Primo Menegalli é empresário do sul catarinense que tem quatro fazendas no Mato Grosso, região de Barra do Bugres, a 150 quilômetros da capital, Cuiabá. Abate 12 mil cabeças de gado por ano, média de 22 arrobas cada.
Mas, antes de chegar lá, foi caminhoneiro, comeu o pão que o diabo amassou, depois teve concessionária de veículos, e fez fortuna.
De origem humilde, filho de mãe solteira, pobre, mas desde garoto pensando alto, sonhos ousados.
Um dia, quando viu sua mãe ser mal atendida no pronto atendimento de um hospital, tinha apenas seis anos, mas avisou: “mãe, um dia vou comprar um avião para levar a Senhora onde quiser”.
Demorou, mas conseguiu.
E quando comprou o primeiro avião, já dono da concessionária Volksvagen de Araranguá e do Grupo Menegalli, levou a mãe para o prometido passeio.
Primo diz que sua mãe tinha três vacas e uns bezerros. Ele cuidava dos bezerros.
E ali começou a sua paixão pelo gado.
Lá no Mato Grosso é onde ele adora estar, nas fazendas, entre os peões, junto dos bois.
Quase todos da raça Nelore.
Por isso, aos poucos, com o passar do tempo, foi ficando por lá, fixando residência, fazendo a vida, e repassando para a família as empresas que tinha aqui.
Mas, faltava realizar um sonho. Ser prefeito de Araranguá.
Algum tempo antes, ele teve envolvimento com a política, apoiou candidatos, ajudou em algumas vitórias, deu palpites para o desenvolvimento da cidade.
Sempre ouvido, sua palavra tinha peso.
Quando anunciou que seria candidato a prefeito, no entanto, uma pergunta dominou o ambiente politico - “será que o rei do gado vai largar as suas fazendas no Mato Grosso?”.
Aos poucos, ele mostrou que estava decidido.
Mas, apesar de todo o prestígio pessoal e o poder econômico que acumulou, não era uma missão simples.
Ele não tinha partido, nem densidade eleitoral. No interior, era politicamente nulo.
Homem de poucas palavras. Nunca tinha feito um discurso, nem participado de comício.
Everaldo João, empresário, hoje presidente da CDL de Araranguá, o melhor profissional de marketing do sul do estado, assumiu a missão de tornar Primo popular e viável eleitoralmente.
A campanha foi histórica. Muito bem feita. Pensada nos mínimos detalhes.
Everaldo fez do rei do gado um cidadão simples, popular, de fala franca e direta, sem rodeios.
Venceu a eleição.
Assumiu decidido a mudar as coisas.
No primeiro dia, foi em todos os setores da prefeitura. Na contabilidade, viu que tinha sete funcionários.
Mandou demitir cinco. “Não precisa mais que isso”, justificou. E a contabilidade funcionou como um relógio.
E assim foi fazendo.
Veio o final do mês e a primeira “folha" para pagar. Ele chamou o secretário e baixou ordem: “salário não atrasa nem um dia, de jeito nenhum”.
Mas, a prefeitura estava quebrada. Caixa furado. O secretário se virou nos trinta, apertou, esticou, puxou daqui e dali, e não conseguiu levantar o suficiente.
No final do dia, foi dar a notícia: “chefe, não vai dar, não vamos conseguir pagar a folha, vamos ter que atrasar”.
Primo reagiu, indignado. E depois de ouvir o secretário dar todas as explicações, orientou: “fala com o Vicente, na Dimasa (sua empresa), pega o dinheiro necessário, paga a folha, e depois quando der, devolve”.
O secretário pulou para trás: “não chefe, não pode, isso dá até cassação de mandato”.
“Mas, o dinheiro é meu, eu coloco onde eu quiser, e faço com ele o que eu quiser”, insistiu Primo.
E não foi fácil convencê-lo.
Mas, no final, ele deu um jeito. E pagou a folha no dia certo.
Durante todo o tempo em que governou a cidade, por sinal, nunca teve atraso no pagamento da folha.
Primo fez dois mandatos muito importantes para a cidade.
Principalmente no jeito novo (e limpo) de fazer gestão.
E depois, missão cumprida, sonho realizado, o Rei do Gado voltou para as suas fazendas na Barra do Bugres.