“O que sobrou? O prédio, essas peças que eu falei... talvez uns 10%”.
Essa foi a resposta de Cristiana Serejo, vice-diretora do Museu Nacional, que foi consumido pelas chamas na noite de ontem, no Rio de Janeiro.
Talvez tenha sobrado 10% do acervo.
Acervo com mais de 20 milhões de peças.
Como pega fogo em prédio, não?
Nós, que moramos em Criciúma, sabemos bem disso.
Já pegou fogo em escola, hospital, DUAS VEZES na Prefeitura!
Até parecia que era coisa nossa, que era praga da terra do carvão...
Parece que não... Parece que descaso é patrimônio nacional!
O mais recente foi o incêndio no Centro Cultural Jorge Zanatta, no ano passado. Salvas as devidas proporções, muito parecido em sentimento.
É um prédio, uma construção, que emana cultura. Que emana história, seja pelo que tinha lá dentro, seja pelo que se passou lá dentro.
O Jorge Zanatta está sendo reformado. A Prefeitura precisou ser reformada.
Nos dois casos, muito se perdeu. E precisou do susto, que não foi surpresa, para que houve cuidado.
Mas voltando ao caso do Rio... Quem morou naquele palácio e criou aquele museu foi a Família Real Portuguesa, foi o rei Dom João VI.
E, nessa linha, fiquei impressionado com a declaração de um herdeiro da Família Real, Dom João de Orleans e Bragança, bisneto da princesa Isabel, de que reforçava o compromisso de doar seu acervo pessoal, assim como itens emprestados que estão expostos em museus de São Paulo.
Belo ato. Atitude altruísta, filantrópica, elevada. Mas vale a pena?
Seria responsável da parte do o príncipe da adormecida monarquia se desfazer de seus artigos pessoais, da história da própria família, e entregá-la para quem acabou de mostrar que não tem condições de cuidar de tão valioso tesouro?
Não seria mais seguro deixar esses itens históricos bem protegidos em sua propriedade, onde deve ter sido investido um bom montante em segurança? Não seria o caso, inclusive, de retomar o que está em outros museus, por segurança?
É algo a se pensar... O descaso com o que não dá voto foi provado mais uma vez nesse domingo. Arte não enche barriga, não enche tanque, não impressiona o eleitor. Investir pra que?
E, para fechar, já pensou no efeito social desse desmantelamento cultural que estamos vivendo?
Povo que tem museu tem cultura.
Povo que tem cultura é inteligente.
Povo que inteligente, amigo... Ah, é povo que incomoda!