O ex-deputado estadual Bruno Souza anunciou sua saída do partido Novo nesta terça-feira (6). Na carta de despedida que encaminhou aos colegas de partido, ele mencionou que aquele era o texto mais difícil que escreveu nos últimos anos. O divórcio ocorreu agora, mas a relação entre Bruno e a cúpula do partido andava estremecida há algum tempo. Em conversa com o blog, Bruno Souza admitiu que um dos episódios que mais contribui para o fim da relação foi o convite que ele recebeu – e negou - de Jorginho Mello, no ano passado, para assumir a Fesporte.
“Em vez de receber créditos por isso recebi desconfiança”, desabafou.
O ex-deputado pontuou que tem boas conversas com pelo menos três partidos, entre eles, o PL. “Tenho grande afinidade de ideias com o PL, tenho boa relação com o governador, mas ainda não tenho nada definido”, disse. Bruno Souza chegou a fazer alguns movimentos que indicavam a intenção de disputar a prefeitura da São José, porém com a saída do partido, não deve disputar nenhum cargo nas eleições deste ano. Seu projeto político mira a disputa de 2026 quando ele deve estar nas urnas, como candidato a deputado federal.
Leia a carta na íntegra:
O fim da jornada.
Caro filiado, nossa caminhada juntos no Novo chegou ao fim.
Talvez, este seja o texto mais difícil que escrevo nos últimos anos. Entretanto, algumas palavras são ditas porque necessárias, não porque alegram.
Nunca fui eleito pelo Novo, mas tive o grande prazer de estar ao seu lado desde 2019.
O Novo não me fez pensar ou atuar como atuo, mas foi um abrigo seguro para minhas convicções.
Convicções surgidas ainda no tempo de juventude, quando entendi que o Brasil, ao contrário dos países prósperos, apostava em burocracia, inchaço da máquina pública, pesados impostos e corrupção moral e material.
Em 2001, comecei a aprender o que acredito ser a solução: Liberdade. Roberto Campos foi meu primeiro professor. Infelizmente, o conheci apenas pela notícia da sua derradeira hora. Entretanto, ler o grande professor me levou à outros mestres, principalmente Hayek e Mises.
Os anos imediatamente após foram solitários: a impressão era de que ninguém mais defendia as mesmas ideias. O tempo passou até que em 2008 ou 9 surgiram os primeiros institutos, organizações e grupos de estudos. O campo das ideias não parecia mais um deserto.
Imaginem minha alegria quando, lá pelos idos de 2010 e 11, li nas “paginas amarelas” de uma revista de grande circulação, a notícia de que um partido, com ideias semelhantes às minhas, estava sendo criado.
Acompanhei tudo com excitação e, neste meio tempo, atuei muito pelas ideias que acredito. Comecei a escrever, formar grupos de debates e o primeiro instituto liberal de SC, o IFL em 2016. Presidindo o instituto, realizamos os dois maiores fóruns de debate econômico e político de Santa Catarina.
O caminho era inevitável: defender a liberdade exigiria que entrasse na trincheira. Naquele momento, a trincheira do bom senso e da liberdade estava praticamente vazia. Me sinto honrado de fazer parte de uma primeira leva de liberais eleitos em 2016.
Mesmo assim, só viríamos a estar na mesma casa em 2019, quando ingressei formalmente no Partido Novo e iniciei minha jornada. Jornada que me lembro com alegria!
Como deputado estadual, formei uma equipe competente e conquistamos inúmeros recordes: fui o deputado mais econômico da história do nosso estado; combatei a corrupção e indiciei 26 pessoas poderosas na maior CPI já feita em SC; recuperei 400 milhões de reais que iriam para a vala do desperdício ou da corrupção; eliminei mais de 1000 licenças e alvarás desnecessários e aprovei outras 14 leis. Com um trabalho incansável, fui o parlamentar do Novo com mais aprovações no Brasil - todas objetivando diminuir o tamanho do braço estatal.
Na eleição, conquistei quase 87 mil votos - que sem eles, não teríamos hoje um deputado federal.
Entretanto, novos tempos chegaram, os líderes partidários mudaram e a parceria produtiva que tinha com o Diretório Estadual acabou.
Em 2023 fui convidado para ser candidato a prefeito de São José. Mesmo animado com o convite, deixei claro: só faria de forma responsável. Tenho um vida confortável, entretanto não sou um homem rico. Poderia ser candidato, mas não sou um grande empresário que pode sozinho, pagar as despesas de uma campanha.
Definimos como estratégia a evolução gradual: pedir apoios e em paralelo, crescer a presença na cidade e no debate político. O DE nunca aceitou/entendeu e exigia a estratégia do “vai e depois a gente vê”. É fácil defender isto quando quem vai para as ruas e no fim da campanha, herda as dívidas, não é você.
Recebi inúmeros convites para sair do Novo e ser candidato em outra casa. Recusei todos! Queria estar no Novo e talvez, ninguém teve que demonstrar tantas vezes essa convicção.
Infelizmente, ao invés de receber créditos por recusar os convites, fui alvo de desconfiança porque.. os recebi! Com isso, acordos foram rompidos e uma atitude cada vez mais hostil emergiu do DE.
Durmo tranquilo em companhia da verdade. Uma pessoa pode escolher suas opiniões, mas não pode escolher os fatos.
E os fatos são: minha convivência com o atual Diretório Estadual se tornou inviável.
Me sinto desrespeitado: fui atacado de maneira convarde e xingado de “retardado” quanto não estava presente (quem tiver interesse, pode conferir em gravações) e fui alvo de mentiras (nunca desmentidas) proferidas pelo Presidente Estadual.
Disse ele que “exigi 2 milhões de reais para ser candidato”. O que ele não contou é que NUNCA teve essa conversa comigo. Ela aconteceu entre ele e o ex-Presidente do DM que falou algo bem diferente: “o orçamento da campanha em São José era de 2 milhões de reais.”.
Saio do partido, mas levo comigo minhas antigas companheiras: as convicções.
Analisarei os convites que tenho e agora, aceitarei algum.
Se de alguma forma influenciei você a se filiar ao Novo: continue! O projeto é talvez, uma das mais belas iniciativa surgida no campo político nos últimos anos. A falha dos homens não descredibiliza as ideias.
Se de alguma forma influenciei sua candidatura: siga firme! O Novo possui um dos grupos mais bem intencionados e íntegros que já presenciei em qualquer lugar!
Agradeço ao Diretório Municipal de São José por todo empenho sincero: levarei apenas admiração. E, ao Nacional, por sempre acreditarem em mim.
O que me importa agora são as amizades. Espero preservá-las. No meu coração sempre estarão as amizades que criei. Em um lugar sólido, protegido e inabalável: junto com as mesmas convicções que me trouxeram até aqui.
Obrigado, até breve!