O texto abaixo foi publicado no meu facebook em 10 de julho de 2017:
"Agosto de 1986. O Criciúma conquista seu primeiro título catarinense com duas rodadas de antecedência. Festa na cidade, pois os torcedores já estavam cansados de ver o time morrer na praia em tantas decisões contra o Joinville à época o maior rival. Faltava um grande jogo para entrega das faixas.
Eu havia chegado aqui quatro meses antes contratado pela RCE-(Rede de Comunicação Eldorado) e acompanhava o Willi Backes, dono da Agência Nossa Casa de publicidade na visita aos clientes patrocinadores do departamento de esportes da emissora.
No dia posterior a conquista do Criciúma, como o Criciúma não iria fazer o jogo das faixas, tivemos a ideia de promover o evento. Primeiro conversamos com o presidente Moacir Fernandes que pão duro como era foi logo pedindo Cz$ 80 mil (penso que era assim que o Cruzado, moeda da época era identificada) para seu time receber as faixas de campeão. Mas como! Não iria fazer a festa e teve a cara dura de pedir uma fortuna para receber as faixas?
Engolimos em seco, deixamos em ponto morto e fomos definir o adversário. Grêmio, Internacional eram os mais lógicos e com custos de transporte e hospedagem mais baratos.
Pensamos, são times sem muito apelo por aqui, então veio a grande ideia, o Vasco da Gama. Time muito mais popular em Santa Catarina que apesar de já ter vindo jogar alguns amistosos tinha um trunfo que era o Roberto Dinamite seu maior ídolo que nunca havia pisado em Criciúma. Ótima ideia, mas como viabilizá-la?
Eu conhecia dos tempos da Rádio Gaúcha o supervisor vascaíno Paulo Angioni e pensei que por ele poderíamos ter uma resposta positiva. Liguei para São Januário, falei com o Paulo e ele respondeu dizendo que era o presidente Eurico Miranda que decidiria a viagem. A data de 24 de agosto estava disponível. Marquei e no dia seguinte, uma quarta-feira fui ao Rio de Janeiro. Já estávamos no dia 13.
Em São Januário fui levado pelo Paulo Angioni até o presidente. Me recebeu com muita cordialidade, expus o plano e pedi o valor da cota para o amistoso. Foi curto e grosso quando pediu Cz$ 200 mil, mais transporte para 25 pessoas, hospedagem e alimentação. Quase caí da cadeira. Passado o susto perguntei: “Como vou te pagar? A promoção é particular e não envolve o Criciúma”. A resposta quase me fez cair novamente da cadeira: “Me pague depois do jogo”. Pedi e tive a garantia da presença do Roberto Dinamite na delegação. Ficou acertado que no dia seguinte, já de retorno à Criciúma eu daria a resposta.
Apesar do Dinamite garantido pelo Eurico eu precisava da confirmação do jogador.
Tinha vários conhecidos na antiga TV Manchete onde o Paulo Stein era o diretor de esportes. Liguei para ele que escalou um cinegrafista que me pegou no hotel e fomos até o apartamento do atacante do Vasco no Lebron se a memória não falhou.
O Dinamite avisado pelo Paulo Angioni nos recebeu para a entrevista. Depois de feita pedi a ele que gravasse uma chamada dizendo que viria à Criciúma. Ele topou, mas pediu Cz$ 10 mil pela chamada. Topei e prometi pagá-lo depois do jogo.
Entrevista e chamada feitas, voltei para Criciúma, informei o Willi Backes das negociações e resolvemos fazer o jogo. Já era quinta-feira dia 14. Teríamos menos de 10 dias para fazer o evento e o mais importante vender ingressos e patrocínios para pagar a conta, pois antes de mais nada já devíamos quase Cz$ 300 mil cruzados.
Passamos os dias bolando estratégias, providenciando passagens para a delegação do Vasco, reservando apartamentos no Crisul, distribuindo panfletos e ingressos pelo sul do estado e colocando chamada em cima de chamada na TV Eldorado e nas rádios da região, principalmente a do Dinamite prometendo vir à Criciúma.
Na segunda-feira da semana do jogo encontramos o Realdo Guglielmi e num lance inesperado pedimos seu avião para no sábado, véspera do jogo ir buscar no Rio o Eurico Miranda e o Roberto Dinamite. O Realdo sempre parceiro disse que seu jato estava em manutenção em Belo Horizonte e que decolaria no sábado pela manhã para Criciúma e que não teria nenhum problema fazer uma escala no Santos Dumont, Rio de Janeiro e trazer os vascaínos. Daria tempo, inclusive para o Dinamite se apresentar no Conversa de Arquibancada, programa que eu coordenava na TV Eldorado. E assim foi feito. Além do presidente e do Dinamite vieram no jato o ponteiro Mauricinho e o lateral Milton Mendes, criado no Criciúma e hoje técnico do time cruzmaltino. Promessas cumpridas e uma incrível venda de ingressos.
O Heriberto Hülse recebeu por volta de 15 mil torcedores para uma renda que beirou os Cz$ 600 mil cruzados. Tudo correu de forma magnifica, a festa foi completada com a vitória do Criciúma por 1x0, gol do Edemilson.
Depois do jogo e encerrada a jornada da Rádio Eldorado peguei na tesouraria com o Sr. Nereu Martinelli os Cz$ 200 mil do
Vasco e os Cz$ 10 mil do Roberto. O Criciúma já havia levado o dele.
Fui até o Crisul para fazer os pagamentos e jantar com a delegação e levei outro susto. Fui até o apartamento do Eurico Miranda com um saco de pão daqueles que comportava os Cz$ 200 mil, entreguei para o presidente, ele pegou abriu a porta do armário e jogou o dinheiro dentro sem conferir. Fiquei pensando o cara não é certo tira o gigante Vasco do Rio sem nenhuma garantia, joga, recebe o dinheiro e nem conta para ver se está certo. Ele viu meu espanto e disse: “Confiei em você, pois o Paulo Angioni me deu as referências e a conversa que tivemos no Rio foi suficiente para saber que o Vasco não seria lesado”.
Foi uma das passagens mais incríveis que vivi em tantos anos na lida com o futebol.
Daí surgiu o FIO DO BIGODE.
E não fiquem pensando que sobrou muito dinheiro. Além das cotas, transporte o Vasco desceu em Florianópolis, hospedagem, cortesias para os patrocinadores, enfim muitas despesas para um mega evento. Valeu muito pela experiencia e pela felicidade de poder ter dado mais uma alegria a comunidade criciumense depois da conquista do seu primeiro título que marcou o início de uma trajetória que é sem nenhuma dúvida a mais brilhante do futebol catarinense".