Neste domingo, 12 de janeiro de 2020, completam-se 10 anos do falecimento de Zilda Arns. Filha de Forquilhinha, Zilda viveu 75 anos trabalhando em prol dos mais carentes e necessitados. Faleceu no Haiti, vítima do terremoto que desolou o país e o fez ficar conhecido mundialmente.
Apesar da morte trágica, Zilda faleceu fazendo o que mais gostava: ajudando o próximo. Ela estava em uma missão comunitária no país, onde levava para aquela população o amor, a fraternidade, o conhecimento e a compaixão. Seu legado e seus ensinamentos transcorrem qualquer cenário ou situação.
Zilda nasceu em Forquilhinha em 25 de agosto de 1934. De uma família numerosa de mais 13 irmãos, ela dividia sua rotina com a escola e a casa. Desde pequena, a garota acordava cedo e ajudava a família a ordenhar as vacas. Ela também foi irmã de Dom Paulo Evaristo Arns.
Ainda na sua juventude, Zilda acompanhava a mãe nos trabalhos de parto que fazia pela pequena Forquilhinha. Foi neste período que nasceu o gosto pela medicina. Mudou-se para Curitiba (PR) onde se formou médica. Com foco na pediatria, Zilda atuava em hospitais dedicados à população pobre.
Trabalhou por 27 anos na saúde pública, atuando como dirigente, Zilda também se destacou na área sanitarista. Em 1983 na cidade de Florestópolis (PR), com o apoio do cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo, Zilda criou a Pastoral da Criança. O objetivo era de levar às comunidades de baixa renda a prevenção e o tratamento de doenças nas crianças e mães.
Políticas públicas, mudanças nas maneiras de atendimento e afeto eram as principais características da Pastoral. “Normalmente não se dá muito valor às coisas simples e também não se dá valor a promoção e prevenção. Tanto na área da saúde, educação, marginalidade. Então eu creio que nessa área nós podemos avançar bastante. E naturalmente não compete só ao governo, mas também à sociedade e as próprias famílias assumir o seu papel”, colocou Zilda em entrevista ao Roda Viva, programa da TV Cultura em outubro de 2001.
Aliado à igreja, de acordo com o site oficial da Pastoral da Criança, a Missão do órgão coloca: “Para que todas as crianças tenham vida em abundância” (Cf. Jo 10, 10). “Solidariedade e a multiplicação do saber. Nós criamos uma rede de solidariedade humana em cada bolsão de pobreza e miséria. O propulsor do desenvolvimento da Pastoral da Criança foram as próprias líderes que moram nessas comunidades”, afirmou Zilda à TV Cultura.
Uma das “tecnologias” criadas pela Pastoral foi a MultiMistura. O produto é um suplemento natural que até hoje ajuda crianças desnutridas a se alimentar e fortificar. “É aproveitar tudo nós jogamos fora, mas é produtivo. Então misturamos tudo isso e damos para as crianças”, comentou.
Atualmente, os trabalhos da Pastoral da Criança tomaram o mundo, estando hoje na Ásia, África, América Latina. Em 2018, os dados de abrangência da Pastoral da Criança no Brasil apresentavam
Número de Famílias Acompanhadas: 737.971
Número de Crianças Acompanhadas: 883.347
Número de Gestantes Acompanhadas: 53.174
Número de Municípios com Pastoral da Criança: 3.535
Número de Comunidades Acompanhadas: 28.676
Número de Voluntários: 153.259 voluntários
Após 10 anos da morte de Zilda Arns, qual a reflexão que devemos fazer? O que Zilda Arns, que hoje estaria com 85 anos, pensaria da saúde pública do país? Com baixos investimentos na saúde, filas nos postos e dados alarmantes a situação traz para nós um alerta. Um alerta do que necessita ser realizado para se sobressair diante da situação.
Em 2018 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a “Tábua da Mortalidade 2019”, que mostrava que a taxa de mortalidade infantil no Brasil era de 12,4 a cada mil nascidos. O número vem melhorando dos anos para cá, contudo, atualmente o Sistema Único de Saúde tem um desfalque violento no seu orçamento federal.
Ao mesmo tempo, diariamente vemos nos telejornais e escutamos relatos de longas filas, falta de vacinas e atendimentos de má qualidade na saúde brasileira. Uma garantia ainda é que no Brasil o SUS é o único sistema público de saúde que atende a uma população com mais de 200 milhões de pessoas. Gratuitamente.
Mas o que esses dados nos alertam e o legado de Zilda Arns nos deixa é de que necessitamos voltar nossos olhares para a saúde pública. E, ainda mais além, mostra que precisamos ser mais voluntários, mais acolhedores e nos doar mais para um futuro melhor, construindo cenários e preservando a vida. Prosperando a vida.
Para conhecer melhor o trabalho de Zilda Arns e da Pastoral da Criança, doar para a entidade ou ser voluntário, acesse o site oficial.
Assista a entrevista que Zilda Arns concedeu ao programa Roda Viva da TV Cultura em outubro de 2001.