprendeu sueco para ler os textos originais. “Eu até brincava com o Mauro, comparando-o com Indiana Jones. O que ele fazia era ‘arqueologia econômica’: buscar os textos originais para colocar nuances que eram pouco conhecidas de economistas famosos”, diz José Luís Oreiro, professor de Economia da UnB e colega de Mauro. 

Mauro foi professor na UnB e, também, presidente da History of Economics Society (HES), um dos mais respeitados fóruns de discussão econômica do mundo, em 2015, sendo o primeiro latino-americano a comandar o órgão. 

“Foi grande perda para a Universidade de Brasília e para a linha de pesquisa. Primeiro, porque foi pessoa com notável conhecimento na área, uma das grandes referências do mundo. Sua publicação científica foi muito importante para o programa de pós-graduação em Economia na Universidade de Brasília e era especialista num assunto que poucas pessoas têm domínio”, lamenta Oreiro. 

DO VICE-PRESIDENTE DO BANCO DE DESENVOLVIMENTO DA AMÉRICA LATINA (CAF)

Jorge Arbache, também lamentou o falecimento de Boianovsky. Em postagem no LinkedIn, o economista destacou que o professor era considerado “um dos mais brilhantes autores de todos os tempos” pelos seus pares na linha de pesquisa de História do Pensamento Econômico.

“A obra de Mauro foi imensa e intensa, e muito influente. Mauro recebeu os mais importantes prêmios nacionais e internacionais, era considerado pela academia de escola do pensamento econômico como um dos mais brilhantes autores de todos os tempos, ocupou os mais importantes cargos internacionais na área, e talvez possa ser considerado o economista brasileiro que mais prestígio e influência teve na sua respectiva área em nível internacional”. 

Publicado há poucas semanas atrás, o último artigo do professor, que era judeu, recebeu como título “Recollections of My Time at the History of Economics Society” (Lembranças do meu tempo na History of Economics Society), é um balanço da produção acadêmica, de sua atuação no órgão e uma espécie de despedida. Mauro Boianovsky foi eleito presidente da History of Economics Society (HES).

Homem com camisa verde

Descrição gerada automaticamente

Professor de Teoria do Pensamento Econômico da Universidade de Brasília, Mauro Boianovsky (Foto: Isa Lima/UnB/Divulgação)

Reproduzido de G1-DF

O professor da Universidade de Brasília Mauro Boianovsky foi eleito presidente da History of Economics Society (HES), um dos fóruns mais renomados de discussão econômica em todo o mundo. Graduado em economia pela própria UnB, ele será o primeiro acadêmico latino-americano a comandar o órgão, sediado nos EUA.

Com duração de um ano, o mandato terá início na próxima Conferência Anual da HES, marcada para 26.06.2024 de junho na Universidade Estadual de Michigan. "Pode ser uma oportunidade de dar visibilidade para pesquisas feitas na região e de trazer mais brasileiros para os encontros", afirma Boianovsky em matéria divulgada pela UnB.

Boianosky é professor de Teoria do Desenvolvimento Econômico e de História do Pensamento Econômico na UnB. Vice-presidente do Comitê Executivo da HES em 2009, ele também foi membro do colegiado entre 2002 e 2005. No Brasil, foi premiado pela Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (Anpec) em 2011, por artigo acadêmico sobre Celso Furtado.

RECONHECIMENTO

Em 2007, artigo do professor sobre a teoria econômica de Don Patinkin foi premiado pela HES. A entidade reúne pesquisadores americanos, canadenses e de dezenas de outros países, com foco nas discussões sobre a história do pensamento econômico.

O artigo premiado se transformou em um dos capítulos do livro "Transforming modern macroeconomics: exploring disequilibrium microfoundations (1956-2003)", escrito em parceria com o britânico Roger Backhouse, da Universidade de Birminghan.

Publicada em 2013, a obra foi escolhida como a melhor do ano pela European Society for the History of Economic Thought (ESHET), associação europeia congênere da HES. Anunciado em 2014, o prêmio foi entregue em maio na reunião anual da ESHET, Roma.
 

Por Henrique Packter 23/10/2023 - 09:28 Atualizado em 23/10/2023 - 09:51

Manuel Bandeira publicou vasta obra até a morte, em contos, poesias, traduções e críticas literárias. No segundo dia da Semana de Arte Moderna, seu poema Os Sapos foi lido por Ronald Carvalho.

A CAMÕES, poema de Manuel Banxdeira

Quando n’alma pesar de tua raça

A névoa da apagada e vil tristeza,

Busque ela sempre a glória que não passa,

Em teu poema de heroísmo e de beleza.

Gênio purificado na desgraça,

Tu resumiste em ti toda a grandeza:

Poeta e soldado... Em ti brilhou sem jaça

O amor da grande pátria portuguesa.

 E enquanto o fero canto ecoar na mente

Da estirpe que em perigos sublimados

Plantou a cruz em cada continente,

 Não morrerá, sem poetas nem soldados,

A língua em que cantaste rudemente

As armas e os barões assinalados.

Academia Brasileira de Letras
Na Academia Brasileira de Letras (ABL), Manuel Bandeira foi o terceiro ocupante da Cadeira 24, eleito em 29.8.1940.  Sua trajetória laboral destaca atuação como professor de Literatura Universal no Externato do Colégio Pedro II, 1938. Foi também professor de Literatura Hispano-Americana (1942 a 1956)​, da Faculdade Nacional de Filosofia, onde se aposentou. Faleceu no RJ, aos 82 anos, em 13.10.1968, vítima de hemorragia gástrica.

Pneumotórax, poema de Manuel Bandeira
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico:

- Diga trinta e três.

-Trinta e três… trinta e três… trinta e três…

- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.

- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

-  Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

(Comentário: tango argentino só na hora da morte...)

Vou-me Embora pra Pasárgada, poema de Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Passárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Passárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Passárgada

Em Passárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Passárgada.

GYRÃO, SÍLVIO DAMIANI BÚRIGO, IVO NESRALLA: PIONEIROS EM CIURGIA CARDÍACA

O Dr. Sérgio Hertel Alice, primeiro patologista da região, foi especializar-se em 1970 no Hospital dos Servidores (IPASE) no RJ, estimulado por Gyrão. Sérgio trabalhava em Siderópolis juntamente com Gyrão na CSN.

Uma das primeiras cirurgias de coração em SC e no Brasil, senão a primeira, deve-se a Gyrão e Sérgio Alice, rivalizando com Nesralla no RS. Sérgio Alice  sempre foi muito forte pela prática de esportes. Vinha, certo dia, para o Hospital São José quando presenciou o término de acalorada discussão entre funcionário da Caixa Econômica e um popular, em plena via pública. A contenda findou com o popular empunhando uma arma branca e apunhalando o funcionário da Caixa. Ferimento na área do coração fazia com que o sangue jorrasse no ritmo cardíaco: uma sístole um esguicho. Sem hesitar, Sérgio apanha o corpo do homem ferido e carrega-o para o Centro Cirúrgico do Hospital São José, onde Gyrão e o urologista Sílvio Búrigo terminavam o atendimento de outra emergência. Sem mais delongas o ferimento é exposto, anestesista - que se preparava para deixar o Centro Cirúrgico - é reconvocado, Gyrão e Sílvio Búrigo calçam luvas sem escovar-se (pela premência do atendimento) e a sutura da brecha no coração é realizada.

O paciente fica internado alguns dias e restabelece-se miraculosamente.

O grande progresso médico verificado com a admissão de Gyrão no corpo clínico hospitalar, deve-se ao seu temperamento generoso e ao seu desejo de evoluir, medicamente falando. Foi, graças a Gyrão que as lacunas então existentes no corpo clínico hospitalar foram sendo eliminadas porque ele convidava médicos de especialidades não existentes na cidade para aqui trabalhar e encaminhava, não raro trazendo clientes pelo braço ao novo especialista. Ele e Emília eram cristãos praticantes.

DRAMA COMUM A MUITOS CIRURGIÕES

Muito sofreu pelo desfecho de caso de paciente que operou e que veio a falecer. Os filhos da paciente falecida montaram ronda em torno de sua casa, impedindo-o de trabalhar ao mesmo tempo em que proferiram ameaças contra Gyrão. Eu estava em viagem participando do Congresso Médico de Oftalmologia. Era inverno e inverno muito frio. Mal eu chegara e já era intimado a correr à casa do Gyrão localizada na Praça do Congresso. Fui até lá, altas horas de noite gélida. General Bragança, olhos muito claros, perscrutadores, fitavam-me demonstrando decepção, desesperança talvez. Perguntei se tinham procurado pelo Dr. Ernani Palma Ribeiro, juiz da Comarca. Não tinham. Propus-me a procurá-lo no dia seguinte. Fui e ele marcou visita, no Rio Maina, à família enlutada, naquele mesmo dia. Sua atuação foi decisiva resolvendo o problema e demonstrando grande coragem. Acompanhei-o na condição de motorista.

IVO NESRALLA

Pioneiro em transplantes cardíacos no RS, Ivo Nesralla morreu aos 82 anos. O falecimento do ex-presidente do Instituto de Cardiologia e da Orquestra Sinfônica de POA foi às 10h30min de quarta-feira, 16.12.2020.

Nesralla foi presidente do Instituto de Cardiologia e fundador da Fundação Universitária de Cardiologia do RS. Pioneiro em transplante cardíacos no RS é referência em cirurgia cardiovascular em toda a América Latina, Ivo Abrahão Nesralla morreu em Porto Alegre de parada cardíaca. Estava em casa e chegou a ser socorrido no Hospital Moinhos de Vento, mas veio a falecer.

Além de ter sido fundador, cirurgião e presidente do Instituto de Cardiologia - Fundação Universitária de Cardiologia (IC-FUC), também presidiu a Bienal de Artes Visuais do Mercosul por anos e a OSPA, Orquestra Sinfônica de POA, durante 23 anos.

O primeiro transplante de coração feito no RS, liderado por Ivo Nesralla

Nesralla tinha paixão por música clássica e enquanto operava corações, dentro da sala de cirurgia, escutava Johann Sebastian Bach em fita cassete, no número 395 da Avenida Princesa Isabel. Embalado pelas sinfonias de Bach, foi responsável por nova era de transplantes cardíacos no país. 

Foi Nesralla quem retomou esse tipo de cirurgia no Brasil — houve pausa no procedimento em razão de problemas da rejeição do órgão. Fez o primeiro transplante de coração no RS (1984), o quarto do Brasil. O cirurgião cardiovascular Paulo Prates, 80 anos, estava com ele. 

— Ele foi um pioneiro em tudo, numa época muito difícil. Impressionava nele o espírito corajoso: a verdadeira coragem de quem tem medos e os enfrenta — destaca. 

Formado em 1962 pela UFRGS, Nesralla fez, oito anos depois, a primeira operação de ponte de safena no RS (1970). Foi também uma das primeiras no Brasil. 

Em 1973, Nesralla empregou pela primeira vez no país a técnica da hipotermia profunda para cirurgias cardíacas, e implantou o primeiro coração artificial na América Latina em 1999. Em 2.000 realizou a primeira cirurgia robótica cardíaca da América Latina. Chamado de professor até por colegas, foi docente titular de cirurgia cardíaca da UFRGS. Foi também membro titular das academias Sul-Riograndense e Nacional de Medicina. Nesralla recebeu a Comenda da Ordem do Mérito Cultural das mãos do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (2001), e, em 2015, a Medalha do Mérito Farroupilha, distinção máxima da Assembleia Legislativa gaúcha. 

Presidente da Ospa por 23 anos

Nersralla presidiu a Fundação OSPA em dois períodos (1983 a 1991 e de 2003 a 2018).  O maestro Evandro Matté teve seu ingresso referendado na orquestra, como trompetista, por Nersalla há 30 anos. Foi uma das principais vozes contra o projeto de extinção da Fundação Ospa; lutou pela construção da sede da orquestra.

— Ele deixa como mensagem a importância da cultura para nossa sociedade. Quando visitava outros Estados, repetia a frase do Erico Verissimo para se apresentar: "eu venho de uma cidade que tem uma orquestra sinfônica". 

Atual presidente da Fundação OSPA, Luis Roberto Andrade Ponte, afirma que Nesralla "foi um apaixonado pela OSPA e pela música de concerto" e que "durante os 23 anos em que esteve à frente da Fundação, dedicou-se intensamente a consolidar a orquestra como uma das mais importantes do nosso país". Ivo deixou a mulher, Paulita, os filhos Ivo, Carlos e Paula (também cirurgiã cardíaca), e netos.

HISTÓRIAS DE GYRÃO

1.     “Uma estrela é um pedaço de luz no Universo perdido, é poeira de sol no infinito escondido, é a paz verdadeira, é esperança de amor”. De um escrito de Girão.

2.     Certo dia´, enquanto cursava o segundo ano de residência em Clínica Cirúrgica em Niterói, Gyrão precisa se ausentar para tratar de assuntos pessoais. Pede a um residente do primeiro ano que cuide de paciente seu, internado em enfermaria. Insiste em que faça esta observação médica e que a inicie naquele mesmo instante. Com certa relutância o residente vai. Volta para informar:

- Ele está ótimo! Não precisa se preocupar! Está até sorrindo!

Gyrão, intrigado, vai ver o que está havendo. Não dá outra: tratava-se do riso sardônico que denuncia o tétano! 
 

Por Henrique Packter 20/06/2023 - 10:17 Atualizado em 20/06/2023 - 10:23

Adhemar Pereira de Barros (Piracicaba 1901, Paris, 1969) foi aviador, médico, empresário e influente político brasileiro entre 1930 e 1960.

 

VIDA

De família tradicional cafeicultora de São Manuel, interior de SP, foi prefeito da cidade de SP (1957–1961), interventor federal (1938–1941) e duas vezes governador (1947–1951 e 1963–1966). Seus seguidores, ainda hoje existentes, são "ademaristas". Concorreu à presidência da república do Brasil em 1955 e em 1960, conquistando, nas duas eleições, o terceiro lugar. Nas eleições de 1960 visitou o sul de SC; Criciúma e Urussanga. Nesta última cidade acompanhei seus movimentos, eu estava apenas a um ano em Criciúma. Num grande comício no centro de Urussanga foi desafiado pelos populares presentes a consumir leite, uva e melancia simultaneamente, pois havia o conceito que a mistura destes alimentos poderia até causar a morte. Pois não é que o corpulento Adhemar, diante da população local consumiu tudo isso e mais um pouco, sem ser minimamente afetado!

Grande parte da população de Criciúma deslocou-se para Urussanga e assistir ao comício. Lembro ainda de PAULO CARNEIRO e família e de LEANDRO MARTINHHAGO, mulher e filhos, do dentista ALEXANDRE HERCULANO DE FREITAS e outros, rumando céleres para a modesta Urussanga de então e assim conhecer a celebridade. 

OBRAS E ALGUMAS HOMENAGENS

Os bairros Cidade Ademar e Jardim Adhemar de Barros; a rua Governador Adhemar Pereira de Barros (em Itapetininga - SP); a avenida Adhemar de Barros (Salvador - BA); a Escola Municipal de Ensino Fundamental Prefeito Adhemar de Barros (bairro Campo Limpo; o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; o Aeroporto Estadual Adhemar de Barros (Presidente Prudente), o Estádio Adhemar de Barros (Araçatuba); a avenida Adhemar de Barros (Guarujá/SP) e a Rodovia Adhemar de Barros foram nomeados em sua homenagem.

Formação acadêmica e a Revolução de 1932

Formou-se em Medicina em 1923 pela Escola Nacional de Medicina, (atualmente pertencente à Universidade Federal do RJ). Especializou-se no Instituto Oswaldo Cruz. Estudou nos EUA e fez residência médica em várias cidades europeias, onde se tornou aviador, retornando ao Brasil em 1926. Poliglota, Adhemar era fluente em alemão, francês, inglês e espanhol.

Em 6.04.1927 casou-se com Leonor Mendes de Barros, tendo o casal quatro filhos: Maria Helena Pereira de Barros Saad, Ademar de Barros Filho (o Ademarzinho), Maria Pereira de Barros (a Mariazinha) e Antônio Pereira de Barros.

Clinicou até 1932, ano em que se engajou nas fileiras da Revolução Constitucionalista de 1932, como o fizeram, também, grande parte dos jovens paulistas da época. Com a derrota do movimento constitucionalista, exilou-se no Paraguai, onde se alistou como médico na Guerra do Chaco, e na Argentina. Nos seus governos sempre procurou beneficiar os ex-combatentes de 1932 com pensões e homenagens, tendo, em 1947, iniciado a construção do Monumento do Soldado Constitucionalista, em SP.

Guilherme Figueiredo, filho do Coronel Euclides Figueiredo, que atuou no comando do Exército Constitucionalista, afirmou em entrevista de 1977, que Adhemar de Barros já era próximo de Getúlio Vargas e de Filinto Muller desde aquela época e também atuava como agente e informante do governo federal. Ele cita, como prova, carta do Coronel Benjamin Ribeiro da Costa, de dezembro de 1932, quando este estava no exílio argentinio junto aos demais líderes do levante, incluindo o Coronel Figueiredo. O conteúdo da carta era a respeito de informações coletadas por Ribeiro da Costa para elaboração de plano para novo levante contra o regime Vargas. Adhemar de Barros, na qualidade de mensageiro único, teria sido o responsável pela entrega de uma cópia dessa correspondência à polícia de Vargas. O fato foi revelado anos depois pelo jornalista e historiador Hélio Silva, autor de 1932: a guerra paulista, que pesquisava para o seu livro, descobrindo a carta nos arquivos de Vargas.

Vida pública

Primeiros passos

Lançado na política partidária por um tio, ex-senador estadual na República Velha, José Augusto Pereira de Resende, chefe político do Partido Republicano Paulista (PRP) da região de Botucatu. Em 1934 elegeu-se deputado estadual constituinte pelo PRP, fazendo forte oposição ao governador Armando de Sales Oliveira, denunciando principalmente desmandos na administração do Instituto Butantã na gestão daquele governador.

Como deputado estadual defendeu a cultura do café, apoiou o candidato José Américo de Almeida, que disputava contra Armando de Sales Oliveira, a presidência da república nas eleições que deveriam ocorrer em janeiro de 1938. Defendeu presos políticos, entre eles Caio Prado Júnior, e foi oposição ao governo federal de Getúlio Vargas.

Foi deputado estadual até 10.11.1937, quando Getúlio deu golpe do Estado Novo cerrando todas as casas legislativas do Brasil.

Interventor federal (1938–1941)

Durante o Estado Novo foi nomeado interventor federal em SP pelo presidente Getúlio Vargas, recomendado por Benedito Valadares e Filinto Müller. Governou SP, como interventor, de 27.4.1938 a 4.6.1941.

Getúlio, em 1950, assim narrou, para Revista do Globo, a escolha de Ademar:

“A escolha de Adhemar de Barros para a interventoria em SP foi uma prova de meu esforço de dar ao Brasil novos líderes. Adhemar fora me apresentado não me recordo por quem (Benedito Valadares) e passara a visitar-me frequentemente em palácio, trazendo notícias de SP. Ora vinha com novidade sobre a política ora com detalhes sobre o progresso da indústria no estado bandeirante. Com o tempo as visitas se tornaram mais repetidas de sorte que eu ficava ao par de tudo o que acontecia em SP … (Em São Lourenço), convidei-o apenas para interventor e tracei-lhe as diretrizes que deveria tomar. Não o conhecia muito bem e, era necessário, portanto, fazer-lhe algumas observações. (O repórter pergunta se Adhemar foi indicado por alguém): "Não, Mas suspeito que ele era protegido de Filinto (Müller)!".

 Inaugurou, no seu primeiro governo, visitas frequentes às pequenas cidades do interior do estado, antes ignoradas pelos governadores. Foram 58 cidades do interior visitadas por Adhemar, somente nos dois primeiros anos da interventoria. Visitou, em 1939, no extremo oeste do estado, em Andradina, o Rei do Gado, Antônio Joaquim de Moura Andrade.

Como interventor, cabia a Adhemar, nomear todos os prefeitos do estado, através do "Departamento das Municipalidades" que prestava assessoria às prefeituras. Adhemar preferiu nomear jovens técnicos para as prefeituras, demitindo todos os prefeitos do estado, logo que assumiu o governo, renovando o quadro político de SP e preterindo políticos do antigo PRP.

Iniciou, em 1939, a construção do Edifício Altino Arantes, sede do Banco do Estado de SP, inaugurado por Adhemar (1949), no seu segundo governo. Iniciou a construção do atual edifício-sede da Secretaria da Fazenda de SP.

Criou e organizou em 5.12.1938, a Casa de Detenção de SP, extinguindo a Cadeia Pública e o Presídio Político da Capital. Este decreto previa a separação de réus primários dos presos reincidentes e a separação dos presos pela natureza do delito. Iniciou em 1940 a construção das atuais dependências da Academia de Polícia Militar do Barro Branco.

Iniciou, em 1939, as obras da Rodovia Anchieta, a primeira rodovia brasileira com túneis. Iniciou as obras da Rodovia Anhanguera em 1940. Ambas as rodovias seriam duplicadas no seu primeiro mandato como governador (1947–1951). Ampliou o Aeroporto de Congonhas. Iniciou a retificação do Rio Tietê. Iniciou a construção do Hospital das Clínicas da USP  e do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros. Construiu no complexo do Hospital do Mandaqui, hospital para portadores do pênfigo foliáceo, (fogo selvagem), doença que não recebia, na época, nenhuma assistência.

Para dar impulso às grandes rodovias, reformou o DER, Departamento de Estradas de Rodagem, criando nele, setor especializado em grandes empreendimentos rodoviários, por decreto estadual de 30.5.1939, a "Comissão Especial para Construção de Estradas de Rodagem de Alta Classe". No mesmo ano, instituiu ainda a Diretoria de Esportes do Estado de SP, por meio do decreto, nomeando como seu primeiro diretor o então capitão Sylvio de Magalhães Padilha, atleta olímpico brasileiro, quinto colocado nos Jogos Olímpicos de Berlim,1936.

As escolas estaduais, mesmo as rurais, recebiam, no tempo da interventoria, material escolar para as crianças.

Iniciou a eletrificação da Estrada de Ferro Sorocabana e terminou a Estação Júlio Prestes daquela ferrovia. Iniciou o prolongamento da Estrada de Ferro Araraquara, de Mirassol a Santa Fé do Sul, fator decisivo para o povoamento daquela região, a Alta Araraquarense, na década de 1940. O plano de Adhemar era estender a Araraquarense até Cuiabá.

Construiu o Estádio do Pacaembu, em parceria com o então prefeito de SP Prestes Maia, para ser utilizado na Copa do Mundo de 1942, a qual acabou não acontecendo pela Segunda Guerra Mundial. Também, em parceria com Prestes Maia, realizou o Plano de Avenidas de SP, inaugurando, em 1938, com presença de Getúlio Vargas, o túnel da Avenida 9 de Julho.

Construiu e entregou o primeiro autódromo brasileiro, Interlagos. Organizou o Instituto de Previdência do Estado de SP.

Em 1940, confiscou o jornal O Estado de SP, pertencente à família Mesquita e ao seu desafeto político Armando de Salles Oliveira. O jornal só foi devolvido aos seus proprietários em 1945.

Acusado de corrupção foi exonerado do cargo de interventor federal pelo presidente Getúlio Vargas (1941), mas, provou sua inocência no Tribunal de Contas do Estado de SP em 1946.

1945–1951: o PSP e o primeiro mandato como governador

Em 1945 foi permitida novamente a existência de partidos políticos, os quais haviam sido extintos em 1937. Adhemar se filiou à UDN e apoiou o brigadeiro Eduardo Gomes para presidente da república nas eleições de 2.12.1945.

Adhemar logo se afastaria da UDN, fundando em 1946 o Partido Republicano Progressista (PRP), que se fundiu com o Partido Popular Sindicalista  (Miguel Reale e José Adriano Marrey Júnior) e o Partido Agrário Nacional ( Mário Rolim Teles), formando o Partido Social Progressista (PSP), que se tornou o maior partido político de SP entre 1947 a 1965, e o único partido político com diretórios em todos os municípios do estado de SP.

Com o retorno de Armando Sales de Oliveira, do exílio, em 1945, Ademar tentou se reconciliar com ele, porém não conseguiu pela recusa da família de Armando Sales.

Eleito governador em 1947, governou SP até 31.1.1951. A Coligação PSP-PCB de Ademar causou protestos entre os membros da Igreja Católica paulista.

Neste período tiveram continuidade importantes obras iniciadas em sua época de interventor, como a construção da segunda pista da Rodovia Anhanguera e a segunda pista da Rodovia Anchieta, ambas pavimentadas e que se tornaram as duas primeiras rodovias brasileiras de pista dupla. As rodovias Anhanguera e Anchieta foram as primeiras rodovias brasileiras com duas faixas de rolamento de cada lado. Adhemar seguiu uma tradição de antigos governantes paulistas, como Washington Luís, que dizia que "governar é abrir estradas".

A pavimentação de estradas, com asfalto e concreto, uma inovação na época, feita por Adhemar, era malvista e criticada por muitos políticos, que a consideravam processo muito caro. Muitos políticos da época entendiam que os recursos públicos estariam melhor empregados se fossem usados na construção de novas estradas de terra e na manutenção e conservação das estradas de terra já existentes.

Seu lema era "São Paulo não pode parar", tempos depois reiterado por Paulo Maluf. Este lema tornou-se ideal da maioria dos políticos de SP.

Neste seu segundo governo estadual, o prefeito da capital paulista era de livre nomeação do governador do estado, o que fez com que Adhemar controlasse também a prefeitura de SP. Em 1947, Adhemar nomeou para a prefeitura de SP, Paulo Lauro, primeiro negro a ocupar o cargo de prefeito da capital paulista.

Criou o Plano Hidrelétrico de SP, base da atual infraestrutura energética do estado e plano convertido em lei (1955). Criou o Ceasa, Centrais de Abastecimento de SP, para distribuição de alimentos no atacado, administrado atualmente pelaCompanhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de SP  (CEAGESP).

Criou, depois de violenta greve nos transportes na capital, a Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), empresa estatal de linhas de ônibus urbanos, 1947. Inaugurou o Museu de Arte de SP (MASP) em 1948. Instalou em 1949, na capital paulista, a primeira linha de trólebus do Brasil e inaugurou, em 1951, a rodovia Presidente Dutra, na época chamada de BR-2, rodovia duplicada apenas em pequeno trecho de SP até Guarulhos, obra iniciada por Adhemar em 1947.

Criciúma não tem seu buraco do prefeito? Pois durante sua gestão foi construída passagem de nível no Vale do Anhangabaú, sob a Avenida São João, que ganhou o apelido popular de "Buraco do Adhemar".

Investindo muito em sanatórios, Ademar torna Campos do Jordão centro nacional de tratamento da tuberculose. A primeira-dama Leonor Mendes de Barros criou em Campos do Jordão (1947), o Hospital "Bandeira Paulista contra a Tuberculose". Sanatórios eram importantes naquela época porque não havia ainda a vacina BCG contra a tuberculose.

Ao assumir o governo, Ademar encontrou deficientes mentais misturados aos presos nas cadeias de SP, e os transferiu para hospitais psiquiátricos. Somente no início de 1947, foram transferidos 947 doentes. Criou a FEBEM, Fundação para o Bem-Estar do Menor, e a Campanha do Agasalho e o "Natal das crianças pobres".

Também enviava, junto com a primeira-dama paulista, Dona Leonor Mendes de Barros, cartas, agasalhos e presentes para pacientes dos sanatórios que construiu.

Em 1947, Ademar terminou o balneário de águas terapêuticas de Ibirá, cujas obras, iniciadas por particulares, estavam paralisadas. Foram desapropriados imóveis e executados projetos para a construção da cidade universitária da USP. Através de lei estadual levou a USP para o interior do estado. criando, entre outras, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, e a Escola de Engenharia de São Carlos, (por intermédio do deputado federal Miguel Petrilli, cuja base eleitoral era São Carlos), dando origem ao Pólo Tecnológico de São Carlos.

Oficializou o Palácio do Horto Florestal de SP como residência de verão do governador do estado. Criou, em 1948, o salário-família para o funcionalismo público estadual. Iniciou a construção do Aeroporto de Viracopos, terminado no seu segundo mandato como governador.

Criou, em 10.1.1948, a Polícia Rodoviária do Estado de SP, por decreto estadual. Composta inicialmente por 60 ex-pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), a Polícia Rodoviária de SP foi popularizada, na década de 1960, pelo programa Vigilante Rodoviário da TV Tupi.

Criou, em 14.12.1949, por  decreto estadual, a primeira Polícia Ambiental da América do Sul. Criou, em 16.8.1950, por Boletim Geral, a Delegacia da Polícia Militar, atual Corregedoria de Polícia Militar do Estado de SP.

ACUSAÇÕES DE CORRUPÇÃO

Talvez as acusações mais conhecidas tenham sido o sumiço das urnas marajoaras, uma bobagem.

Também acusado de corrupção na Estrada de Ferro Sorocabana e em obras viárias, por deputados estaduais, entre eles Caio Prado Júnior, do PCB, fez sua defesa, na Assembleia Legislativa de SP.

Em 1950, Adhemar não se candidatou à presidência, apoiando como governador, ao candidato Getúlio Vargas, constituindo uma aliança entre PTB e PSP que nomearia de "Frente Populista". O apoio de Ademar foi decisivo para a eleição direta de Getúlio à Presidência da República em outubro daquele ano. Getúlio teve, em SP 25% do total de seus votos. Adhemar esperava que, em contrapartida, Getúlio o apoiasse nas eleições presidenciais de 1955.

Outro motivo de Ademar não se candidatar à presidência, em 1950, era que teria que deixar o governo de SP com seu vice-governador e adversário político Luís Gonzaga Novelli Júnior, genro do presidente Eurico Dutra.

Adhemar elegeu como seu sucessor, em 1950, o engenheiro Lucas Nogueira Garcez, que governou SP de 1951 a 1955. Durante seu governo, Lucas Garcez rompeu politicamente com Ademar, não o apoiando na sua tentativa de voltar ao governo de SP, nas eleições de 1954, vencidas por Jânio Quadros. (Continua e finaliza na próxima semana). 

Por Henrique Packter 27/03/2023 - 10:00 Atualizado em 27/03/2023 - 10:54

A nova sede do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal, que era na Rua Maria Figueiredo, mudou recentemente para a Avenida Paulista, em frente ao Hospital Santa Catarina. Tadeu Cvintal, MD, oftalmologista pelos últimos 55 anos, trabalhou em SP, Brasil, onde batalhou para consolidar as fundações da moderna oftalmologia. Tadeu era paranaense e fomos contemporâneos no curso de Medicina.

Ele já no 6º ano e eu lá atrás, no 3º ano médico. Graduados que fomos na Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, Cvintal foi aos EUA para especializar-se. Formou-se médico (1957 e foi colega de Ernesto Francisco Damerau, o grande cirurgião-geral de Florianópolis, Léo Mauro Xavier, notável urologista em Florianópolis, Manoel Sylvio Maffi, depois anestesista em Santa Maria/RS, Antônio Pasinato otorrino em Curitiba, Humberto Kluppel Pederneiras, médico em Florianópolis, Wladinir Joacy Luz, médico em Araranguá. 

Cvintal, em 1964 tornou-se Fellow da American Academy of Ophthalmology, depois de completar seu programa de residência no Harlem Eye and Ear Hospital, New York, e Retina Fellowship no Boston City Hospital; foi o primeiro Cornea Fellow no Wills Eye Hospital, Philadelphia.

Retornando ao Brasil tornou-se diretor do Departamento de Oftalmologia do Hospital do Estado em SP, onde criou o primeiro programa de residência em oftalmologia no país. Na clínica privada introduziu e popularizou muitas inovações, como as ceratoplastias (cirurgias de transplante de córnea), cirurgia extracapsular da catarata, implante de lente intraocular, ceratotomia radial e LASIK (cirurgias para quem quer aposentar os óculos). Seu centro de Laser trouxe LASIK ao Brasil em1990, e ele treinou muitos cirurgiões tanto de Brasil como dos EUA.

Cvintal criou o Banco de Olhos de SP, o primeiro no Brasil; foi co-fundador da Sociedade Brasileira de Catarata e Lente Intraocular, a Sociedade Brasileira Refrativa e a Sociedade Brasileira de Lentes de Contato.

Estabeleceu sua própria instituição filantrópica, onde treinou cerca de 390 residentes e fellows, que por sua vez trataram gratuitamente de mais de 180,000 pacientes nesses últimos 50 anos. Cvintal proferiu mais de 900 conferências no mundo inteiro e publicou livro sobre complicações no transplante de córnea (2004).

Esteve em Gravatal/SC a meu convite, numa jornada sobre Transplante de Córnea que atraiu profissionais de todo o sul brasileiro. As piscinas naturais de água tépida colocadas em todos os apartamentos do Hotel Termas do Gravatal, fizeram as delícias do casal Cvintal.

Na clínica privada já examinou 120 mil pacientes e compartilhou seu dia a dia com a esposa Maria, e o filho Victor, que é cirurgião de catarata e de transplantes. Cvintal tem 3 netas de Aldo, que tenta ensina-lhe TikTok.

Tendo voltado ao Brasil para evitar que seu filho Victor fizesse o   serviço militar nos EUA, Tadeu alugou consultório na Av. São João, quase esquina com Ipiranga, segundo a letra da canção.

Era região conflagrada, cheia de perigos noturnos. No andar de seu consultório logo se instala com balaio debaixo do braço e o irresistível perfume dos cachorros-quentes sob um pano que já tivera tempos melhores. Baiano era figura folclórica da Paulicéia Desvairada.

Tadeu trabalhava até tarde da noite. As secretárias despediam-se dos clientes, ainda numerosos apesar das horas ermas. Sozinho, Tadeu atendia os pacientes, vindos de todas as partes. Pacientes que conseguiam agendar suas consultas eram atendidos mais cedo; depois das 10 horas da noite eram atendidos todos os demais.  Clientes acomodavam-se nas cadeiras, olhos fixos na porta que se abria de tempos em tempos para desovar mais um retardatário e receber outro esperançoso consulente.

Todos se alinhavam pela hora de chegada.

- Primeiro sou eu, depois aquele ali com cara de índio, depois o bombachudo de bota e lenço no pescoço, depois...

Apesar disso, às vezes, madrugada alta, explodia um conflito. Olho clínico apurado, Tadeu abria a porta para avaliar a situação. Envolvesse a situação dois jovens, o conselho consagrado era:

- Olha, vocês vão lá na frente (o reduto de boates, dancings, casas suspeitas), dão umas dançadas e podem voltar!

Fossem os beligerantes velhos, Tadeu decretava:

- É fome! Vão ali com o Baiano, comam alguns cachorros quentes e logo se acalmam, também!

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