Tenho, com a graça de Deus, muitos amigos octogenários e até alguns que ultrapassaram este marco e já palmilham os anos noventa em suas vidas. Disso me dei conta ao ler no jornal ZERO HORA de Porto Alegre em sua edição de fim de semana, 27 e 28 de janeiro. Há nele um artigo de Larisa Roso que trata exatamente deste assunto. Durante os meus muitos anos de prática médica, dediquei bom tempo das consultas oftalmológicas que realizei a indagar de meus velhinhos a causa de suas longevidades. Não foi em vão. Larisa (perdoe-me a intimidade), chegamos praticamente aos mesmos resultados!.
1. Evitar a solidão. O próprio Jeovah disso falou ao declarar a Adão: não é bom que o homem viva só. Mas, essa história é um pouco longa e pretendo contá-la sexta-feira logo depois das nove horas no Programa de Adelor Lessa.
2. Largue do celular, da internet e das redes sociais. Nada substitui o contato pessoal, mesmo considerando o grande avanço que representou para a comunicação entre as pessoas essas modalidades de saber da vida dos outros.
3. Viva bem a fase da vida a que você pertence. Se te oferecerem um bilboquê vais ficar enjoado, virar a cara. Mas se oferecerem meu último livro, prestes a sair e destinado a leitores da nossa idade, sei que ficarás feliz com a leitura que ele promete. Cada qual na sua!
4. Cuide da Saúde Física: movimente-se, faça exercícios, caminhe, nade. Estas atitudes reduzirão a ansiedade e a depressão.
5. Tenha um hobby: aumente seu nível de felicidade com atividades que proporcionem alegria e satisfação
6. Sinta-se de utilidade: se você está aposentado e tente organizar sua vida, pense no voluntariado. O policial ALMIR tem seu nome associado a realizações notáveis seja no campo das voltas ciclísticas, nas campanhas do agasalho, seja na doação de órgãos para transplantes.
7. Alimentação saudável; busque orientação adequada com nutrólogo
8. Adote práticas de meditação
9. Bote a cabeça para funcionar com filmes, livros, jogos..
10, Durma bem. Acorde com a sensação de estar descansado. Prepara-se e prepare o ambiente para dormir.
BOA SORTE!
Blog Dr Henrique Packter
Virá o dia em que alguém escreverá sobre os nomes maiúsculos da Medicina carvoeira, nomes que desbravaram caminhos e que foram autores dos diagnósticos fundamentais. Não foram muitos esses médicos que podem ser reduzidos apenas a quatro profissionais.
Lá, bem no início, avultam dois nomes, pai e filho, Francisco de Paula Boa Nova e o médico Boa Nova Júnior. Eles apontaram o problema. O terceiro, Manif Zacharias, investigou o problema e quantificou-o. Coube ao último, David Luiz Boianowski, dar solução à questão, da mesma forma, como alguns anos depois, criaria, em Brasília o PAT (Projeto de Alimentação do Trabalhador), solucionando outro problema crucial: aquele da alimentação do trabalhador na empresa.
- Engenheiro civil Francisco de Paula Boa Nova, chefe do escritório em nossa cidade do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) em 1942 e 1943.
- Médico Francisco de Paula Boa Nova Júnior Também funcionário do DNPM,- exercendo também clínica particular, de 1946 até o fim da década de 50. Em 18.04.1948 participou da criação do Rotary Clube de Criciúma.
- Manif Zacarias médico, intelectual, escritor, empresário, maçom, jornalista, radialista, comunista, ateu.
- Pediatra e nutrólogo Davis Luiz Boianowski.
OS 4 DE OURO
MANIF (do árabe, ser privilegiado) nasceu em Curitiba (05.08.1918), plena epidemia de gripe espanhola. Na Saldanha Marinho moravam e labutavam seus pais – Assad e Zalfa, – tocando fabriqueta de acolchoados e uma lojinha de turco. De calças curtas, MANIF subia a rua para estudar no Gymnásio Paranaense. Mostrava inclinação para os livros, mas, decidiu-se pela Medicina. Graduou-se Médico pela FMUPR em 12.12.1940, 22 anos.
Discutindo assunto relevante, falava às pessoas como professor paciente que ensina aluno pouco dado ao estudo. Às vezes, ignorava o interlocutor e falava a outra pessoa do grupo, em geral pouco interessada no fato em questão. Essas artimanhas de oratória funcionavam quase sempre.
O casal, Manif Zacarias e Dulce Rovaris terá três filhos, as professoras MIRIAM e DORIS e MIGUEL ZACHARIAS Sº, este, médico como o pai, e também funcionário do IML em Curitiba. DULCE faleceu em Curitiba a 29.12.1996. Manif virá a Criciúma em 1º.05.1944. Exerceu clínica geral, cirurgia e obstetrícia. Médico do IAPETC e um dos criadores do Hospital Santa Catarina foi membro fundador da Loja Maçônica Presidente Roosevelt e do Rotary Clube de Criciúma. Preso pelo governo militar em 1964 transfere residência para Curitiba (setembro de 1965). Intelectual, tinha bem fornida biblioteca, doada integralmente para entidades criciumenses.
A BIBLIOTECA DE MANIF
MANIF reuniu respeitável acervo de literatura sacra (livros médicos) e profana (todos os demais livros). Em 20.11.1987 doou 823 obras (900 volumes) à Biblioteca Pública Municipal DONATILA TEIXEIRA BORBA, Criciúma. Doou 360 livros à Biblioteca da FUCRI, futura UNESC, a 14.6.1988. Os restantes livros sacros foram doados ao Hospital São José quando de sua transformação em Hospital-Escola. O manuseio dos livros da vasta biblioteca de MANIF permitia ver comentários, observações, críticas, contestações -, rabiscadas nas margens, orelhas, páginas em branco, tudo na sua inconfundível e miúda caligrafia.
JORNALISTA, RADIALISTA, MAÇON, ESCRITOR, EMPRESÁRIO, COMUNISTA
Em Criciúma publicaria crônicas nos jornais locais baseadas em causos do consultório. Foi clínico geral, cirurgião, obstetra e pediatra. Chefiaria os serviços médicos do IAPTEC e SAMDU e seria um dos criadores (1961) do Hospital Santa Catarina, além ser seu diretor administrativo
Grandalhão, de guarda-pó, culto, vozeirão de locutor, defende os operários das minas de carvão, Émile Zola caboclo, sem Germinal. “Papai arrumou briga até com um padre polaco”, provoca a filha Dóris. A irmã Nabia: “Até de carroça atendia o povo.”
Maçom há 70 anos (1945), membro fundador da Loja Maçônica Presidente Roosevelt, elaborou os anteprojetos de Constituição e Regulamento Geral. Membro honorário dessa Potência Maçônica e membro fundador, benemérito e honorário de Lojas de Florianópolis e do sul do estado. Membro fundador do Rotary Club de Criciúma.
CRICIÚMA ANOS 40
MANIF chega a Criciúma em 1º.05.1944, data natalícia de MAX FINSTER, comerciante e maçom, de quem se torna amigo irremediável. Vinha para trabalhar, sob contrato, no atendimento dos operários da Mineração Geral do Brasil, empresa do Grupo Jafet. Pouco se sabe das atividades profissionais de MANIF, anteriores a Criciúma. Certo é que seu espírito inquieto, sensível, culto, encontraria aqui refúgio em ideologias de esquerda e em sociedades fraternais. Um mês e dias antes de chegar à cidade é criada a Comarca de Criciúma (20.3.1944) e quase 3 meses depois (18.06.1944), vem a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Criciúma. Discursará na UNIÃO MINEIRA, apo ntando para bairros ricos: Ó estulta ignorância da mediocridade enfatuada! Parece que teria falado da vagarosa noite da cultura criciumense...
CRICIÚMA É COMARCA. O CINQUENTENÁRIO.
A cidade recebia seu primeiro juiz, EUCLIDES CERQUEIRA CINTRA. Em 1994, 50 anos depois, coube a mim, Diretor Presidente da Fundação Cultural de Criciúma, homenageá-lo (pois ainda vivia) e ouvir seu discurso (que ainda tenho), no antigo Fórum da cidade, na Getúlio Vargas. Ele leva seu nome por sugestão do Desembargador FRANCISCO May F°, Juiz por muitos anos em Criciúma. O primeiro promotor público da cidade, FRANCISCO JOSÉ RODRIGUES de OLIVEIRA Fº era falecido, mas seu filho, homônimo e Desembargador, participou do evento.
A CHEGADA
MANIF chegava em meio a grande efervescência política e econômica. Era o Estado Novo (1937-1947), da censura aos meios de comunicação, centralização do poder, dissolução do Congresso e dos legislativos. MANIF descrevia no único jornal semanário ruas esburacadas em cujas crateras a água das chuvas se acumulava e as raras ruas pavimentadas a macadame. Seis meses antes (24.10.1943), inaugurado o prédio da Prefeitura (hoje Casa da Cultura, Praça Nereu Ramos), onde logo se alojariam Fórum e Câmara de Vereadores.
O Colégio Casa da Criança, hoje Colégio São Bento e o prédio do DNPM, hoje Centro Cultural Jorge Zanatta são de 1945. Movimentos reivindicativos dos mineiros locais, materializam-se na fundação do Sindicato dos Trabalhadores das Minas de Carvão em Criciúma e na greve da Carbonífera Próspera (1945). Polícia civil, lideranças patronais, políticas e religiosas atuam afanosamente para controlar as inquietas populações mineiras. MANIF faz amigos rapidamente na aberta sociedade criciumense, sociedade na qual todos eram forasteiros bem-vindos, desde que viessem para somar. HERMÍNIO DELAVI (São Jerônimo, RS, 1910), 8 anos mais velho que MANIF, industrial, administrador (depo is proprietário de mina de carvão), comerciante, era um desses. Casou-se com MARCOLINA, filha de MARCOS ROVARIS, primeiro prefeito.
MARCOLINA ROVARIS era tia de DULCE, esposa de MANIF. Ela e DELAVI eram proprietários da loja LINAMAR (Lina de Marcolina e Mar de Marta, sua sócia). Na LINAMAR trabalhava Meigi, filha de TUFFI JOÃO SCHEAD funcionário da PRÓSPERA, bom enxadrista e membro fundador da Loja Maçônica Presidente Roosevelt de Criciúma. Para MANIF, DELAVI, ao lado do dentista ALEXANDRE HERCULANO DE FREITAS, seriam as pessoas mais espirituosas da cidade.
E contava causos: do cavalo que DELAVI cavalgara fugindo de tempestade. O animal disparou desde a praia do Rincão à cidade, com a chuva em seu encalço, molhando apenas e tão somente e durante todo o percurso sua cauda! Quanto a DELAVI, nenhum respingo o atingira! Este soberbo animal morreria vitimado por dose excessiva de medicamento. Piscando um dos olhos, DELAVI dizia que fora ministrado pelo farmacêutico ad hoc ADAMASTOR ROCHA. Que ADAMASTOR aplicara em seu cavalo dose de remédio para elefante. A expressão correu mundo. Foi adotada em todo o país, talvez mais. Então, DOSE PARA ELEFANTE é coisa nossa, de criciumenses e de HERMÍNIO DELAVI!
O curso de Medicina da Universidade Federal de Curitiba, no Paraná, abrigava bem mais de 700 alunos quando fui admitido em seu curso em 1954, após exame vestibular escrito e oral. A convivência entre esse agrupamento humano, gente vinda de toda parte, era mais harmonioso e afetuoso do que se possa imaginar. O simples fato de sermos alunos da mesma escola médica servia de senha para tratamento recíproco amistoso. Trocávamos informações, conhecimento e nos auxiliávamos a todo e qualquer momento.
A título de exemplo recordo o colega Nazir Soubhia, formado em 1960, um ano após minha turma, e que, para poder estudar Medicina trabalhava como locutor da Rádio Marumby altas horas da noite no programa Tangos e Poemas. Com o salário assim obtido, ele se mantinha. Era de Monte Aprazível, SP e vivia como Deus é servido. No auge de problemas financeiros insolúveis, aparece certa noite em nosso apartamento, república melhor dito, um colchão de muitos anos de uso, amarrado toscamente com barbante idem e outro pacote que anunciou conter alguns (poucos) livros e roupas (bem poucas). Declarou que estava se mudando e se juntando a nós. Diante da declaração de que todas as vagas estavam ocupadas no apartamento, decidiu colocar o colchão na (minúscula) sala de visitas e nele deitou-se.
Em pouco tempo, já enturmado, perguntava:
- Dinheiro, não tenho; pagar lavadeira – como vocês – nem pensar. Posso utilizar os serviços desta funcionária, para acertar mais tarde?
Barretinho fez um gesto incompleto, como quem se arrepende. Ia perguntar – na mesma ordem de ideias – sobre compartilhamento de despesas (aluguel, café da manhã, energia, água etc).
Nazir Soubhia, o Turquinho, em seu programa na rádio, focava no horóscopo das pessoas e por isso, logo todos nós participávamos das atrações do programa, vaticinando-nos (para exemplificar) o que nos reservava o dia a dia da cidadania curitibana.
Aprendi que meu signo era Touro e tratei de mimoseá-lo com todas as benesses possíveis. Reservei para este signo as namoradas mais bonitas, sucesso nos estudos, premiações fantásticas. Os colegas detentores de outros signos não deixavam por menos e em breve havia uma competição entre nós para determinar qual o signo revestido das maiores glórias.
Foi quando passamos a perceber que nossas melhores roupas, misteriosamente sumiam em determinados períodos. Se houvesse reunião dançante na Medicina (Diretório Acadêmico Nilo Cairo), ou na Engenharia (os melhores) sempre havia alguém a reclamar:
- Cadê calça e camisa arretadas que comprei para o arrasta pé da Engenharia?
Dona Rosita suspendia por momentos seu trabalho, coçava o cocoruto protegido por lenço improvisado, sacudia a cabeça e apontava para o colchão estendido na sala. Nazir só não usava nossos sapatos: não cabiam em seus enormes pés.
Certa noite, terminado seu programa diário-noturno na Rádio Marumby, Turquinho (ó surpresa!), anuncia que na manhã seguinte deixaria nosso convívio, trocado por cobiçada vaga na Casa do Estudante, gratuita como nosso curso em Faculdade Federal e nosso alugado apartamento, gratuito para ele. Turquinho foi nosso calouro, formando-se em 1960.
Na mesma ocasião estudava Medicina na nossa Faculdade, jovem oriundo da Pauliceia Desvairada, cuja principal característica era uma grande, enorme, cabeça óssea. À primeira vista chegava a assustar. Logo, Joaquim de Paula Barreto Fonseca, de Campinas SP, sobrinho do Professor Barreto da Histologia e Embriologia, inventava uma história para ele. Consta – dizia Barretinho – que nosso cabeçudo calouro andava queixando-se à mãe que a Turma pegava no seu pé, que ganhara muitos apelidos (Cabeça, Cabeção, Head). A mãe, é claro, defendia-o.
- É pura inveja. Você é aluno brilhante, estudioso, figura impoluta, caráter sem jaça. Tua cabecinha é quase igual às demais. A propósito: vai para a mãe até o mercadinho e traz 1 dúzia de bananas, 1 dúzia de ovos, 1 lata de azeite, leite, café, pão, manteiga, queijo, 1 garrafa de álcool, algumas laranjas, uma melancia. Leva a caderneta do Haver para anotar a despesa.
- Mãe, tudo bem. Cadê o carrinho para trazer as compras?
- Precisa não, filho. Traz tudo no teu bonezinho!
José Fabrício Alves Pereira, o Boazinha, de Santos SP, participava do excelente time de basquete da Faculdade/Universidade. Era, também, aluno exemplar. Seu único problema era um sono invencível que surgia nas piores ocasiões: na sala de provas, nas aulas, ao encontro das aulas em pleno itinerário através de condução pública, no cinema, no banco de reservas nos jogos. Uma droga. Fez o propósito de dormir apenas nas horas consagradas para tal. Também prometeu acordar mais cedo, já perdera muitas aulas pelo sono fora de propósito que o atormentava. O assunto era tão envolvente que dele participavam professores, bedéis, a faculdade toda.
O assunto chega aos ouvidos de Mário Braga de Abreu, o grande mestre de Clínica Cirúrgica do 5º ano de Medicina. Fazendo pouco caso disse:
- Vai acordar cedo para ficar mais tempo sem fazer nada...
O apelido Boazinha tem origem no esporte praticado por Fabrício, o basquete. A cada lance empolgante ou cesta de grande categoria individual ele se voltava para o público e dizia:
- Boazinha essa...
Da Turma 1961 eram os irmãos Orestes e Osires Florindo Coelho. Osires era notável cestobolista, o Jimmy. Brilharia em qualquer lugar do mundo praticando o que muito sabia fazer como atleta do esporte da cesta. Havia mais: nossos colegas de Turma, Roberto Lencastre Maudanet, José Maria Del Claro, Roberto Quintanilha Braga -, todos grandes atletas.
Fica para outra vez contar histórias de colegas como Nelson Salomé, ao lado do lateral da seleção Roberto Carlos, grandes nomes da cidade de Araras, SP. Também Osvaldo Doreto Campanari (de Marília), Joaquim de Paula Barreto Fonseca (Campinas), Luiz Alencar de Moraes (Dracena, SP), o Ministro da Saúde Valdir Mendes Arcoverde (do Piauí), Zilda Arns (de Forquilhinha, SC) -, todos colegas da Turma 1959 da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná.
FELIZ ANO NOVO DE 2024, GENTE!
Manuel Bandeira publicou vasta obra até a morte, em contos, poesias, traduções e críticas literárias. No segundo dia da Semana de Arte Moderna, seu poema Os Sapos foi lido por Ronald Carvalho.
A CAMÕES, poema de Manuel Banxdeira
Quando n’alma pesar de tua raça
A névoa da apagada e vil tristeza,
Busque ela sempre a glória que não passa,
Em teu poema de heroísmo e de beleza.
Gênio purificado na desgraça,
Tu resumiste em ti toda a grandeza:
Poeta e soldado... Em ti brilhou sem jaça
O amor da grande pátria portuguesa.
E enquanto o fero canto ecoar na mente
Da estirpe que em perigos sublimados
Plantou a cruz em cada continente,
Não morrerá, sem poetas nem soldados,
A língua em que cantaste rudemente
As armas e os barões assinalados.
Academia Brasileira de Letras
Na Academia Brasileira de Letras (ABL), Manuel Bandeira foi o terceiro ocupante da Cadeira 24, eleito em 29.8.1940. Sua trajetória laboral destaca atuação como professor de Literatura Universal no Externato do Colégio Pedro II, 1938. Foi também professor de Literatura Hispano-Americana (1942 a 1956), da Faculdade Nacional de Filosofia, onde se aposentou. Faleceu no RJ, aos 82 anos, em 13.10.1968, vítima de hemorragia gástrica.
Pneumotórax, poema de Manuel Bandeira
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
-Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
- Respire.
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
(Comentário: tango argentino só na hora da morte...)
Vou-me Embora pra Pasárgada, poema de Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Passárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Passárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Passárgada
Em Passárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Passárgada.
GYRÃO, SÍLVIO DAMIANI BÚRIGO, IVO NESRALLA: PIONEIROS EM CIURGIA CARDÍACA
O Dr. Sérgio Hertel Alice, primeiro patologista da região, foi especializar-se em 1970 no Hospital dos Servidores (IPASE) no RJ, estimulado por Gyrão. Sérgio trabalhava em Siderópolis juntamente com Gyrão na CSN.
Uma das primeiras cirurgias de coração em SC e no Brasil, senão a primeira, deve-se a Gyrão e Sérgio Alice, rivalizando com Nesralla no RS. Sérgio Alice sempre foi muito forte pela prática de esportes. Vinha, certo dia, para o Hospital São José quando presenciou o término de acalorada discussão entre funcionário da Caixa Econômica e um popular, em plena via pública. A contenda findou com o popular empunhando uma arma branca e apunhalando o funcionário da Caixa. Ferimento na área do coração fazia com que o sangue jorrasse no ritmo cardíaco: uma sístole um esguicho. Sem hesitar, Sérgio apanha o corpo do homem ferido e carrega-o para o Centro Cirúrgico do Hospital São José, onde Gyrão e o urologista Sílvio Búrigo terminavam o atendimento de outra emergência. Sem mais delongas o ferimento é exposto, anestesista - que se preparava para deixar o Centro Cirúrgico - é reconvocado, Gyrão e Sílvio Búrigo calçam luvas sem escovar-se (pela premência do atendimento) e a sutura da brecha no coração é realizada.
O paciente fica internado alguns dias e restabelece-se miraculosamente.
O grande progresso médico verificado com a admissão de Gyrão no corpo clínico hospitalar, deve-se ao seu temperamento generoso e ao seu desejo de evoluir, medicamente falando. Foi, graças a Gyrão que as lacunas então existentes no corpo clínico hospitalar foram sendo eliminadas porque ele convidava médicos de especialidades não existentes na cidade para aqui trabalhar e encaminhava, não raro trazendo clientes pelo braço ao novo especialista. Ele e Emília eram cristãos praticantes.
DRAMA COMUM A MUITOS CIRURGIÕES
Muito sofreu pelo desfecho de caso de paciente que operou e que veio a falecer. Os filhos da paciente falecida montaram ronda em torno de sua casa, impedindo-o de trabalhar ao mesmo tempo em que proferiram ameaças contra Gyrão. Eu estava em viagem participando do Congresso Médico de Oftalmologia. Era inverno e inverno muito frio. Mal eu chegara e já era intimado a correr à casa do Gyrão localizada na Praça do Congresso. Fui até lá, altas horas de noite gélida. General Bragança, olhos muito claros, perscrutadores, fitavam-me demonstrando decepção, desesperança talvez. Perguntei se tinham procurado pelo Dr. Ernani Palma Ribeiro, juiz da Comarca. Não tinham. Propus-me a procurá-lo no dia seguinte. Fui e ele marcou visita, no Rio Maina, à família enlutada, naquele mesmo dia. Sua atuação foi decisiva resolvendo o problema e demonstrando grande coragem. Acompanhei-o na condição de motorista.
IVO NESRALLA
Pioneiro em transplantes cardíacos no RS, Ivo Nesralla morreu aos 82 anos. O falecimento do ex-presidente do Instituto de Cardiologia e da Orquestra Sinfônica de POA foi às 10h30min de quarta-feira, 16.12.2020.
Nesralla foi presidente do Instituto de Cardiologia e fundador da Fundação Universitária de Cardiologia do RS. Pioneiro em transplante cardíacos no RS é referência em cirurgia cardiovascular em toda a América Latina, Ivo Abrahão Nesralla morreu em Porto Alegre de parada cardíaca. Estava em casa e chegou a ser socorrido no Hospital Moinhos de Vento, mas veio a falecer.
Além de ter sido fundador, cirurgião e presidente do Instituto de Cardiologia - Fundação Universitária de Cardiologia (IC-FUC), também presidiu a Bienal de Artes Visuais do Mercosul por anos e a OSPA, Orquestra Sinfônica de POA, durante 23 anos.
O primeiro transplante de coração feito no RS, liderado por Ivo Nesralla
Nesralla tinha paixão por música clássica e enquanto operava corações, dentro da sala de cirurgia, escutava Johann Sebastian Bach em fita cassete, no número 395 da Avenida Princesa Isabel. Embalado pelas sinfonias de Bach, foi responsável por nova era de transplantes cardíacos no país.
Foi Nesralla quem retomou esse tipo de cirurgia no Brasil — houve pausa no procedimento em razão de problemas da rejeição do órgão. Fez o primeiro transplante de coração no RS (1984), o quarto do Brasil. O cirurgião cardiovascular Paulo Prates, 80 anos, estava com ele.
— Ele foi um pioneiro em tudo, numa época muito difícil. Impressionava nele o espírito corajoso: a verdadeira coragem de quem tem medos e os enfrenta — destaca.
Formado em 1962 pela UFRGS, Nesralla fez, oito anos depois, a primeira operação de ponte de safena no RS (1970). Foi também uma das primeiras no Brasil.
Em 1973, Nesralla empregou pela primeira vez no país a técnica da hipotermia profunda para cirurgias cardíacas, e implantou o primeiro coração artificial na América Latina em 1999. Em 2.000 realizou a primeira cirurgia robótica cardíaca da América Latina. Chamado de professor até por colegas, foi docente titular de cirurgia cardíaca da UFRGS. Foi também membro titular das academias Sul-Riograndense e Nacional de Medicina. Nesralla recebeu a Comenda da Ordem do Mérito Cultural das mãos do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (2001), e, em 2015, a Medalha do Mérito Farroupilha, distinção máxima da Assembleia Legislativa gaúcha.
Presidente da Ospa por 23 anos
Nersralla presidiu a Fundação OSPA em dois períodos (1983 a 1991 e de 2003 a 2018). O maestro Evandro Matté teve seu ingresso referendado na orquestra, como trompetista, por Nersalla há 30 anos. Foi uma das principais vozes contra o projeto de extinção da Fundação Ospa; lutou pela construção da sede da orquestra.
— Ele deixa como mensagem a importância da cultura para nossa sociedade. Quando visitava outros Estados, repetia a frase do Erico Verissimo para se apresentar: "eu venho de uma cidade que tem uma orquestra sinfônica".
Atual presidente da Fundação OSPA, Luis Roberto Andrade Ponte, afirma que Nesralla "foi um apaixonado pela OSPA e pela música de concerto" e que "durante os 23 anos em que esteve à frente da Fundação, dedicou-se intensamente a consolidar a orquestra como uma das mais importantes do nosso país". Ivo deixou a mulher, Paulita, os filhos Ivo, Carlos e Paula (também cirurgiã cardíaca), e netos.
HISTÓRIAS DE GYRÃO
1. “Uma estrela é um pedaço de luz no Universo perdido, é poeira de sol no infinito escondido, é a paz verdadeira, é esperança de amor”. De um escrito de Girão.
2. Certo dia´, enquanto cursava o segundo ano de residência em Clínica Cirúrgica em Niterói, Gyrão precisa se ausentar para tratar de assuntos pessoais. Pede a um residente do primeiro ano que cuide de paciente seu, internado em enfermaria. Insiste em que faça esta observação médica e que a inicie naquele mesmo instante. Com certa relutância o residente vai. Volta para informar:
- Ele está ótimo! Não precisa se preocupar! Está até sorrindo!
Gyrão, intrigado, vai ver o que está havendo. Não dá outra: tratava-se do riso sardônico que denuncia o tétano!
Mary of Tech nasceu em 26.5.1867, no Palácio Kensington, Londres, filha de Duke of Tech, Prince Francis, e Mary Adelaide, princesa de Cambridge. Maria tinha três irmãos, todos mais novos para ela. Os quatro irmãos passaram algum tempo juntos com os primos, filhos do príncipe de Gales. Ela foi instruída em casa pelas governantas e sua mãe. A mãe de Mary possuía o título de Duquesa de Teck por casamento, e o pai de Mary era descendente de um casamento morganático; ele não herdou nenhuma riqueza ou propriedade.
NIERO, sabes o que é um casamento morganático? Nem eu. Parece tratar-se de casamento entre pessoas de classes sociais diferentes. O cônjuge menos abastado não vai fazer jus às benesses da lei, especialmente no tocante às polpudas mesadas.
A duquesa de Teck, descendente direta do rei George III, recebia anuidade do Parlamento britânico mais quantia anual da duquesa de Cambridge, sua mãe. Para economizar visitavam parentes europeus. Depois de peregrinar de 1883 a 1885, voltaram para Londres e fixaram residência no Richmond Park, White Lodge. Apesar das dívidas contraídas, a mãe de Mary não se intimidava e dava festas extravagantes.
Compromissos que fizeram dela um membro da mais alta ordem
A rainha Vitória, avó do príncipe Albert Victor, duque de Clarence e Avondale, gostava de Maria de Teck por sua coragem, e agradava-lhe que ela estivesse noiva de seu neto mais velho. Porém, seis semanas após o noivado de Mary com o príncipe Albert, este morreu de pneumonia. O príncipe George, duque de York, irmão mais novo do príncipe Albert tornou-se o pretendente natural ao trono britânico, após a morte deste. A rainha Vitória aprovou o casamento de Mary com o príncipe George. Casaram-se em 6.7.1893 na Chapel Royal, no St. James's Palace.
Maria como Duquesa de York e Cornwall e Princesa de Gales
Mary tornou-se Duquesa de York após casamento com o príncipe George, duque de York. Residiram no St. James Palace e também passaram algum tempo no chalé de York, condado de Norfolk. Tiveram seis filhos, Edward, Albert, Mary, Henry, George e John. Apenas uma babá, Charlotte Bill, continuou trabalhando a longo prazo, pois compartilhava um bom relacionamento com as 6 crianças. Charlotte foi especialmente contratada para cuidar do príncipe John, que, ao que parece, sofria de epilepsia. Mary instilou bons valores nos filhos dando-lhes aulas de música e história.
Após a morte da sogra e chefe de estado, rainha Vitória (1901), seu sogro reinou como Eduardo VII. Mary e George embarcaram em prolongada excursão a alguns países sob domínio britânico como Duquesa e Duque de York e Cornualha. Voltando, George e Mary foram ungidos como Príncipe de Gales e Princesa de Gales em 1901, após o que mudaram para a Casa Marlborough do St. James Palace. Em 1905, John, último filho de Mary, nasce com problemas respiratórios.
Em 1905, Duque e Duquesa de York parte novamente para viagem de 8 meses ao subcontinente indiano. Vão à Noruega para coroação do rei Haakon VII. Recém-chegados de volta, partem para a Espanha e assistem ao casamento do rei Alonso III e Victoria Eugene de Battenberg.
Maria de Teck torna-se rainha Maria
Depois que o sogro de Mary, o rei Edward VII faleceu em 6.5.1911, seu marido é coroado rei George V, tornando-a rainha consorte. A cerimônia de coroação, tornando George chefe soberano do Reino Unido, das Ilhas Britânicas, e Índia britânica - e Mary, a rainha consorte, ocorreu na Abadia de Westminster em 22.6.1911. O recém-coroado rei e rainha visitaram a Índia para comemorar a coroação em Delhi Durbar.
Mary, apesar de ter relacionamento agradável com a rainha Alexandra, sua sogra, muitas vezes esteve em desacordo com ela. Por exemplo, a rainha Alexandra permaneceu intencionalmente no Palácio de Buckingham, muito depois da morte do marido Edward VII e reteve muitas das joias da coroa que deveriam ter sido legadas à rainha Maria. Maria de Teck, durante todo o período da Primeira Guerra Mundial, visitou soldados feridos em hospícios e enfermarias até o término das beligerâncias em 1918, com a rendição da Alemanha e a renúncia ao trono por Guilherme II, o imperador alemão.
João, filho mais novo de Maria, morre aos 13 anos. Ela auxiliou o marido no desempenho de seus deveres oficiais como rei da Inglaterra. A rainha Mary cuidou de George V quando ele ficou incapacitado por doença na década de 1920, impedindo-o de trabalhar. George V sucumbiu à doença em 20.1.1936, abrindo caminho para que Edward, príncipe de Gales, subisse ao trono.
Rainha Mãe de Dois Reis
Coroado o filho mais velho de Maria como rei Eduardo VIII, ela se torna a rainha-mãe. Logo após a coroação de Edward, ele tornou público seu relacionamento com Wallis Simpson, americana divorciada. Maria objetou que o rei se casasse com um plebeu, e que também se divorciasse.
Edward, então, deixa o trono de rei para se casar com Wallis. Príncipe Albert, o duque de York, segundo filho de Maria e irmão mais novo de Edward, foi coroado o novo rei. Albert assumiu o nome, George VI, ao se tornar rei. Ele era gago e muito penou até fazer-se entender sem despertar risos ao falar.
Iniciada a Segunda Guerra Mundial, Mary muda-se para Badminton House em Gloucestershire Durante a Guerra ela apoiou o país visitando as frentes de batalha. O príncipe George, um dos filhos de Mary, morreu em acidente aéreo. O rei George VI morreu em 1952 e, a neta mais velha de Mary, a princesa Elizabeth sucedeu-o no trono, tornando-se a rainha Elizabeth II. Maria de Teck ficou muito justamente abalada com a morte de três de seus filhos, John, George e Albert. Faleceu em 24.3.1953 aos 85 anos, 75 dias antes da coroação da neta. Ela e o marido estão enterrados lado a lado no castelo de Windsor, capela de São Jorge.
As festas no Elettra, barco de Marconi, eram célebres pelas músicas transmitidas diretamente de Londres pelo rádio. A companhia Marconi montou o novo Imperial Wireless Scheme, destinado a montar estações de ondas curtas em todo o território britânico. Em 1929 recebeu do rei Vítor Emanuel III da Itália o título de marquês. Em 12.10.1931, apertando um botão em Roma, acendeu as luzes do Cristo Redentor na noite de inauguração da estátua no RJ.
MARCONI NA JUSTIÇA
.Em outubro de 1943, a Suprema Corte dos EUA considerou falsa reclamação de Marconi afirmando nunca ter lido as patentes de Nikola Tesla e determinou não haver nada no trabalho de Marconi que não tivesse sido antes descoberto por Tesla. Infelizmente, Tesla morrera fazia 9 meses.
No entanto, muito embora Marconi não tenha sido o inventor de nenhum dispositivo em particular (ao usar a bobina de Ruhmkorff e um faiscador, como antes o haviam feito De Forest e Tesla na emissão), repetiria Hertz, gerando ondas hertzianas - Experimento de Hertz com um "Ressoador de Hertz - usou o radiocondutor-detetor Coesor de Branly na recepção, adicionando a antena de Popov a ambos os casos, parece possível afirmar que Marconi é, na verdade, o inventor da rádio. Isso, como Radiotelegrafia e Radiotelefonia; Telefonia sem fio, visto que ninguém, antes dele, tivera a ideia de usar ondas hertzianas com os objetivos de forma prática ou rotineira, de comunicação. Exceto o padre Landell de Moura.
Lee de Forest o havia feito, mas apenas para testar sua válvula eletrônica.
Marconi foi agraciado em 1909, juntamente com o alemão Karl Ferdinand Braun com o Nobel de Física. Braun, descobridor dos semicondutores, dentre eles o sulfeto de chumbo natural, mineral conhecido como galena, base do histórico rádio de galena. Lembram da galena, aparelho rudimentar, fabricado em casa e avô dos modernos aparelhos de rádio?
Costuma-se dizer que o homem é um animal político e Padre Agenor o foi em altíssimo grau. Aderiu às doutrinas do PSD e do PTB, numa época em que a maioria do clero aderia à UDN, doutrinariamente ultraconservadora. Não raras vezes Monsenhor utilizava o púlpito para desancar seus opositores políticos e defender Getúlio Vargas, a quem nutria forte admiração.
A RÁDIO MARCONI. A ANDORINHA MENSAGEIRA
Em 10.2.1951 Monsenhor funda a Rádio Marconi, a Rádio Difusora de Urussanga Ltda., que em 19.10.1951 obteve permissão para operar. Logo vem a Andorinha Mensageira, programa mais longevo do rádio catarinense. Hoje são 72 anos no ar. Nos domingos, Rosa Miotello, desde 1975, responde pelo programa de rádio e pelo Paraíso da Criança.
MONSENHOR, O ESCRITOR
Escreveu vários livros. O Catequista Ideal é de 1955, ano em que foi nomeado Diretor de Ensino da Arquidiocese de Florianópolis. Escreveu entre outros livros História de Urussanga (1990), Imigração Italiana (1977), Magnólia Branca (1978), Agricultor em Marcha (1980), Magos (1980), Abelha Maravilha (1993), Clarice em branco, Clarice em preto (2005). Desde 1977 Magnólia Branca é a flor oficial de Urussanga. Bandeira, brasão, e hino Urussanguense são de sua autoria. Segundo Maestrelli, POLÍTICA, no entendimento de Monsenhor, seria o único caminho para realizar as coisas.
Monsenhor escreveu os hinos de Urussanga, Jaguaruna, Morro da Fumaça, Grão-Pará, Cocal do Sul, Timbé do Sul. Também o Hino do Imigrante e o Hino da Agricultura com o qual ganhou concurso nacional. É autor, do Hino da Agricultura de SC. Ampliou o perímetro urbano de Urussanga, participou de vários grupos de intelectuais como a Academia Internacional dos Poetas, Academia Urussanguense de Letras, Academia São José de Letras. Criou em 1988 o Museu de História Municipal de Urussanga. Esteve nas origens do Jornal Vanguarda, mesmo nome do primeiro jornal fundado na cidade.
A SAGA OFTALMOLÓGICA DE AGENOR NEVES MMARQUES
Em 03.3.1960, quando o futuro Monsenhor contava 45 anos, procurou-me ele para troca de lentes. Era míope. Tinha 2 graus de miopia no olho direito (OD) e 1,75 no olho esquerdo (OE). Receitei-lhe lentes bifocais, trocadas depois em 21.6.1965. Voltou em 15.4.1975, com 60 anos de idade. Posteriormente esteve em meu consultório em 25.8.1980, 10.3.1981, 26.11.1984 (70 anos), desta última vez com queixa de nuvem no OD. Tinha crises de bronquite asmática e tomou cortisona por longos anos. Sabia ser diabético e para esta moléstia estava medicado. Tinha catarata em ambos os olhos, mais densa no OD. Sua pressão intraocular era 14 nos dois olhos (AO). Entre outros medicamentos tomava Diabinese e Meticorten. A visão era 0,1 no olho direito e 0,4 no olho esquerdo com uso de lentes de grau. Em 3.4.1987 operei seu OD de catarata, implantando-lhe lente intraocular (MODIFIED J: BLUE FLEXFIT 10 Degrees 13.50mm Power: 17.00 Ster.Exp:91/07/01 N0.17.00 071782 J 07 5812). Em 01.11.1989 teve hemorragia intraocular pelo diabetes. Depois, operei sua catarata do OE com implante de lente intraocular (12.12.1989) com bom resultado visual. A lente era IOLAB de 16.0 dioptrias Nº de controle 26E07 - 085 Em 02.7.1991 teve hemorragia no branco do olho (conjuntival) quando indiquei procedimento cirúrgico ocular no OD, uma capsulotomia posterior. Em 26.8.1993 queixava-se de ver as imagens em diplopia (visão dupla), tinha paralisia de músculo do olho, pelo diabetes. Em 26.08.1993 atendi-o pela última vez. Monsenhor Agenor Neves Marques faleceu em 31.8.2006, aos 91 anos de idade e 66 de sacerdócio. Foi sepultado no Cemitério Municipal de Urussanga. Já Natalino Neves Marques, pai de Monsenhor e surdo, operei de catarata em 8.2.1979, OE, aos 94 anos de idade. Seu último exame foi em 26.11.1984, estava bem, tinha catarata madura no OE, pressão intraocular normal, 14/14.
O FINAL
Também tem a história dos 4 sinos de Bassano para a igreja matriz de Urussanga de 1904, mas esse relato já se alonga em demasia e vamos deixar esse restante para outra ocasião.
Fim de Padre Agenor e Juiz Varella.
Para Edgar Roquete Pinto, célebre radialista carioca, o rádio queria atingir os excluídos, seria o “jornal de quem não sabe ler, mestre de quem não pode ir à escola, diversão gratuita dos pobres, animador de novas esperanças, consolador dos enfermos, guia dos sãos”. Esse o papel do rádio.
Em sua infância, Guglielmo e a mãe Anna, passavam muito tempo viajando pela região do porto de Livorno, costa oeste da Itália, onde vivia uma tia. Dessas viagens a Livorno, vem a atração de Marconi pelo mar. Em Livorno estava instalada academia da marinha real italiana, a Regia Marina. Marconi tinha o incentivo do pai (Giuseppe) para entrar na academia naval, coisa que não conseguiu; no entanto, seu encanto pelo mar o acompanhou pela vida.
Inventor do primeiro sistema prático de telegrafia sem fios (TSF -1896), Marconi baseou-se em estudos elaborados em 1897 por Nikola Tesla para, em 1899, realizar a primeira transmissão através do Canal da Mancha. A teoria de que as ondas eletromagnéticas poderiam propagar-se no espaço, (James Clerk Maxwell e comprovada por Heinrich Hertz, 1888), foi utilizada por Marconi entre 1894 e 1895. Em 1894, contando apenas vinte anos, transformou o celeiro de sua casa em laboratório e estudou os princípios elementares da transmissão radiotelegráfica: bateria para fornecer eletricidade, bobina de indução para aumentar a força, faísca elétrica emitida entre duas bolas de metal, gerando oscilação; um Coesor, como inventado por Édouard Branly, situado a alguns metros de distância que, ao ser atingido pelas ondas, acionava uma bateria e fazia uma campainha tocar.
1896 e está na Inglaterra, após constatar que não havia interesse por suas experiências na Itália. Em 1899 é bem sucedido na transmissão sem fios do código Morse através do Canal da Mancha. Dois anos após consegue que sinais radiotelegráficos (letra S do código Morse) emitidos de Inglaterra, fossem ouvidos claramente em St. John's (Terra Nova, hoje no Canadá), cruzando o Atlântico Norte. Faz, então, descobertas básicas na técnica rádio.
Em 1909, 1700 pessoas salvam-se de naufrágio graças ao sistema de radiotelegrafia Marconi. Em 1912 a companhia Marconi produzia aparelhos de rádio em larga escala, especialmente para navios. Em 1915, durante e após da Primeira Guerra Mundial assumiu várias missões diplomáticas pela Itália; em 1919 é delegado italiano na Conferência de Paz em Paris.
Em 1920, parte para sua primeira viagem no Elettra, navio de 61 metros, comprado e equipado para ser seu lar e laboratório no estudo de ondas curtas. Além da família, as cabines do Elettra recebiam visitas ilustres, como os reis da Itália, da Espanha e Jorge V e sua rainha Mary of Tech.
A RÁDIO MARCONI. A ANDORINHA MENSAGEIRA
Em 10.2.1951 Monsenhor funda a Rádio Marconi, a Rádio Difusora de Urussanga Ltda., que em 19.10.1951 obteve permissão para operar. Logo vem a Andorinha Mensageira, programa mais longevo do rádio catarinense. Hoje são 72 anos no ar. Nos domingos, Rosa Miotello, desde 1975, responde pelo programa de rádio e pelo Paraíso da Criança.
MONSENHOR, O ESCRITOR
Escreveu vários livros. O Catequista Ideal é de 1955, ano em que foi nomeado Diretor de Ensino da Arquidiocese de Florianópolis. Escreveu entre outros livros História de Urussanga (1990), Imigração Italiana (1977), Magnólia Branca (1978), Agricultor em Marcha (1980), Magos (1980), Abelha Maravilha (1993), Clarice em branco, Clarice em preto (2005). Desde 1977 Magnólia Branca é a flor oficial de Urussanga. Bandeira, brasão, e hino Urussanguense são de sua autoria. Segundo Maestrelli, POLÍTICA, no entendimento de Monsenhor, seria o único caminho para realizar as coisas.
Monsenhor escreveu os hinos de Urussanga, Jaguaruna, Morro da Fumaça, Grão-Pará, Cocal do Sul, Timbé do Sul. Também o Hino do Imigrante e o Hino da Agricultura com o qual ganhou concurso nacional. É autor, do Hino da Agricultura de SC. Ampliou o perímetro urbano de Urussanga, participou de vários grupos de intelectuais como a Academia Internacional dos Poetas, Academia Urussanguense de Letras, Academia São José de Letras. Criou em 1988 o Museu de História Municipal de Urussanga. Esteve nas origens do Jornal Vanguarda, mesmo nome do primeiro jornal fundado na cidade.
A SAGA OFTALMOLÓGICA DE AGENOR NEVES MMARQUES
Em 03.3.1960, quando o futuro Monsenhor contava 45 anos, procurou-me ele para troca de lentes. Era míope. Tinha 2 graus de miopia no olho direito (OD) e 1,75 no olho esquerdo (OE). Receitei-lhe lentes bifocais, trocadas depois em 21.6.1965. Voltou em 15.4.1975, com 60 anos de idade. Posteriormente esteve em meu consultório em 25.8.1980, 10.3.1981, 26.11.1984 (70 anos), desta última vez com queixa de nuvem no OD. Tinha crises de bronquite asmática e tomou cortisona por longos anos. Sabia ser diabético e para esta moléstia estava medicado. Tinha catarata em ambos os olhos, mais densa no OD. Sua pressão intraocular era 14 nos dois olhos (AO). Entre outros medicamentos tomava Diabinese e Meticorten. A visão era 0,1 no olho direito e 0,4 no olho esquerdo com uso de lentes de grau. Em 3.4.1987 operei seu OD de catarata, implantando-lhe lente intraocular (MODIFIED J: BLUE FLEXFIT 10 Degrees 13.50mm Power: 17.00 Ster.Exp:91/07/01 N0.17.00 071782 J 07 5812). Em 01.11.1989 teve hemorragia intraocular pelo diabetes. Depois, operei sua catarata do OE com implante de lente intraocular (12.12.1989) com bom resultado visual. A lente era IOLAB de 16.0 dioptrias Nº de controle 26E07 - 085 Em 02.7.1991 teve hemorragia no branco do olho (conjuntival) quando indiquei procedimento cirúrgico ocular no OD, uma capsulotomia posterior. Em 26.8.1993 queixava-se de ver as imagens em diplopia (visão dupla), tinha paralisia de músculo do olho, pelo diabetes. Em 26.08.1993 atendi-o pela última vez. Monsenhor Agenor Neves Marques faleceu em 31.8.2006, aos 91 anos de idade e 66 de sacerdócio. Foi sepultado no Cemitério Municipal de Urussanga. Já Natalino Neves Marques, pai de Monsenhor e surdo, operei de catarata em 8.2.1979, OE, aos 94 anos de idade. Seu último exame foi em 26.11.1984, estava bem, tinha catarata madura no OE, pressão intraocular normal, 14/14.
O FINAL
Também tem a história dos 4 sinos de Bassano para a igreja matriz de Urussanga de 1904, mas esse relato já se alonga em demasia e vamos deixar esse restante para outra ocasião.
O Aeroclube Albatroz possui 3 hangares, oferece oficina homologada para aeronaves experimentais e serviços de hangar. Waldir avisou: vamos descer e pousar! E foi o que fez, com grande perícia. Mal descemos, um empresário de sobrenome Raupp correu ao nosso encontro indagando como chegáramos a pousar ali. Não havia teto que possibilitasse a proeza!
Raupp, ao saber do que se tratava, orientou-nos sobre como chegar a Porto Alegre. As instruções eram todas de caráter visual, portanto o valente avião não poderia elevar-se, tornando a viagem bastante desconfortável. Mas, assim, chegamos a Porto Alegre, onde uma ambulância nos esperava. Levados à Santa Casa, fomos atendidos pelo Dr. Paglioli. Ele examinou o paciente e ao final do exame declarou que à primeira vista ele estava bem, que nada tinha. Pedi-lhe que visse seu fundo de olho. Foi o que fez e, sem nada dizer, ele mesmo empurrou maca e doente com rapidez para o centro cirúrgico. Lá, foi submetido a cirurgia para remoção de grande coágulo e contenção da hemorragia cerebral. Ele se restabeleceu, sem sequelas.
VOLTANDO À VACA FRIA. O JOVEM EM ASFIXIA POR SEMENTE DE MELANCIA
Dois médicos atendiam e tinham residência em Urussanga na era de ouro de Padre Agenor e Varelinha. Eram eles Aldo Caruso Mac Donald (o mais antigo) e Raul do Nascimento Athayde da Rosa. Este sempre foi grande amigo meu, também formado em Curitiba na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná. Raul formou-se em 1956. Ele foi colega de Edmundo Castilho, o fundador da Unimed no Brasil. De José Ramos May, irmão do Juiz em Criciúma, Francisco May Filho e depois desembargador em Florianópolis, Joubert Barros de Almeida (ORL em Lages), Luiz Fernando Bittencourt Beltrão (ORL em Joaçaba), o grande Kit Abdalla (brilhou intensamente no oeste do Paraná), Octávio Bessa Júnior (da Laguna, teve notável carreira em cl& iacute;nica médica nos EUA), Paulo Dias Fernandes (Pablo Diaz Hernandes, contemporâneo meu em Santa Maria, RS; poeta, escritor e ORL radicado em Erechim), Thomaz Reis Mello (cirurgião, trabalhou sempre no Hospital São José de Criciúma, João Conrado Leal (anestesista do hospital São João Batista em Criciúma), Klaus Wolffenb:uttel (foi casado, por alguns meses, com nossa colega da turma 1959, Ayesha Batista), Francisco Ernesto Saboia (médico em Sombrio, SC, e já aposentado, plantonista no Hospital Regional São José), Doral Bomfim (ortopedista, professor de ortopedia).
Nas décadas de 1960 e 1970, quando o pároco de Urussanga era Padre Agenor Neves Marques e Minervina Bez Batti Simões tornara-se a primeira mulher a administrar o hospital mostrando coragem e determinação, o hospital de Urussanga ganhou grande reforma e ampliação. Novos equipamentos foram adquiridos e inaugurados novo centro cirúrgico, nova maternidade e nova pediatria.
MAIS UM RETORNO À VACA FRIA
Solicitado, Varelinha não titubeou: reúne os irmãos José e Aurélio Trento e Padre Agenor Neves Marques, inseparáveis amigos, para que iluminassem o irregular potreiro do Meneghel. Três automóveis seguiram para lá e se postaram estrategicamente em ambas as cabeceiras da improvisada pista. Varella e o arquejante menino ocupavam os dois únicos assentos do pequeno Paulistinha. Noite fechada. Ar pesado. Expectativa. Apreensão. Olhares preocupados. Contrariando tudo isso, ali estava o Rutinha, focinho ligeiramente empinado, ar arrogante, aguardando orgulhoso e impassível sua missão. Acionado o start, facho de fumaça-rica explodiu luminoso, expelido pelos escapamentos laterais. Sorte lançada: destino final: São Paulo. Sem iluminação alguma a não ser a tênue luz do painel a aeronave alçou voo e sumiu na densa escuridão.
Na lembrança dos que presenciaram a subida, ficou, por alguns minutos, o roncar firme exibindo a saúde do confiável motor Continental que equipava o valente PP-RUT, o Rutinha, como era chamado. Claro é que, ao invés de uma vida, a partir daquele momento extremo, vidas estavam em jogo com pequeno percentual de chance de sobrevivência para ambas. Nada difícil avaliar a gravidade do momento, daí a apreensão dos que ficaram, especialmente pelo que Varelinha representava. Na escuridão que se seguiu logo após a decolagem houve quem comentasse, a título de consolo, que, se o pior viesse a acontecer, Varella se despediria do mundo certamente como mais almejava: empunhando o manche de seu avião. Varella era mais que um simples piloto: era um mito da aviação civil no in terior do Brasil. Seu nome era uma lenda viva, tanto como aviador como magistrado. Era o Juiz alado. Tomou a rota marítima, guiado pelas constelações e eventuais cidades litorâneas que conhecia detalhadamente, até pelos escassos luminosos de néon que eventualmente possuíssem. Para abastecimento, programou o primeiro pouso em Florianópolis, onde não teve problemas devido à quase total ausência de fiscalização das autoridades aeroviárias naquela hora da noite. Abastecido, logo decola. Em Curitiba, após enfrentar violenta turbulência, comum na região do Vale do Itajaí, oficiais da aeronáutica civil já o aguardavam, alertados posteriormente à decolagem de Florianópolis, por alguém que não entendera o que acontecia e denunciara o piloto, via rádio. Ao descer no aeroporto Afonso Pena, em cujas proximidades, ano 1958, mo rreriam, Nereu Ramos, Leoberto Leal, Jorge Lacerda e Sidney Nocetti (quando da queda de um Convair 440 da Cruzeiro do Sul), Varella foi interceptado e ameaçado de detenção e de apresamento da aeronave. Identificou-se como juiz, o que de pouco adiantou. Então, implorou que lhe concedessem a oportunidade de salvar aquela vida. A vida de um adolescente que merecia viver e estava às portas da morte, no interior do avião. Um oficial checou a exígua cabina do Rutinha e a veracidade do que se dizia, permitindo a decolagem. Novos perigos na rota seguinte, em face de irregularidade geográfica do terreno que propiciava mais e violentas turbulências. Na noite cerrada, Varella sobrepujou a todos os percalços.
Quase manhã, pousava, ainda clandestinamente, no movimentado aeroporto de SP. De novo problemas com o controle de pousos e decolagens. Afinal, um penetra furara o movimentado espaço aéreo e burlara a lei, arriscando-se em meio a dezenas de aviões de carreira! Vem a ambulância e Varella passa as necessárias instruções aos paramédicos. O paciente, no centro cirúrgico hospitalar, passará por procedimento médico destinado à remoção de corpo estranho brônquico. Varella, então, oferece as duas mãos para ser algemado e preso. Estendeu a chave de partida de seu avião. Voz embargada, teria dito: “Agora sim - prendam-me! Façam-no em nome da Lei”.
AGILMAR MACHADO ASSIM CONCLUI A NARRATIVA
Autoridades aeroportuárias, no episódio noturno, haviam passado à imprensa, informação de pequeno avião vindo clandestinamente do sul, pretendendo chegar a SP. À chegada de Varella, a imprensa invade o aeroporto. Sabendo dos motivos que o levaram àquela temerária aventura, tudo muda: a partir daquele momento, estava escrita, no honroso currículo de Newton Varella, uma das mais emocionantes histórias da vida de um piloto particular, de um homem de bem. Talvez o mais comovente registro da epopeia da longa trajetória de heroicos feitos da aviação civil deste país.
Esta singela homenagem tributada à figura de Newton Varella, é dedicada aos seus familiares, às memórias de João Pacheco dos Reis, o Pachequinho, Valdir Neves, Nelinho, Dego Orige, Aurélio, e José Trento; à sensibilidade do Monsenhor Agenor Neves Marques, a Adamastor Rocha, amigos inseparáveis de Varelinha, e, de forma especial ao Desembargador Newton Varela Filho e ao major paraquedista, Clavius Varella, irmão de Newton. A história da aviação civil, precursora no sul catarinense, registrará duas fases referenciais distintas. Tudo que se relaciona à aviação no sul, será ilegítimo se não se tomar como parâmetros básicos, dois únicos períodos: o que antecedeu e o que sucedeu à empolgante traje tória de Newton Varella.
Seus exemplos na arrojada forma de voar, no total desprendimento e na sempre presente solidariedade humana, são marcantes. Pena é que nossa memória em geral não busque guardar exemplos grandiosos como este e de tantos outros heróis, anônimos ou não, que passaram pela vida legando-nos assinalados e sábios ensinamentos! É pena...
Nossos respeitos, velho pintacuda e nobre Monsenhor, onde estiverem, sobrevoando ou não a imensidão do agora perene céu de brigadeiro. Lembremos do passado e nos certifiquemos, através deles e seus legados, do que é capaz a ousadia, a determinação e o amor por nossa terra. Ao Padre Agenor e ao Juiz Varella, nossa homenagem e respeito.
MONSENHOR AGENOR NEVES MARQUES: MEU CLIENTE
Natural da Palhoça, como o governador Ivo Silveira, de quem era amigo. Sagrado padre em 29.12.1940, Tijucas/SC. Em 29.9.1947 está em Urussanga onde permanece até 2006 aos 91, quando morre. Pároco entre 1948 a 1987. Segundo Maestrelli (2019) era dono de oratória infernal, de improviso. Sacerdote-escritor, agricultor, aviador, acadêmico, padre, pai, pesquisador, poliglota, político, poeta, motoqueiro, radialista, rotariano, soldado, sociólogo, orador, escritor, pediatra, historiador, sacerdote, escritor (20).
Em 1942 fundou a Casa da Criança de Criciúma, hoje Colégio São Bento. Já em Urussanga funda o Paraíso da Criança entregue às Irmãs Beneditinas e com capacidade para abrigar até 150 crianças. Funcionou 55 anos, sendo hoje Casa de Passagem. Para manter essa instituição criou organismos como a Sociedade das Damas de Caridade, a Gráfica Paraíso, a Malharia – todas com objetivo de arrecadar fundos destinados àquela iniciativa.
Em 1951 fundou a Rádio Marconi, a voz de veludo (de tecido aveludado) ou a voz dos vinhedos, que, durante um ano funcionou na Igreja Matriz! Marconi, para homenagear o físico e inventor italiano Guglielmo Marconi (Bolonha, 25.4.1874-Roma, 20.7.1937).
Segundo Maestrelli o programa de rádio de Monsenhor teria o pretensioso nome de microfone de Deus, depois trocado para Andorinha Mensageira.Com a morte de Monsenhor, Rosa Miotello assumiu o programa que acontece todos os domingos e quando ele ocorria, desde 2.4.1975. O bispo da diocese compreendida na paróquia de Urussanga, não poucas querelas teve com Monsenhor. Era Dom Anselmo Pietrula e considerava ser sacrilégio expandir a palavra de Deus para fora da Igreja.
Juiz em várias comarcas do sul catarinense, por onde passou Newton Varella manifestava especial apreço à aviação civil. Muito piloto obteve brevê graças à orientação e ensinamentos de Varelinha. Dentre muitos, pode-se citar: José Francioni de Freitas (o Dite), Adamastor Rocha, Waldir Neves, Frederico (Lila) Casagrande (Criciúma), Omero Clezar, Manoel Salvato (Nelinho), Edgar Orige (Araranguá), José e Aurélio Trento (Urussanga). Prestaram eles significativos serviços à comunidade, com seus pequenos monomotores.
José Trento foi continuador da obra de Varella na região de Urussanga por volta de 1953, quando o juiz deixou aquela Comarca.
Varella ministrava aulas de pilotagem num improvisado campo de pouso em propriedade de Estação Cocal. Na verdade o campo de pouso era pastagem cedida pela família Meneghel, onde, antes de cada procedimento de pouso-decolagem, cumpria ao piloto ou aspirante a, espantar o gado para um só lado do gramado, deixando livre o trilho já definido pelos pneumáticos dos muitos paulistinhas que ali operavam. Quando em terra, taxiava-se pelo pasto para repontar os bichos; se no ar, os rasantes eram a forma de fazê-lo. Com a transferência de Newton e, consequentemente, do eficiente e sempre disponível Rutinha, o modesto aeroclube de Urussanga recebe aparelho que estivera a serviço de instrução em Itajaí. Estava no aro!
Graças aos conhecimentos mecânicos de José e Aurélio Trento, esse potencial gerador de panes foi todo reformado, não sem antes terem alguns destemidos nele voarem, da forma que chegou: motor baleado, fuselagem remendada com adesivos, circuito elétrico comprometido e sistema de combustão deficiente; alguns pontos dos condutos exibiam mechas, usadas para sanar vazamentos. A boia do reservatório de combustível não funcionava. Qualquer varinha servia para medir a gasolina e certificar-se de que havia reserva suficiente para alguns minutos no ar.
Varella era natural de Laguna. Ao se aposentar, estagiou por período considerável como observador brasileiro junto à NASA. Depois de cair 28 vezes, ele, como José Trento, vieram a falecer em acidentes rodoviários... Ironia do destino!
HONRA AO MÉRITO
A Standard Oil do Brasil (ESSO), conhecida multinacional de petróleo e derivados, por anos manteve nas rádios Farroupilha (POA), Tupi (SP), Nacional (RJ), e algumas poucas outras o famoso noticiário Repórter Esso. Herón Domingues, gaúcho de São Gabriel, foi o mais correto apresentador do impecável noticioso de 5 minutos, na Rádio Nacional, além de ter chegado à direção da privilegiada emissora estatal com a saída de Vitor Costa. A ele foi confiado quadro-homenagem do conceituado patrocinador (ESSO), que constituía na outorga periódica de medalhas de ouro de Honra ao Mérito a brasileiros que se destacassem. Foram poucos os aquinhoados com tal distinção pela minu ciosa pesquisa e acuradas análises procedidas aos aspirantes à honraria pela rígida comissão de julgamento.
Newton Varella foi um destaque e talvez, entre os agraciados, o mais citado, especialmente pelo feito que o levou a ser selecionado para a honraria. Mereceu grande destaque no RJ na festa de entrega, frente a autoridades nacionais. Na época, operações aéreas noturnas nessa região simplesmente inexistiam, pela carência de segurança nos campos de pouso, pela precariedade dos próprios equipamentos de voo. O teco-teco, como era conhecido o popular monomotor paulistinha, possuía apenas manche, cabo de aceleração, altímetro e controle de combustível por gravidade. O tanque ficava localizado exatamente à frente do para-brisa, no nariz do avião, com uma boia de cortiça na parte interna do reservat ório, ligada por filete de aço à parte superior externa. Na extremidade superior uma bolinha vermelha (como boia de pesca), marcava a disponibilidade de combustível, na base do olhômetro... Com equipamento dessa categoria, seria humanamente impossível procedimentos de subida ou descida em qualquer aeroporto, durante a noite. Mas, não para Varella, que nunca acreditou no impossível, enquanto pilotava seu avião. De todas as 28 vezes que veio ao solo em queda livre, somente um osso de costela quebrado foi o saldo dos acidentes sofridos. Ria-se, contando até episódios de suas quedas! Ele não soube somente voar; foi exímio também no cair... Aos discípulos prevenia nas informais aulas teóricas e mesmo em voo: “em caso de pane irreversível, quando a última esperança se anunciar, abra a sanefa e caia fora, faça de conta que voc& ecirc; é composto somente de cabeça e espinha dorsal: proteja essas duas partes da carcaça. O resto deixa quebrar que tem funilaria lá em baixo prá remendar.” Sanefa é a larga faixa de tecido ou madeira que reveste a parte superior de uma cortina.
SOLIDARIEDADE HUMANA
Quando ainda em Urussanga, certa noite, Varella teria sido acordado por mãe aflita, o filho com a traqueia obstruída por semente de melancia. Estaria à beira da morte por asfixia. Não havia na região toda recursos médicos para remoção deste corpo estranho. A alternativa era levar o paciente para Porto Alegre, Curitiba ou São Paulo. Mas, tempo disponível exíguo, cada minuto precioso, daí, a dificuldade em entender o porquê da escolha da distante São Paulo para atendimento àquele problema médico. Porto Alegre, bem mais próxima, tinha recursos para resolver a grave e urgente situação.
GRAVE E SIMILAR CONDIÇÃO, DESTA VEZ EM CRICIÚMA
Lembra-me aqui que passei por problema semelhante no início dos anos 60, quando cheguei a Criciúma. Era um dia de comemoração. Mineiros da Próspera festejavam data com muito churrasco e cerveja. Alguns se excederam no uso de álcool e foi quando um capataz da mineração, foi empurrado e, caindo, teve grave lesão craneana. Não havia, ainda, neurologista ou neurocirurgião na cidade e nem em Florianópolis. Nesta última cidade, em breve, chegaria o neurocirurgião Dr. Livínio Godoi, meu calouro na Faculdade Federal de Medicina de Curitiba, PR, da turma 1960.
Fui chamado para atender o paciente à falta de especialistas na área em Criciúma e arredores. Externamente o paciente não tinha qualquer lesão, mas sua conduta era muito suspeita. Tinha embriagues e estava desacordado, sendo necessário sacudi-lo com energia para que respondesse a estímulos e mesmo a perguntas. Fiz-lhe exame de fundo de olho e assustei-me com o resultado, o acidentado exibia edema de papila, sinal de hipertensão intracraniana e portanto suspeição de hemorragia cerebral. O paciente tinha vômitos. Indiquei que fosse removido para serviço de Neurocirurgia com a máxima urgência. O avião disponível na cidade era pilotado por Waldir Neves, piloto treinado por Newton Varella. O avi& atilde;o dispunha de dois assentos na frente para Waldir e para mim. Atrás, na cabine, grosso fragmento de madeira na qual viajariam precariamente o acidentado e seu jovem irmão. O pequeno avião dispunha de um localizador bem rudimentar. Acionado, uma seta indicava de onde vinham os sons emitidos pela emissora. Assim, sabíamos onde estávamos. O tempo estava encoberto e não víamos nada, apenas nuvens. A certa altura Waldir disse que estávamos sobre Osório. Tratei de encolher as pernas lembrando dos altos morros que circundavam a cidade. Osório sediava o Aeroclube de Planadores Albatroz. Osório está a 100 km de Porto Alegre.
Saindo dos estúdios da Rádio Som Maior de Criciúma, sexta-feira, 25 de agosto de 2023, encontro o jornalista Rafael Niero que ouvira minha entrevista, recém-concedida a José Adelor Lessa sobre Monsenhor Agenor Neves Marques e Newton Varella, juiz da Comarca de Urussanga.
Niero tem um filme de 20 minutos focando Monsenhor, além de fantásticas histórias sobre esse notável personagem. Numa delas, senhora da cidade corre à sacristia onde Monsenhor se encontrava. Trazia ela seu cão de guarda, única companhia que lhe restara na viuvez. O cão estava imóvel em seus braços, parecendo sem vida. Ela viera em busca de uma oração, uma benção para o pobre animal. Padre Agenor murmurou breve oração, finda a qual o cão despertou de seu sono, voando feito um raio para a rua.
POSTADO POR JORNAL NOSSO TEMPO - NEWTON VARELLA. Ícaro do Sul (Baseado em trabalhos de Márcia Marques Costa e de Agilmar Machado, da Academia Criciumense de Letras, patrono e ocupante Cadeira n.21. Revista Acadêmica II. 21.8.2008).
PADRE e JUIZ ALADOS BENZEM URUSSANGA e JOGAM FLORES para o POVO
Para escrever sobre os causos e histórias em que Monsenhor se envolveu durante os mais de 60 anos que residiu na Benedetta Urussanga, páginas – muitíssimas páginas - seriam insuficientes para relatar tudo o que este homem vivenciou. Monsenhor é título honorífico, honraria papal, concedida em 1963, sendo Papas João 23 e Paulo 6º. AGENOR NEVES MARQUES, Padre Agenor, nasceu na Palhoça (SC), grande Florianópolis, 10.10.1914. Bom orador sacro, radialista, escritor, poeta, compositor, um apaixonado pela apicultura. Sua ordenação sacerdo tal ocorreu em 29.12.1940. Faleceu em Urussanga, 2006.
Deu extrema unção a duas pessoas da mesma família entre o início e o fim de uma refeição, esqueceu horário de um casamento e fez os noivos esperarem na frente da igreja e até se vestiu de mulher e colocou peruca com cabelos loiros para fazer campanha política e ludibriar seus opositores. Assim foi Agenor Neves Marques, Nevinho para os familiares, Padre Agenor para a multidão de admiradores, Monsenhor Camareiro do Vaticano para aqueles que se orgulhavam da sua influência na Roma papal e Nonô para aqueles que tencionavam diminuir-lhe as qualidades.
A MORTE DE APERITIVO E DE SOBREMESA
Se hoje é difícil achar um padre para rezar missa de corpo presente e as famílias acabam aceitando mensagem e orações na capela do cemitério, o pré-sepultamento, outrora, era bem diferente. Quisesse ser respeitado e querido por sua comunidade, precisava o Padre estar disponível o tempo todo. Sem horário pré-estabelecido e sem férias.
Assim foi com o Padre Agenor quando pároco em Urussanga, onde as famílias costumavam chamar o sacerdote para dar extrema unção aos seus entes queridos. Único horário respeitado era das 12h às 14h, quando a Casa Paroquial cerrava portas para que Padre Agenor descansasse de uma jornada que iniciava às 5h e normalmente se estendia até 22h ou 23h. Dia normal, o almoço era servido por volta das 11h30min.
Em dia bastante frio e úmido de inverno da Benedetta, Padre Agenor, sentara-se ao lado de mãe Otília para mais um almoço, a comida mantida aquecida no fogão a lenha, o belo prato fazendo jus ao gosto familiar pelas boas comidas. Após duas garfadas, eis que surge cidadão desesperado, pedindo que o Padre fosse até sua residência, próxima da Casa Paroquial, para uma extrema unção. Monsenhor se levanta rapidamente e chega a tempo de perdoar os pecados do enfermo que, assim, poderia passar com menos angústia para o outro plano. Confortados os familiares, Padre Agenor retorna para casa e, ainda abalado pela morte do urussanguense de quem era amigo, afinal consegue almoçar. Já deitado para a sesta, volta o mensageiro da morte, chamando-o para conceder outra extrema unção.
Padre Agenor levanta, veste a batina, apanha água benta e demais apetrechos necessários. Assusta-se ao saber que era outra extrema unção no mesmo endereço. Desgraça! Pelo choque e pela tristeza de perder o marido, a esposa acabou enfartando e também morre. Triste história, reveladora do espírito altruísta de quem dirigia a igreja católica na urbe.
Os VOADORES. O JUIZ ALADO
Grande amizade unia o Padre e o Juiz da Comarca, Newton Varella (Varelinha), também piloto de teco-teco. Nascido em fevereiro de 1919, aprendeu pilotagem de teco-tecos no RJ, março de 1938 e entre seus inúmeros feitos consta voo passando por baixo da ponte Nereu Ramos em Tubarão para ganhar uma aposta. O juiz era proprietário de monomotor, que utilizava como entretenimento e também para apoio em emergências como levar doentes graves para centros maiores ou auxílio em catástrofes.
Em registros de 6.12.1949, Padre Agenor conta que, na semana da festa da Nossa Sra. da Imaculada Conceição, padroeira da cidade, ele e o Juiz percorreram todos os recantos do município de Urussanga para benzer as residências de 2.326 famílias. Utilizaram, para isso, 9 litros de água benta. Moradores deveriam estender frente à casa, lençol branco com uma cruz de flores. Previamente, Padre Agenor anunciava pela Rádio Marconi (que ele criara), quando ocorreria o fato e como merecer esta bênção da Igreja em cerimônia apropriada.
Na época, Urussanga englobava os municípios de Morro da Fumaça, Cocal do Sul, Siderópolis e Treviso. E foi em Treviso que ambos conheceram a fragilidade humana, mesmo com os poderes que lhes haviam sido delegados pela fé e pela justiça. Padre Agenor diz que caíram, “mas sem graves consequências”. Certo, os danos devem ter sido poucos, pois dois dias depois, 8.12.1949, enquanto a população homenageava sua padroeira, o juiz Newton Varella, missa finalizada, jogou flores sobre a cidade.
Padre Agenor trilhava pelos recantos do município; ele andou 4 horas a cavalo, 6 horas de moto e percorreu 30 mil quilômetros com seu automóvel. Com o amigo Varella, fez 7 horas e 30 minutos de voo no PP/RUT. Foi e será a única vez na História da Benedetta que um juiz e um padre católico benzeram e jogaram flores de monomotor.
Newton Varella que ficou conhecido como juiz alado por dividir a judicatura com a aviação, dá nome ao Fórum de Garopaba. O mais famoso avião particular do sul catarinense nas décadas de 50/60, pertencia a Newton Varella, o Varelinha, então Juiz de Direito em Urussanga. Exímio piloto e instrutor de pilotagem aérea, o prefixo PP/RUT era homenagem à esposa do magistrado. Ela, certamente, vivia com o rosário nas mãos pedindo a proteção celestial para o marido que, junto com o Padre da cidade, gostava de dar voos rasantes junto aos ciprestes da Anita Garibaldi.
(Fim da primeira parte. Continua próxima semana)
Imagino que o que vem a seguir é de minha autoria; se não é inteiramente escrita por mim, grande parte é. O artigo estava entre meus guardados e acabou sendo resgatado por meu filho Bruno, engenheiro civil e filósofo clínico que, em boa hora, foi dar uma espiada na salinha que denomino pomposamente de biblioteca e encontrou o artigo.
O que vem escrito é uma singela homenagem ao Padre PAULO PETRUZZELLI, italiano nascido em Cassano Murge, em 5.1.1920. Ingressou no Seminário Rogacionista aos 13 anos. Sagrou-se sacerdote em Roma, 19.7.1947 e dedicou seus primeiros anos de sacerdócio aos meninos órfãos de Messina, Sicília. Chegou ao Brasil em 1º.8.1951 iniciando seu apostolado em Bauru (SP), onde dirigiu a CASA DO GAROTO, confiada pela prefeitura local à Congregação Rogacionista. Transferido para Criciúma aqui chega em 24.5.1954 na condição de DIRETOR DO BAIRRO DA JUVENTUDE, cargo que ocupou por dez anos. Ao lado do Bairro construiu Igreja Paroquial dedicada a Nossa Senhora das Graças, construindo também o Seminário Rogacionista Pio XII. Frequentava o sacrossanto CAFÉ SÃO PAULO, tomando placidamente seu cafezinho numa das mesas, cercado de amigos e admiradores. Às vezes aceitava um cigarro, depois largado displicentemente no pires. Era uma figura fantástica, notável, atraindo todos os olhares e todos os ouvidos. Queixa frequente na época era a rigidez de outra grande expressão da Igreja católica entre nós, o PADRE ESTANISLAU CIZESKI. Em se tratando de casamento, não abria mão: só aceitava casar católicos, exigência essa estendida às testemunhas. O jeito era casar lá no Pinheirinho com Padre Paulo.
- Padre Estanislau não quer casar sua filha na Igreja Matriz São José porque você é maçon, comunista e ateu?
- Leva lá na minha igreja que eu caso. Uma das testemunhas é muçulmana? Não faz mal, leva lá que eu caso. É tudo filho de Deus!
O bom padre Manoel lá na Igreja da Próspera tinha a mesma postura.
Padre Paulo Petruzzelli sai de Criciúma e retorna a Bauru onde trabalha por mais 2 anos.
Eleito Conselheiro Geral da Congregação Rogacionista volta a Roma, onde permanece por 6 anos. Terminado seu mandato, vem a Criciúma na qualidade de Pároco da Paróquia de Nossa Senhora das Graças. A 26.6.1981 viaja aos EUA como Representante da Missão Rogacionista na América do Norte. Foi sucedido em Criciúma pelo Padre Mário Labarbutta. Padre Paulo Petruzzelli faleceu em Sanger, Condado de Fresno, Califórnia, EUA, em 31.3.1985.
A INFLUÊNCIA DA TOLERÂNCIA ou NÃO HÁ O QUE NÃO HAJA
O ensino da teoria da evolução nas escolas dos EUA sempre foi assunto tratado com a máxima discrição. Darwin, estudado numa escola secundária do interior naquele país, dava cadeia no filme O VENTO SERÁ TUA HERANÇA, dirigido por Stanley Krammer com dois dos maiores atores cinematográficos de todos os tempos: Spencer Tracy e Frederich March. Alguém aí lembra deles? Em 1925 o filme mostra criacionistas opondo-se à teoria da evolução porque esta contradizia a interpretação literal bíblica do Gênesis. Professores de Ciência faziam insinuações sobre a inexistência de Deus e alguns acreditavam na teoria de um projetista inteligente que explicava o sentido da evolução.
Seria possível demonstrar haver sentido no mundo ou que exista por trás de tudo um projetista inteligente? Também não é possível mostrar a inexistência de Deus.
Hoje, a polêmica está limitada a alguns estados norte-americanos mais conservadores. No resto do país e quase no mundo inteiro que vale a pena, religião e ciência são campos paralelos que fazem perguntas e oferecem respostas a problemas que são diferentes e não em oposição.
Os EUA são uma federação de seitas, etnias e raças fundamentalistas. Democracia e liberdade de expressão resultam de um equilíbrio tenso entre grupos igualmente poderosos com princípios rígidos e inegociáveis. Daí os americanos serem adeptos do Pragmatismo ou do Relativismo, únicas orientações possíveis num país congestionado de verdades irreconciliáveis onde não há espaço para a mentira, motivo para levar o presidente Nixon ao impeachment ou condenar alguém na Corte. A tolerância (do latim tolerare, suportar), é necessária entre ideias que não são apenas diferentes, mas contraditórias. Evolucionismo e Religião são temas diferentes que se opõem apenas quando discutem a existência de Deus, que não é tema da ciência. Religiosos e Cientistas são indiferentes uns aos outros. Já o convívio entre judeus, cristãos e muçulmanos demanda enorme tolerância. Disputam o amor do mesmo Deus, discordam sobre o verdadeiro Messias, usam o mesmo Livro.
Jerusalém, cidade do Templo de Salomão em que Jesus foi crucificado e Maomé subiu aos céus é o centro da discórdia. Acho que todos ainda lembram das charges sobre Maomé na imprensa dinamarquesa que geraram protestos e mortes. Na França foi necessário criar lei para criminalizar a negação do holocausto. A liberdade de expressão levada ao limite constitui ameaça à liberdade de expressão. No Brasil, a tolerância expressa-se em nosso sincretismo religioso que coloca mães de santo e de terreiros dos rituais afros do candomblé na missa das oito. Brancos e até um presidente branco brasileiro dizem ter um pé na senzala. Árabes e judeus falam o mesmo dialeto varejista e até casam entre si. Somos pragmáticos, não convivemos com verdades ´rígidas. Seríamos um país admirável se tanta tolerância não fosse apenas fruto de indiferença.
A verdade verde-amarela, mais flexível, convive bem com contradições, exceto no campo belicoso das paixões clubistas.
Um ano após a criação da FIESC é criada unidade regional do SESI em SC, dirigida por Celso Ramos (6.12.1951). No primeiro ano fundou 11 escritórios do SESI no estado. Em Criciúma, havia 14 postos para assistência alimentar. Preferência popular era por produtos enlatados. Preços eram elevados para o bolso da classe operária que ganhava salário de Cr$ 360,00 mensais. (Lata de azeite: 49,40; Leite Ninho: 42,00; Talco 7,20; creolina 11,40. Essa compra equivalia a 1/3 do salário. Boa Nova reprova grande quantidade de conservas e doces enlatados nas lojas do SESI.
SATC, 1959
No âmbito da assistência médico-social às famílias mineiras, foi fundada em 1959 a SATC, com duas vertentes: 1. Filhos e filhas dos mineiros tinham escola sem qualquer ônus; escola industrial masculina com oficina de mecânica geral, marcenaria, fundição e eletricidade. 2. Escola profissionalizante feminina. A administração caberia aos Irmãos Maristas.
A distribuição de recursos da CEPCAN contempla a Casa da Criança (Colégio São Bento) com 110 mil cruzeiros, a SCAN (Sociedade Criciumense de Auxílio aos Necessitados) com 475 mil, o HSJ com 85 mil. Era Diretor-Executivo do órgão na época o Cel. Osvaldo Pinto da Veiga.
CEPCAN EM CRICIÚMA
Em 1961 o CEPCAN (Conselho do Plano do Carvão Nacional) é transferido do RJ para Criciúma. Seus recursos destinavam-se a Implantar e modernizar a indústria carbonífera e para assistência médico-social às famílias ligadas ao setor carbonífero, para construir hospitais, postos de puericultura, escolas profissionalizantes, moradias operárias, instituições de amparo à velhice e infância (o Bairro da Juventude, SCAN, sugestão do Rotary de Criciúma em 1949). O CEPCAN em Criciúma lutava por um tripé: amparo à moradia, saúde, educação.
Nos últimos dias do verão de 1954, quando eu iniciava meu curso de Medicina em Curitiba, chegavam pelo trem de Imbituba três religiosas da Congregação das Pequenas Irmãs da Divina Providência. Vão habitar casa no Rio Maina, no centro de grande número de Vilas Operárias e de mineração. A Carbonífera Próspera, o SESI-SC e as Pequenas Irmãs da Divina Providência estabeleceram relações de trabalho (1955-1964) para difusão de bons hábitos de higiene. As Irmãs chegam na Próspera em 25.1.1955. Com elas, a jovem religiosa Cláudia Freitas, 18 anos de idade, recém realizados os votos. Vão residir na parte mais alta do morro. A jovem Irmã pilo ta um jipe ganho do SESI e iniciam-se as visitas domiciliares.
“Quando nós chegamos a sujeira tomava conta, a exceção eram aquelas famílias de colonos. Predominava muita desordem (...) começam por falar de higiene, do valor da higiene (...) O grosso da higiene da casa está muito ruim, tudo era muito primitivo” ”casas todas de madeira preta, tudo era preto, mesmo as crianças brancas ficavam pretas, porque tudo era muito carvão, dava a impressão que punham quatro paus fincados e a casa em cima”.
“O médico falava para a gente, vocês devem ensinar os cuidados com a água”.
A sujidade acumulada na pele das pessoas da Vila Operária e especialmente dos mineiros não saia com o banho de gamela, geralmente colocada no centro da cozinha. Irmã Claudia Freitas fala em chuveiro público para banhar as crianças, sábados à tarde, depois utilizado pelos mineiros, diariamente.
Depois vem a horta comunitária, cursos de corte e costura, higiene, primeiros socorros, alimentação, combate à promiscuidade (adultos e crianças dormindo mesmo aposento) e crianças com porcos, galinhas e cabras.
PEQUENAS IRMÃS DA DIVINA PROVIDÊNCIA, 1964, CRICIÚMA
Desde 64 a assistência médica aos operários do carvão e familiares era proporcionada com ajuda das Pequenas Irmãs da Divina Providência que visitavam 11 vilas operárias, casas medindo 4m X 5m ou 20m², abrigando famílias de até 12 pessoas. Boa Nova Júnior vistoriou as casas da Próspera, descritas por ele como ranchos.
Segundo Manif, além das causas já conhecidas, os óbitos entre as crianças das famílias mineiras de Criciúma relacionavam-se à “ignorância e miséria, eis a resposta formal, categórica e imperativa, que deve ser dada corajosamente”, pois a mortalidade infantil é “fortemente influenciada pelas questões higiênicas de habitação e alimentação, e pelos fatores econômicos e sociais, que quando desfavoráveis carreiam pobreza e atraso cultural” (1957).
Boa Nova Junior confirmava: “é sumamente desagradável e doloroso relatarmos aqui, que muitas criancinhas em Criciúma, pereciam em grande número (...) em virtude do descaso de seus próprios pais, da ignorância das mães”. (1953). Ignorância materna, aliada à falta de assistência pública, criava ambiente para altas TMI em Criciúma.
Mulheres seriam incultas e preguiçosas; necessário era educá-las através de normas higiênicas. A prioridade médica era diminuir drasticamente os números de mortes por intenso processo de reeducação das mulheres.
Boa Nova Junior (relatório ao DNPM, 1953) esclarece porque mulheres substituem o leite materno por alimentação artificial e deficitária em nutrientes: (...) alegação infundada de que seu leite era fraco. Desmamavam as crianças logo às primeiras semanas de vida, substituindo o preciosíssimo leite materno por pirão de farinha de mandioca, feito simplesmente com água.
Desde 1950 havia sólido discurso sobre as benesses da amamentação materna nos primeiros meses de vida da criança. Justificativas evocavam seu caráter natural, propriedades nutritivas; uma composição quase mística que criava elo indissolúvel entre mãe e criança. Também considerava mãe completa somente quem nutria seus filhos com o alimento disponibilizado pelo próprio corpo.
Para Boa Nova Junior (1953), fazia-se necessário “criar entre as mulheres das camadas populares urbanas de Criciúma cultura da boa maternidade, na qual as mães por meio de aconselhamentos e imposições médicas se adaptariam às necessidades dos novos tempos e abandonariam as formas tradicionais de cuidados infantis. (...) a árdua tarefa de educar as mães, de orientá-las, de aconselhá-las no sentido de mostrar o caminho certo que deveriam seguir para bem alimentar seus filhos, para bem criá-los e para preservar-lhes a saúde, e portanto a vida”.
BURLA CONSENTIDA
No início da mineração em SC, mulheres, jovens e crianças participavam do trabalho nas minas. O engenheiro Fernando Miranda Carvalho (Comissão de Estudos dos Portos Carvoeiros, ex-gerente da Sociedade Carbonífera Próspera), no O Jornal, RJ, 2.2.1927: “... Em SC usa-se para beneficiar o carvão, a escolha manual, trabalho executado por mulheres e crianças dos mineiros”.
Escolhedeiras ou catadoras de carvão. Carola (2002): “(...) o trabalho das mulheres nas minas tinha importante papel no orçamento doméstico e, em alguns casos, era fundamental e único, embora fosse sempre considerado complementar”. Escolhedeiras (mulheres que escolhiam carvão), trabalhavam descalças, sendo reconhecidas fora do ambiente de trabalho, pelas cicatrizes dos pés e no dorso inferior das pernas.
Francisco Boa Nova Jr: “...Tais riscos poderiam perfeitamente desaparecer, e o trabalho talvez fosse executado com maior rapidez desde que as escolhedeiras trabalhassem calçadas com botinas. (...) O emprego de mulheres nos serviços de escolha do carvão, (...) principalmente menores de 16 a 21 anos, é a questão de salários: elas se sujeitam a salários inferiores ao do homem (...), além do trabalho fixo diário de 8 horas, com descanso aos domingos e feriados, e outras vantagens, conseguem ordenados até de 600 cruzeiros mensais. Trabalho, pouco penoso, é efetuado por moças, em meio a ruidosa alegria, brincadeiras, conversa s, piadas e cantoria”.
Jovens contratados para esse trabalho, tinham eles idade de 16 a 18 anos e elas de 16 a 25 anos.
Mortalidade infantil em Criciúma
Um ano após a criação da FIESC é criada unidade regional do SESI em SC, dirigida por Celso Ramos (6.12.1951). No primeiro ano fundou 11 escritórios do SESI no estado. Em Criciúma havia 14 postos para assistência alimentar. Preferência era por produtos enlatados. Preços eram elevados para a classe operária que ganhava salário de Cr$ 360,00 mensais. (Lata de azeite: 49,40; Leite Ninho: 42,00; Talco 7,20; creolina 11,40. Tal compra equivalia a 1/3 do salário. Boa Nova reprova grande quantidade de conservas e doces enlatados nas lojas do SESI.
SATC, 1959
No âmbito da assistência médico-social às famílias mineiras, foi fundada em 1959 a SATC, com duas vertentes: 1. Filhos e filhas dos mineiros tinham escola sem qualquer ônus; escola industrial masculina com oficina de mecânica geral, marcenaria, fundição e eletricidade. 2. Escola profissionalizante feminina. A administração caberia aos Irmãos Maristas.
A distribuição de recursos da CEPCAN contempla a Casa da Criança (Colégio São Bento) com 110 mil cruzeiros, a SCAN (Sociedade Criciumense de Auxílio aos Necessitados) com 475 mil, o HSJ com 85 mil. Era Diretor-Executivo do órgão na época o Cel. Osvaldo Pinto da Veiga.
CEPCAN em Criciúma
Em 1961 o CEPCAN (Conselho do Plano do Carvão Nacional) é transferido do RJ para Criciúma. Seus recursos destinavam-se a Implantar e modernizar a indústria carbonífera e para assistência médico-social às famílias ligadas ao setor carbonífero, para construir hospitais, postos de puericultura, escolas profissionalizantes, moradias operárias, instituições de amparo à velhice e infância (o Bairro da Juventude, SCAN, sugestão do Rotary de Criciúma em 1949). Objetivos da CEPCAN em Criciúma consistiam no tripé: amparo à moradia, saúde, educação.
Nos últimos dias do verão de 1954, quando eu iniciava meu curso de Medicina em Curitiba, chegam pelo trem de Imbituba três religiosas da Congregação das Pequenas Irmãs da Divina Providência. Vão habitar casa no Rio Maina, no centro de grande número de Vilas Operárias e de mineração. A Carbonífera Próspera, o SESI-SC e as Pequenas Irmãs da Divina Providência estabeleceram relações de trabalho (1955-1964) para difusão de bons hábitos de higiene. As Irmãs chegam na Próspera em 25.1.1955. Com elas, a jovem religiosa Cláudia Freitas, 18 anos de idade, recém realizados os votos. Vão residir na parte mais alta do morro. A jovem Irmã pilota um jipe ganho do SESI e iniciam-se as visitas domiciliares.
“Quando nós chegamos a sujeira tomava conta, a exceção eram aquelas famílias de colonos. Predominava muita desordem (...) começam por falar de higiene, do valor da higiene (...) O grosso da higiene da casa está muito ruim, tudo era muito primitivo” ”casas todas de madeira preta, tudo era preto, mesmo as crianças brancas ficavam pretas, porque tudo era muito carvão, dava a impressão que punham quatro paus fincados e a casa em cima”.
“O médico falava para a gente, vocês devem ensinar os cuidados com a água”.
A sujidade acumulada na pele das pessoas da Vila Operária e especialmente dos mineiros não saia com o banho de gamela geralmente colocada no centro da cozinha. Irmã Claudia Freitas começa a falar num chuveiro público para banhar as crianças, sábados à tarde, depois utilizado pelos mineiros, diariamente.
Após, vem a horta comunitária, cursos de corte e costura, higiene, primeiros socorros, alimentação, combate à promiscuidade (adultos e crianças dormindo mesmo aposento) e crianças com porcos, galinhas e cabras.
Pequenas irmãs da divina providência, 1964, Criciúma
Desde 64 a assistência médica aos operários do carvão e familiares é proporcionada com ajuda das Pequenas Irmãs da Divina Providência que visitavam 11 vilas operárias, casas medindo 4m X 5m ou 20m², abrigando famílias de até 12 pessoas. Boa Nova Júnior vistoriou as casas da Próspera, descritas por ele como ranchos.
Segundo Manif, além das causas já conhecidas, os óbitos entre as crianças das famílias mineiras de Criciúma relacionavam-se à “ignorância e miséria, eis a resposta formal, categórica e imperativa, que deve ser dada corajosamente”, pois a mortalidade infantil é “fortemente influenciada pelas questões higiênicas de habitação e alimentação, e pelos fatores econômicos e sociais, que quando desfavoráveis carreiam pobreza e atraso cultural” (1957).
Boa Nova Junior confirmava: “é sumamente desagradável e doloroso relatarmos aqui, que muitas criancinhas em Criciúma, pereciam em grande número (...) em virtude do descaso de seus próprios pais, da ignorância das mães”. (1953). Ignorância materna, aliada à falta de assistência pública, criava ambiente para altas TMI em Criciúma.
Mulheres seriam incultas e preguiçosas; necessário era educá-las através de normas higiênicas. A prioridade médica era diminuir drasticamente os números de mortes por intenso processo de reeducação das mulheres.
Boa Nova Junior (relatório ao DNPM, 1953) esclarece porque mulheres substituem o leite materno por alimentação artificial e deficitária em nutrientes: (...) alegação infundada de que seu leite era fraco. Desmamavam as crianças logo às primeiras semanas de vida, substituindo o preciosíssimo leite materno por pirão de farinha de mandioca, feito simplesmente com água.
Desde 1950 havia sólido discurso sobre as benesses da amamentação materna nos primeiros meses de vida da criança. Justificativas evocavam seu caráter natural, propriedades nutritivas; uma composição quase mística que criava elo indissolúvel entre mãe e criança. Também considerava mãe completa somente quem nutria seus filhos com o alimento disponibilizado pelo próprio corpo.
Para Boa Nova Junior (1953), fazia-se necessário “criar entre as mulheres das camadas populares urbanas de Criciúma cultura da boa maternidade, na qual as mães por meio de aconselhamentos e imposições médicas se adaptariam às necessidades dos novos tempos e abandonariam as formas tradicionais de cuidados infantis. (...) a árdua tarefa de educar as mães, de orientá-las, de aconselhá-las no sentido de mostrar o caminho certo que deveriam seguir para bem alimentar seus filhos, para bem criá-los e para preservar-lhes a saúde, e portanto a vida”.
Burla Consentida
No início da mineração em SC, mulheres, jovens e crianças participavam do trabalho nas minas. O engenheiro Fernando Miranda Carvalho (Comissão de Estudos dos Portos Carvoeiros, ex-gerente da Sociedade Carbonífera Próspera), no O Jornal, RJ, 2.2.1927: “... Em SC usa-se para beneficiar o carvão, a escolha manual, trabalho executado por mulheres e crianças dos mineiros”.
Escolhedeiras ou catadoras de carvão. Carola (2002): “(...) o trabalho das mulheres nas minas tinha importante papel no orçamento doméstico e, em alguns casos, era fundamental e único, embora fosse sempre considerado complementar”. Escolhedeiras (mulheres que escolhiam carvão), trabalhavam descalças, sendo reconhecidas fora do ambiente de trabalho, pelas cicatrizes dos pés e no dorso inferior das pernas.
Francisco Boa Nova Jr: “...Tais riscos poderiam perfeitamente desaparecer, e o trabalho talvez fosse executado com maior rapidez desde que as escolhedeiras trabalhassem calçadas com botinas. (...) O emprego de mulheres nos serviços de escolha do carvão, (...) principalmente menores de 16 a 21 anos, é a questão de salários: elas se sujeitam a salários inferiores ao do homem (...), além do trabalho fixo diário de 8 horas, com descanso aos domingos e feriados, e outras vantagens, conseguem ordenados até de 600 cruzeiros mensais. Trabalho, pouco penoso, é efetuado por moças, em meio a ruidosa alegria, brincadeiras, conversa s, piadas e cantoria”.
Jovens contratados para esse trabalho, tinham eles idade de 16 a 18 anos e elas de 16 a 25 anos.
O II SIMPÓSIO DO CARVÃO NACIONAL, FPOLIS, 1965
(29.11.a 4.12 de 1965. Cópia cedida por ALBINO JOSÉ DE SOUZA FILHO).
Boianovsky apresentou o trabalho A SATC e a Assistência Social na Região Carbonífera Catarinense. Atribuía a responsabilidade, a causa maior de mortalidade infantil, à ignorância dos pais, sobretudo das mães que, vivendo em miséria intelectual e material, pouco faziam para melhorar a vida de seus rebentos.
“Os mineradores de carvão mineral de SC (...) pensando em organizar entidade assistencial de forma a permitir e a prestar uma assistência hospitalar em casos clínicos, farmacêutica, dentária, educacional técnica, habitacional, alimentar, recreativa e outras aos empregados da indústria extrativa do carvão em SC e aos que exerçam atividade correlatas à mesma indústria e suas famílias.”
A SATC, financiada com contribuições das grandes empresas carboníferas da região e utilizando recursos do Plano Nacional do Carvão, iniciou em 02.5.1959 (Criciúma 62 mil habitantes) em Criciúma. Uma das principais funções: prestar assistência às mães e às crianças pobres. Aliança entre setores público e privado, a SATC (dirigida e financiada por contribui&ç l;ões estatais e privadas), tinha metas estabelecidas com o objetivo único de prestar assistência social aos operários das minas e suas famílias.
A SATC deveria oferecer auxílio hospitalar, farmacêutico, dentário, educacional, habitacional, alimentar, entre outros, aos empregados das carboníferas em SC, priorizando atendimento à infância e gestantes. (SATC, 1959). A SATC torna-se centro de referência no atendimento às famílias mineiras da região carbonífera, procurada principalmente por mulheres-mães.
Contemplava Serviço de Puericultura para a Região, elaborado em parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI). Chefiado pelo pediatra David Luiz Boianovsky, a SATC criou Posto de Puericultura proximidades de seu complexo assistencial, para elaboração de diretrizes e ações nas vilas operárias da Região Carbonífera. Para Boianovsky, havia em Criciúma grande contingente de população pobre sem acesso à educação e serviços básicos de saúde, contribuindo para altas TMI de crianças.
Para romper o Ciclo da Ignorância, caberia à medicina (1) educar (2) estabelecer condições salutares para o casamento (3) evitar maus hábitos e supostas perversões (4) equipar minimamente as famílias operárias.
Etapas do Ciclo: Pai Ignorante à Recém Nascido e Lactente Desnutridoà Escolar Depauperado à Púbere Incapaz; iguais em qualquer outra população subdesenvolvida, “ele apresenta, em seu desenrolar, condições absolutamente peculiares (na Região Carbonífera) facilitando o desenvolvimento de projeto assistencial honesto e planejado”. (Boianovsky, 1965).
Segundo ele, a reversão do Ciclo da Ignorância seria alcançada na Zona Carbonífera se autoridades públicas locais, associadas à iniciativa privada, apoiassem trabalhos assistenciais similares àqueles que a SATC desenvolvia em Criciúma e região.
PLANO ASSISTENCIAL SATC
O plano assistencial baseava-se na construção em bairros da cidade de postinhos de puericultura com atividades coordenadas desde o Posto de Puericultura Central, sediado na SATC. Nove pequenos postos nos bairros mais populosos, onde a população infantil se achava mais vulnerável, foram construídos pela SATC. Os bairros: Rio Maina, Boa Vista, União, Metropol, São Marcos, Mina Bainha, Naspolini, Linha Batista, Próspera, Operária Velha e Operária Nova. (SATC, 1966).
Atendidas quinzenalmente, as crianças, levadas pelas mães, eram avaliadas em suas condições físicas, emocionais e de crescimento. Assistentes sociais pesavam, vacinavam contra a paralisia infantil, tétano, coqueluche e crupe (difteria). Bons resultados ocorriam quando se orientava corretamente as mães, segundo preceitos da puericultura. Nas unidades de saúde, mães eram entrevistadas e orientadas sobre cuidados básicos devidos aos bebês e infantes, além de receberem noções elementares de dietética infantil.
Segundo Boianovsky (1965), o Ciclo da Ignorância deveria ser rompido durante esse período, fase do desenvolvimento psicossomático da criança, momento em que formava os primeiros traços de sua identidade. Desta forma, somente a partir da criança “podemos transformar o ciclo da ignorância, formando adultos bem orientados que, por sua vez, melhor orientarão os próprios filhos”.
Para Boianovsky (1965), outras doenças contribuíam para a elevação da TMI, além das que “costumam ser de grande incidência em lactentes, a pneumonia, broncopneumonia e derrames pleurais, como estágios mais avançados de simples estados gripais”.
Relatou os avanços do Serviço de Puericultura ao diretor executivo da SATC, Wilson (Fernandes Lopes Freire) Barata (1965), Boianovsky congratulava-se com o Serviço pelas conquistas e diminuição da TMI entre crianças socorridas por seus técnicos. Crianças eram atendidas por alimentação inadequada, debilitantes do sistema imunológico; por piora de estados gripais não tratados, ocasionando mortes por complicações pulmonares.
O ciclo vicioso caracteriza populações mal desenvolvidas, o chamado CICLO DA IGNORÂNCIA.
Criança nascida de gestante anêmica e contaminada, passa a receber o impacto desta força monumental que é o binômio ignorância-miséria, realizando os processos de crescimento e desenvolvimento em casebres sujos, confinados, promíscuos, alimentação inadequada, contaminando-se, indo ao óbito com relativa facilidade no primeiro ano de vida. Livrando-se deste, acaba como um distrófico de baixo QI e mínimas condições físicas, formando concepções negativas da sociedade. Adulto, desenvolverá recalques que, a par da própria incapacidade intelecto-física para o trabalho, determinam a tomada de atitudes agressivas contra os bem afortunados a quem ele (conscientemente ou não) julga c ulpados da sua situação e, em parte com enorme soma de razões.
A TMI avalia-se pelo coeficiente (relação entre o número de nascimentos vivos e óbitos de crianças entre 0 e 1 ano de idade, durante período de um ano civil, calculando-se o número de óbitos a cada 1000 nascimentos). TMI baixa ou fraca = coeficiente inferior a 40; média ou moderada entre 40 e 70; alta ou forte entre 70 e 100, muito elevada ou muito forte acima de 100. Portanto, nossas taxas estavam muito fortes.
Em 1965 (Criciúma, 62 mil habitantes) funcionavam 11 jardins de infância e 11 cursos de formação feminina. De fev a jul de 65 ocorreu apenas 1 óbito entre 230 crianças atendidas!
(CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA)
David Boianovsky durante sua vida profissional brilhou em várias esferas da atividade humana: foi pediatra e nutrólogo de sucesso em Criciúma onde implantou o projeto SATC, em 1959, responsável por nos colocar dentro de números civilizados no que diz respeito a Taxas de Mortalidade Infantil (TMI), se é que se pode falar em números civilizados quando se trata de expor tal assunto. Lecionou na UnB, trabalhou na Secretaria de Serviços Sociais de Brasília, como Consultor do Banco Mundial, no Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil, entre outras atividades. Pode-se dizer que foi herói, salvando incontáveis vidas de filhos de mineiros, trabalhadores na indústria da extração de carvão mineral e, mais tarde, residindo em Brasília, capital federal, criou em 1976 o PAT, programa de alimentação do trabalhador, hoje assistindo mais de 24 milhões pessoas de baixa renda.
E dizer que personagem desse quilate está hoje praticamente esquecida!
DLB em CRICIÚMA
BOIANOVSKY e eu, em Criciúma, compartilhamos carreira médica por onze anos, ele como pediatra e nutrólogo (1957) e eu como Oftalmologista e Otorrinolaringologista (1960). Naquela época era assim mesmo, nos especializávamos em olhos, ouvidos, nariz e garganta. Hoje o vasto campo das duas especialidades está cindido em várias subespecialidades.
Jovem acadêmico da Bahia, que coletava dados para escrever sua tese de mestrado, constatou quase não haver mais dados sobre o trabalho de DAVID LUIZ BOIANOVSKY no Ministério do Trabalho, em Brasília. Nem no Museu do Trabalhador Leonel de Moura Brizola. Do PAT, elaborado no Ministério do Trabalho, hoje atendendo mais de 24 milhões de brasileiros, quase ninguém lembra o autor.
O apelo que este trabalho traz embutido é de não deixar cair no esquecimento personagens quem tanto fizeram em benefício de nossa cidade e do país. FRANCISCO DE PAULA BOA NOVA JÚNIOR, MANIF ZACHARIAS e DAVID LUIZ BOIANOVSKY merecem ter seus nomes perpetuados em ruas, avenidas ou prédios públicos de nossa cidade, como reconhecimento e exemplo de trabalho dignificante para as gerações futuras. O esquecimento já ronda seus nomes e seus trabalhos.
Se enxerguei mais longe foi porque me apoiei sobre os ombros de gigantes (Isaac Newton)
DA OBRA DE PIONEIROS
Administrado pelas Irmãs Escolares de Nossa Senhora, o Hospital São José em 1950 (Criciúma, 51 mil habitantes), 14 anos operando, único hospital citadino, detinha 30 leitos e nove médicos! Havia 6 outros profissionais na cidade. Investimentos nos anos 50, triplicam a capacidade do hospital para 90 leitos, número ainda insuficiente para nossas necessidades. Segundo Boa Nova Júnior (1953), o mínimo aceitável para tal população, seria 500 leitos, dez para cada mil habitantes, déficit de duzentos e dez leitos.
O problema foi sanado parcialmente pela construção da Ala dos Mineiros disponibilizando mais 54 leitos (15 para enfermaria masculina, 18 para uma ala feminina e 21 para maternidade. CEPCAN, 1956).
O sanitarista do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) Boa Nova Junior, chegado em 1944 (Criciúma, 28 mil habitantes), foi o primeiro médico a denunciar nossas elevadas TMI. Relatou ao DNPM a calamitosa situação, apontando medidas que poderiam contribuir para reverter tal quadro, em 1944:
“(...)principais causas deste elevado índice de mortalidade infantil (...) vitimando principalmente crianças de 0 a 1 ano de idade: doenças gastrointestinais (salmonelose e disenterias amebiana e bacilar, entre as mais frequentes), doenças respiratórias (pneumonia e broncopneumonia, bronquite capilar, crupe, coqueluche e gripe), doenças infectocontagiosas em geral, e, sobretudo, subnutrição”.
BOA NOVA JÚNIOR ELABORA DIAGNÓSTICO
Considerou más as condições nas Vilas Operárias:
1.Falta de água tratada, 2. Falta de rede coletora de esgoto, 3. Longas jornadas de trabalho na mina, 4. Carência de alimentos básicos, 5. Baixos salários, 6. Assistência médica deficiente, 7. Más condições de trabalho, 8. Falta de mecanização das minas, 9. Acidentes constantes, 10. Vulnerabilidade dos operários expostos às doenças urbanas, 11. Desrespeito à legislação trabalhista.
O DNPM (extinto em 1962), diante do parecer, vai captar água no rio São Bento, menos poluído que o Mãe Luzia.
Degradação ambiental, falta de zelo e preparo das mães pelo bem-estar dos pequenos, falta de sistema básico de saneamento e distribuição de água potável, tratamento deficiente ou inexistente dos dejetos humanos e animais, energia elétrica ineficiente e rudimentar -, eram os vetores para a disseminação de doenças infectocontagiosas entre crianças, vinculadas à elevada TMI local. Problemas ambientais fazem da nossa Bacia Carbonífera, Área Crítica Nacional. O crescimento urbano revelava nossas más condições de saúde, muitas crianças morrendo diaria mente, poucos médicos, estrutura de assistência médico-social ineficiente, precária estrutura de controle da higiene pública.
(Continua na próxima semana)
- FILHOS NUNCA CRESCEM. A fase mais tranquila da vida de uma família é aquela em que todos vão para a cama no mesmo horário. Esta felicidade acaba na noite da primeira festinha até que, graças a Deus, chega a hora de ir buscar a(s) cria (s). Finalmente começa o repouso, quando não havia mais noite para repousar. O pior está por vir quando a prole volta por conta própria.
- Pessimista profissional, gosto de citar um dos melhores personagens de Shakespeare, o vilão Iago: "men are men". Os homens são homens.
- A primeira vez que ouvi falar em computador foi aí pelo final dos anos 50, quando o assim chamado cérebro eletrônico ocupava quarteirões e respondia a qualquer pergunta ou resolvia qualquer questão. Além de grandes, como navios, eram infalíveis como os papas. Foi assim, até que recebi convite para escrever um artigo para a revista que prometia horóscopos e regimes de emagrecimento pelo computador. Era, então, equipamento monstruoso, repleto de bobinas enormes. A revista distribuía cartão a ser perfurado pelos leitores com os dados individuais. O resultado, recebia-se em casa e o sucesso foi tão grande que logo faziam grafologia por computador. O leitor mandava texto manuscrito e o equipamento decifrava o caráter, anunciava o futuro do dito cujo. Decidi, um dia, testar a eficiência de nosso redator mais importante e lido, o cérebro eletrônico. O responsável pela geringonça era nosso falecido colega Nazir Shoubia, formado em Medicina,1960, na Universidade Federal do Paraná. Com o conhecimento dele pedi regime para emagrecer: recebi uma relação de alimentos que deveria evitar. Quanto ao horóscopo, fui informado que receberia uma herança que ainda não recebi e faria uma viagem que ainda não fiz. Quanto à grafologia, o computador declarou-me figura impoluta, caráter sem jaça, uma força de vontade capaz de criar mundos e fundos e uma deficiência de glóbulos vermelhos ou brancos, não me lembro mais. Na Antiguidade, ninguém se metia em coisa alguma sem antes consultar as vísceras dos pássaros. Tenho colega que acredita em cartas, sejam elas ciganas, do tarô ou do baralho comum, que o ajudam periodicamente a quebrar a cara em questões diversas... De minha parte, acho que tudo funciona desde que, como queria o poeta, a alma não seja pequena.
- A cultura italiana está em moda, pelo menos no sul-catarinense. Nova Veneza e Urussanga, nesses últimos dias, brilharam na mídia. Não vejo a hora na qual a Bocha voltará à preferência de todos, especialmente dos nossos atletas sexagenários. Aliás, já que toquei no assunto, o vocábulo Bocha tem vários significados, entre eles o de bola ou malha para designar o jogo popular italiano, mais conhecido pelo plural bocce, redução da expressão gioco delle bocce, ou seja, jogo das bolas.
- FÁBRICA E LOJA DE PÃES, INVESTIMENTO DE R$ 40 MILHÕES EM CACHOEIRINHA, RS. A VITAL, quer vender pães para RS, SC e PR. A fábrica de 13 mil m² também pretende vender frios fatiados e embalados. Ela também atua no varejo com 17 lojas próprias. Tem 26 pães nas lojas e mais 46 produtos terceirizados. As pessoas valorizam pão fresco e preço mais baixo, daí procurar o produto na fábrica. A Vital tem o objetivo de tirar conservantes de todos os seus produtos que duram de 10 a 12 dias. A Vital fatura 40 milhões por ano; com a nova fábrica a previsão é faturar 200 milhões por ano.
- DEPOIS DO DESASTRE DE MARIANA. Não tem como viver sem a mineração. A Samarco era uma das 10 maiores exportadoras do Brasil. Chegou a faturar 4 bilhões de dólares por ano. Mineração é sempre igual. Você tem uma reserva, mina, veio; vai lavrar o minério, processar, gerar o rejeito que coloca numa barragem. O produto você põe numa ferrovia, num mineroduto e exporta. Barragem é a melhor solução? E, se for barragem, qual o melhor modelo?
- Lembro das conversas entre os filhos quando pequenos, já deitados para dormir. Os homens falavam mais e dormiam – os três – no mesmo quarto. Um dizia não acreditar em Papai Noel enquanto outro afirmava ser óbvio que não poderia ser a mãe quem trazia os presentes de Natal. Pensa bem! Ela sempre diz não quando a gente pede na loja!
- Família é tudo para mim. Esta frase da rede social tem a ambiguidade de tudo poder incluir, tudo de bom ou de ruim. Sem família não existiria literatura e nenhum terapeuta teria emprego. Há muitos modelos de família e houve muitos tipos ao longo da história, não há uma essência, apenas, existências. Não existem pais perfeitos, mas, anime-se, você também não é um filho perfeito.
- VINÍCOLAS GAÚCHAS APOSTAM NA CHINA. Nos últimos anos chineses compraram 95% mais vinhos e sucos de uva tornando-se o sexto principal importador de vinhos e espumantes brasileiros. Miolo tem sete lojas na China. Parece que nós, os brasileiros, ultrapassamos com folga, 9 milhões de dólares no valor total de exportações, menos de 10% do faturamento geral do setor.
- NATAL é uma festa cristã com mensagem universal. Sua celebração remete à convivência familiar, à reconciliação, ao amor e à fé. Todos nós precisamos disso.
- Enquanto apostamos na economia agrícola e industrial, o mundo desenvolvido aposta na economia do conhecimento. Na China, a inteligência artificial é alta prioridade do governo. Como tudo na vida a verdade vai estar no meio. Virtus in medio est.
- BRASIL PRODUZ 7% DO LEITE do planeta, sendo o 6º maior produtor mundial.
1º- Índia – 221,1 milhões de toneladas. 2º- União Europeia – 158,7 milhões de toneladas. 3º- Estados Unidos - 102,9 milhões de toneladas. 4º- Paquistão – 64,2 milhões de toneladas.5º- China - 39,7 milhões de toneladas. 6º- Brasil - 34,8 milhões de toneladas.
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Em 6/6/1966 foi afastado do cargo de governador, pelo presidente da república, Castelo Branco, tendo seus direitos políticos cassados por dez anos, sob a acusação de corrupção. Teve confiscadas todas as suas condecorações.
O pretexto para a cassação do mandato de Adhemar, que fazia oposição ao regime militar, foi a acusação que Adhemar teria feito nomeações de funcionários públicos em número excessivo. A 4 de junho, dois dias antes de ser cassado, Adhemar publicou no Diário Oficial do Estado de São Paulo, nota, garantindo que as nomeações eram legais e uma necessidade administrativa. Foi substituído pelo vice-governador Laudo Natel que concluiu seu mandato e governou até 31.01.1967.
ÚLTIMO EXÍLIO E MORTE
Exilou-se, pela terceira vez em sua carreira política, em Paris, França, logo depois de ter sido o mandato de governador cassado, seu terceiro mandato político a ser cassado.
Adhemar foi operado, janeiro de 1969, de hérnia e litíase. Em 7 de março, tentou se curar no santuário e gruta de Lourdes na França, onde se acredita haver águas milagrosas. Em Lourdes teve uma síncope. Faleceu, em Paris, em 12.3.1969 aos 68 anos, metade deles dedicados à vida pública.
Seu corpo foi transladado para o Brasil. Do Aeroporto de Viracopos, que ele construíra, até SP, pela Via Anhanguera, que ele também construíra. O cortejo fúnebre chegou a dez quilômetros de extensão. Foi enterrado no Cemitério da Consolação, região central da capital paulista, em 16 de março, com grande presença de público. Foi executado o toque de silêncio para o veterano da Revolução de 1932.
HOMENAGENS
Recebeu condecoração póstuma, em 1982, pelo governador do estado de SP, Paulo Maluf, um ademarista, quando foi admitido no grau de Grã-Cruz, no Quadro Regular da Ordem do Ipiranga. Lei estadual de 1980, também da época de Paulo Maluf, dá o nome de Dr. Adhemar Pereira de Barros ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Foi homenageado, também, dando-se o seu nome à rodovia SP-340 (Rodovia Governador Doutor Adhemar de Barros), que liga Campinas a Águas da Prata. Em 1978, na capital paulista, a Escola Municipal de 1º Grau do Jardim Ipê, tornou-se a "EMPG Prefeito Adhemar de Barros". Lei estadual de 9.11.1984, institui, no estado de SP, a "Semana Doutor Adhemar de Barros", comemorada, anualmente, de 22 a 28 de abril.
Em 2001, foi comemorado o centenário de nascimento de Ademar, tendo, sua família, doado seu arquivo particular ao Arquivo do Estado de SP e lançado site e livro sobre sua vida e obra.
Projeto do senador Henrique de La Rocque Almeida, 1980, visando à anistia a Adhemar, devolvendo-lhe suas condecorações, não prosperou, sendo arquivado em 1984.
ESTILO ADHEMAR DE GOVERNAR
Construiu usinas hidrelétricas e muitas rodovias de grande porte, continuando a tradição do ex-presidente da república Washington Luís, do qual Ademar era admirador confesso. Adhemar declarou em 27.12.1938:
“O programa rodoviário idealizado pelo ex-presidente Washington Luís será por mim integralmente realizado. Abrir estradas! Eis aí uma das acertadas soluções para o desenvolvimento econômico-financeiro do Estado. Convencido da oportunidade desta medida, estudei a realização de uma completa rede rodoviária, a unir todos os centros produtores, estes com as saídas naturais da riqueza estadual!”
"Por outro lado realizou também muitas obras e ações de caráter social, construindo escolas, bibliotecas no interior do estado, hospitais e sanatórios, afirmando, no seu manifesto de candidato à presidência em 1960, que:
“Por onde passar a energia elétrica, passarão o transporte, o médico e o livro"
Uma característica fundamental de Adhemar era a ênfase no planejamento das ações de governo, no qual foi um dos pioneiros no Brasil.
O estilo político "tocador de obra" e seu visual característico: mangas de camisa arregaçadas e suspensórios, se opunha ao populismo conservador e moralizante de Jânio Quadros. Esse estilo "tocador de obra" retornaria posteriormente, nas gestões de outros governadores, como Paulo Maluf e Orestes Quércia que, em alguns casos, incorporaram partes desse figurino ademarista de tocar obras, arregaçar a camisa e amassar barro.
Adhemar era capaz de grandes frases de efeito, e uma das suas frases mais conhecidas foi chamar, por ter grande concentração de comunistas, a atual Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de SP de "Abacaxi deixado pelo doutor Armando de Sales Oliveira".
Suas campanhas eleitorais eram bem elaboradas, sendo que Adhemar e Hugo Borghi são considerados os pioneiros do marketing eleitoral no Brasil.
Um dos slogans de campanha eleitoral de Adhemar de Barros, não assumido abertamente, era "Ademar rouba, mas faz", que, apesar de ser frase cunhada por seu adversário Paulo Duarte, acabou por ser lema de sua campanha eleitoral para prefeito de SP em 1957, promovendo-se sobre as inúmeras acusações de corrupção, na época as "negociatas".
Foi acusado também de desvio de verbas públicas nos períodos em que era chefe do executivo paulista. E quanto a desvio de verbas, seus adversários diziam que existia a "Caixinha do Ademar" para financiar suas campanhas eleitorais. Em reposta à crítica, os ademaristas tinham refrão popular, composto por Herivelto Martins e Benedito Lacerda:
“Quem não conhece?
Quem nunca ouviu falar?
Na famosa 'caixinha' do Adhemar.
Que deu livros, deu remédios, deu estradas.
Caixinha abençoada!"
O mais comentado processo contra Adhemar foi, em 1956, o "Caso dos Chevrolets", que teve seu desdobramento no "Caso dos caminhões da Força Pública" (a atual Polícia Militar), levando-o a exilar-se no Paraguai, Bolívia e Argentina por 6 meses e 25 dias. Seu biográfo, Carlos Laranjeira, em "Histórias do Adhemar", lembrou que foram também 6 meses e 25 dias que o maior adversário de Ademar, Jânio Quadros, permaneceu na presidência da república. Ademar logo voltou do exílio, dizendo que queria ser absolvido pelo povo nas urnas. Foi eleito prefeito de SP em 1957.
O promotor do "Caso dos caminhões da Força Pública" foi o jurista Hélio Bicudo. Adhemar foi defendido, no "Caso dos caminhões da Força Pública', pelos advogados Ataliba Nogueira e Esther de Figueiredo Ferraz, que se tornaria a primeira mulher a ocupar o cargo de ministro de estado no Brasil. Foi absolvido das acusações pelo Tribunal de Justiça de SP por 16 votos contra 12. Adhemar publicou na revista "O Mundo Ilustrado", em 1956, relato das dificuldades que enfrentou neste seu segundo exílio. Entre outras dificuldades, Adhemar, piloto, conta que voou sem auxílio de instrumentos, guiado só por mapas e que quando chegou ao Paraguai lhe informaram de um plano para assassiná-lo.
Outro caso famoso de suposta "negociata" muito comentado foi o "Caso da Urna Marajoara" do Museu Paulista.
Adhemar adorava eleições e disputava todas que podia, mesmo quando tinha poucas chances de ganhar. Foi alvo constante de caricaturistas e humoristas e do bom humor do povo, que chamava um pequeno túnel por ele construído, no centro da cidade de SP, de o buraco do Adhemar. A dupla caipira "Alvarenga e Ranchinho", parodiando um anúncio radiofônico do remédio Melhoral, cantava:
"Ademá, Ademá, é mió e num faz má"
Também provocava risos quando, já nos tempos do Palácio dos Bandeirantes, uma suposta amante telefonava para ele e Adhemar atendia: "Como vai, Doutor Rui?… Um beijo, Dr. Rui!", segundo depoimento do jornalista Percival de Souza.
Estava sempre se revezando na prefeitura de SP e no governo do estado de SP com Jânio Quadros, seu eterno rival, e cuja política era sempre suspender suas obras. Curiosamente, ambos, Adhemar e Jânio, eram maçons, como consta na lista de maçons famosos nos sítios da maçonaria brasileira. Adhemar de Barros foi iniciado maçom em 12.12.1949 pela "Loja Guatimozin 66", conforme consta nas atas daquela loja. Na campanha presidencial de 1960, o arcebispo de POA, D. Alfredo Vicente Scherer, fez campanha contra Ademar, pedindo aos católicos que não votassem em Adhemar por este ser maçom.
A visão dos ademaristas sobre a ascensão do janismo na política paulista é explicada assim por um líder ademarista da região de Bauru:
'O Brasil parou de se desenvolver quando deixaram de votar neste homem (Adhemar) para votarem em Jânio Quadros!"
A rivalidade entre o "ademarismo" e o "janismo" marcou época em SP nas décadas de 1950 e 1960. Essa rivalidade e os comícios (meetings) pelo interior de SP entraram para o folclore político do estado de SP e do Brasil, e se tornaram acontecimentos inesquecíveis para os paulistas daquela época. Ilustra essa rivalidade:
Num comício em Mogi-Guaçu, cidade a ser visitada por Adhemar e Jânio num intervalo de dois dias, o candidato do PSP, com adjetivos enfáticos e gestos agressivos começou a discursar: "Entre as várias obras que fiz em SP está o hospital de loucos. Infelizmente, não foi possível internar todos. Um desses loucos escapou e fará comício nesta mesma praça, amanhã." Para delírio do povo (ademarista), a gargalhada era geral. No dia seguinte, Jânio Quadros foi recepcionado na cidade. Um adepto janista relatou a ele tal acontecimento. No seu comício, deu o troco: "Quando fui governador de SP, construí várias penitenciárias, mas não foi possível trancafiar todos os ladrões. Um escapou e fez um comício aqui mesmo nesta praça ontem."
Três outros exemplos deste folclore político:
1. Num comício em Jaú, Ademar, bate a mão no bolso: "Neste bolso nunca entrou dinheiro do povo!" Alguém na multidão gritou: "De calça nova, heim Doutor!"
2. Em São José dos Campos, segundo depoimento de Mário Carvalho de Araújo, Adhemar não hesitou em descer do palanque, interrompendo seu comício, dirigindo-se a um homem que estava encostado numa árvore fumando um charuto e fumou-o com o homem, surpreendendo a todos.
3. Em Penápolis, acontecimento inusitado: sempre ligado ao social, Adhemar escutou prostitutas no palanque, num comício, onde elas reclamaram de suas más condições de trabalho, segundo depoimento da moradora Luciana de Castro.
O COFRE DO ADHEMAR
Mesmo depois de falecido, Adhemar foi alvo de escândalo: em 18.06.1969, membros do movimento guerrilheiro VAR-Palmares assaltaram, no RJ suposto cofre de Adhemar, na casa de sua ex-secretária Anna Gimel Benchimol Capriglione, segundo algumas versões, sua amante. O episódio ficou conhecido como o "Caso do Cofre do Adhemar". O valor subtraído, que, segundo ex-membros da VAR-Palmares, contaram à Revista IstoÉ, foi de 2,596 milhões de dólares, equivalente em 2010, corrigido pela inflação da moeda americana, a 15,4 milhões de dólares. Anna Gimel, porém, declarou à polícia carioca que, no cofre, achavam-se apenas documentos. Em telegrama diplomático vazado dos EUA, o ex-embaixador John Danilovich afirma que Dilma Rousseff planejou o assalto. Um dos filhos de Adhemar, o então deputado federal Adhemar de Barros Filho, declarou à revista Veja, em 1970, que Adhemar passava por dificuldades financeiras, que não havia dinheiro algum no cofre, e que fora ele, Adhemar Filho, quem pagara as despesas do translado dos restos mortais de Adhemar, de Paris a SP.
ADHEMAR EMPRESÁRIO
Foi proprietário da fábrica de chocolates Lacta, além de possuir interesses na área imobiliária, especialmente a Imobiliária Aricanduva. Foi responsável pelo loteamento, na capital paulista, que se tornou o Jardim Leonor, nome de sua esposa.
Ajudou a desenvolver parte do bairro do Morumbi, em SP na década de 1960, quando o governo do estado comprou o Palácio dos Bandeirantes e seu vice-governador Laudo Natel, então presidente do São Paulo Futebol Clube, construiu o Estádio do Morumbi. Na década de 1940, a construção do Estádio do Pacaembu por Adhemar, dera também origem ao bairro homônimo.
Foi sócio da empresa "Divulgação Cinematográfica Bandeirantes" e da Rádio Bandeirantes. Elas, mais tarde, dariam origem à Rede Bandeirantes de rádio e televisão, hoje presidida por seu neto, Johnny Saad e localizada no bairro do Morumbi na capital paulista. Foi presidente das Fábricas Redenção e Nossa Senhora Mãe dos Homens, proprietário de fazendas no interior de SP, da Fábrica de Produtos Químicos Vale do Paraíba, da Sociedade Extrativa de Taubaté, com plantação de cacau para a Lacta, e da Sociedade Extrativa Limitada de Itapeva.
LACTA
A empresa Lacta, fabricante brasileira de chocolates, foi de propriedade de Adhemar de Barros. Após sua morte, a gestão da empresa passou a seu filho e também político Adhemar de Barros Filho. Em 1996, após brigas na família, a empresa foi vendida à Kraft Foods.
RÁDIO BANDEIRANTES
Adhemar de Barros foi o segundo proprietário da Rádio Bandeirantes de SP. A rádio foi fundada por Paulo Machado de Carvalho, e comprada depois por Adhemar. Mais tarde, Adhemar venderia sua rádio ao genro, João Saad.
HERDEIROS POLÍTICOS
Cientistas políticos não conseguem estabelecer herdeiro político do ademarismo. O estilo de governo Paulo Maluf pode ter sido influenciado nalguns aspectos pelo estilo de Adhemar, porém eles não foram aliados políticos. A carreira política de Maluf começa com sua nomeação para prefeito de SP, no dia do óbito de Adhemar: 12.03.1969.
O ademarismo continuou sendo grande força na política paulista, mesmo depois de extinto o PSP: em 1972, 60% dos prefeitos eleitos naquele ano em SP vinham do PSP.
Adhemar de Barros Filho (1929-2014), o "Ademarzinho", seguiu carreira política e chegou a se eleger deputado federal, várias vezes, entre 1966 e 1994, e foi, também, secretário de estado, em SP, na década de 1970. Os filhos de Adhemar Filho o impediram de fazer empréstimos em dinheiro para as campanhas políticas.
BIOGRAFIA SUMÁRIA
· Deputado estadual em SP (1935–1937);
· Interventor federal em SP (1938–1941);
· Governador de SP (1947–1951 e 1963–1966);
· Prefeito de SP (1957–1961).
Adhemar Pereira de Barros (Piracicaba 1901, Paris, 1969) foi aviador, médico, empresário e influente político brasileiro entre 1930 e 1960.
VIDA
De família tradicional cafeicultora de São Manuel, interior de SP, foi prefeito da cidade de SP (1957–1961), interventor federal (1938–1941) e duas vezes governador (1947–1951 e 1963–1966). Seus seguidores, ainda hoje existentes, são "ademaristas". Concorreu à presidência da república do Brasil em 1955 e em 1960, conquistando, nas duas eleições, o terceiro lugar. Nas eleições de 1960 visitou o sul de SC; Criciúma e Urussanga. Nesta última cidade acompanhei seus movimentos, eu estava apenas a um ano em Criciúma. Num grande comício no centro de Urussanga foi desafiado pelos populares presentes a consumir leite, uva e melancia simultaneamente, pois havia o conceito que a mistura destes alimentos poderia até causar a morte. Pois não é que o corpulento Adhemar, diante da população local consumiu tudo isso e mais um pouco, sem ser minimamente afetado!
Grande parte da população de Criciúma deslocou-se para Urussanga e assistir ao comício. Lembro ainda de PAULO CARNEIRO e família e de LEANDRO MARTINHHAGO, mulher e filhos, do dentista ALEXANDRE HERCULANO DE FREITAS e outros, rumando céleres para a modesta Urussanga de então e assim conhecer a celebridade.
OBRAS E ALGUMAS HOMENAGENS
Os bairros Cidade Ademar e Jardim Adhemar de Barros; a rua Governador Adhemar Pereira de Barros (em Itapetininga - SP); a avenida Adhemar de Barros (Salvador - BA); a Escola Municipal de Ensino Fundamental Prefeito Adhemar de Barros (bairro Campo Limpo; o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; o Aeroporto Estadual Adhemar de Barros (Presidente Prudente), o Estádio Adhemar de Barros (Araçatuba); a avenida Adhemar de Barros (Guarujá/SP) e a Rodovia Adhemar de Barros foram nomeados em sua homenagem.
Formação acadêmica e a Revolução de 1932
Formou-se em Medicina em 1923 pela Escola Nacional de Medicina, (atualmente pertencente à Universidade Federal do RJ). Especializou-se no Instituto Oswaldo Cruz. Estudou nos EUA e fez residência médica em várias cidades europeias, onde se tornou aviador, retornando ao Brasil em 1926. Poliglota, Adhemar era fluente em alemão, francês, inglês e espanhol.
Em 6.04.1927 casou-se com Leonor Mendes de Barros, tendo o casal quatro filhos: Maria Helena Pereira de Barros Saad, Ademar de Barros Filho (o Ademarzinho), Maria Pereira de Barros (a Mariazinha) e Antônio Pereira de Barros.
Clinicou até 1932, ano em que se engajou nas fileiras da Revolução Constitucionalista de 1932, como o fizeram, também, grande parte dos jovens paulistas da época. Com a derrota do movimento constitucionalista, exilou-se no Paraguai, onde se alistou como médico na Guerra do Chaco, e na Argentina. Nos seus governos sempre procurou beneficiar os ex-combatentes de 1932 com pensões e homenagens, tendo, em 1947, iniciado a construção do Monumento do Soldado Constitucionalista, em SP.
Guilherme Figueiredo, filho do Coronel Euclides Figueiredo, que atuou no comando do Exército Constitucionalista, afirmou em entrevista de 1977, que Adhemar de Barros já era próximo de Getúlio Vargas e de Filinto Muller desde aquela época e também atuava como agente e informante do governo federal. Ele cita, como prova, carta do Coronel Benjamin Ribeiro da Costa, de dezembro de 1932, quando este estava no exílio argentinio junto aos demais líderes do levante, incluindo o Coronel Figueiredo. O conteúdo da carta era a respeito de informações coletadas por Ribeiro da Costa para elaboração de plano para novo levante contra o regime Vargas. Adhemar de Barros, na qualidade de mensageiro único, teria sido o responsável pela entrega de uma cópia dessa correspondência à polícia de Vargas. O fato foi revelado anos depois pelo jornalista e historiador Hélio Silva, autor de 1932: a guerra paulista, que pesquisava para o seu livro, descobrindo a carta nos arquivos de Vargas.
Vida pública
Primeiros passos
Lançado na política partidária por um tio, ex-senador estadual na República Velha, José Augusto Pereira de Resende, chefe político do Partido Republicano Paulista (PRP) da região de Botucatu. Em 1934 elegeu-se deputado estadual constituinte pelo PRP, fazendo forte oposição ao governador Armando de Sales Oliveira, denunciando principalmente desmandos na administração do Instituto Butantã na gestão daquele governador.
Como deputado estadual defendeu a cultura do café, apoiou o candidato José Américo de Almeida, que disputava contra Armando de Sales Oliveira, a presidência da república nas eleições que deveriam ocorrer em janeiro de 1938. Defendeu presos políticos, entre eles Caio Prado Júnior, e foi oposição ao governo federal de Getúlio Vargas.
Foi deputado estadual até 10.11.1937, quando Getúlio deu golpe do Estado Novo cerrando todas as casas legislativas do Brasil.
Interventor federal (1938–1941)
Durante o Estado Novo foi nomeado interventor federal em SP pelo presidente Getúlio Vargas, recomendado por Benedito Valadares e Filinto Müller. Governou SP, como interventor, de 27.4.1938 a 4.6.1941.
Getúlio, em 1950, assim narrou, para Revista do Globo, a escolha de Ademar:
“A escolha de Adhemar de Barros para a interventoria em SP foi uma prova de meu esforço de dar ao Brasil novos líderes. Adhemar fora me apresentado não me recordo por quem (Benedito Valadares) e passara a visitar-me frequentemente em palácio, trazendo notícias de SP. Ora vinha com novidade sobre a política ora com detalhes sobre o progresso da indústria no estado bandeirante. Com o tempo as visitas se tornaram mais repetidas de sorte que eu ficava ao par de tudo o que acontecia em SP … (Em São Lourenço), convidei-o apenas para interventor e tracei-lhe as diretrizes que deveria tomar. Não o conhecia muito bem e, era necessário, portanto, fazer-lhe algumas observações. (O repórter pergunta se Adhemar foi indicado por alguém): "Não, Mas suspeito que ele era protegido de Filinto (Müller)!".
Inaugurou, no seu primeiro governo, visitas frequentes às pequenas cidades do interior do estado, antes ignoradas pelos governadores. Foram 58 cidades do interior visitadas por Adhemar, somente nos dois primeiros anos da interventoria. Visitou, em 1939, no extremo oeste do estado, em Andradina, o Rei do Gado, Antônio Joaquim de Moura Andrade.
Como interventor, cabia a Adhemar, nomear todos os prefeitos do estado, através do "Departamento das Municipalidades" que prestava assessoria às prefeituras. Adhemar preferiu nomear jovens técnicos para as prefeituras, demitindo todos os prefeitos do estado, logo que assumiu o governo, renovando o quadro político de SP e preterindo políticos do antigo PRP.
Iniciou, em 1939, a construção do Edifício Altino Arantes, sede do Banco do Estado de SP, inaugurado por Adhemar (1949), no seu segundo governo. Iniciou a construção do atual edifício-sede da Secretaria da Fazenda de SP.
Criou e organizou em 5.12.1938, a Casa de Detenção de SP, extinguindo a Cadeia Pública e o Presídio Político da Capital. Este decreto previa a separação de réus primários dos presos reincidentes e a separação dos presos pela natureza do delito. Iniciou em 1940 a construção das atuais dependências da Academia de Polícia Militar do Barro Branco.
Iniciou, em 1939, as obras da Rodovia Anchieta, a primeira rodovia brasileira com túneis. Iniciou as obras da Rodovia Anhanguera em 1940. Ambas as rodovias seriam duplicadas no seu primeiro mandato como governador (1947–1951). Ampliou o Aeroporto de Congonhas. Iniciou a retificação do Rio Tietê. Iniciou a construção do Hospital das Clínicas da USP e do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros. Construiu no complexo do Hospital do Mandaqui, hospital para portadores do pênfigo foliáceo, (fogo selvagem), doença que não recebia, na época, nenhuma assistência.
Para dar impulso às grandes rodovias, reformou o DER, Departamento de Estradas de Rodagem, criando nele, setor especializado em grandes empreendimentos rodoviários, por decreto estadual de 30.5.1939, a "Comissão Especial para Construção de Estradas de Rodagem de Alta Classe". No mesmo ano, instituiu ainda a Diretoria de Esportes do Estado de SP, por meio do decreto, nomeando como seu primeiro diretor o então capitão Sylvio de Magalhães Padilha, atleta olímpico brasileiro, quinto colocado nos Jogos Olímpicos de Berlim,1936.
As escolas estaduais, mesmo as rurais, recebiam, no tempo da interventoria, material escolar para as crianças.
Iniciou a eletrificação da Estrada de Ferro Sorocabana e terminou a Estação Júlio Prestes daquela ferrovia. Iniciou o prolongamento da Estrada de Ferro Araraquara, de Mirassol a Santa Fé do Sul, fator decisivo para o povoamento daquela região, a Alta Araraquarense, na década de 1940. O plano de Adhemar era estender a Araraquarense até Cuiabá.
Construiu o Estádio do Pacaembu, em parceria com o então prefeito de SP Prestes Maia, para ser utilizado na Copa do Mundo de 1942, a qual acabou não acontecendo pela Segunda Guerra Mundial. Também, em parceria com Prestes Maia, realizou o Plano de Avenidas de SP, inaugurando, em 1938, com presença de Getúlio Vargas, o túnel da Avenida 9 de Julho.
Construiu e entregou o primeiro autódromo brasileiro, Interlagos. Organizou o Instituto de Previdência do Estado de SP.
Em 1940, confiscou o jornal O Estado de SP, pertencente à família Mesquita e ao seu desafeto político Armando de Salles Oliveira. O jornal só foi devolvido aos seus proprietários em 1945.
Acusado de corrupção foi exonerado do cargo de interventor federal pelo presidente Getúlio Vargas (1941), mas, provou sua inocência no Tribunal de Contas do Estado de SP em 1946.
1945–1951: o PSP e o primeiro mandato como governador
Em 1945 foi permitida novamente a existência de partidos políticos, os quais haviam sido extintos em 1937. Adhemar se filiou à UDN e apoiou o brigadeiro Eduardo Gomes para presidente da república nas eleições de 2.12.1945.
Adhemar logo se afastaria da UDN, fundando em 1946 o Partido Republicano Progressista (PRP), que se fundiu com o Partido Popular Sindicalista (Miguel Reale e José Adriano Marrey Júnior) e o Partido Agrário Nacional ( Mário Rolim Teles), formando o Partido Social Progressista (PSP), que se tornou o maior partido político de SP entre 1947 a 1965, e o único partido político com diretórios em todos os municípios do estado de SP.
Com o retorno de Armando Sales de Oliveira, do exílio, em 1945, Ademar tentou se reconciliar com ele, porém não conseguiu pela recusa da família de Armando Sales.
Eleito governador em 1947, governou SP até 31.1.1951. A Coligação PSP-PCB de Ademar causou protestos entre os membros da Igreja Católica paulista.
Neste período tiveram continuidade importantes obras iniciadas em sua época de interventor, como a construção da segunda pista da Rodovia Anhanguera e a segunda pista da Rodovia Anchieta, ambas pavimentadas e que se tornaram as duas primeiras rodovias brasileiras de pista dupla. As rodovias Anhanguera e Anchieta foram as primeiras rodovias brasileiras com duas faixas de rolamento de cada lado. Adhemar seguiu uma tradição de antigos governantes paulistas, como Washington Luís, que dizia que "governar é abrir estradas".
A pavimentação de estradas, com asfalto e concreto, uma inovação na época, feita por Adhemar, era malvista e criticada por muitos políticos, que a consideravam processo muito caro. Muitos políticos da época entendiam que os recursos públicos estariam melhor empregados se fossem usados na construção de novas estradas de terra e na manutenção e conservação das estradas de terra já existentes.
Seu lema era "São Paulo não pode parar", tempos depois reiterado por Paulo Maluf. Este lema tornou-se ideal da maioria dos políticos de SP.
Neste seu segundo governo estadual, o prefeito da capital paulista era de livre nomeação do governador do estado, o que fez com que Adhemar controlasse também a prefeitura de SP. Em 1947, Adhemar nomeou para a prefeitura de SP, Paulo Lauro, primeiro negro a ocupar o cargo de prefeito da capital paulista.
Criou o Plano Hidrelétrico de SP, base da atual infraestrutura energética do estado e plano convertido em lei (1955). Criou o Ceasa, Centrais de Abastecimento de SP, para distribuição de alimentos no atacado, administrado atualmente pelaCompanhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de SP (CEAGESP).
Criou, depois de violenta greve nos transportes na capital, a Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), empresa estatal de linhas de ônibus urbanos, 1947. Inaugurou o Museu de Arte de SP (MASP) em 1948. Instalou em 1949, na capital paulista, a primeira linha de trólebus do Brasil e inaugurou, em 1951, a rodovia Presidente Dutra, na época chamada de BR-2, rodovia duplicada apenas em pequeno trecho de SP até Guarulhos, obra iniciada por Adhemar em 1947.
Criciúma não tem seu buraco do prefeito? Pois durante sua gestão foi construída passagem de nível no Vale do Anhangabaú, sob a Avenida São João, que ganhou o apelido popular de "Buraco do Adhemar".
Investindo muito em sanatórios, Ademar torna Campos do Jordão centro nacional de tratamento da tuberculose. A primeira-dama Leonor Mendes de Barros criou em Campos do Jordão (1947), o Hospital "Bandeira Paulista contra a Tuberculose". Sanatórios eram importantes naquela época porque não havia ainda a vacina BCG contra a tuberculose.
Ao assumir o governo, Ademar encontrou deficientes mentais misturados aos presos nas cadeias de SP, e os transferiu para hospitais psiquiátricos. Somente no início de 1947, foram transferidos 947 doentes. Criou a FEBEM, Fundação para o Bem-Estar do Menor, e a Campanha do Agasalho e o "Natal das crianças pobres".
Também enviava, junto com a primeira-dama paulista, Dona Leonor Mendes de Barros, cartas, agasalhos e presentes para pacientes dos sanatórios que construiu.
Em 1947, Ademar terminou o balneário de águas terapêuticas de Ibirá, cujas obras, iniciadas por particulares, estavam paralisadas. Foram desapropriados imóveis e executados projetos para a construção da cidade universitária da USP. Através de lei estadual levou a USP para o interior do estado. criando, entre outras, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, e a Escola de Engenharia de São Carlos, (por intermédio do deputado federal Miguel Petrilli, cuja base eleitoral era São Carlos), dando origem ao Pólo Tecnológico de São Carlos.
Oficializou o Palácio do Horto Florestal de SP como residência de verão do governador do estado. Criou, em 1948, o salário-família para o funcionalismo público estadual. Iniciou a construção do Aeroporto de Viracopos, terminado no seu segundo mandato como governador.
Criou, em 10.1.1948, a Polícia Rodoviária do Estado de SP, por decreto estadual. Composta inicialmente por 60 ex-pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), a Polícia Rodoviária de SP foi popularizada, na década de 1960, pelo programa Vigilante Rodoviário da TV Tupi.
Criou, em 14.12.1949, por decreto estadual, a primeira Polícia Ambiental da América do Sul. Criou, em 16.8.1950, por Boletim Geral, a Delegacia da Polícia Militar, atual Corregedoria de Polícia Militar do Estado de SP.
ACUSAÇÕES DE CORRUPÇÃO
Talvez as acusações mais conhecidas tenham sido o sumiço das urnas marajoaras, uma bobagem.
Também acusado de corrupção na Estrada de Ferro Sorocabana e em obras viárias, por deputados estaduais, entre eles Caio Prado Júnior, do PCB, fez sua defesa, na Assembleia Legislativa de SP.
Em 1950, Adhemar não se candidatou à presidência, apoiando como governador, ao candidato Getúlio Vargas, constituindo uma aliança entre PTB e PSP que nomearia de "Frente Populista". O apoio de Ademar foi decisivo para a eleição direta de Getúlio à Presidência da República em outubro daquele ano. Getúlio teve, em SP 25% do total de seus votos. Adhemar esperava que, em contrapartida, Getúlio o apoiasse nas eleições presidenciais de 1955.
Outro motivo de Ademar não se candidatar à presidência, em 1950, era que teria que deixar o governo de SP com seu vice-governador e adversário político Luís Gonzaga Novelli Júnior, genro do presidente Eurico Dutra.
Adhemar elegeu como seu sucessor, em 1950, o engenheiro Lucas Nogueira Garcez, que governou SP de 1951 a 1955. Durante seu governo, Lucas Garcez rompeu politicamente com Ademar, não o apoiando na sua tentativa de voltar ao governo de SP, nas eleições de 1954, vencidas por Jânio Quadros. (Continua e finaliza na próxima semana).
Em 1970, não havia garoto que não exibisse nos pés os calçados KICHUTE. Ainda hoje, saudosistas da marca famosa, comovem-se quando leem a respeito nos jornais ou suplementos literários.
No outro dia, contemporâneo meu escreveu sobre a VARIG num jornal carioca e foi o suficiente para despertar torrentes de emoções contidas a custo.
Em 1970, ano do lançamento do KICHUTE pela indústria Alpargatas e ano do tricampeonato mundial, seu uso alcançou a década de 90. O calçado era de cor preta, feito de lona, tinha um reforço na frente e era próprio para resistir às piores condições de terreno, do areião ao asfalto. O número de pares de calçados vendidos anualmente era de 9 milhões e teve Zico como seu garoto propaganda (KICHUTE: calce esta força!).
Não cheguei a usar o calçado, mas meus filhos, sim. Foi o ano abençoado em que vivi no Rio de Janeiro com minha família, graças a uma bolsa de estudos na área de Oftalmologia no Hospital dos Servidores do Estado, o IPASE.
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Joviano e Evaldo
Joviano de Rezende e Evaldo Machado dos Santos fundaram os Oculistas Associados do Rio de Janeiro em 1965. Trata-se de Empresa de Pequeno Porte, Sociedade Simples Limitada. Funcionava nas dependências do Hospital da Cruz Vermelha Brasileira, centro da cidade do RJ. Em 1970 frequentei a clínica e conquistei a amizade de vários de seus componentes, sobretudo de Joviano, excelente professor de Oftalmologia e de Evaldo, gaúcho de Jaguarão e coronel-médico da Aeronáutica. Evaldo especializara-se em Plástica Ocular e Estrabismo, operando com grande desenvoltura. Sílvio Provenzano, outro componente dos Associados, foi grande profissional que conheci na ocasião. O grupo propiciou formação especializada a mais de 300 oftalmologistas espalhados por todo territ&ó e;rio nacional por meio do Centro de Estudos e Pesquisas Oculistas Associados - CEPOA - credenciado ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Atualmente, a Clínica está localizada no bairro de Botafogo, zona sul da cidade do Rio de Janeiro.
Evaldo operou sob grande sigilo o presidente Figueiredo no RJ portador de lacrimejamento incômodo e persistente que desafiava a perícia de todos os oftalmologistas consultados. Já fora operado por duas vezes do olho afetado sem sucesso. Vem de Brasília para ser examinado por Evaldo, pai de duas filhas. Num domingo, auxiliado por ambas, opera o presidente no centro cirúrgico vazio do Hospital São Francisco de Paula no RJ. Evaldo retorna para casa e atende ligação telefônica num mundo ainda sem celulares. Do outro lado a voz inconfundível do governador Leonel de Moura Brizola:
- Doutor Evaldo: estou sabendo agora que o senhor operou o presidente Figueiredo hoje, mas não sei onde. Peço-lhe que transmita ao presidente que meu governo está à sua inteira disposição para qualquer coisa que venha a precisar.
Bem diferente daquilo que a imprensa propalava, que ambos se odiavam, que os dois viviam às turras. Evaldo transmite dia seguinte ao presidente o recado de Brizola. Figueiredo observa:
- “De todos esses políticos que andam por aí, este é o único grato pelos benefícios que tenho a ele prodigalizado”. Quem diria!
Joviano foi meu examinador em concurso para provimento de cargo de Oftalmologista no Hospital dos Servidores do Estado no RJ, o IPASE, 1971. Fui aprovado em 1º lugar. Joviano e Tancredo faleceram no mesmo dia, 21.04.1985. Viajei para o enterro de Joviano no RJ. A certa altura da cerimônia fúnebre, Sílvio Provenzano aproximou-se, e, falando pelo canto da boca, hábito seu, sussurrou:
- ‘Tás sabendo que vão operar hoje em SP, novamente, o Tancredo, não sabes?
- Não, não sabia. Coitado, do que vai ser operado?
Sílvio segredou-me:
- Do ouvido! Jesus está chamando o homem esse tempão todo e ele não escuta!
Joviano e sua Eliane, ela também oftalmologista, viajaram o mundo. Conheci-os na Sociedade Brasileira de Oftalmologia, na época na rua México, centro do RJ. Estávamos sentados, o casal e eu, ocupando as extremidades da longa mesa em que empilháramos alguns livros para consulta. Eu ainda não os conhecia. Joviano pergunta pelo meu nome e de onde eu era. Disse-lhe. Com grande tato, informou-me que lendo artigo de Ruy Costa Fernandes, outro monstro-sagrado da oftalmologia de então, viu nome absolutamente correto para designar o outro olho ao se discorrer sobre um olho:
-O outro olho? Olho contralateral? O segundo olho? Joviano lera no artigo a denominação absolutamente precisa: Olho adelfo!
Ele era assim: gostava de compartilhar conhecimento. Voltando de uma viagem a Paris, pega pedaço de giz e rascunha no quadro negro do centro cirúrgico no Hospital da Cruz Vermelha, Av. Mem de Sá, RJ, ao mesmo tempo em que esclarecia:
- Casal recém-casado, prepara-se para a lua de mel enquanto promete à sogra do rapaz mandar relatórios diários do desenvolvimento do início da vida em comum dos pombinhos.
Joviano escreve a primeira mensagem telegráfica, do jovem na lousa do Centro Cirúrgico:
-7.13.3 (c’est três étroit). A sogra, mais que depressa responde:
-6.7,13.3.7.9 (si c’est tréze étroit c’est neuf). O jovem encerra a correspondência com:
-6.7.9.7.10.20 (si c’est neuf c’est divin).
Rápido perfil de dois gigantes da oftalmologia nacional
Joviano era a elegância personificada. Acho que nunca foi visto sem paletó. Tinha gestos e linguagem refinadas. Em congressos, suas falas eram ouvidas e aplaudidas com entusiasmo. O exercício de oratória educacional possibilitava-lhe uso mais econômico e racional das palavras. O estilo de Evaldo era bem diverso: pele mais escura, largo sorriso, bom bebedor de cerveja e uísque, natural de Jaguarão no RS, sempre manifestava-se grato ao grande oftalmologista gaúcho Ivo Corrêa Mayer por tê-lo influenciado a buscar a Aeronáutica como maneira de exercer a oftalmologia. Ria-se gostosamente, em gaitadas, como ele próprio dizia. De que maneira duas pessoas tão diferentes foram sócios na mesma clínica sem que nunca se ouvisse qualquer palavra de cada um deles que desabonasse o outro?
Em novembro de 1974, numa reunião no RJ da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, resolvem, o Dr. Eduardo Soares (BH), Dr. Eloy Pereira (Campo Grande) e o Dr. Evaldo Machado dos Santos (RJ) criarem o Centro Brasileiro de Cirurgia Plástica Ocular, cuja meta era congregar os oftalmologistas interessados na especialidade, divulgar os conhecimentos e desenvolver a Plástica Ocular no país. A presidência do Centro primeiramente foi assumida pelo Dr. Eduardo Soares, com um mandato de dois anos.
Em 8 de setembro de 1979, durante o XX Congresso Brasileiro de Oftalmologia, assumiu a presidência do Centro Brasileiro de Cirurgia Plástica Ocular, o Dr. Eurípedes da Motta Moura (SP), que juntamente com o Dr Waldir Portellinha, secretário, regularizaram juridicamente a entidade, transformando-a em Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular (SBCPO), o que permitiu que ela se afiliasse ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia dois anos mais tarde. A SBCPO é sociedade civil de caráter científico e sem fins lucrativos, com as mesmas metas anteriormente formuladas pelo Centro Brasileiro de Cirurgia Pl ástica Ocular. Em 1997, foi lançado o livro Cirurgia Plástica Ocular, editado por Eduardo Soares, Eurípedes da Mota Moura e João Orlando Gonçalves, com participação de 49 especialistas em Cirurgia Plástica Ocular. A SBCPO, em 1999, em evento coordenado pelo Dr. Hélcio Bessa, comemorou 25 anos de sua fundação com um encontro científico e homenagem aos fundadores da entidade.
Evaldo Machado dos Santos
Nasceu em Jaguarão (RS) em 29.05.1916 formando-se em 1941 pela Faculdade de Medicina da Universidade do RS. Foi discípulo do prof. Ivo Correa Meyer. Fundou o Serviço de Oftalmologia do Hospital Central da Aeronáutica, RJ. Especialista em estrabismo e cirurgia plástica ocular, foi presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (1960 e 1961). Em 1965, com Joviano Rezende fundou os Oculistas Associados onde exerceu clínica particular durante 30 anos. Faleceu no RJ em 5.12.1999.
Evaldo, entre outras coisas, era célebre no RJ e alhures, também pelo open-house que produzia todos os anos em sua cobertura no Leblon. O local era famoso porque um grupo de criminosos tomou de assalto supermercado local, enclausurando funcionários do estabelecimento no seu frigorífico. O apartamento de Evaldo localizava-se exatamente em frente ao supermercado assaltado. O open-house começava em certo dia de dezembro quando Evaldo convidava meia dúzia de pessoas, revelando dia, local e hora da efeméride. Havia a possibilidade de convidados doarem gêneros, acepipes, bebidas e até tira-gostos. No dia aprazado longa fila de convidados-de-boca e de convidados de convidados, engrossava o já intransitável redut o da família Evaldo Machado dos Santos. A frequência era variada: sambistas, chorões, colegas de farda da aeronáutica do anfitrião, o mundo oftalmológico da Cidade Maravilhosa e adjacências, socialites, jornalistas, artistas, bicões, políticos em evidência, futebolistas, craques de outras modalidades esportivas, grande número de botafoguenses e udenistas, escritores, empresários, colunistas sociais, radialistas, compositores, carnavalescos... o mundo!
O Café Soçaite
Miguel Gustavo compôs o samba satirizando a alta sociedade carioca (1955). Eram tempos em que surgiam as colunas sociais, graças ao jornalista Ibrahim Sued, do jornal O Globo, e também a Jacinto de Thormes, da revista O Cruzeiro. A música é cheia de referências a lugares, personalidades e termos utilizados na época. O sucesso de “Café Soçaite” – a mais tocada do ano – rendeu frutos. Em 1956 Jorge Veiga lançou o LP “Café Soçaite em ritmo de samba”, com músicas de Miguel Gustavo (1922-1972). Em 1957, Gustavo compôs continuação da música.
Letra de Café Soçaite
Doutor de anedota e de champanhota
Estou acontecendo num Café Soçaite
Só digo enchanté, muito merci, all right
Troquei a luz do dia pela luz da Light.Agora estou somente contra a Dama de Preto
Nos dez mais elegantes, eu estou também
Adoro Riverside, só pesco em Cabo Frio
Decididamente, eu sou gente bem.Enquanto a plebe rude na cidade dorme
Eu ando com Jacinto, que também é de Thormes
Terezas e Dolores, falam bem de mim
Eu sou até citado na coluna do Ibrahim.E quando alguém pergunta: como é que pode?
Papai de Black-tie, jantando com Didu
Eu peço outro Whisky
Embora esteja pronto
Como é que pode? Depois eu conto... FIM
Parte 3 de 3
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Cortejo fúnebre e enterro
Dia seguinte, a Globo exibiu imagens do cortejo fúnebre do Instituto do Coração ao Aeroporto de Congonhas, em SP. Multidão de dois milhões de pessoas se despediu de Tancredo Neves nas ruas da capital paulista. O telejornal acompanhou todo o trajeto do corpo em Brasília e em BH, mostrando de perto as demonstrações de apreço e tristeza da população. O enterro de Tancredo em São João del Rei, a 24.04.1985, foi transmitido ao vivo pela Globo. A editora Sílvia Sayão lembra que a montagem do equipamento para a transmissão foi complicada, durando quase um dia inteiro. No desfecho do sepultamento, o repórter Carlos Nascimento interrompeu a narração e as imagens mostraram o lento trabalho do coveiro João Aureliano, cercado de autorida des e parentes de Tancredo.
Nascimento relembra o episódio: “O enterro foi à noitinha, às sete horas mais ou menos. Durante a tarde, Boni queria esquentar a programação e me mandou narrar o que estava acontecendo. Só que não estava acontecendo nada, porque os políticos iam começar a chegar depois. Mas ele me mandava falar. Eu ia, subia no telhado e pensava: ‘Vou falar o que, meu Deus?’ Aí, eu narrava as montanhas de São João del Rei, o pôr-do-sol, descrevia e falava do Tancredo e o sino tocava… e ficava aquela coisa poética. Boni falava: ‘Ah, está ótimo!’ Foi assim a tarde inteira. Até que, enfim, à noite, houve o sepultamento e aquela cena incrível do sujeito com a pá. Quando eu comecei a falar, o Boni disse: ‘ A única hora que não é para falar é agora! Deixa, deixa!’ Então ficou aquele som do coveiro.”
A morte do oftalmologista Joviano de Rezende Filho, criador dos oculistas associados
Joviano de Rezende Filho, grande mestre que marcou a história da Especialidade e um dos pioneiros no moderno tratamento das doenças da retina no Brasil. Joviano nasceu em Porto Novo do Cunha, MG, em 03.04.1912, filho primogênito do médico Joviano de Medeiros Rezende e de Kerma de Araújo Rezende. Formou-se em Medicina pela então Faculdade de Medicina da URJ, atual URJ, então na Praia Vermelha. Antes mesmo de graduar-se começou a atuar como interno na I Enfermaria do Hospital São Francisco de Assis e, logo depois tornou-se Assistente da Clínica Oftalmológica da então Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil (renomeada em 1937), sob a direção do Professor Octávio do Rego Lopes, onde ficou até 1942. Nas décadas de 30 e 40 do séc ulo passado, consolidaram-se os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) de várias categorias profissionais, principais meios para a prestação de assistência médica aos trabalhadores. Joviano obteve o primeiro lugar no concurso para médico oftalmologista no antigo Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários (IAPI), tornando-se chefe do serviço até sua aposentadoria compulsória, mesmo depois da unificação dos vários IAPs no órgão que depois se transformou no atual INSS. Joviano conseguiu que o seu serviço não ficasse adjunto a um hospital do próprio Instituto, mas sim em hospitais terceirizados, o que lhe dava mais autonomia. Conseguiu, desta forma, transformar seu serviço em referência nacional em tratamento, principalmente cirúrgico, e também como centro informal de ensino da especialidade, da mesma forma que seu consultório particular, sempre aberto para os colegas oftalmologistas de todo o Brasil que quisessem aprender a Oftalmologia da época. Iniciou suas pesquisas sobre descolamento de retina com o famoso oftalmologista espanhol Hermenegildo Arruga que no final da década de 30 e os anos 40, esteve no Brasil refugiando-se da situação política conflituosa em seu país.
Depois, Joviano contatou com expoentes mundiais dos estudos retinianos como Jules Gonin e Marc Amsler. Na década de 50, além do serviço no IAPI e no consultório particular, Joviano também foi presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO). Nesta época passou por dificuldades, seu pai ficando impossibilitado de clinicar, tendo ele que assumir tal responsabilidade. Na década de 60, ocorre o primeiro grande avanço sobre semiologia das doenças da retina e seus tratamentos. Meyer- -Schwikerath, na Alemanha, construiu o primeiro fotocoagulador de xenônio para a destruição de tumores retinianos. Nesta época, Joviano frequentava congressos internacionais e, com Nelson Moura Brasil, foi a Essen (Alemanha). Decidem comprar de Schwikerath o fotocoagulador de xenônio, pr imeiro a ser instalado no Brasil. Na mesma época, Charles Scheppens, em Boston, desenvolveu técnicas, instrumental cirúrgico e componentes para a cirurgia de descolamento de retina, objeto de estudos de Joviano. Baseado na experiência adquirida, Joviano elaborou o trabalho “Diatermia e fotocoagulação no tratamento do descolamento da retina”, apresentado e publicado nos Anais do XII Congresso Brasileiro de Oftalmologia, em BH, 1962, quando recebeu o importante Prêmio Adaga. Joviano passou a ser referência nacional em Descolamento de Retina. Na época, as cirurgias eram complexas, duravam em média de 3 a 4 horas e os resultados que alcançavam 50% de recuperação visual eram considerados excelentes.
Em 1965, seu consultório particular não tinha mais como expandir-se fisicamente e Joviano trabalhava praticamente sozinho. Nesta mesma época, o Hospital Gaffré Guinle, onde estava instalado o serviço de Joviano. Em 1965, seu consultório particular não tinha mais como expandir-se fisicamente e Joviano trabalhava praticamente sozinho. Nesta mesma época, o Hospital Gaffré Guinle, onde estava instalado o serviço de Joviano. Joviano passou a ser referência nacional em Descolamento de Retina. Nesta mesma época, o Hospital Gaffré Guinle, onde estava instalado o serviço de Joviano (já INPS – Instituto (*) Liane Nogueira Nascimento de Rezende passava por dificuldades administrativas e Joviano buscava novos desafios. Recebeu então proposta do presidente da C ruz Vermelha Brasileira no RJ para instalar um serviço de oftalmologia. O teto do andar térreo do velho prédio do hospital tinha o pé direito baixo para a época e, jocosamente, chamado de porão, embora tivesse área superior a mais de 300 m². Foi lá que Joviano instalou seu consultório. Para isto precisou vender um sítio, as salas que possuía em prédio do centro da cidade, empregando todas as suas economias. Para o novo consultório também foram os oftalmologistas Maria Lessa, Fernando Dantas Coutinho, Sylvio Provenzano, Evaldo Machado Santos, Raphael Benchimol, João Andó, Mario Bonfim , Humberto Sampaio, Davi Gryner, Edson Cavalcanti, Murilo Fontoura de Carvalho, Augusto Duarte e Flavio Rezende Dias.
A atitude de Joviano, organizando grande grupo de médicos numa clínica particular foi considerada pelos colegas como absurdo. Para dar nome à clínica, Joviano escolheu Oculistas Associados, a primeira clínica particular com vários colegas trabalhando em conjunto, contrariando a ideia até então consolidada que somente em universidades isto seria possível. Na nova clínica, Joviano estabeleceu a sistemática de reunir todos os médicos três vezes por semana para estudar e dar aulas sobre assuntos relacionados com a Oftalmologia, com grande sucesso. Assim começou o embrião do Centro de Estudos e Pesquisas Oculistas Associados - CEPOA. O ambulatório também começou a ser frequentado por colegas recém formados que não enc ontravam lugar para se especializar e assim surgiu a necessidade de formar um curso de especialização em Oftalmologia, que evoluiu e foi credenciado pelo CBO durante o Congresso Brasileiro de Salvador, 1972.
Recém formado, Joviano frequentava a Enfermaria de Oftalmologia da Santa Casa do RJ, serviço da Faculdade de Medicina da Universidade, cujo departamento de oftalmologia era dirigido por José Antônio de Abreu Fialho, professor titular. Este tempo foi aproveitado para estudo de aparelhos oftalmológicos comprados pela universidade e instalados na Santa Casa. Entretanto, cedo Joviano percebeu que por injunções da política universitária não conseguiria progredir na carreira naquela instituição. Décadas mais tarde, um grupo de médicos fundou a Faculdade de Medicina de Volta Redonda, que contava com subsídio da Companhia Siderúrgica Nacional. O projeto original previa escola de excelência, que formasse no máximo 90 médicos por ano. Isto func ionou até que o governo militar do presidente Costa e Silva dirigiu comunicado ao diretor da faculdade sobre a necessidade de aumentar o número de alunos para 250 por turma. O corpo docente opôs-se ao aumento das vagas. Diante disso, a subvenção da CSN seria reduzida substancialmente. Joviano imediatamente avisou que daquela data em diante não mais receberia um centavo da faculdade e sugeria que aqueles professores que tivessem condições fizessem o mesmo. Foi a maneira que o mestre oftalmologista encontrou para opor-se à arbitrariedade. Na faculdade era responsável pela Cadeira de Oftalmologia e vice-diretor (julho/1974 a julho/1978) e também diretor interino (agosto de 1977). Permaneceu na faculdade até 10.04.1985, vindo a falecer em 21.04.1985.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE RETINA E VÍTREO Na década de 60, um novo mundo se abria para a retina: novos aparelhos, novas técnicas cirúrgicas e de diagnóstico e novos procedimentos. Sergio Cunha, que estagiara com Scheppens, Francisco Mais, do Instituto Penido Burnier, Luiz Assumpção Osório, do RS e Cristiano Barsante, do serviço do Professor Hilton Rocha passaram a promover reuniões para discutir problemas relacionados com o tema. Em 1970, Francisco Mais, presidente do Congresso Brasileiro de Oftalmologia convidou o professor Shimizu, do Japão, para falar sobre angiofluoresceinografia, e Alice McPherson para falar sobre cirurgia (nesta época Roberto Abdala Moura ainda trabalhava com ela em Houston, ambos vindos da escola de Scheppens). O te ma oficial do congresso versava sobre retina. Era o momento da retina e as conversas sobre a possibilidade da formação de uma sociedade tinham como quartel general a casa e a clínica de Joviano. A primeira reunião oficial foi um curso realizado na véspera do Congresso Brasileiro de Oftalmologia do RJ, setembro de 1977, que teve como convidado de honra o professor Charles Scheppens. A Sociedade passou a realizar reuniões, cursos e congressos. Hoje conta com elevado número de associados, sede própria.
HERANÇA Era uma pessoa elegante no trato e com cuidado e atenção especial à ética. Discreto, evitava promoção pessoal. Recebeu homenagens que nunca divulgou. Em 1978 recebe o título de Cidadão do RJ e em 1980 durante o I Congresso das Entidades Médicas foi eleito Médico do ano. Não entrou para a Academia Nacional de Medicina apesar dos insistentes pedidos do amigo Nelson Moura Brasil. Durante o Congresso Brasileiro de Oftalmologia (1975, Fortaleza), foi indicado para presidente do CBO, mas declinou da honraria em favor de Paiva Gonçalves Filho: “você foi preparado por mim. Você veio estudar Oftalmologia comigo, é minha cria e para mim é um orgulho que seja você o novo presidente. O progresso a contece quando o aluno consegue suplantar o mestre. Vá em frente e conte com o meu voto”.
EU E JOVIANO Liane conheceu Joviano quando tinha três anos de idade. Ele era médico da Venerável Ordem da Penitência, hospital importante na época e era oftalmologista da família. Tínham 25 anos de diferença em idade. Aos 6 anos ele passou a ser seu oftalmologista. Quando terminou o curso científico, era sua intenção seguir Medicina, mas teve a oposição da família. Na década de 50, as mulheres ainda não tinham crédito para a profissão e só aos 30 anos, Joviano e ela iniciaram vida matrimonial, recebeu dele apoio e entusiasmo para prestar vestibular e estudar Medicina. Formou-se em 1977. Ele sempre a apoiou, mas nunca a protegeu. Ela escolheu a Oftalmologia, algo que o encantou, até po r que, não tiveram filhos e ela era a única da família a escolher Medicina.
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João Figueiredo ainda no poder, Tancredo mostrava-se alerta com lição aprendida de Vargas: “No Brasil, não basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse!” Exibia uma inteligência que podia ser alegre e erudição que podia ser agradável.
Político marcante da história brasileira, passando pelo governo Vargas, pelo Parlamento após o primeiro golpe contra Jango, foi quadro central do MDB e, finalmente, por eleição indireta durante o processo de abertura após quase 40 dias de agonia, e comoção nacional, Tancredo Neves morreu em 21.04.1985, um domingo, sem assumir o cargo para o qual fora eleito.
Eleição e morte de Tancredo Neves
Derrotada a emenda Dante de Oliveira, líderes peemedebistas, mais parcelas do PDS se articularam na Aliança Democrática para disputar em 15.01.1985, as eleições para presidente da República no Colégio Eleitoral. Candidato daquela frente partidária, Tancredo Neves vence (480 votos contra 180) o candidato governista Paulo Maluf. A eleição indireta de Tancredo Neves foi recebida com entusiasmo pela maioria do povo. Seria ele, finalmente, o primeiro presidente civil do país após mais de 20 anos. Presidente eleito, Tancredo jamais assumiu o governo. Véspera da sua posse, foi internado no Hospital de Base, Brasília, com fortes dores abdominais. Seu vice, José Sarney, assumiu a Presidência dia seguinte, 15.03.1985.
Equipe e estrutura
O jornalismo da Globo cobriu amplamente doença e padecimentos de Tancredo Neves. O planejamento da edição especial do Jornal Nacional mobilizou quase todo o jornalismo da emissora. Em 12 de abril, frente ao agravamento da saúde de Tancredo, Luís Edgar de Andrade, chefe de redação, é nomeado como responsável pelo esquema de colocação do JN especial no ar. Era sua incumbência escalar as equipes de plantão (chefes e subchefes dos estúdios, redatores, produtores, apresentadores e entrevistadores), checar as escalas do Centro de Produção de Notícias, toda a estrutura da Divisão de Operação e da Engenharia. Deveria também controlar os turnos de plantão, realizar testes de prontidão nos e stúdio do RJ, SP e Brasília. Os testes eram completos, indo desde a leitura das primeiras páginas do script até conferir as matérias nos equipamentos de VT.
Participaram da cobertura 15 repórteres: André Luiz Azevedo, Carlos Tramontina, Caco Barcellos, Carlos Dorneles, Tonico Ferreira, Ana Terra, Leila Cordeiro, Sandra Moreyra, Neide Duarte, Leonel Da Mata, Fernanda Esteves, Valéria Sffeir, Geraldo Canali, Álvaro Pereira e Pedro Rogério, entre outros. O repórter Carlos Nascimento destacou-se por entrar ao vivo no Jornal Nacional e narrar longos textos de improviso, sem erro. A equipe contou com a ajuda de profissionais da Divisão de Esportes e de emissoras afiliadas à Globo.
Todos trabalharam intensamente durante o período em que Tancredo Neves ficou internado. Tonico Ferreira achava, no final, que “a gente ia morrer junto com ele de tão cansados que ficávamos. Fui dormir pensando que no dia seguinte ia fazer a cobertura da posse. Estava tudo preparado: as divisões de matérias, quem iria fazer o quê. E à noite fomos informados que o homem tinha ido para o Hospital de Base! Uma parte da equipe ficou cobrindo a doença do Tancredo e outra cobriu a posse do Sarney. Depois, Tancredo foi transferido de Brasília para o INCOR em SP. Nós ficamos uma eternidade, na frente daquele hospital. A Globo pontificou com importantes entradas ao vivo, do Tramontina e do Nascimento, que comunicavam diariamente todo o noticiário com detalhes sobre qual antibi&ó e;tico Tancredo estava tomando. Foi bem difícil e dramática aquela cobertura: o povo ali na frente, o país parado. Cobertura inesquecível pelo lado triste e pelo cansativo.” (Tonico Ferreira).
A música Coração de Estudante, autoria de Wagner Tiso originalmente para homenagear outro mineiro, Teotônio Vilella, famosa na voz de Milton Nascimento, tornou-se uma espécie de hino patriótico, louvação a Tancredo Neves.
Isabela Assumpção concordava: “A gente tinha escalas para ficar na frente do Incor. Um repórter ia rendendo o outro por horário. Lembro que peguei um turno que começava à meia-noite indo até de manhã. Durante dias, fiquei nesse turno. Dava até para cochilar um pouco no carro. Os técnicos das UPJs (Unidades Portáteis de Jornalismo) ficavam acordados; acontecendo algo eles avisavam.” Apesar do cansaço, o trabalho foi de grande aprendizado para os jornalistas (Carlos Tramontina): “Período em que vivemos importante experiência, o país acompanhando tudo que ocorria na porta do Incor e nós evoluíndo profissionalmente. Aprendemos como falar sobre coisas técnicas de maneira simples, compreendidas pela população. Pess oas esperavam nossos telejornais para saber dos níveis de potássio e creatinina no organismo presidencial. Assuntos e termos médicos passaram a fazer parte do dia-a-dia das pessoas.”
Enterrado Tancredo, Luís Edgar de Andrade escreve à redação agradecendo a colaboração dos profissionais, realizando verdadeiro mutirão de telejornalismo: “Merecem cumprimento especial àqueles que, repetidamente, dobraram o expediente, trabalhando 12, 14 e até 16 horas por dia, sacrifícando lazer e convívio familiar, varando madrugadas, script na mão e os que passaram noites editando nas ilhas do ENG.”
O sofrimento de Tancredo Neves
Jornal Nacional exibiu matérias sobre a doença de Tancredo Neves desde 14/3, além de boletins ao vivo sobre seu estado de saúde. A princípio, essas matérias dividiam espaço com outras sobre a implantação da Nova República. Aos poucos, a saúde do presidente ocupou praticamente todo o noticiário. Vivemos clima de comoção nacional, acompanhando a agonia de Tancredo, desde a transferência de emergência para SP até a série de sete operações a que foi submetido. Contínuas manifestações de solidariedade da população em frente ao Instituto do Coração, SP, davam ar mais dramático aos fatos. O país passou semanas aguardando pelos boletins sobre a saúde do presidente, l idos diariamente pelo jornalista Antônio Britto, que deixara o cargo de editor-regional da Globo de Brasília e assumira o de porta-voz da Presidência. Naquele período, o JN contava sempre com a entrada de um repórter – em geral, Carlos Nascimento – direto do hospital. O último bloco do noticiário, de 15 minutos, era dedicado integralmente ao assunto. Carlos Nascimento atualizava as informações sobre o estado de saúde de Tancredo, do Instituto do Coração, em SP.
Em 21/4 após 39 dias de agonia, Tancredo Neves morreu no Instituto do Coração, vítima de infecção generalizada. O comunicado oficial do falecimento, domingo, às 22h30, por Antônio Britto, foi notícia dada no Fantástico. Carlos Tramontina, no hospital, deu ao vivo a informação. Logo após o Fantástico, foi ao ar Jornal Nacional especial apresentado por Sérgio Chapelin, com quatro horas de duração. Foram exibidos retrospectiva dos fatos, desde a eleição de Tancredo no Colégio Eleitoral até sua morte, e resumo da sua trajetória política, mostrando sua atuação como ministro da Justiça de Getúlio Vargas e como primeiro-ministro em 1961-62, a eleição para o governo de Min as Gerais em 1982 e sua decisiva participação na campanha das diretas.
Entrevistas foram realizadas, algumas delas no estúdio da Globo, RJ, com políticos e personalidades, como o sociólogo Gilberto Freyre. O historiador Raimundo Faoro falou ao repórter Paulo Henrique Amorim sobre questões legais relativas à permanência do vice José Sarney como presidente. Sobre esse assunto, o professor de direito constitucional Célio Borja foi entrevistado por Leda Nagle e pelo telefone, a repórter também conversou com o jurista Afonso Arinos. Artistas e personalidades de diferentes áreas prestaram depoimentos e homenagens a Tancredo Neves. Fafá de Belém inovou cantando o Hino Nacional com acompanhamento apenas de piano, com arranjo e andamento diferentes do usual. Videocharge de Chico Caruso mostrou rosto de Tancredo numa bola de gás subindo aos céus. Terminada a edição especial do JN, a Globo continuou apresentando plantões com informações sobre a repercussão da morte de Tancredo.
Parte 1 de 3 I Texto continua na próxima semana...
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