Thiago Ávila *
O GP da Itália teve um caráter totalmente especial voltado para a Ferrari, a única equipe a disputar todas as edições da Formula 1. A scuderia veio a Monza para celebrar o 90º aniversário do time fundado por Enzo Ferrari, em 1929, muito antes da montadora de carros luxuosos que conhecemos hoje. Para celebrar, a Ferrari fez uma belíssima arte com desenhos de vários pilotos e carros que fizeram parte da história do time.
Além do mais, os italianos estavam com o grito entalado na garganta desde 2010, quando Fernando Alonso venceu pela última vez no circuito. Inclusive, muitos torcedores ficaram chateados com a presença quase inexistente do piloto espanhol na arte de homenagem, fazendo um exercício de comparação: até Felipe Massa e Rubens Barrichello têm mais destaque que Alonso.
Agora, com o consagrado Sebastian Vettel e a jovem promessa monegasca Charles Leclerc, a seca parecia acabar. É certo que a Ferrari há nove anos não tem o carro ideal para a pista, uma pista ótima para reta, perfeita para pegar vácuo dos adversários e que tem esse domínio da Mercedes há muito tempo e anteriormente era da Red Bull. Ano passado, até teve chances de vencer, mas por conta de uma rodada boba de Vettel, Raikkonen não pode segurar a onda.
A coisa parecia se repetir esse ano. As Ferraris eram melhores nos treinos, Leclerc e Vettel lideraram com folga, e o monegasco conseguiu conquistar sua quarta pole position no ano, depois de um qualify bizarro. Durante o último stint, faltando menos de dois minutos para o fim da sessão, os carros começaram a andar lento, para roubar o vácuo um do outro. Resultado disso: ninguém conseguiu abrir volta e os tempos ficaram como estavam. Hamilton, Bottas e Vettel fecharam o top-4.
No domingo, os olhos estavam todos voltados para Charles Leclerc, ele era o cara do momento, o homem mais próximo de conseguir tirar a seca da Ferrari. É dada a largada, os três primeiros se mantêm, mas Vettel cai para quinto, atrás de Hulkenberg. O alemão logo se recupera, mas perde muito tempo em relação a Bottas. Sozinho, Leclerc teve que suportar a pressão e a excelente estratégia das Mercedes que colavam logo atrás.
Para piorar a situação, na sexta volta, Seb roda na variante Ascari e acerta Lance Stroll. A cena do ano passado voltava a se repetir. Com o alemão fora da disputa, a Ferrari agora contava definitivamente apenas com Leclerc. Hamilton para volta 19 e coloca pneus médios. Na volta seguinte é o piloto da Ferrari que arrisca com os duros.
Voltando em quinto e quarto, respectivamente, o britânico começa a pressiona-lo volta a volta, tendo duas ou três situações de quase ultrapassagem. O cenário vinha sendo ideal para mais uma vitória da Mercedes, como acontecera no ano passado. Charles aguentou como pode, conseguindo ser mais rápido nas retas, mesmo com o britânico tendo a vantagem da abertura da asa traseira. Mas os pneus médios do britânico começam a desgastar demais a partir da 40ª volta e Valtteri Bottas, que parara apenas na volta 27 para colocar os médios, já se aproximava em um pouco mais de um segundo. Até que na 42, Hamilton demora muito a frear e corta a chicane da curva seis.
Agora Bottas era segundo, com o carro mais rápido da pista e pneus muito mais novos, se aproximava a cada volta de Leclerc. Há três voltas do fim, o finlandês chega, mas também erra na mesma curva que seu companheiro. Sim, tudo parecia conspirar para a vitória da Ferrari.
Bottas chegou mais uma vez, na última volta, mas nada podia tirar o perfeito dia do jovem Charles.
A Ferrari voltava a ficar no lugar mais alto do pódio em Monza depois de nove anos, e Leclerc era o salvador da massa tifosi que lotara completamente a reta dos boxes, com bandeiras da Itália e do time de Maranello espalhadas por todo canto, cantando amavelmente Il Canto degli Italiani.
* Estudante de Jornalismo da PUCRS