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HIV: estudo mostra resistência de mutação a remédio usado no Brasil

O trabalho analisou ainda respostas imunológicas ao HIV

Por Redação Criciúma, 03/07/2021 - 15:23 Atualizado em 03/07/2021 - 15:23
Foto: Divulgação
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Estudo realizado em parceria entre Brasil e Portugal analisou mais de 20 mil sequências genéticas de HIV de pacientes brasileiros e constatou o aumento de uma mutação específica chamada K65R. Os pesquisadores alertam que isso é preocupante porque a mutação está associada à resistência a um dos medicamentos usados no tratamento antirretroviral no país, o Tenofovir (TDF).  

“É o medicamento de primeira linha para começar o tratamento padrão do HIV em pessoas virgens para o tratamento no Brasil”, aponta Bernardino Geraldo Alves Souto, professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que participou da pesquisa. Foram coletadas amostras em pacientes em tratamento antirretroviral, no período entre 2008 e 2017, no Brasil.

A pesquisa, coordenada por Nuno Miguel Sampaio Osório, da Universidade do Minho, em Portugal, mostra que a prevalência da K65R era de 2,23%, em 2008, e chegou a 12,11% em 2017. “Esse tratamento que o Brasil está adotando como padrão para começar a tratar as pessoas já tem 12% de resistência, então vamos precisar rever isso”, indica Souto. O estudo também mostrou maior carga viral nas pessoas em que a mutação foi encontrada, o que reforça a observação da elevação da prevalência de resistência ao TDF.

No período estudado, houve mudança nos protocolos antirretrovirais no Brasil, substituindo o Zidovudina pelo Tenofovir, o que pode ter contribuído para a prevalência da mutação. Os pesquisadores apontam que esses aspectos podem explicar a maior proporção de casos de falência terapêutica, especialmente em um cenário de aumento dos números de novas infecções e mortes relacionadas ao vírus HIV, enquanto há queda no mundo. Foram 48 mil novas infecções, em 2019, e 14 mil mortes registradas no país.

Para impedir que isso ocorra, os pesquisadores defendem a genotipagem universal, em que todos os casos diagnosticados são avaliados geneticamente para definir o melhor tratamento. Atualmente, em geral, a genotipagem só é feita após verificação de falha terapêutica por seis meses. Em apenas alguns casos é feita previamente: “se for mulher grávida, se for uma pessoa que é parceira sexual de alguém que já faz tratamento há muito tempo, se for pessoa com tuberculose”, elenca o pesquisador.

O trabalho analisou ainda respostas imunológicas ao HIV. As análises sugerem que a presença da mutação K65R pode contribuir para o controle imunológico do vírus em indivíduos portadores do perfil genético HLA-B27. Isso poderia diminuir a transmissão do vírus em populações com alta prevalência deste HLA. No Brasil, no entanto, a prevalência desse perfil é baixa.

Também há indícios de que este HLA pode colaborar para evitar a mutação K65R que confere resistência ao Tenofovir. Isso pode ter contribuído para a expansão dessa mutação no Brasil. “É mais uma razão para que a gente já comece o tratamento com coquetéis de alta eficácia, e eu vou identificar esses coquetéis através da genotipagem do HIV que a pessoa tem”, explica o pesquisador.

Como funciona o vírus

Souto explica que a mutação K65R preocupa especialmente por ser resistente ao TDF, mas existem várias outras mudanças genéticas do vírus HIV. “É o mecanismo adaptativo do vírus, então geralmente o que acontece: a gente dá o medicamento e alguns filhotes do vírus, no processo de reprodução viral, eles produzem algumas mutações genéticas que conferem ao vírus capacidade de resistir ao efeito do medicamento”, explica.

Ao fazer genotipagem, é possível definir um coquetel que impeça a reprodução do vírus e evite a mutação. “Eu já escolho um coquetel que consegue driblar essas mutações e atacar o vírus. Se eu não tenho essa informação, eu dou um coquetel e se o vírus já é resistente, ele não vai ser eficaz, a pessoa não vai se beneficiar do tratamento e ainda vai transmitir o vírus resistente”, aponta o pesquisador brasileiro.

Souto avalia que há infraestrutura para realização da genotipagem do HIV, mas que o maior problema seria a logística. “Do ponto de vista de laboratório e de outras coisas, nós temos isso em quantidade suficiente, o que precisamos é traçar uma estratégia logística que garanta que todas as pessoas que precisarem desse exame tenham acesso ao resultado do exame em curto prazo”, aponta. 
 

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