Dizem os saudosistas que o futebol de verdade era jogado na década de 60 e que nunca surgirá alguém como Pelé. Um ponto de vista, sem dúvidas, que tem que ser respeitado, mas só quem viveu a época sabe como as coisas funcionavam. O que passou ficou na lembrança dos que testemunharam e a réplica da história desperta o imaginário dos mais jovens.
Longe do Santos de Pelé e Botafogo de Garrincha, mais ao sul do Brasil, Criciúma fez história no futebol catarinense. O grande clássico entre Comerciário e Metropol trouxe seis títulos estaduais à cidade em menos de dez anos. Se hoje os clubes de futebol são de massa e com uma torcida heterogênea, na época a divisão era mais notável: de um lado o comércio, de outro o a mineração.
Os mineradores levavam a melhor em Criciúma e o Metropol foi pentacampeão estadual em sua curta aventura no começo da era profissional do futebol brasileiro. Os dez anos de existência, com excursão à Europa, enfrentamentos nacionais contra grandes clubes que ainda hoje representam o Brasil no futebol, e os grandes clássicos regionais poderão ser relembrados – ou conhecidos - a partir desta sexta-feira, no Centro Cultural da Acic.
Estarão em exposição flâmulas de adversários, que incluem o Atlético Mineiro, Grêmio e Internacional, trocadas em confrontos épicos pelo Brasil. Também há uma carta da Federação Romena de Futebol, dirigida à então Confederação Brasileira de Desportos, parabenizando o desempenho dos atletas do Metropol em sua excursão pela Europa realizada em 1962; a técnica dos jogadores catarinenses impressionou os atletas locais.
Ainda há o registro em ata dos dez anos de história profissional do clube, que encerrou sem que nenhuma dívida fiscal fosse deixada; os uniformes alviverdes do clube e um exemplar da bola de couro que rolava pelos gramados da década de 60, muito distante da tecnologia – e do peso – dos materiais atuais.
Conteúdos históricos ainda presentes na veia esportiva de Criciúma, que podem alavancar o retorno do Metropol ao futebol de base e profissional.
Novo projeto
Longe do futebol profissional, o Metropol esteve presente no futebol amador ao longo dos últimos anos. Uma tradição que, segundo Keko Salvaro, que presidiu o clube por 38 anos e hoje é presidente do conselho fiscal, pode ser insuficiente para manter o Alvi-verde na ativa.
“Antes tínhamos 60 clubes amadores na região, hoje temos 14. Foi muito trabalho para manter o clube em atividade, arrumando gramado, telhado, colocando dinheiro do bolso para pagar os impostos”, afirma Keko. “Só foi possível pela paixão, já briguei até com a mulher para continuar no Metropo”, lembra.
Visando o futuro, o atual presidente, José Carlos China Vieira, comanda em conjunto com Keko e outros profissionais uma guinada nos rumos do clube. O futebol da base, com aspiração de chegar ao profissional, deve começar já no ano que vem.
“Fizemos mudanças no estatuto do clube, em conformidade com a Lei Pelé. Agora temos conselho deliberativo e conselho fiscal. Queremos resgatar a marca Metropol, que ainda é muito forte no município, para formar uma categoria de base através de um projeto social. E, quem sabe, em um curto espaço de tempo, estar jogando um campeonato profissional”, almeja China.
A base
Crianças e adolescentes de 10 a 17 anos é o primeiro objetivo do “novo” Metropol. Com um projeto cadastrado junto ao governo Federal, para liberar que pessoas físicas ou jurídicas doem porcentagem do Imposto de Renda para o resgate do clube, a intenção é arrecadar R$ 1,9 milhão para tocar o projeto. A princípio, 20% desse valor já serve para dar o pontapé inicial.
Os gastos seriam para a contratação de profissionais, reformas estruturais na atual sede, adquirir materiais, dentre outros. “Aquela ideia de bater na porta das casas com um pires na mão para pedir dinheiro já passou. Hoje temos essas verbas do governo Federal que estão para ser aprovadas”, afirma China.
Caso o projeto junto ao governo Federal de arrecadação através de doações do Imposto de Renda não seja liberado até outubro, o clube trabalhará em outras frentes, com parcerias com empresários locais. A intenção é no começo do ano iniciar o trabalho com a base, com a expectativa de já no segundo semestre disputar a Terceirona Catarinense, especialmente com os atletas da categoria sub-17.
A exposição
Estará aberta a visitação até o dia 30 de novembro, das 7h30 até as 22h, na sede da Acic, integrando o Projeto Cultural Acic, de comemoração dos 75 anos da entidade empresarial. É uma oportunidade para conferir a história vitoriosa do Metropol, que honrou o futebol local e foi o o maior vencedor catarinense da década de 60. A exposição é de mentoria de Benito Gorini Borges e tem também como curador, além de Benito, o presidente do Metropol, China. No dia 24 deste mês, haverá uma sessão especial em homenagem aos atletas que marcaram a história do clube.