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Indômita vacina. Indômitas pessoas

Por: Jorge Boeira, engenheiro mecânico, empresário e político brasileiro

Por Redação Araranguá, SC, 20/04/2021 - 09:10 Atualizado em 20/04/2021 - 09:13
Foto: Reprodução
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Na semana passada, eu fui vacinado com a primeira dose do imunizante contra este maldito vírus. De início, a alegria e a sensação de estar imunizado, naquele gesto que era corriqueiro na infância, a chance de continuar vivendo para ver meus netos crescerem, outros nascerem, mas fui surpreendido pelos efeitos colaterais, dor no corpo, cansaço, calafrios, dor de cabeça e febre e no momento onde dor se mistura com alegria parecia que meu organismo era o palco de uma guerra entre nanobios. De um lado um exército de benfeitores que ao sentir a presença de seres estranhos se organizam para impedir o avanço do inimigo. O primeiro cerco se dá no local da vacina. Ao perceberem que não obtiveram sucesso e que o adversário conseguiu vencer a barreira inicia-se a tentativa de cerco em todo o corpo. Quando os seres do bem estão ganhando aumenta a febre, os calafrios e a dor de cabeça e, por incrível que pareça, entre a disputa interna em que travavam, percebi que estávamos vencendo.

Essa disputa, em mim, adentrou pela madrugada naquele momento a dor se misturava com alegria quando vem o sono e a gente não sabe se está sonhando ou é realidade vem a angústia pelas mortes que poderiam ter sido evitadas. Quantos sonhos que não se realizaram? Quantas famílias sentirão um vazio imenso pela perda de seus genitores, de seus maridos esposas, de seus filhos e filhas?
Pensei em quantas crianças morrem devido a pandemia como, também, pela covardia de adultos?
Pensei no pequeno Miguel, morto pela negligência da madame que o permitiu adentrar e se locomover sozinho num elevador. Pensei em três crianças desaparecidas no Rio de Janeiro desde de o ano passado, sem que se saiba onde estão e/ou o que fizeram a elas. Pensei nas crianças que morrem de “balas achadas”, que no Brasil convencionou-se chamar de “balas perdidas”. Pensei no caso do pequeno Henry, espancado pelo padrasto com a conivência da mãe.

Chorei! Chorei pelo Henry, pelo Miguel, pelas crianças desaparecidas, pelas que morreram de balas perdidas. Chorei por todas as crianças que sofrem maus tratos. Chorei pelas crianças que passam fome.

Fico a imaginar o que se passa na cabecinha de uma criança quando pergunta: “Mãe, eu te atrapalho?” Fiquei a indagar-me: Quando será possível superarmos essa pandemia cruel? Para essa dúvida, já temos a indômita vacina, com sua particularidade de quem não se pode domar; indomável; bravia, invencível.

Fiquei a indagar-me: Quando será possível superar este mundo em que há tantas maldades? Para essa pergunta, a solução, lamentavelmente, é mais demorada eis que exige um pacto de concertação social, porque seus agentes são igualmente indômitos no sentido não de indomável, mas de reacionários.
As dúvidas, todavia me trouxeram uma certeza. A certeza de que devemos nos manter ainda mais alertas para que não percamos mais nenhuma criança, seja pelo vírus ou pela maldade humana, seja pela negligência pessoal ou estatal. Chegaremos a tal objetivo, quando fizermos do princípio da igualdade de oportunidade e do respeito à dignidade humana, o nosso modo de vida, pois, caso contrário, a meritocracia, tão propagada nesses tempos de liberalismo, será sempre uma falácia.

Jorge Boeira, engenheiro mecânico, empresário e político brasileiro

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