Renato Matos, médico pneumologista
Com que máscara eu vou... Pro o samba que você me convidou?
Agora é oficial. Se você for pego aqui em Criciúma, sem máscaras, em lugares públicos ou privados acessíveis ao público a multa é de salgadíssimos – ainda mais agora que estamos todos empobrecidos - R$ 1.971,70. Isto com certeza vai dar muita confusão, mas é uma tentativa de frear a disseminação do teimoso coronavírus, que não escutou as insistentes manifestações que aqui ele não iria se dar bem.
Tenho certeza das boas intenções do nosso prefeito Salvaro, que, com estas e outras medidas, quer evitar que atitudes mais restritivas sejam tomadas. Sem entrar no mérito do alcance destas medidas, já que temos – e temos mesmo - que
usar, deturpando o samba de Noel Rosa, com que máscara eu vou?
Parece uma pergunta imbecil, mas já que vamos viver de máscaras, que a usemos de forma correta. Evidentemente todos sabemos que ela deve cobrir completamente boca, queixo e nariz, mas este também não é o objetivo deste escrito.
O que sobra para ser discutido? Máscara para ir ao shopping tem frescura? Tem.
No dia 5 de junho passado a Organização Mundial da Saúde publicou um artigo de 16 páginas classificado por eles como “orientação provisória” – cheia de incertezas, como quase tudo relacionado com o vírus do momento: “Recomendações sobre o uso de máscaras no contexto da Covid-19”. Veio atualizar nossos conhecimentos em relação a artigo publicado pela mesma entidade há apenas 2 meses. Lembrar que no início da pandemia a OMS e outros organismos que definem políticas de saúde não recomendavam o uso de máscaras fora de ambientes hospitalares e afins, por falta de evidências científicas razoavelmente robustas sobre a efetividade da medida.
Não vamos entrar na discussão de uso de máscaras no ambiente hospitalar – essa é outra história. O que gostaria de falar é sobre as máscaras que devemos usar no nosso dia a dia – já que devemos usar, pelo menos que usemos uma que funcione. Se vocês observarem, as pessoas usam os mais diversos modelos, os mais criativos com desenhos, bandeiras e brasões de times de futebol, mas quase invariavelmente com uma única camada de tecido, geralmente aqueles mais finos para “não atrapalhar a respiração”.
Descobri agora que existem laboratórios de aerobiologia, e parte destas informações são geradas nestes sofisticados centros. A escolha dos materiais que devem ser utilizados na fabricação das máscaras é resultado da eficiência de filtração dos tecidos, contrabalançados pela respirabilidade - o não “atrapalhar a respiração”.
Bom, e então, o que recomenda a Organização Mundial de Saúde?
Um MÍNIMO DE 3 CAMADAS – isso mesmo, 3 camadas – para máscaras ditas não médicas.
A combinação de materiais usados também foi estudada. A camada mais próxima da face, a camada interna, deve ser feita de material que tem capacidade de absorver água, como tecido de algodão. A mais externa, de tecido impermeável, o tal do hidrofóbico. Polipropileno, poliéster ou sua mistura. E, no meio, é preciso que haja uma camada que funcione como um filtro. Portanto, quando for comprar/fazer sua próxima máscara, exija/siga o “selo de qualidade” OMS.
Devemos pensar na máscara como um cinto de segurança – deve evidentemente ser feito de material adequado, seguindo normas rigorosas. Mas o cinto correto vai nos salvar num acidente se estivermos dirigindo em alta velocidade, na contra mão, embriagados e olhando mensagens no WhatsApp? E, é bom lembrar, que as pessoas carentes também tenham acesso a estas máscaras de qualidade.
Para terminar, lembremos o que diz Tedros Adhanom Ghebreyesus, ex-ministro da Saúde da Etiópia e atual diretor-geral da OMS: "As máscaras, por si só, não protegem contra a COVID-19". E roda de samba nesta época, só virtual.
Renato Matos é médico pneumologista, CRMSC 3854