Pois um noticiário vindo pela televisão faz poucos dias disse ser crítica a situação cultural de nosso país que é, tecnicamente, um país de analfabetos. Pesquisa realizada entre o povo, pelas ruas ou onde quer que fosse, levantou que a esmagadora maioria da população não lera nenhum livro ou fração de livro nos últimos 3 meses. Não me refiro aqui a livros didáticos, cuja leitura é obrigatória.
Já li em algum lugar aquilo que escrevi a seguir. O ensino escolar pode ser considerado inútil quando não é capaz de proporcionar aos alunos uma aprendizagem estimulante e motivadora. Fatores que podem contribuir para o fracasso escolar incluem: desinteresse do aluno ou do professor, falta de acompanhamento da família, problemas com a metodologia utilizada, desrespeito à singularidade do aluno, problemas cognitivos do aluno.
A falta de educação escolar pode ter consequências graves para os indivíduos e para a sociedade. Para os indivíduos, pode significar menos oportunidades de emprego, renda e qualificação profissional, além de maior risco de envolvimento com drogas, criminalidade e violência. Para a sociedade, pode significar a perda de cidadãos mais educados, produtivos e conscientes de seus direitos e deveres. A escola é um ambiente fundamental para o aprendizado, principalmente das crianças e adolescentes. Ela possibilita a troca de conhecimento, o amadurecimento intelectual e amistoso, contribui para o convívio social.
AÍ, VOCÊ FICA PENSANDO NAS POTÊNCIAS MUNDIAIS COMO A CHINA
São monumentais as exibições bélicas chinesas. Os milenares fastos da China passaram por cima do longo período em que Mao Tsé-tung ameaçava ser maior do que o país que ele governou com mão de ferro, coadjuvado por sua mulher, que também fez das suas, na decantada Revolução Cultural, que pretendia mudar não apenas a China mas o mundo todo.
Vamos admitir que a situação daquele país, em termos políticos e de direitos humanos é preocupante, criando uma discussão paralela: o atual e portentoso desenvolvimento da economia chinesa compensa, atenua, justifica o regime de força?
OBRIGAÇÃO ESTATAL
Obrigação de um Estado é, antes de mais nada, criar condições de liberdade para o povo. O progresso é necessário e bem-vindo, mas o importante é garantir que o cidadão seja livre para inclusive poder se beneficiar do progresso. Mussolini propôs aos italianos: pão ou canhão. Preferiram o canhão. Pois é.
Os entendidos estão prevendo que o século 21 será o século da China. Ela será a única superpotência mundial nas próximas décadas. Uma escola em Washington, entre outras matérias, ensina o mandarim - a língua oficial dos chineses. É um sintoma ao mesmo tempo cultural e pragmático. É bom que as novas gerações se preparem para o futuro. Não o futuro alegórico de Mao, mas o futuro real, que aponta para a economia e a ditadura do mercado. De minha parte, já passei da idade de aprender o mandarim ou qualquer outra coisa de utilidade imediata. Estou mais preocupado em não esquecer o pouco que aprendi.
VISÃO POLÍTICA
Ex-ministro do STF no outro dia teria deixado escapar, tratando de outra agenda: "Eu não sei definir pornografia, mas reconheço-a quando a vejo".
POR TUDO ISSO, VAMOS LER!
Todo indivíduo só será capaz de se tornar um leitor ativo, se estiver comprometido com a busca do saber. O ato de ler não pode ser uma obrigação, é uma virtude que precisa ser cultivada com todo cuidado. O aluno precisa de incentivo, ajuda e apoio, para se tornar um leitor. Caso algum desses incentivos seja ignorado por parte de alguns profissionais, este aluno poderá ser um eterno leitor frustrado.
Borges, quando professor de literatura na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires, recusava-se a dar bibliografia a seus alunos: “ Porque vocês não estudam diretamente os textos? Se tais textos lhes agradam, ótimo. Caso contrário, não continuem, pois a leitura obrigatória é uma coisa tão absurda quanto falar em felicidade obrigatória”.
Mário Quintana dizia: “analfabeto é precisamente aquele que, sabendo ler, não lê”.
FICAR EM CASA
Os jovens de hoje se sentem miseráveis se não podem viajar nas férias. Eu nunca viajei. A gente ficava era em casa mesmo, tempo preguiçoso e vazio à nossa frente. Que fazer com o tempo? Meu pai entrou de sócio para um “clube do livro”. Todo mês chegava um livro novo. Eram uns livros feios – brochuras de papel jornal, as páginas vinham grudadas – a gente tinha de ir abrindo com uma faca à medida que lia. Isso irritava porque interrompia o ritmo da leitura.
Para que a leitura dê prazer é preciso que quem lê domine a técnica de ler. A leitura não dá prazer quando o leitor sabe juntar as letras, dizer o que significam – mas não têm o domínio da técnica. O leitor dominou a técnica da leitura quando não precisa pensar em letras e palavras: só pensa nos mundos que saem delas; quando ler é o mesmo que viajar.
Ensina-se nas escolas, muita coisa que a gente nunca vai usar, depois, na vida inteira. O ensino escolar pode ser considerado inútil quando não é capaz de proporcionar aos alunos uma aprendizagem estimulante e motivadora. Fatores que podem contribuir para o fracasso escolar incluem: desinteresse do aluno ou do professor, falta de acompanhamento da família, problemas com a metodologia utilizada, desrespeito à singularidade do aluno, problemas cognitivos do aluno.
A falta de educação escolar pode ter consequências graves para os indivíduos e para a sociedade. Para os indivíduos, pode significar menos oportunidades de emprego, renda e qualificação profissional, além de maior risco de envolvimento com drogas, criminalidade e violência. Para a sociedade, pode significar a perda de cidadãos mais educados, produtivos e conscientes de seus direitos e deveres.
A escola é um ambiente fundamental para o aprendizado, principalmente das crianças e adolescentes. Ela possibilita a troca de conhecimento, o amadurecimento intelectual e amistoso, e contribui para o convívio social.
Obrigaram-me a aprender muita coisa que não era necessário, que eu poderia ter aprendido depois, quando e se a ocasião de sua necessidade o exigisse. Nunca usei seno ou logaritmo, nunca usei meus conhecimentos sobre as causas das Guerras Napoleônicas, nunca tive de empregar os saberes da genética para determinar a prole resultante do cruzamento de coelhos brancos com coelhos pretos, nem a escolha do sistema modelo primário de Mendel, nunca houve ocasião para que eu me valesse de saberes sobre sulfetos ou que tais.
LEITURA E BURRICE
Muitas pessoas inteligentes por nascimento, ficaram burras por excesso de leitura. Esta afirmação contraria aquilo que os professores normalmente dizem e fazem. Eles acreditam que livros, quanto mais melhor. E, a partir deste princípio, emprestado por analogia da antiga etiqueta culinária mineira, obrigam seus alunos a ler listas infindáveis de livros – provas da seriedade de seu saber e do rigor de seus cursos.
Sei que o excesso de leitura faz mal para a inteligência. Encontrei um aliado no livro “Sobre livros e leituras” de Arthur Schopenhauer: “Quando lemos, outra pessoa pensa por nós: só repetimos seu processo mental. Durante a leitura nossa cabeça é apenas o campo de batalha de pensamentos alheios”.
Em outras palavras: ler é um exercício de alienação. A palavra vem do latim, alius, “o outro”. O alienado é uma pessoa que está fora de si, caminha num mundo que não é o seu; é de outro. Mas isso, precisamente, é o que a leitura faz. A alienação é uma das fontes de prazer da leitura. Por meio dela sou capaz, ainda que por um curto espaço de tempo, de sair de minha realidade e viver a realidade de outro
Mas, aquilo que é remédio no varejo, vira veneno no atacado. Schopenhauer também diz: “aquele que lê muito e quase o dia inteiro e que nos intervalos se entretém com passatempos triviais, perde, paulatinamente, a capacidade de pensar por conta própria.” “É por isso que, no que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante”. “Este é o caso de muitos eruditos: leram até ficar estúpidos. Porque a leitura contínua, retomada a todo instante, paralisa o espírito ainda mais que um trabalho manual contínuo, já que neste ainda é possível estar absorto nos próprios pensamentos”. Nietzsche disse no ECCE HOMO: “Os eruditos, que hoje nada mais fazem que “dedar”livros (ir virand o páginas com os dedos), acabam por perder inteiramente a capacidade de pensar por eles mesmos. Enquanto vão lendo, não pensam. Os eruditos gastam todas as suas energias dizendo Sim e Não na crítica daquilo que outros pensaram – eles mesmo não têm mais a capacidade de pensar”.
Borges, numa conferência sobre “O livro”, cita Sêneca, que censura o dono de uma biblioteca de 100 livros. “Quem”, ele pergunta, “é capaz de ler 100 livros?”
Valendo-me das metáforas culinárias, atrevo-me a dizer que, com frequência, as chamadas avaliações escolares (as provinhas) são ocasiões pós-refeição em que se provocam vômitos intelectuais nos alunos, para verificar se o vomitado é idêntico ao que foi engolido.
A MAIOR PARTE DAS ESCOLAS SÃO MUITO CHATAS
A prova de que uma criança gosta de ir à escola é se, na hora do recreio, ela está conversando com os amigos sobre as coisas que a professora ensinou. E não se vê isso. Então fica evidente que elas gostam da escola por causa da sociabilidade, dos amiguinhos, por causa do recreio. Mas elas não estão interessadas naquilo que se ensina na escola. Você acha que um adolescente, vivendo na periferia, pode ter interesse em dígrafos (grupo de duas letras usadas para representar um único fonema)? Não tem interesse-nenhum.
Bem reparado, as crianças fazem perguntas incríveis para conhecer melhor o mundo. Uma delas: ''Quem inventou as palavras?''. Há outras boas: ''Gato podia chamar cavalo e cavalo chamar gato? Por que canteiro chama canteiro? Devia chamar planteiro, que é onde ficam as plantas! Por que a chuva cai aos pinguinhos e não toda de uma vez? Se na Arca de Noé havia leões, por que eles não comeram os cabritos?'' E vai por aí. Elas estão fazendo perguntas interessantes, mas as respostas não se encontram nos programas.
''Às vezes vejo os professores como esses guias turísticos que vão todo dia ao mesmo monumento, levando um grupo diferente e repetindo as mesmas palavras''.
"As escolas são chatas porque não levam em consideração as crianças, eles (burocratas) estão preocupados com administração.
O erro das escolas é ensinar coisas que os alunos nunca vão usar e, mais que isso, estão longe da realidade de vida deles. "Crianças de uma favela de São Paulo não podem aprender as mesmas coisas que alunos da Amazônia", diz, ressaltando que há coisas básicas e instrumentais, como a tabuada e a matemática, que devem ser as mesmas.
Resumindo: são duas, apenas duas, as tarefas da educação. (1) Explicações conceituais são difíceis de aprender e fáceis de esquecer, por isso recomendo a quem ensina andar sempre pelo caminho dos poetas, que é o caminho das imagens. Uma boa imagem é inesquecível. Assim, em vez explicar o que disse, mostro o que disse por meio de uma imagem.
(2) Ferramentas são melhorias do corpo. Os animais não precisam de ferramentas porque seus corpos já são ferramentas. Eles lhes dão tudo aquilo de que necessitam para sobreviver. Os seres humanos são desajeitados quando comparados com os animais! Veja, por exemplo, os macacos. E os saltos dos cangurus, das pulgas e dos gafanhotos! Já prestou atenção na velocidade das formigas? Mais velozes a pé, proporcionalmente, que os bólidos de F-1! Nossa inteligência se desenvolveu para compensar nossa incompetência corporal. Inventou melhorias para o corpo: pilões, porretes, facas, flechas, redes, barcos, jegues, bicicletas, casas... Disse Marshall MacLuhan corretamente que todos os "meios" são extensões do corpo. É isso que são as ferramentas: meios para viver. Ferrame ntas aumentam a nossa força, nos dão poder. Sem ser dotado de força de corpo, pela inteligência o homem se transformou no mais forte de todos os animais, o mais terrível, o maior criador, o mais destruidor. O homem tem poder para transformar o mundo num paraíso ou num deserto.
Arte de pensar: ponte para o desconhecido. Tão importante quanto a aprendizagem do uso das ferramentas existentes —de aprendizagem mecânica— é a arte de construir ferramentas novas. Na caixa das ferramentas, ao lado das ferramentas existentes, mas em gaveta separada, está a arte de pensar.
(Fico a pensar: o que as escolas ensinam? Elas ensinam as ferramentas existentes ou a arte de pensar, chave para as ferramentas inexistentes?)