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Por Benito Gorini 02/06/2022 - 15:00 Atualizado em 06/06/2022 - 12:17

O gênio humano frequentemente se manifesta em descobertas que se baseiam unicamente em um cérebro privilegiado e observador. O matemático Eratóstenes, astrônomo, geógrafo, filósofo, poeta e diretor da  biblioteca de Alexandria , cidade muito conhecida pelo seu famoso farol, uma das maravilhas do mundo antigo, calculou a circunferência da Terra com grande precisão no século III  a.C.  Eratóstenes sabia que no dia 21 de junho, data do solstício de verão no hemisfério norte, o sol do meio-dia não produzia sombras na cidade de Syene,  a atual Assuã, próxima a primeira catarata do Nilo. O reflexo do sol podia ser obtido na água, no fundo de um poço.

Foi uma observação que qualquer outra pessoa teria ignorado. Eratóstenes, no entanto, era um cientista e observou que na mesma hora o sol produzia sombras em Alexandria. Como os raios solares chegam paralelos à Terra, fato já conhecido pelos antigos egípcios, o nosso planeta não poderia ser plano (há 23 séculos a ciência já sabia disso mas os terraplanistas ainda não sabem). Eratóstenes sabia que a distância de Syene a Alexandria era de 800 km pois  havia contratado um homem para medi-la em passos. Com este dado e com o ângulo obtido pela sombra de varetas colocadas verticalmente ao meio-dia em Alexandria, o cientista determinou a circunferência da Terra, através de simples cálculo trigonométrico.   O valor encontrado por Eratóstenes foi de 40.000 km., muito próximo da medida atual. 

A moderna Biblioteca de Alexandria, próxima ao local onde ficava a antiga biblioteca

Galileo Galilei, ao observar a oscilação de um lustre no interior da Catedral de Pisa formulou as leis do movimento pendular. Em 1.609, aperfeiçoando um telescópio desenvolvido na Holanda 1 ano antes, descobriu as luas de Júpiter Io, Europa, Ganimedes e Calisto, corroborando as ideias heliocêntricas de Copérnico. Isso vinha de encontro aos dogmas da igreja católica, de um universo centrado na Terra, com tudo girando ao seu redor. Galileo teve que se retratar, para evitar o destino de um outro grande cientista, Giordano Bruno, condenado a morrer na fogueira em 1.600 no Campo dei Fiori, em Roma. No entanto, nos últimos momentos de sua longa existência, Galileo afirmou : “Eppur si muove”.

Campo dei Fiori, mercado de rua de Roma com o monumento de homenagem a Giordano
Bruno ao fundo
O Batistério, o Duomo e a Torre de Pisa, no Campo dos Milagres

 

A tumba de Galileo Galilei na Igreja de Santa Croce, em Florença, onde estão sepultados Michelangelo, Maquiavel e Rossini

 

Descobertas de Copérnico, Galileo e Newton. Uma boa opção é o filme “A Vida de Galileu”, de Joseph Losey baseado na obra de Bertolt Brecht

Em 1851 no Panteão de Paris, imenso templo construído por Luís XV e onde estão sepultados os grandes de França como Voltaire, Rousseau, Mirabeau, Victor Hugo, Louis Braille, Alexandre Dumas e Emile Zola, foi realizada uma experiência interessante. Pela oscilação de um pêndulo preso à abóbada da igreja e que completou um giro de 360 graus em 24 horas, o físico francês Léon Foucault  comprovou o movimento de rotação da Terra. 

 

Varetas, lustres, pêndulos e cérebros prodigiosos fizeram a diferença.

Por Benito Gorini 26/05/2022 - 14:58 Atualizado em 26/05/2022 - 15:17

Os imigrantes italianos, “i nostri antenati”, deixaram sua amada Itália em um momento extremamente difícil de suas vidas. O desemprego e a pobreza, geradoras de grave penúria material, agravados pela falta do conforto espiritual de um povo de forte religiosidade,  ocasionado por uma igreja em crise, precipitaram as levas de imigração. Devemos lembrar que as guerras pela unificação afetaram sobremaneira o norte da Itália. O Veneto, limítrofe às regiões austríacas do Tirol e Carintia, tornando-se o principal palco das operações bélicas, foi particularmente atingido. A queda de Roma em 1870, com a consequente perda do poder temporal da Igreja veio agravar a situação. A similaridade topográfica contribuiu para fixar os vênetos e lombardos  no sul de Santa Catarina e na serra gaúcha.

"A cabra alpina, a marmota, o sino, os castelos e o relógio-cuco, típicos dos Alpes"

Edelweiss, a flor símbolo dos Alpes. Música composta por Rodgers e Hammerstein para o filme A Noviça Rebelde.

Os agentes recrutadores conheciam as difíceis condições climáticas e agrárias  de Bérgamo e Beluno, origem de muitos imigrantes. Os pré-alpes destas regiões  guardam uma certa semelhança com as colinas e montanhas próximas à Serra Geral. Sabiam que seria menos penosa a adaptação nas novas terras, inóspitas e intocadas , para  um povo acostumado com as adversidades. O importante legado de nossos antepassados, de determinação, perseverança e trabalho árduo logo revelou bons frutos, bem demonstrados pela pujança da indústria e comércio de nossa região. As tradições religiosas, gastronômicas e folclóricas também foram preservadas, evidenciadas pelos inúmeros eventos realizados em praticamente todos os municípios sul-catarinenses. A arquitetura também foi contemplada, com a construção de edificações urbanas e rurais, como igrejas, casas coloniais e de pedra e os muros que delimitavam terrenos, as famosas taipas. O canto alpino me comove sobremaneira, talvez pela minha herança veneto-lombarda. Canções como La Montanara,  Il Testamento del Capitano e Signore delle Cime, embora relembrando tristes eventos, são um vivo testemunho do fascínio que as montanhas exerciam sobre os imigrantes.

A bela canção La Montanara, cantada em italiano e alemão. A região do Trentino Alto-Adige só foi anexada à Itália após a Primeira Guerra Mundial. O alemão é a língua dominante no Alto-Adige.

II Testamento del Capitano: “L’ultimo pezzo alle montagne che lo fioriscano di rose e fior”.

I Crodaioli cantando Signore delle Cime, homenagem de Beppi de Marzi a um amigo morto nas montanhas.

 

Por Benito Gorini 19/05/2022 - 15:00

“Uma noite eu tive a sede de um príncipe, depois a de um rei, depois a de um império, a de um mundo em fogo.” O poema “Açúcar” (Sugar) do norte-americano James Dickey descreve com precisão os sintomas da doença: a sede, a necessidade de urinar várias vezes ao dia e em grandes volumes. A doença era grave, geralmente fatal em jovens. A descoberta da insulina em 1921 por dois pesquisadores da Universidade de Toronto, Frederick Banting e Charles Best, pôs fim a este sofrimento e a morte prematura dos diabéticos. No entanto a sobrevida aumentada trouxe complicações praticamente inexistentes anteriormente, como a cegueira, a insuficiência renal e os distúrbios circulatórios que levam a amputação de dedos, pés e pernas. 

Grande parcela dos portadores da doença não se conscientiza da gravidade do problema, postergando o controle da glicemia , o popular “açúcar no sangue”, bem como do colesterol, triglicerídeos e da pressão arterial, que complicam sobremaneira o prognóstico da enfermidade . Assim procedendo permitem o aparecimento de lesões irreversíveis em pequenos vasos que fazem a nutrição de inúmeros órgãos do corpo humano, em especial dos olhos, rins e membros inferiores. Quando os sintomas aparecem, como a deficiência visual, a doença já está muito avançada e o tratamento mais difícil. Só um controle rigoroso com o endocrinologista e avaliações periódicas com oftalmologista, nefrologista e angiologista pode evitar as graves complicações da doença, que condena pessoas ainda jovens a aposentadorias, benefícios e incapacidades laborativas. 

O processo de formação da visão:

 

As alterações no fundo de olho de pacientes diabéticos:

O custo social das seqüelas da patologia é imenso. Cegos e mutilados não podendo mais desempenhar suas atividades habituais, pacientes com insuficiência renal sendo submetidos à hemodiálise enquanto aguardam o transplante, que provavelmente nunca virá. É bem verdade que as conquistas da medicina, como o raio laser, as cirurgias vasculares, novos medicamentos e equipamentos para controle dos níveis glicêmicos, aparelhos de diálise, próteses, etc, atenuaram em parte o sofrimento causado por esse terrível mal, insidioso, crônico e progressivo.

Podemos resumir em uma palavra a tranqüilidade com que se evitam os “dissabores” : P R E V E N Ç Ã O . Portanto; controle, não para amanhã ou por alguns meses, mas sim desde hoje e por todos os dias, para que eles sejam profícuos.... e bem vividos.

Por Benito Gorini 12/05/2022 - 15:02

O carniceiro Putin, elogiado por Bolsonaro e Lula, (pobre Brasil) acreditou que sua máquina de guerra conquistaria a Ucrânia em uma blitzkrieg de 2 dias. Não contava com a determinação do povo ucraniano e de seu destemido presidente, que liderou a resistência ao opressor russo com risco da própria vida. Zelensky revelou-se também um ótimo comunicador, nos inúmeros contatos com organismos internacionais. A Rússia, de tantas glórias e grande tradição na literatura, música e balé, não merecia tamanha rejeição mundial causada pelas atitudes de seu insano ditador.

A Abertura 1812 de Tchaikovsky, sobre a invasão napoleônica na Rússia, no filme Guerra e Paz, baseado na obra-prima de Tolstói

 

Maya Plisetskaya em A Morte do Cisne, baseado no Carnaval dos Animais, de Camille Saint-Saens

Há certa similaridade com Churchill, o grande primeiro ministro britânico que enfrentou o terceiro reich de Hitler utilizando-se de sua proverbial retórica como arma. Após a primeira guerra mundial os franceses construíram a Linha Maginot - enorme complexo de fortalezas paralelas ao Reno, estendendo-se da Suíça à Bélgica. - que julgavam inexpugnável. Em maio de 1940 as divisões Panzer de Guderian em uma guerra relâmpago invadiram a Bélgica pelas Ardenas, flanqueando a Linha Maginot e encurralando as tropas inglesas e francesas na região dos Altos da França.

A cidade-fortaleza de Neuf-Brisach construída por Vauban, engenheiro militar de Luis XIV e incorporada à Linha Maginot


Inexplicavelmente o Fuhrer ordenou aos seus comandados que detivessem os tanques, permitindo a evacuação de 340 mil soldados na célebre retirada de Dunquerque. Os discursos de Churchill, que seria agraciado com o Prêmio Nobel de 1953 pelo livro Sangue, Suor e Lágrimas, encheram de ânimo o Reino-Unido, até então apavorado com o poderio militar alemão e a capitulação da Holanda, Luxemburgo, Bélgica e França. A reação inglesa possibilitou a continuação da guerra - que parecia perdida - por mais 5 anos, com a derrota final dos nazistas.
Grandes estadistas, Que falta enorme estão fazendo ao Brasil.

O famoso discurso de Churchill “Nós Nunca Iremos nos Render”


 

Por Benito Gorini 05/05/2022 - 15:54 Atualizado em 05/05/2022 - 16:31

Fausto Coppi, il campionissimo, foi um ciclista italiano vencedor de 5 edições do Giro d’Italia. Por ironia do destino, em um esporte com alto risco de acidentes, acabou falecendo precocemente vitimado pela malária. Cima Coppi é o título dado ao passo de montanha mais alto alcançado pelos ciclistas durante a disputa de cada edição do Giro d’Italia. Foi introduzido em 1965 para
homenagear o grande campeão.

O Passo dello Stelvio, com 2.757 m e o mais alto da Itália é o Cima Coppi por excelência, tendo sido utilizado em 9 ocasiões. No entanto, o Passo Pordoi, com 2.239 m, nos dolomitas, detém o
recorde com 13 participações.

O pódio do Cima Coppi no Stelvio

Um grupo de motociclista de Criciúma e região teve a oportunidade de percorrer os 88 tornanti, as fechadas curvas do Stelvio, uma experiência única. No mesmo dia fizemos o Passo Umbrail, com 2.501 m , a estrada pavimentada mais alta da Suíça. Almoçamos em Glorenza, cidade cercada por muralhas e dormimos em Bormio, bela cidade da Lombardia com as magníficas termas Bagni Vecchi, da época do Império Romano.

Beto Rizzotto documentando com precisão o Passo dello Stelvio

A cidade murada de Glorenza

Outro paraíso para os amantes de duas rodas é o Maciço de São Gotardo, na Suíça, o maior divisor de águas da Europa. Três grandes rios nascem nas montanhas próximas mas seus estuários situam-se a grande distância. O Reno dirige-se ao Mar do Norte, o Ródano ao Mediterrâneo e o Ticino é um grande afluente do Pó, com foz no Adriático. O Furka Pass é o mais famoso da região, tendo sido utilizado nas filmagens de 007 Contra Goldfinger.

Alemão Góes e Mazinho Rocha em frente ao Hotel Belvedere, no Furka Pass

 

Sean Connery em 007 Contra Goldfinger, filme de 1964, ano de lançamento do Mustang

O rio Aare, que forma os belos lagos Brienz e Thun, e o Reuss, que contribui para a formação do Lago dos Quatro Cantões, também nascem no maciço mas são rios exclusivamente suíços. De moto percorremos os magníficos passos Oberal, Furka, Nufenen, São Gotardo, Susten e Grimsel em 2 dias.

O grupo do Giro Alpino 2 no Grimsel Pass

 

Por Benito Gorini 28/04/2022 - 10:02

Com este artigo  encerramos a série “Europa em 5 sentidos”.  Nas viagens com freqüência nos defrontamos com desagradáveis sensações olfativas, muitas vezes comprometendo nossas impressões sobre belas cidades. O mau cheiro dos canais de Veneza e dos banheiros próximos à Basílica de São Pedro, o bafo de alho na linha 4 do metrô de Paris, o fedor dos jovens mochileiros, há vários dias sem tomar banho, são exemplos típicos. 
Experiência semelhante tivemos ao visitar Mürren. Rompeu uma mangueira de um reservatório de adubos e por pouco não levamos um banho do “perfumado” conteúdo. 

Mürren, bela cidade dos Alpes Suíços, livre da circulação de carros.

No entanto, as lembranças prazerosas são as que ficam registradas em nossa memória.  Os aromas da Provença são o grande atrativo desta região francesa da costa mediterrânea. Seus campos de lavanda, o perfume de jasmim das colinas de Grasse,  as fragrâncias da Perfumaria Galimard os artigos de toucador da charmosa Saint Paul de Vence, atraem turistas de todo o mundo. O delicioso cheiro  da culinária provençal, temperada com finas ervas, e o bouquet de  um Chateauneuf du Pape, devem ser apreciados com vagar, antecipando as maravilhosas sensações gustativas que virão a seguir.

O vilarejo medieval de Eze, entre Nice e Mônaco

Mercado de ervas da provença em Eze

Outra experiência olfativa ocorre ao adentrar uma grande catedral europeia, como ocorre em Santiago de Compostela,.  O movimento do enorme botafumeiro  inunda  a imensa catedral com  o aroma do incenso, tornando ainda mais solene o grande momento vivido. 

O Botafumeiro na Catedral de Santiago de Compostela


Concluímos nossas impressões sensoriais com os vinhos da Borgonha,  famosos já na idade média, desenvolvidos por monges cluniacenses e cistercienses. Em uma estreita faixa de 45 km, a Cote d´Or, em vinhedos de reduzidas dimensões, são produzidos vinhos de excepcional qualidade, como o  Romanée-Conti, da uva Pinot Noir,  e o Montrachet, da cepa Chardonnay. Em meados de novembro realiza-se em Beaune, cidade medieval localizada no centro dos vinhedos e antiga capital da Borgonha,  um importante leilão de vinhos, que poderão atingir cifras astronômicas alguns anos mais tarde. Um assunto para connaisseurs, como, aliás, tudo o que se refere à ciência e arte da bebida dos deuses.

O Castelo Clos de Vougeot, na Cote d´Or, principal região  vinícola da Borgonhaa
O Boeuf Bourguignon, tradicional prato da Borgonha

 

Por Benito Gorini 22/04/2022 - 09:25 Atualizado em 22/04/2022 - 09:48

Em 1784, Valentin Hauy, o “pai e apóstolo dos cegos”, descobriu um cego esmoler  no adro da igreja de Saint Germain des Prés, que era capaz de identificar os diferentes tipos e valores das moedas pelo tato. Fundou então a primeira escola para deficientes visuais  baseada na leitura tátil. Quarenta anos após, Louis Braille, cego desde os três anos de idade, desenvolveu um método que, embora combatido no princípio, recebeu consagração universal: a leitura de 6 pontos em relevo. Sentado  no Les Deux Magots - na mesa que talvez tenha sido ocupada por Hemingway ou Scott Fitzgerald - ou no Café de Flore - em que Sartre e Simone de Beauvoir eram habitués – ambos localizados em frente à igreja, podemos imaginar a expressão de espanto de Hauy ao dar a esmola ao cego, mais uma descoberta  casual da ciência. 

O Café Les Deux Magots, frequentado por  escritores da “geração perdida” e citado por Hemingway no livro "Paris é uma Festa"

O Museu Rodin, situado ao lado do Dôme des Invalides, local da enorme tumba de Napoleão, foi o cenário de mais uma interessante experiência sensorial. Observamos grupos de cegos, orientados por um monitor, tateando obras previamente selecionadas e emitindo suas impressões sobre esculturas do grande mestre ou de sua aluna e amante, Camille Claudel. As obras O Pensador, As Portas do Inferno e O Beijo fazem parte do acervo do museu, que conta também com um belo jardim repleto de esculturas.

O Beijo, escultura em mármore no Museu Rodin
O Pensador, nos jardins do Museu Rodin

As estações termais europeias desfrutavam de grande prestígio no século XIX, procuradas por reis, nobres, ricos e poderosos em busca do alívio de suas dores reumáticas ou da cura da tuberculose, doença que ceifava a vida de muitos jovens, especialmente os artistas românticos de vida desregrada.  Um banho nas tépidas águas de  St. Moritz, Baden-Baden, Bad Ischl, Karlsbad (Karlovy Vary) e Mariembad, acrescido de massagens com lama terapêutica, proporcionava grande relaxamento e bem estar físico, auxiliando sobremaneira na mitigação do sofrimento.  Experiência semelhante pode ser vivenciada quando, extenuados após uma visita de dia inteiro pelos pontos turísticos europeus, tomamos um relaxante banho de banheira, especialmente ao lado da mulher amada. Mas aí já é outra história, com outros sentidos (ou todos) envolvidos.

Os amigos do Giro Alpino nos Bagni Vecchi de Bormio, da época do Império Romano
Restaurando as energias depois de percorrer de moto os desafiadores Passos Umbrail e Stelvio, na Suiça e Itália

Estruturas de bronze  tornam-se esverdeadas com o passar dos anos. O exemplo típico é o Vert Galant, estátua equestre de Henrique IV na Place Dauphine, na Ile de la Cité. O verde galante refere-se à fama de conquistador do rei francês,  bem evidenciada no filme A Rainha Margot. O interessante é que o bronze, submetido a atrito constante das mãos,  torna-se polido, adquirindo cor dourada.  O pé da estátua de São Pedro no Vaticano, o nariz dos leões na Residenz em Munique, o busto de Julieta em Verona, os signos do zodíaco no pátio do Castelo de Praga, o focinho do porcelino no mercado de Florença, as proeminências de formas fálicas da enorme porta da Basílica de San Giovanni in Laterano em Roma, as mãos de Fernando Pessoa em frente do Café A Brasileira em Lisboa  e aqui em Criciúma o Marcelino Champagnat no pátio do Colégio Marista , são exemplos marcantes. O mais inusitado, no entanto, é o jacente  do escritor Victor Noir, morto por um enciumado sobrinho de Napoleão. A escultura , deitada sobre a lápide no Cemitério Père Lachaise, em Paris, revela partes da anatomia bem polidas, como lábios, tórax e coxas, mas, principalmente, um proeminente volume correspondendo a região dos órgãos genitais. 

Escultura de Victor Noir. O Père Lachaise é o mais famoso cemitério do mundo. Chopin, Allan Kardec, Marcel Proust, Oscar Wilde, Jim Morrison e Edith Piaf são algumas das celebridades do cemitério

 

Por Benito Gorini 14/04/2022 - 07:30 Atualizado em 14/04/2022 - 11:06

O sentido do gosto nos proporciona experiências fascinantes, sendo fonte de enorme prazer mas também de grandes dissabores (com o perdão do trocadilho), como as graves implicações físicas e psíquicas da gula, um dos pecados capitais. 

Os brasileiros viajando pela Europa costumam reclamar das opções gastronômicas, bem diferentes das nossas. A Itália é uma exceção. Come-se bem, a preços mais acessíveis que os demais países. Os italianos, exagerados nos gestos e na comida, gozam certamente de um metabolismo especial, que os permite digerir a enorme quantidade de tortellini, fettuccini, spaghetti, canelloni, ravioli e lasagna que comem... Ah, não podemos esquecer da pizza. E o vinho, é claro. E para arrematar, um bom tiramisù. Isso depois de ter degustado um antepasto de carciofi, oliva, prosciutto e parmigiano. Mamma mia! Em um restaurante da Scalinata di Spagna, em Roma, tivemos a ousadia de desfrutar de tamanha orgia gastronômica (passamos os dois dias seguintes à base de panini e água mineral).   

Carciofi alla Romana, alcachofras com sal, alho, salsinha,
limão, vinho branco e azeite de oliva, tradicional prato de Roma

Se deliciar com um Bacalhau à Sobral, acompanhado de um excelente vinho do Alentejo e um show de fado? Experimentamos a Parreirinha da Alfama, tradicional tasca do famoso bairro lisboeta. Tinhamos subido de elétrico - como é chamado o bonde - a íngreme colina que passa pela Mouraria e conduz ao Castelo de São Jorge, com excepcional vista de Lisboa. Descemos por estreitas e sinuosas ruelas até o restaurante, bem próximo ao Tejo. Atualmente, a qualidade do “Parreirinha” tem deixado a desejar principalmente depois da morte da cantora Tina Santos, que animava a noite com seus belos fados.

Tudo Isto É Fado, com a grande Amália Rodrigues

Jantar no Hofbrauhaus é um dos melhores programas em toda a Europa. Todo o dia, centenas de turistas e locais saboreiam as suas excelentes bratwurst, wienerwurst, sauerkraut, kartoffel e demais pratos da culinária alemã, acompanhados por diversos tipos de chope em canecas de um litro. A centenária cervejaria de Munique, que já abrigou reuniões de Hitler com seus partidários nazistas, encontra-se sempre repleta de um público alegre e barulhento, animado pelas bandinhas em trajes típicos da Baviera, semelhante ao ambiente da Oktoberfest de Blumenau. Aliás, a última vez que lá estivemos comemorava-se o última dia da Oktoberfest original, surgida em 1810, por ocasião do casamento do príncipe Ludwig - futuro rei Ludwig I - com a princesa Teresa.

O ambiente caótico e barulhento da Hofbrauhaus

Os franceses são orgulhosos da variedade e excepcional qualidade de sua gastronomia. No restaurante "Nos Ancêtres les Gaulois", na Ile de St Louis, come-se como um italiano, quantidades pantagruélicas de salada in natura, carnes, queijos, embutidos, sobremesas e vinho, servido diretamente de um grande barril. O ambiente, barulhento e festivo, o local, uma cave medieval, o serviço, anárquico e divertido, e a localização, num dos locais mais nobres de Paris, tornam a experiência única. Sem dúvida, uma opção diferente na noite da Cidade Luz. 

O restaurante "Au Pied de Cochon", aberto 24 horas por dia, é famoso pela sopa de cebola e o pé de porco, como o próprio nome indica. Fica ao lado da enorme igreja de St. Eustache, onde todo domingo pode-se ouvir recitais do magnífico órgão, um dos maiores da França.

Por Benito Gorini 07/04/2022 - 07:30

A audição reina absoluta quando ouvimos uma bela composição musical. O canto gregoriano que se ouve ao adentrar a colossal Basílica de São Pedro, o magnífico som do órgão nas missas dominicais da Notre-Dame de Paris ou mesmo a simples melodia do Hymne a l´Amour, executada por uma violinista em retribuição a modesto óbolo ofertado no metrô, enleva nosso espírito e produz profunda paz interior.

A família na linha 6 do metrô de Paris.
Nas enormes estações interligadas Châtelet-Les Halles
ouve-se música de boa qualidade

Bibi Ferreira interpreta Hymne a L´Amour, no espetáculo Bibi canta Piaf. Confira no vídeo abaixo:

Mozart viveu parte de sua breve existência em Viena. Sua estátua, nos jardins do Hofburg, enorme complexo construído pela poderosa dinastia dos Habsburgos, é destino turístico dos mais concorridos.

Ouvir o Don Giovanni, obra prima do genial compositor austríaco, na Staatsoper, principal casa de ópera de Viena, e imaginar que há pouco mais de 200 anos o imperador José II e toda a sua imensa corte desfrutaram deste imenso prazer, é algo magnífico.

Viena respira música. No seu concentrado centro histórico, jovens vestidos em trajes de época anunciam os espetáculos do dia, muitos, a bem da verdade, de qualidade duvidosa e destinados a turistas desavisados.

Nas principais ruas centrais, exclusivas para pedestres,  é comum a apresentação de grupos ou solistas, como a excelente pianista executando em piano de cauda, peças de Chopin, Lizst, Schubert e Mendelssohn, em frente a famosa confeitaria Demel, na Kohlmarkt.

Na ária Madamina, Leporello enumera as conquistas amorosas de seu amo, o dissoluto Don Giovanni. Ópera de Mozart com libreto de Lorenzo da Ponte. Confira no vídeo:

O monumento em homenagem a Mozart nos jardins do Hofburg

A Igreja de St. Sulpice, celebrizada pela importante participação no enredo do Código da Vinci, recebe hordas de turistas interessados em conferir as informações nem sempre corretas fornecidas pelo autor Dan Brown. O gnomon, instrumento astronômico localizado na extremidade norte do transepto, é o destino de todos, olvidando os belos murais do pintor romântico Delacroix ou as apresentações musicais, frequentes, como os recitais do  magnífico órgão, ou esporádicas, como o Réquiem de Verdi, motivo da nossa visita.

Foi uma noite emocionante. A imensa igreja barroca estava repleta. Só conseguimos nos acomodar atrás de uma enorme coluna, sem visão da orquestra, do coro e dos solistas, apesar de chegarmos com 20 minutos de antecedência. A música, no entanto, nos bastava. Em ambiente tão solene, ela era realmente divina, particularmente as passagens “Recordare”, “Ingemisco” e “Hostias”. 

O Gnomon, na igreja de St Sulpice

As antigas civilizações tinham consciência do poder da música, da sua capacidade de degradar ou fazer evoluir a alma humana. Infelizmente, pouco se questiona sobre o significado das música na sociedade atual. A qualidade deplorável, o ritmo frenético, alucinante e o barulho ensurdecedor do som dos bares, boates e ambientes ao ar livre fazem um mal maior ao espírito que ao próprio ouvido. Um réquiem para a música contemporânea, ou quem sabe um canto do cisne, viriam em boa hora.

Por Benito Gorini 29/03/2022 - 12:32 Atualizado em 30/03/2022 - 09:53

A visão, o mais importante dos sentidos, é responsável por aproximadamente 65% do nosso relacionamento com o mundo que nos cerca.  Assunto de primordial interesse e estudo, em função de minha atividade profissional, foi escolhida para introduzir os cinco artigos sobre os sentidos.

A  Praça São Marcos, vista de um vaporetto navegando pelo canal da Giudecca, em frente à Ilha de San Giorgio Maggiore, é fantástica, uma experiência que jamais será esquecida. A outrora poderosa República Marítima de Veneza, a Sereníssima, tem fascinado a todos que tiveram a ventura de conhecê-la. A Basílica de São Marcos, com suas cúpulas bizantinas incrustadas com mosaicos de ouro, o Palácio Ducal, com magníficos salões repletos de pinturas dos grandes mestres do cinquecento, e a bela vista do alto do campanário, são atrações imperdíveis. Da praça chega-se à Ponte do Rialto, em uma curta, bela e sinuosa caminhada, enquanto aproveitamos o percurso para observar as centenas de lojas vendendo artigos de couro, roupas, joias, bolsas de grife, máscaras e cristais de Murano. Para concluir nosso passeio, nada melhor que um giro de gôndola (embora caro, breve e turístico) pelos misteriosos e estreitos canais da bela Veneza.

Palácio Ducal, Campanário e Praça São  Marcos  vistas do vaporetto
Minha filha Andrea e a Acqua Alta na Praça São Marcos

A região de Interlaken, no cantão suíço de Berner Oberland, nos revela paisagens de indescritível beleza. A cidade, localizada entre os lagos Brienz e Thun, é excelente ponto de partida para excursões por montanhas adjacentes. As paisagens de Lauterbrunnen e Grindelwald, vilarejos próximos a Interlaken,  se incluem entre as mais belas que já tive a oportunidade de vislumbrar.  Lauterbrunnen situa-se em um estreito  vale, encravada entre paredões enormes, com inúmeras cascatas, rios subterrâneos e picos com neves eternas. Trens de montanha, funiculares e teleféricos facilitam o acesso  às montanhas, permitindo esportes de inverno e verão. A extraordinária beleza do local inspirou poetas, pintores, músicos e cineastas. Goethe escreveu o poema Canção Sobre os Espíritos das Águas, inspirado na enorme cascata Staubbach,  Lord Byron concebeu o Manfred, o pintor romântico Turner utilizou elementos da paisagem na sua obra-prima Aníbal Cruzando os Alpes,  Mendelssohn compôs ali algumas de suas inúmeras  Canções sem Palavras e o Schilthorn Piz Glória, com seu restaurante giratório a 2970 m, foi o destaque  do filme 007 a Serviço de Sua Majestade. O ponto alto do cantão é a subida  à estação  de trem  mais alta da Europa, a Jungfraujoch,  atravessando  um túnel  escavado dentro do Eiger e  objeto de magníficas cenas do filme Escalado para Morrer, com Clint Eastwood.

A cascata Staubbach em Lauterbrunnen
A famosa “North Face” do Eiger, vista de Kleine Scheidegg

Um cruzeiro pelo Reno, entre Rudesheim e Koblenz, é inesquecível. O caudaloso rio, importante via de transporte desde o Império Romano, deslizando em um vale ladeado por montanhas, vinhedos, castelos e pequenas e bucólicas cidades, nos revela paisagens belíssimas. Enquanto saboreávamos pratos da generosa culinária germânica, acompanhados pelo Riesling Papst Benedict XVI, vinho branco em homenagem ao pontífice alemão, pudemos admirar as cidades de Bingen, Boppard e Bacharach, os vinhedos das encostas, o Castelo de Stozenfels e o paredão da  Lorelei, localizado em uma acentuada curva do rio, responsável por inúmeros naufrágios.  No final da viagem chegamos a pouco atraente Koblenz,   ponto de partida de outro belo cruzeiro pelo rio Mosela, grande afluente do Reno.

O Reno e Sankt Goar, vistos do Hotel Schloss Rheinfels

Finalizamos nosso passeio visual com o gigantesco Museu do Louvre, uma das glórias da França.  Suas características arquitetônicas, aliadas ao rico passado histórico e notável acervo, fazem do museu local de visita imperdível. Um roteiro básico inclui a Mona Lisa,  algumas  pinturas renascentistas,  a Vitória da Samotrácia, a Vênus de Milo,  tumbas egípcias e esculturas gregas.

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