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O desafio do desenvolvimento sustentável em SC

Estamos sempre no topo dos rankings que medem desenvolvimento econômico e social, como o PIB e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU

Vinicius Lummertz – Secretário de Turismo do Estado de São Paulo  Florianópolis, SC, 05/05/2021 - 14:41 Atualizado em 05/05/2021 - 14:45
Foto: Divulgação
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Antes de mais nada, é preciso deixar claro que, por sua formação étnica e herança que recebemos de nossos colonizadores, pela força e capacidade dos seus trabalhadores e empreendedores e também pela capacidade de planejamento e gestão que marcaram, uns mais, outros menos, as administrações públicas desde o primeiro Plano de Governo, apresentado por Irineu Bornhausen em 1955, SC atingiu um patamar diferenciado no país e que a transformou numa referência internacional. Estamos sempre no topo dos rankings que medem desenvolvimento econômico e social, como o PIB e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU. Santa Catarina é sempre vanguarda – e os nossos resultados no que se refere a inovação e tecnologia são conhecidos dentro e fora de nossas fronteiras.   
Dito isso, é oportuno que registrar que, de maneira discreta, em meio tantas informações sobre a Covid-19, foi divulgado há alguns dias o Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades, com base em dados de 770 municípios brasileiros – 46 deles catarinenses. A iniciativa integra o pacto supranacional lançado em 2015 pela ONU, dentro do que se passou a chamar de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) pela Agenda 2030. Os resultados indicam o tamanho do desafio em todo o país. Nenhuma cidade brasileira está na melhor faixa da escala classificatória mundial. Nem a primeira colocada. 
Para a seleção dos municípios foram usados os seguintes critérios: capitais, cidades com mais de 200 mil eleitores, cidades em regiões metropolitanas, cidades signatárias do Programa Cidades Sustentáveis (PCS) na gestão 2017-2020 e cidades com a Lei do Plano de Metas e, por fim, cidades que representem todos os biomas brasileiros. Isso, explica, em parte, a ausência de algumas cidades do nosso Estado. 
A catarinense mais bem colocada é Rancho Queimado, em 24º lugar. Todas as 23 anteriores são de São Paulo. Entre as 30, apenas mais uma catarinense e uma do Paraná: Jaraguá do Sul, em 27º, e Curitiba, 30º. 
Olhando para o calendário gregoriano, o ano de 2030, meta para os ODS, parece estar longe. Olhando para o calendário político, a partir de 2022 serão apenas duas gestões, em Santa Catarina e no Governo Federal. Ou seja, para evolução social e econômica, seja medida pelos ODS ou outro índice, a escolha nas urnas deve ser cuidadosa e, sacramentados os resultados, o trabalho deve começar imediatamente com metas claras, instrumentos definidos, muito empenho e união de todos. Lembrando que o desenvolvimento sustentável é uma obrigação para com o povo, questão de decência política, independente da coloração partidária.
Ao olhar para cada uma das 46 cidades de SC que estão no ranking, o primeiro item que chama a atenção é a concentração geográfica basicamente na franja litorânea. O município mais interiorano a integrar a lista é Monte Castelo, em 514º lugar. A vastidão central e o Oeste de Santa Catarina não têm nenhum representante. 
Na região metropolitana de Florianópolis, além da capital (54º lugar), aparecem Governador Celso Ramos (154º), Biguaçu (464º), Antônio Carlos (229º), São Pedro de Alcântara (292º), São José (62º), Palhoça (371º), Santo Amaro da Imperatriz (53º). 
O Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades é composto por 17 ODS e, estes, são formados por 80 indicadores. O ODS 1, por exemplo, é erradicação da pobreza, o ODS 2 trata de Fome e Agricultura Sustentável, o 3 é Saúde e Bem Estar e assim sucessivamente, cobrindo todas as áreas sociais, da igualdade de gênero ao emprego, da redução de desigualdades à água potável e saneamento. 
Exemplificando novamente: Leoberto Leal tem a melhor classificação do Estado em erradicação da pobreza, porém apresenta resultados não muito bons em oito dos 17 ODS, incluindo educação de qualidade. Por isso na classificação geral cai para 532º lugar entre as 770 cidades avaliadas em todo o país.  
Independente dos discursos, das campanhas promocionais e publicitárias, esses indicadores ajudam a ilustrar o distanciamento entre o falado, o efetivamente realizado e tudo o que nos aguarda no futuro próximo. Saber que esses resultados ainda não consideram o impacto negativo da Covid-19 aumenta a urgência das decisões corretas.
Lembro aqui o que já destaquei em colunas anteriores: as métricas utilizadas para a medição de desenvolvimento dos países e estados precisa ser alterada, atualizada para este novo momento do mundo. O tradicional PIB, o Produto Interno Bruto, que representa a soma de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, durante um período determinado, não pode ser mais a nossa única e principal referência.
Em colunas e artigos que escrevi ao longo do ano passado, eu afirmava que é preciso mudar também a visão do que é mesmo importante neste novo momento – hoje, por exemplo, o planeta investe mais em pesquisa de batata chips do que com câncer. A esta nova visão o economista e escritor Jaques Attali, que foi conselheiro do presidente francês François Mitterrand, chama de “l’economie de la vie”, a economia da vida. Para Attali, novos setores da economia ligados à vida, como saúde, gestão de resíduos, distribuição de água, esporte, alimentos, agricultura, educação, energia limpa, digital, habitação, cultura e seguros deverão ter maior peso na economia dos países, saindo de 40 a 50% para 80%. 
Só fazendo essa migração do que Attali chama de “economia da sobrevivência”, a atual, para “a economia da vida”, poderemos enfrentar a crise econômica, filosófica, ideológica, social, política e ecológica “surpreendente, quase inimaginável”, que teremos pela frente. De acordo com o economista francês, essa será a maneira de evitar que as crianças de hoje sofram da pandemia aos 10 anos, da ditadura aos 20 e do desastre climático aos 30.      
Como diante de todas as grandes crises anteriores, nacionais ou planetárias, desde a Segunda Guerra mundial, quando Santa Catarina exportava carvão para o esforço de guerra dos aliados, inteligência e adaptação têm sido os maiores ativos catarinenses. 
Tenho a mais absoluta convicção de que esses ativos, e aqueles patrimônios que destaquei logo no início desta coluna -  a formação étnica e herança que recebemos de nossos colonizadores, a força e capacidade dos nossos trabalhadores e empreendedores e lideranças capazes de dar ao nosso Estado um novo “plano de vida”, atingiremos a maior parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030. Santa Catarina sempre fez e fará o seu dever de casa.

Vinicius Lummertz – Secretário de Turismo do Estado de São Paulo 

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