Ada Faraco de Luca - Deputada estadual
Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo”. Essas palavras são do meu grande mestre, o doutor Ulysses Guimarães. É exatamente nesses termos que reajo ao lastimável episódio que ocorreu neste domingo, em Brasília, em que o presidente da República discursou para uma claque de defensores da ditadura militar. Os anos entre 1964 e 1985 marcaram o período mais sombrio da história brasileira. Mesmo assim, há quem queira repetí-lo.
O golpe militar apunhalou a democracia no nosso país. Para quem não tem clareza sobre aquele nefasto tempo, posso falar com a propriedade de quem teve a vida marcada profundamente pela ditadura. Eu sou uma defensora intransigente dos direitos humanos, da liberdade e da democracia. Não por ser um discurso fácil e por estar na moda. Mas, por ter a vida diretamente afetada pelos traumas que a ditadura provocou no Brasil, cujos efeitos se estenderam dentro da minha própria casa.
O Brasil e os brasileiros foram atormentados pelo terrorismo. Aos opositores do regime militar, eram reservadas as mais sórdidas formas de tortura, tanto físicas quanto psicológicas, a separação das famílias, as expatriações e até mesmo a morte. Houve perseguição política, censura à imprensa, manipulação da opinião pública e a cassação de mandatos designados pela vontade popular.
O AI-5, que muitos foram às ruas nesse domingo para defender, nada mais é do que o famigerado ato institucional baixado em 1977 para fechar o Congresso Nacional, cassar vereadores, prefeitos, deputados estaduais, federais e senadores. Logo no começo da ditadura, em 1964, um desses políticos que tiveram o seu legítimo direito confiscado foi o meu pai, Addo Vanio Faraco, então deputado estadual.
Para estes que defendem a ditadura, e que se dizem patriotas, quero lembrar que “traidor da Constituição é traidor da Pátria”, disse o doutor Ulysses. O “caminho maldito”, ele citou, é “rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio, e o cemitério”.
Nós não devemos temer a verdade. Precisamos fortalecer a Constituição e valorizar a batalha que foi travada para que pudéssemos conquistar a democracia. Memória viva que sou daquele período terrível, aprendi sobre os valores democráticos por conhecer os horrores da ditadura. Naquele memorável pronunciamento de promulgação, o doutor Ulysses reconheceu que a Constituição não é perfeita. Mas, também é verdade, e agora cito Winston Churchill, que “a democracia é a pior forma de governo, com exceção a todas as outras formas que já foram tentadas”. A Constituição é o pilar fundamental da democracia do Brasil.
É por isso que eu repito, a ditadura marcou profundamente a minha vida. Neste contexto, é mais que meu direito, é minha obrigação, alertar para a gravidade das palavras e dos gestos que assistimos, perplexos, digo por mim, nesse domingo. Por mais que o presidente tenha se manifestado, nesta segunda-feira, contra qualquer ruptura, as vozes democráticas devem se elevar o tom contra um eventual golpe. Assim o faço e o farei.