"Estamos planejando distribuir coletes salva-vidas extras a pessoas que já têm colete salva-vidas, enquanto estamos deixando outras se afogarem", afirmou Mike Ryan, diretor do programa de emergência de saúde da OMS.
Essa declaração reforça o posicionamento da Organização Mundial da Saúde, que é contra a administração de terceiras doses da vacina contra a Covid-19 enquanto ainda existir um número substancial da população mundial sem acesso às primeiras doses. Mas além do aspecto ético, o que temos de evidências sobre a aplicação da terceira dose?
A dificuldade começa na quantificação da dita “perda da imunidade”.Não temos ainda exames que deem essa informação com segurança – os chamados correlatos de proteção, quando determinado exame indiscutivelmente reflete a resposta vacinal.
Temos apenas pressuposto de proteção, quando essa relação não está bem estabelecida ou comprovada – como as desaconselhadas dosagens de anticorpos.A informação populacional de aumento de casos entre os vacinados também pode ter diversas interpretações, entre elas o abandono das máscaras e a volta de grandes aglomerações.
A variante Delta, mais transmissível, tirou a tranquilidade daqueles países que achavam que já haviam vencido o SARS-CoV-2 e que poderiam voltar à vida normal.
Israel, com um dos maiores índices de vacinação completa do mundo (mais de 70% entre os maiores de 12 anos), enfrenta uma nova e severa onda de Covid-19, que atinge – saliente-se – principalmente aqueles que não estão completamente vacinados.
Esse percentual aproximou Israel da imunidade coletiva contra a cepa original, mas não contra a Delta.
Talvez o caminho imediato seja reforçar as doses da vacina, principalmente entre aqueles mais suscetíveis a formas graves da doença.
Mas devemos ter clareza de que essa não é a solução definitiva.
Países com baixos índices de vacinação podem ser criadores de novas variantes, que, como a Delta, afastarão o fim da pandemia.
Se não vacinarmos, para valer, todo o mundo, viveremos correndo atrás de reforços vacinais.