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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Benito Gorini 20/10/2022 - 07:00

Comemora-se a 14 de julho a queda da Bastilha, um “divisor de águas” na história da França e do todo o mundo.  Houve a Revolução Francesa e o rompimento com o “ancien-régime”, que possibilitaram a Napoleão Bonaparte a ascensão ao poder. 

A contribuição de Napoleão à glória da França foi enorme, mas os malefícios causados também não podem ser desprezados. Embora tenha realizado inovações e aperfeiçoamentos, como a administração centralizada, um novo código de leis, a reforma do sistema educacional e o embelezamento de Paris com a construção de monumentos como o Arco do Triunfo, a Madeleine e  grande parte do Louvre, causou grandes perdas humanas com suas guerras e atraiu o ódio das nações pelos saques, humilhações e  apropriação de vasto patrimônio artístico e cultural.

Napoleão sendo coroado pela deusa Vitória. Detalhe do Arco do Triunfo | Foto: Arquivo Pessoal

Suas conquistas despertaram sentimentos contraditórios no mundo da arte. A “Abertura 1812” de  Tchaikovski procurou  traduzir  em música a fracassada invasão russa. Acordes da marselhesa são ouvidos a medida que as tropas francesas penetram em território russo. Instrumentos imitam o ruído do vento, as tempestades de neve e o ribombar dos canhões. Como se sabe, as perdas francesas foram enormes. Os russos recuavam e queimavam as cidades. Com a chegada do inverno o exército napoleônico tentou voltar mas foi vencido pela fome, frio, cansaço e ataques na retaguarda.

Trecho final da Abertura 1812 de Tchaikovski | Vídeo: Boston Pops

Beethoven ficou impressionado com o carisma de Napoleão e como um dos primeiros músicos independentes - até a sua época a realeza, a nobreza e o clero eram os patrocinadores - louvou as  suas conquistas, dedicando a terceira sinfonia, a “Eróica” (assim mesmo, sem “H”), ao general corso. No entanto, rasgou a dedicatória quando Bonaparte tornou-se imperador, o que significava um retorno ao status quo que Beethoven desprezava.

O pintor neoclássico Jacques Louis David retratou em imensas telas (Louvre e Versalhes) a “auto-coroação” de Napoleão e sua esposa Josefina na catedral de Notre-Dame. O Papa Pio VII (Barnaba Luigi Chiaramonti), que deveria presidir a cerimônia, está sentado resignadamente ao lado do imperador. Posteriormente Napoleão aprisionou o Papa e saqueou os Museus do Vaticano. Com a queda do ditador, Pio VII retornou a Roma e criou a ala Chiaramonti no vaticano, recuperando muitas obras de arte. 

Coroação de Napoleão, do pintor neoclássico Jacques Louis David | Imagem: Museu do Louvre
 

O grande escritor francês Stendhal, autor de O Vermelho e o Negro e A Cartuxa de Parma, romances com temática napoleônica, escreveu também uma biografia de Napoleão com destaque para as campanhas italianas de 1796-97 contra o Império Austro-Húngaro, até então senhores do norte da Itália. São descritas com riqueza de detalhes as batalhas de Lodi, Arcole, Rivoli e Tagliamento, todas vencidas por Napoleão. Pelo Tratado de Campoformio, que encerrou as hostilidades, a Áustria cedia a Lombardia e parte do Vêneto aos franceses,  que por sua vez decretaram o fim da República de Veneza, a Sereníssima, cedendo-a aos austríacos.  

Local do antigo monastério, atualmente um hotel, no Passo do Grande São Bernardo, com 2473 metros de altitude. Napoleão utilizou essa rota na segunda invasão da Itália

Os cães São Bernardo resgataram muitas pessoas nos Alpes, antes da utilização de helicópteros. Só o famoso cão Barri resgatou mais de 40 | Vídeo: Fundação Barry

Após uma série de vitórias e derrotas o Império Napoleônico chegou ao fim com a perda da batalha de Waterloo. O imperador foi exilado na ilha de Santa Helena, onde faleceu e foi sepultado em 1821. Seus restos foram transladados em 1840 para o “Dome des Invalides”, memorial militar francês, que em conjunto com a Museu da Armada e a ponte Alexandre III, bem em frente, são importantes atrações turísticas de Paris.

O Dôme des Invalides, construído por Luís XIV e local da enorme tumba de Napoleão | Foto: Arquivo Pessoal

 

Por Benito Gorini 13/10/2022 - 18:22 Atualizado em 13/10/2022 - 18:27

No início da Primeira Guerra Mundial, os alemães desfecharam violenta ofensiva contra  franceses e ingleses, invadindo a Bélgica a caminho de Paris. Na guerra franco-prussiana de 1870 os alemães haviam anexado a Alsácia e a Lorena, mas suas ambições agora eram maiores:  a formação de um grande império germânico. 

Riquewihr, bela cidade da Alsácia com vinhedos nas encostas

A Alemanha havia declarado guerra à Bélgica pela recusa do seu soberano, o rei Albert, em franquear a passagem  do seu território ao exército do Kaiser Guilherme II. Os alemães avançaram rapidamente e em poucos dias conquistaram as fortalezas de Liège e Namur, obrigando o exército belga a refugiar-se em Antuérpia. No final de setembro, após 1 mês de lutas, as forças teutônicas tinham devastado a Bélgica e estavam às portas de Paris, tendo encurralado os exércitos aliados entre os rios Marne e Sena. No entanto, um erro do ambicioso general Von Kluck, que pretendia ser o primeiro a entrar em Paris, permitiu a contra-ofensiva aliada. Von Kluck, comandante do I Exército, havia avançado muito rapidamente, extenuando suas tropas de infantaria, afastando-se dos demais exércitos alemães e das fontes de suprimento. Os franceses, abatidos após sucessivas derrotas, aproveitaram sua última chance e atacaram com todas as forças que restaram. Um fato curioso aconteceu:  6000 soldados que chegaram de trem a Paris foram transportados por 600 táxis, em duas viagens de 60 km da capital francesa à frente de batalha, no Marne. A vitória foi esmagadora, impedindo o avanço até Paris e mantendo os exércitos na região de Champagne por 4 longos anos, em uma desgastante guerra de trincheiras.  

Os Táxis do Marne

O livro “Os Canhões de Agosto”, da escritora americana Barbara Tuchman (excelente indicação do culto e voraz leitor Dr Marco Schmitz) descreve em minúcias o primeiro mês de guerra. O “Milagre do Marne” impediu a completa aniquilação dos aliados, o que mudaria a história do século XX. As atrocidades da guerra, com saques, estupros, fuzilamento de civis, incêndios, bombardeios e destruição de importantes patrimônios artísticos e culturais das nações revela a insensatez dos governantes, a exemplo do que ocorre atualmente na Ucrânia. A região de Champagne, por sua localização geográfica entre a Alemanha e Paris, foi o epicentro de inúmeros combates nos confrontos franco-germânicos. 

A Cave Mercier em Epernay, com o imenso barril que foi levado a Paris por ocasião da Exposição Universal de 1889, a mesma que apresentou ao mundo a Torre Eiffel

Após a guerra os franceses construíram a Linha Maginot, extensa rede de fortificações ao longo do Reno da Suiça até a Bélgica, que julgavam inexpugnável. Na Segunda Guerra Mundial  as divisões Panzer do General Guderian desviaram da linha, invadiram a Bélgica pelas Ardenas e em poucos dias entraram em Paris. Atualmente, após 67 anos de paz, a magnífica Catedral de Reims, sede da coroação dos reis franceses, as inúmeras caves com quilômetros de galerias subterrâneas, os belíssimos vinhedos  e a qualidade do champanhe  atraem  milhares de turistas de todo o mundo. O livro Vinho e Guerra, de Don e Petie Kladstrup, retrata muito bem os eventos ocorridos nas regiões vinícolas da França, principalmente na Segunda Guerra Mundial.

Por Benito Gorini 06/10/2022 - 10:50 Atualizado em 06/10/2022 - 11:16

Aprendemos nos bancos escolares que a Idade Média foi uma era de trevas, com grande retrocesso em todas as formas de conhecimento até então existentes. Esta afirmação é válida apenas para o período entre a  queda do Império Romano em 476 d.C. e o chamado renascimento carolíngio, no século IX de nossa era, quando surgiram novas ideias no campo da música, literatura e arquitetura. Mas é a partir do século XII que profundas modificações  artísticas, culturais e religiosas nos obrigam a encarar de forma diversa a Idade Média. Surgiram as universidades de Paris e Montpellier na França, Bolonha, Pádua e Pavia na Itália, Oxford e Cambridge, na Inglaterra, Salamanca na Espanha, Heidelberg, na Alemanha e Coimbra, em Portugal.

A Faculdade de Medicina de Coimbra, criada em 1290 pelo rei Dom Dinis | Foto: Arquivo Pessoal

A arquitetura sofreu profunda modificação, passando da pesada estrutura românica para o gótico mais leve, com suas altas naves e magníficos vitrais, permitindo a passagem de diversos tons de luz para o interior das construções. A Catedral de Chartres, a  Sainte Chapelle em Paris, o magnifico Duomo de Milão e a imensa Catedral de Colônia são bons exemplos. 

O Duomo de Milão | Foto: Arquivo Pessoal

A Ordem Cisterciense introduziu novos conceitos arquitetônicos nas suas abadias e foi a responsável por importantes inovações na viticultura, que perduram até hoje com os maravilhosos vinhos da Borgonha.

Os vinhedos da Borgonha, que pertenciam à Ordem Cisterciense até a Revolução Francesa de 1789 | Foto: Arquivo Pessoal

São Francisco escrevia suas belas páginas em Assis, Santo Antonio, português de nascimento, pregava em Pádua e São Tomás de Aquino doutrinava em Nápoles. Dante Alighieri escrevia a Divina Comédia, Petrarca descrevia a vida dissoluta da corte papal em Avignon. Boccaccio, nos contos do  seu Decameron, divertia seus companheiros que isolados nos arredores de Florença procuravam escapar a terrível peste negra que exterminou um terço da população europeia. Giotto rompia com a tradição bizantina, fornecendo o arcabouço da futura pintura renascentista.

A Capella degli Scrovegni, em Pádua, foi financiada pela rica família Scrovegni, na tentativa de expiar os pecados e salvar a alma de um de seus membros, grande agiota e explorador. Em 1304 os afrescos de Giotto nas paredes da capela com cenas da vida de Cristo causaram uma revolução na história da pintura | Foto: Arquivo Pessoal

As lentes de aumento, permitindo a leitura para os portadores de deficiência visual, surgiram também nesta época. As letras de câmbio, os bancos e as guildas, espécie de sindicatos que representavam as diferentes atividades comerciais e que financiavam a construção de igrejas e hospitais, foram também invenções medievais.

Período de trevas ? Não creio, apesar dos horrores da Inquisição, da guerra dos cem anos e das cruzadas, intolerância religiosa que sob outros nomes perdura até hoje.
      

Por Benito Gorini 29/09/2022 - 09:00 Atualizado em 29/09/2022 - 10:43

Com a proximidade das eleições me vem à mente três obras de arte intimamente relacionadas aos políticos. O pintor holandês Hieronymus Bosch externava seus sentimentos de forma bastante peculiar. Embora tenha vivido durante a Alta Renascença, contemporâneo de Michelangelo, da Vinci e Rafael, sua temática situava-se na idade média. Bosch era um moralista com uma visão pessimista da humanidade, julgando que o ser humano, pelos atos que praticava, estava definitivamente condenado às trevas. Os temas dos quadros de Bosch são alegorias sobre os pecados, as virtudes e a insensatez dos seres humanos. Sua pintura era tão bizarra que elementos fantásticos, demônios, criaturas meio humanas, meio animais, povoavam um ambiente arquitetônico e paisagístico imaginário. Suas obras influenciaram os poetas simbolistas e pintores expressionistas e surrealistas. O perfil psicológico de seus personagens também auxiliou Freud a desenvolver seus conceitos psicanalíticos.  Particularmente interessante é a tela “A Nau dos Insensatos”, exposta no Louvre, na qual Bosch retrata características como a luxúria, a gula, as falcatruas e os interesses escusos. 

A Nau dos Insensatos, também conhecida como a Nave dos Loucos, de Bosch (Museu do Louvre)

O pintor Ambrogio Lorenzetti, natural de Siena, decorou com afrescos os salões do Palácio Público, em frente a bela Praça do Campo, onde desde a idade média se realiza a corrida do Pálio. Os afrescos mais conhecidos de Lorenzetti são “O Bom Governo na Cidade e no Campo”, onde se notam os efeitos de uma boa administração, como grandes colheitas, um comércio ativo, a construção de casas, a felicidade do povo e “O Mau Governo”, onde os governantes são condenados ao inferno pelo sofrimento imposto aos seus súditos. As obras de arte estavam expostas no palácio, sede do governo, para mostrar aos representantes do povo a sua enorme responsabilidade no desempenho de suas funções.  Lorenzetti , contemporâneo de Giotto, o grande mestre da período gótico e precursor da pintura renascentista, morreu em 1348, vitimado pela peste negra que dizimou a Europa, matando 1/3 de sua população. Infelizmente o segundo afresco é muito mais apropriado ao momento que estamos vivendo. Os 2 candidatos que lideram as pesquisas  têm graves antecedentes. Um deles, condenado em 3 instâncias, teve seus julgamentos anulados por manobras e filigranas jurídicas. E o outro, com várias ações sendo julgadas no STF, adotou e incentivou práticas totalmente condenadas pela comunidade científica mundial no combate à pandemia. O futuro que nos reserva é sombrio. Tristes Trópicos, como diria Lévi-Strauss. 

Alegoria do Mau Governo, de Ambrogio Lorenzetti, no Palazzo Pubblico de Siena
A Fonte Gaia, com esculturas de Jacopo della Quercia, em frente ao Palazzo Pubblico (Arq, pessoal)

 

Portanto, caro eleitor, reflita sobre estes assuntos no próximo domingo.

Exerça seu direito de voto com responsabilidade. Não venda seu voto nem se deixe enganar por propostas, projetos e promessas mirabolantes, típicas das campanhas eleitorais. Eleja pessoas idôneas, honestas, com um projeto de governo voltado para a  geração de empregos, a saúde,  a educação, a cultura e a preservação ambiental  (embora sejam poucas, certamente   elas existem). Vote com consciência para não aumentar os passageiros do barco de Bosch.

 

Por Benito Gorini 22/09/2022 - 17:55 Atualizado em 22/09/2022 - 17:55

Que milagre é este? Nós te imploramos, terra,

fontes potáveis! O que nos manda o teu seio?

Também há vida no abismo? Mora oculta na

lava nova raça? Volta o que fugiu?

Vinde, ó gregos e romanos! Vêde! Pompeia,

A velha Pompeia é de novo encontrada!

De novo se constrói a cidade de Hércules!“

O poema de Schiller nos revela o assombro que a descoberta de Pompeia e Herculano despertou no século XVIII. Em 1738 Maria Amália Cristina, da corte de Dresden, desposou Carlos de Bourbon, rei das Duas Sicílias. A rainha, amante das artes, estimulou a exploração das áreas próximas a Nápoles, descobrindo estátuas e imagens soterradas pela última grande erupção do Vesúvio, no ano anterior. Graças ao interesse da rainha as escavações prosseguiram, trazendo à tona as cidades de Herculano, encontrada sob 15 metros de lava vulcânica e Pompéia, soterrada a menor profundidade por cinzas e “lapilli”, formações rochosas de diversos tamanhos expelidas pela erupção do Vesúvio em 79 d.C. Ao contrário de outras descobertas arqueológicas, parcialmente destruídas pelo tempo, o trágico destino das duas cidades italianas revelou o exato instante da catástrofe, conservando o “modus vivendi” da época, fonte de muitos conhecimentos históricos, arquitetônicos, artísticos e sociais para a nossa época. 

A visita a Pompeia nos revela todos os detalhes da cidade. Após ingressarmos no sítio arqueológico pela Porta Marina, uma pequena caminhada por uma estreita rua calçada com pedras irregulares nos leva ao centro da antiga cidade. A visão das ruínas do Templo de Júpiter, com o Vesúvio desafiador ao fundo, é inesquecível. A Basílica, uma construção originalmente destinada à magistratura e posteriormente copiada pela igreja para a construção de seus templos, e o senado, complementam  o Fórum, sede das decisões políticas, religiosas e jurídicas.

O imponente Vesúvio visto do Fórum | Foto: Istockphoto

As termas, próximas ao Fórum contavam com água quente (caldarium), morna (tepidarium) e fria (frigidarium). A arquitetura das casas era bastante peculiar, com um espaço aberto no centro para recolher a água da chuva, um local para refeições (triclinium), os quartos e um jardim nos fundos da residência, o peristilo. O famoso mosaico do cão com a advertência “cave canem” na casa do poeta trágico, é  uma atração muito visitada. Nos arredores da cidade encontram-se os afrescos eróticos da Vila dos Mistérios e como não poderia deixar de ser, os bordéis.

A inscrição “Cave Canem” na Casa do Poeta Trágico | Foto: Wikipedia

Os turistas, viajando pela Itália, não podem deixar de visitar e admirar estes monumentos históricos, inspiradores de filmes, livros, teses acadêmicas e pinturas. Na região da Campânia, onde se localiza Pompeia, poderão subir a íngreme encosta do vulcão até a enorme cratera, visitar Nápoles e seus inúmeros museus, a maravilhosa ilha de Capri e sua gruta azul, a encantadora Sorrento com sua bela música e o visual incomparável da magnífica estrada que serpenteia pela costa amalfitana.

O Castel Nuovo (Maschio Angioino), em Nápoles | Foto: Arquivo Pessoal

 

Por Benito Gorini 15/09/2022 - 09:00 Atualizado em 15/09/2022 - 09:02

A Suíça é um país de paisagens exuberantes, facilmente explorada em poucos dias graças a sua reduzida extensão territorial. Um dos roteiros mais pitorescos, o Bernina Express, utiliza uma combinação rodoferroviária, partindo de Chur e chegando a Lugano, na fronteira com a Itália. 

A ferrovia de adesão (sem utilização de cremalheiras)  é a mais alta da Europa, ligando a cidade de Chur à Tirano. Percorre regiões de grande beleza e diversidades culturais, étnicas e linguísticas. Gargantas, desfiladeiros, rios, castelos, túneis em alça, teleféricos, funiculares, estações de esqui, animais selvagens nas negras florestas de pinheiros, lagos congelados, picos nevados e vinhedos, são tantas e tão variadas as paisagens que ficarão para sempre registradas em nossa memória. Às vezes a sensação é de estarmos viajando nas nuvens, tal a altura de suas inúmeras pontes como a de Solis e a de Landwasser.

O Bernina Express no viaduto de Landwasser | Foto: Wikipedia

A viagem tem origem em Chur, capital de Graubünden (Grisões em português), o maior cantão da Suiça, onde se fala o Romanche, derivado do latim vulgar e um dos 4 idiomas oficiais do país. A cidade também é o ponto de partida do Glacier Express, que se dirige à Zermatt, local da montanha mais famosa da Suiça, o Matterhorn, conhecido como Monte Cervino na Itália.

Em Reichenau atravessa-se o Reno, bem próximo às nascentes nos Alpes. O trem percorre o vale paralelo ao rio, origem dos antigos passos alpinos de Splügen, Julier e San Bernardino.

O Splügen Pass (Passo dello Spluga), perto de Chur em uma recente viagem de moto pelos Alpes | Foto: Arquivo Pessoal

Observam-se inúmeros castelos, fortes e ruínas, pontos estratégicos para o controle das antigas rotas transalpinas. O trecho entre Bergun e Prada é considerado como uma obra-prima de engenharia. Em 12 km ascendem-se 416 metros através de 5 túneis circulares, 2 túneis retilineos e 9 viadutos. Em Samedan, um vale a 1781 metros de altitude, encontra-se um pequeno aeroporto, o mais alto da Europa, utilizado pelos ricos e famosos  que se dirigem a St. Moritz. Esta cidade, a beira de um lago que congela no inverno, é uma das estações de esqui mais importantes do mundo.

A Geleira Morteratsch recuou 550 metros desde o ano 2000 | Foto: C.Levy

A próxima parada é em Pontresina, um centro para a prática de esqui,  ciclismo, alpinismo e caminhadas. A estação seguinte é Morteratsch, nome de uma geleira que está reduzindo de tamanho a cada ano. Continuando a viagem temos o teleférico de Diavolezza e em  seguida Ospizio Bernina, o ponto culminante da viagem, a 2250m de altitude. Daqui o expresso inicia a descida até Tirano, já na Itália. As paisagens que se descortinam a nossa frente são de tirar o fôlego, como a cidade de Poschiavo, vista do alto e o famoso viaduto circular de Brusio. 

O Bernina Express chegando ao teleférico da estação Diavolezza | Foto: Powderhounds)

Tirano é o ponto de partida do percurso rodoviário, que funciona de maio a outubro. O ônibus de luxo percorre o fértil vale da Valtellina, com vinhedos nas encostas ensolaradas onde predomina a nobre casta Nebbiolo, a mesma do famoso Barolo do Piemonte. O Sforzato di Valtellina, vinho DOCG  “passito” semelhante ao Amarone do Veneto, é de excelente qualidade. O ônibus passa por um trecho do Lago de Como e segue até Lugano por paisagens tipicamente mediterrâneas, como vilas junto ao lago, pomares, oliveiras, figueiras e palmeiras. Lugano, à beira do lago do mesmo nome e importante centro de esportes aquáticos, é também conhecida por seus dois montes, o Bré e o San Salvatore, muito parecido com o nosso Pão de Açúcar.   

Tendo oportunidade de viajar para a Europa, não deixe de incluir o Bernina Express em seu roteiro. E também o Glacier Express, se tiver tempo. Vale a pena.
 

Por Benito Gorini 08/09/2022 - 14:00 Atualizado em 08/09/2022 - 16:24

A bela ilha de Capri, situada no golfo de Nápoles, possui inúmeros atrativos turísticos como a água azul-turquesa da “Grotta Azzurra”, a Marina Grande com seu funicular transportando passageiros cantando alegremente o “funiculi-funiculà”, o teleférico do Monte Solaro, as ruínas do Palácio de Tibério, os Faraglioni, gigantescos blocos de pedra próximos à Marina Pequena e a impressionante subida até Anacapri. Podemos alcançá-la pela estrada que serpenteia junto à encosta da montanha ou através dos 777 degraus da escada fenícia, que tantas vezes serviu de passagem ao médico sueco Axel Munthe, em busca de sua Villa San Michelle.

A escada fenícia

Munthe construiu sua vila em um promontório, com excepcional vista do golfo de Nápoles, do Vesúvio e do mar Mediterrâneo. Por muitos anos viveu em Anacapri, atendendo gratuitamente os pobres da ilha e edificando um santuário ecológico, com seu amor aos animais tão bem descrito em sua obra “A História de San Michelle”. A visita à vila é imperdível para quem leu o livro.   O autor relata a sua vida em Paris como “médico da moda”, atendendo as cabeças coroadas da Europa e sua posterior transferência para Roma, onde morou na casa onde residiram  John Keats e Percy Shelley. Os poetas morreram prematuramente, como muitos românticos do mundo da arte do século XIX.  Estão sepultados no Cemitério Protestante de  Roma...

À direita da escadaria o Museu Keats-Shelley. No alto a igreja Trinità dei Monte

Atualmente, a Villa San Michelle faz parte de uma fundação filantrópica, com as obras de arte adquiridas por Munthe decorando as peças da casa e os jardins,  como a esfinge que, voltada para o mediterrâneo, parece proteger a vila da horda de turistas que chegam diariamente à marina grande.

A esfinge e a marina grande

 

Por Benito Gorini 01/09/2022 - 14:00

O Papa Francisco esteve visitando na semana passada a Basílica di Santa Maria di Collemaggio, em L´Aquila, ainda em reconstrução pelos enormes danos causados pelo terrível terremoto de  6 de abril de 2009, com 309 mortos. Homenageou o Papa Celestino V, que está sepultado na basílica. 

Papa Francisco rezando diante da tumba de Celestino V na Basilica di Santa Maria di Collemaggio (Vatican News)

Celestino, virtuoso monge eremita, foi eleito aos 85 anos e renunciou após 6 meses de mandato, aconselhado pelo cardeal Benedetto Caetani, que  após assumir o papado com o nome de Bonifácio VIII, condenou o ancião papa à prisão domiciliar. Bonifácio fundou a Universidade La Sapienza em  Roma, codificou o direito canônico e em 1300 convocou o primeiro Jubileu ou Ano Santo,  que concedia a indulgência plenária – o perdão de todos os pecados – a todos que visitassem as basílicas de São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Pedro no Vaticano (em Roma existe também a Basílica de São Pedro Acorrentado, com o maravilhoso Moisés de Michelangelo).

O Moisés de Michelangelo na Basilica di San Pietro in Vincoli, bem perto do Coliseu. A escultura faria parte do mausoléu do papa Júlio II

No entanto foi um papa soberbo, ambicioso e cruel. O rei francês  Filipe IV odiava o papa e provavelmente contribuiu para a sua morte no episódio conhecido como Ultraje de Anagni,  que chocou a Europa. Dante esteve presente no jubileu e colocou Bonifácio no inferno na sua Divina Comédia.  Com o apoio de Filipe IV, Bertrand de Got assumiu o trono de Pedro com o nome de Clemente V e transferiu a sede do papado para Avignon. O conhecido vinho Châteauneuf du Pape é produzido na região (Côtes du Rhône). 

O Palácio dos Papas em Avignon, às margens do Rio Ródano

Pressionado pelo rei o novo papa suprimiu a ordem dos Cavaleiros Templários e  condenou à morte o seu grão-mestre, Jacques de Molay. “O Rei de Ferro”, primeiro volume da série de sete livros “Os Reis Malditos” de Maurice Druon, descreve com  precisão os eventos ocorridos. 

Placa na Place Vert Galant, local da execução na fogueira de Jacques de Molay. A praça fica na Île de la Cité, no lado oposto à Catedral de Notre Dame

Clemente era arcebispo de Bordeaux e sua família era proprietária de vinhedos na região. O excelente e caro vinho Château Pape Clément, em homenagem ao papa, juntamente com os famosos grand-crus que recebem o nome do Château de origem, como Haut-Brion, Latife, Mouton Rotschild, Latour e Margaux, transformaram Bordeaux em uma das mais famosas regiões vinícolas do mundo.

Sugestões

A série “Os Reis Malditos”, com participação de Gerard Depardieu (Asterix e Obelix, Danton, Vatel, Os Miseráveis)  e Jeanne Moreau (Jules e Jim, Viva Maria, O Processo). 

O  filme  “Agonia e Êxtase”, com Charlton Heston (Ben-Hur, Os Dez Mandamentos,  Planeta dos Macacos, Terremoto)  e Rex Harrison (My Fair Lady,  O Fantástico Dr Dolittle,  O Príncipe e o Mendigo), revelando o difícil relacionamento entre Michelangelo e o papa Júlio II durante a construção da Capela Sistina. O livro “Santos & Pecadores – História dos Papas, de Eamon Duffy.

Por Benito Gorini 23/08/2022 - 19:00 Atualizado em 23/08/2022 - 23:14

A nossa região terá a oportunidade de presenciar um grande evento no dia 25 de agosto. Trata-se do “Legado da Imigração – Canto e Dança”, espetáculo gratuito que será realizado no Auditório Jaime Zanatta da Acic, às 19:30 horas.  Estão programados 3 eventos, sendo que neste primeiro momento serão homenageadas as etnias  italiana e polonesa. No próximo ano as etnias portuguesa, alemã, negra, árabe e espanhola serão contempladas. 

Criciúma conta com 3 parques homenageando as etnias que participaram na formação da cidade. O Monumento das Etnias, localizado no Parque Centenário, foi erguido em homenagem aos colonizadores italianos, poloneses, alemães, portugueses e afrodescendentes.  Foi inaugurado em 1981, no mandato do prefeito Altair Guidi, em celebração aos 100 anos  da chegada dos  primeiros imigrantes europeus à Criciúma. O monumento se refere à riqueza do subsolo da cidade, representando os cinco dedos de uma mão no gesto de retirar o carvão e a argila, materiais de grande importância no desenvolvimento de toda a região. Na parte subterrânea encontra-se o Memorial Dino Gorini, justa homenagem ao meu saudoso tio que presidiu a Comissão Central dos Festejos do Centenário de Criciúma. Há necessidade urgente de revitalizar este importante espaço cultural, que conta com obras de   Jussara Guimarães, Vilmar Kestering e Gilberto Pegoraro.

O Memorial das Etnias no Parque Municipal Altair Guidi

 

Painéis homenageando as etnias no Memorial Dino Gorini, importante espaço cultural necessitando de urgente restauro e reabertura

 O Parque das Nações Cincinato Naspolini e entorno,  imenso espaço cultural, gastronômico e de lazer localizado no Bairro Próspera, foi inaugurado pelo Prefeito Clésio Salvaro em 2011. Com a homenagem ao  segundo prefeito de Criciúma resgatou-se uma dívida histórica, pois com o Paço Municipal Marcos Rovaris e o Teatro Elias Angeloni já haviam sido homenageados o primeiro e terceiro prefeitos. No parque estão hasteadas 7  bandeiras, as 5  que  participaram da formação original da cidade, acrescidas das bandeiras das etnias árabe e espanhola. 

As bandeiras das etnias no Parque das Nações Cincinato Naspolini
O Parque do Imigrante no distrito do Rio Maina
Por Benito Gorini 18/08/2022 - 14:30 Atualizado em 18/08/2022 - 16:33

Os nossos antepassados emigraram para o Brasil em situação de grave penúria, motivados pela grande instabilidade política, religiosa e econômica. As lutas pela unificação da Itália, a perda do poder temporal da igreja e o desemprego, com o consequente empobrecimento da população, foram importantes  fatores da imigração, principalmente no norte da Itália, situado no meio do teatro de operações do conflito contra o império austro-húngaro. Devemos ainda lembrar que a região do Trentino-Alto Ádige só foi anexada à Itália em 1918, após o fim da primeira guerra mundial. Aqui, I nostri antenati enfrentaram toda a sorte de problemas, transformando-se em autênticos desbravadores. Com a força de seus braços, a criatividade e a ousadia empresarial, forneceram o arcabouço para o enorme crescimento econômico e material de nossa região. A gastronomia, as danças folclóricas, o canto coral e a música instrumental contribuíram sobremaneira na preservação das tradições. Outras etnias também deixaram um forte legado, como a polonesa que juntamente com a italiana será homenageada na primeira série de três eventos sobre imigração elaborados pela Comissão Cultural da ACIC.

O evento “O Legado da Imigração – Canto e Dança”, no dia 25 de agosto na ACIC

 Assista, abaixo, o Grupo Folclórico Orzel Bialy:

Agora, o Grupo Folclórico Valsugana:

O Grupo Italiano Eco di Venessia. Assista ao vídeo:

Este importante legado, no entanto, não se fez acompanhar do desejado desenvolvimento de formas mais elaboradas de arte, em virtude das limitadas condições socioculturais de nossos colonizadores. Esta falta de harmonia no crescimento de nossa cidade persiste até hoje, bem evidenciada pela supremacia de valores transitórios e superficiais em detrimento de formas mais elevadas do pensamento humano. Por isso parabenizo a ACIC que há alguns anos vem incentivando e promovendo atividades culturais populares e eruditas, no intuito de aprimorar o conhecimento, permitindo o acesso a eventos só disponíveis nos grandes centros.  

O pintor Luciano Martins, a Comissão Cultural e o presidente Valcir Zanette na Galeria de Arte da ACIC
Apresentação de reproduções de obras-primas de grandes mestres da pintura a alunos de escolas de Criciúma
Por Benito Gorini 11/08/2022 - 13:51 Atualizado em 11/08/2022 - 13:59

O horóscopo será a assunto deste artigo, complementando a abordagem feita no blog anterior sobre os avatares. A astrologia surgiu há aproximadamente 4000 anos, na mesopotâmia, região que corresponde atualmente ao Iraque. A alternância do dia e da noite, do claro e do escuro, sempre condicionou as atividades sobre a Terra. O sol chamou em primeiro lugar a atenção do homem primitivo. A necessidade de se expor ao sol nas frias manhãs ou de se proteger na sombra de uma árvore nas horas mais quentes, foram razões que determinaram esta observação. A possibilidade de caçar e de se orientar em noites claras, fez com que o homem primitivo percebesse a presença da lua. As estrelas só foram objeto de curiosidade bem mais tarde, provavelmente na Babilônia. Os caldeus, grandes estudiosos da abóbada celeste, observaram que determinados grupamentos de estrelas formavam desenhos e pareciam acompanhar o movimento do sol, alternando-se a cada mês. Surgiram então o nome das constelações e como a maioria representava animais o conjunto recebeu o nome grego de zodíaco (zoo:animal).

Os signos do zodíaco

O astrofísico Carl Sagan, em seu livro Cosmos, descreve com propriedade a assunto: “O céu noturno é interessante. Há desenhos. Mesmo sem tentar, podemos imaginá-los. No céu setentrional, por exemplo, há um desenho ou constelação que parece um urso. Alguns povos chamavam-na “A Grande Ursa”. Outros veem imagens bem diferentes. Estes desenhos não são naturalmente reais, nós que os colocamos lá. Fomos caçadores e vemos caçadores e cães, ursos e jovens mulheres, objetos do nosso interesse. Quando os marinheiros europeus do século XVI viram pela primeira vez o céu meridional, transferiram para lá os objetos de interesse deste século, ou seja, tucanos, pavões, telescópios, compassos e popa de navios. Se as constelações tivessem recebido nomes do século XX, suponho que veríamos bicicletas, refrigeradores, astros de rock-and-roll e talvez até nuvens de cogumelo, um novo grupo de esperanças e receios humanos entre as estrelas.”

A excelente série Cosmos, de Carl Sagan

Na antiguidade acreditava-se que os astros exerciam enorme influência sobre as pessoas, o que conferia grande prestígio aos astrólogos junto aos nobres, reis e faraós. A partir do renascimento a astrologia foi desacreditada pelas descobertas astronômicas de Copérnico e Galileo, que refutaram as ideias geocêntricas de Ptolomeu. Isto provocou forte reação da igreja católica, com a condenação à morte de Giordano Bruno e a retratação de Galileo. No entanto, Kepler e Newton sepultaram definitivamente os antigos conceitos.

Os modelos heliocêntrico e geocêntrico

A teoria heliocêntrica de Copérnico

A estátua homenageando Giordano Bruno no Campo dei Fiori, em Roma

 

Já estivemos sob a influência de várias eras. Na era de Touro eram comuns os sacrifícios humanos, como bem demonstram as lendas cretenses sobre os jovens sacrificados ao Minotauro, morto por Teseu . Na era de Áries, as perdas humanas foram substituídas por animais, evidenciadas pelo relato bíblico do Gênesis, no qual Abraão foi detido pela mão do anjo, que substituiu o seu filho Isaac por um cordeiro. Na era de Peixes, a de Jesus, o pescador de almas, conceitos mais elevados surgiram, modificando o “olho por olho, dente por dente” do velho testamento. O próprio nome de Jesus é muito semelhante ao de peixe, em grego , quase um anagrama (Ichthys - Christos). Atualmente, com o advento da era de Aquário, há um novo interesse pela astrologia e assuntos esotéricos. O livro “A Profecia Celestina”, de James Redfield, aborda com profundidade o tema. Praticamente todas as pessoas consultam o horóscopo, conferindo as previsões para o dia. O ano astronômico e astrológico começa em março, no signo de Áries. No entanto, já se sabe há mais de dois milênios, que a disposição dos astros no céu não é a mesma da época em que foi descrita pelos caldeus. Este fenômeno, denominado precessão dos equinócios, foi descoberto por Hiparco no século II a.C. Em outras palavras, os nascidos sob a regência de Áries, por exemplo, hoje pertencem a Peixes, já a caminho de Aquário (por isso a nova era). Resta um consolo a todos nós. Podemos ler dois (ou três) signos e escolher as melhores previsões. Um bom augúrio, caro leitor. 

 

Por Benito Gorini 04/08/2022 - 18:29 Atualizado em 04/08/2022 - 18:36

Avatar é um termo muito antigo, derivado do sânscrito e significa “iluminado” ou também “descido do céu à terra”. Segundo crenças místicas e esotéricas, cada Era se caracteriza pelo surgimento de um Avatar, guia espiritual responsável pelo aperfeiçoamento dos seres humanos.

Na Era de Touro, eram praticados sacrifícios humanos, como bem demonstram as imagens descobertas nas escavações de Creta, realizadas pelo arqueólogo britânico Arthur Evans. Nos labirintos do rei Minos, em Cnossos, habitava, segundo a lenda, o terrível Minotauro, a quem eram oferecidas jovens virgens. Teseu, herói grego, penetrou no labirinto e matou o monstro, auxiliado por Ariadne, filha do rei.

Teseu e o Minotauro, obra do grande escultor Canova, no Museu da História da Arte de Viena

Um relato bíblico nos revela o possível início de uma Nova Era, com o episódio de Abraão prestes a imolar seu filho Isaac em honra a seu Deus. No momento do sacrifício um anjo aparece e detém o braço do patriarca, substituindo o seu filho por um cordeiro. Esta imagem é muito sugestiva da Era de Áries, o apogeu do povo hebreu, com seus profetas, juizes, reis e o magnífico Templo de Salomão, em Jerusalém. O grande legislador Moisés foi a figura primordial deste período, com seu código moral e legal exposto no Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia (a Torah judaica).

Muro das Lamentações, remanescente do Templo de Herodes, no mesmo local do Templo de Salomão

 

Na mesma Era viveu outro grande iluminado, Sidharta Gautama, o Buda, que combateu o injusto sistema de castas do bramanismo. Sua doutrina das Quatro Verdades e dos Oitos Caminhos atraem milhões de adeptos.

Com a advento de Jesus temos o testemunho inequívoco de uma nova era, a de Peixes. A maior parte da vida do Divino Mestre transcorreu próxima ao lago Tiberíades, alguns discípulos eram pescadores e o seu próprio nome em grego é muito semelhante ao de peixes (Christos, Ichthys), quase um anagrama, além de formar um acróstico: “ Iesus Christos Theos Sopher (Jesus Cristo filho de Deus salvador). O peixe também foi importante código secreto de identificação das comunidades cristãs primitivas em Roma. Jesus veio aperfeiçoar a lei mosaica, trazendo a fraternidade e o amor, em oposição ao “olho por olho e dente por dente” do Antigo Testamento.

 

 

O peixe como símbolo cristão

Segundo a astrologia, cada um dos 12 signos ocupa um espaço de 30º na esfera celeste. No entanto, as constelações têm desenhos e tamanhos diferentes, existindo inclusive um 13º “signo”, o de Ofiúco, entre Escorpião e Sagitário. Ou seja, cada era tem duração diferente. Porém, cedo ou tarde, a Era de Aquário chegará e o novo avatar será muito mais incompreendido que Jesus. Se até hoje não conseguimos assimilar e praticar os ensinamentos de Cristo, como poderemos entender as idéias ainda mais elevadas que surgirão ? O novo messias será execrado pela sociedade, na qual preponderam as futilidades e os valores superficiais. O “ter” supera o “ser”, um bom saldo bancário vale mais que a cultura e a sabedoria, um carro importado “ultrapassa” a honestidade e a honra. O egoísmo, a prepotência e a arrogância estão acima do amor ao próximo; a liberalização dos costumes condena nossos jovens às drogas e ao sexo desenfreado, com graves consequências. A busca por padrões estéticos definidos pela mídia, com óbvios interesses comerciais, condena as pessoas a dietas mirabolantes e procedimentos cirúrgicos desnecessários, gerando efeitos adversos como bulimia, anorexia e até o suicídio.

Vai ter muito trabalho, nosso pobre avatar.

 

As constelações zodiacais

Por Benito Gorini 28/07/2022 - 15:00

Existem avenidas e ruas emblemáticas em várias cidades do mundo. Champs-Élysées em Paris, Regent Street, em Londres, Las Ramblas, em Barcelona, Gran Via, em Madri, Via Condotti, em Roma, Ringstrasse, em Viena, 5ª Avenida, em Nova York, Ocean Drive, em Miami,  9 de Julio, em Buenos Aires, Rua Augusta, em São Paulo e Rua da Praia, em Porto Alegre, são exemplos marcantes. A pequena e menos conhecida Drosselgasse, em Rüdesheim, também merece menção pois é a marca registrada da cidade renana. E outro muito especial, o Gran Canale, a grande “avenida” de Veneza.
 

A sempre movimentada Drosselgasse na pequena Rüdesheim, Patrimônio da Humanidade pela Unesco

 

 

A vista do Gran Canale do vaporetto nº 1

 

O início da Via Condotti, com a Fontana della Barcaccia e a Scalinata di Spagna. No alto a igreja francesa Trinità dei Monti

No entanto, nenhuma tem o nome tão bonito como a Unter den Linden (Sob as Tílias), em Berlim. Em um trajeto de 1,5 km da Porta de Branderburgo à Bebelplatz, que pode ser tranquilamente percorrido a pé, encontram-se inúmeras construções históricas, museus, praças e igrejas.

As tílias atrás do Portão de Brandenburgo
O Portão de Brandenburgo e a Pariser Platz, no início da Unter den Linden

Na Pariser Platz encontram-se as embaixadas da Rússia e da Hungria e o Hotel Adlon, que ficou famoso após o filme Grande Hotel, com Greta Garbo. Os Museus Antigo e Novo, a Galeria Nacional, o Museu Bode e o Pergamon, voltado para a Unter den Linden e com a Catedral em frente, situam-se na Ilha dos Museus, formada pelo rio Spree. Na  Bebelplatz, localizada nas proximidades e onde em 1933 foram queimados os livros pelos nazistas, encontramos o Museu dos Livros Queimados e uma placa com a citação  “Onde se queimam livros, acaba-se também queimando pessoas”, do poeta alemão Heinrich Heine.

Turistas no Memorial dos Livros Queimados. Ao fundo a Universidade Humbold

Em Santa Catarina, temos a cidade de Dreizehnlinden, obrigada a trocar de nome para Treze Tîlias no governo de Getúlio Vargas, na segunda guerra mundial.
 

Por Benito Gorini 21/07/2022 - 14:00

O amigo Daniel Garcia, experiente motociclista com muitas viagens internacionais no currículo, me presenteou com a edição 63 da renomada revista inglesa Adventure Bike Rider, especializada em duas rodas.

Daniel Garcia no impressionante Passo dello Spluga (Splugen pass), entre a Suiça e a Itália
A revista inglesa Adventure Bike Rider

Uma reportagem sobre o Brasil me chamou a atenção. O autor, o austríaco Alexander Seger, ficou impressionado as belezas da Região Sul e descreve o roteiro de 16 dias e 3200 km na companhia de 3 casais alemães e o guia brasileiro. Partiram de Ribeirão da Ilha em direção à Vargem do Cedro onde encontraram uma inesperada surpresa alemã : “Em um restaurante chamado Fluss Haus nós encontramos música alpina, as garçonetes em trajes típicos da Baviera e os garçons com as tradicionais lederhosen”. Em seguida subiram a Serra do Rio do Rastro, “uma estrada repleta de curvas que sobe até uma altitude de 1400 m e pode ser facilmente comparada a qualquer passo alpino”. Passaram por locais icônicos para os amantes do motociclismo de aventura, como o Passo do S próximo a Cambará do Sul e estradas de chão batido das Serras Gaúcha e Catarinense, enquanto se dirigiam ao ponto alto da viagem, as Cataratas do Iguaçu.

Amigos motociclistas em Urubici

Passo do S

Ficou muito impressionado com a Região Sul e comentou : “Dia após dia o sul do Brasil surpreendeu a mim e aos meus colegas com paisagens que não correspondem ao estereótipo de samba, sol e carnaval. E quando eu pensava que tinha visto tudo, fui surpreendido ao encontrar o Brasão Nacional da minha querida Áustria no pórtico de entrada de Treze Tílias, que ostenta com orgulho seu nome em alemão, Dreizehnlinden”. Encerraram a viagem com um jantar em uma barraca na orla de uma praia de Florianópolis, admirando o Cruzeiro do Sul bem alto sobre o mar, visão que não é possível no hemisfério norte. Termina a reportagem escrevendo : “ Foi triste dizer adeus aos meus amigos, mas nós compartilhamos uma jornada incrível através de um país magnífico. Thank you Brazil, you´ve been incredible”.

Por Benito Gorini 14/07/2022 - 18:07 Atualizado em 14/07/2022 - 18:13

O modo de encarar o deficiente vem evoluindo no decorrer dos tempos. Portadores de deficiências físicas eram discriminados e os cegos foram considerados seres inúteis durante muito tempo, encarados como uma espécie inferior, totalmente voltada à ignorância.

A França foi o primeiro país a prestar ajuda material aos cegos. De acordo com a lenda, o rei Luís IX e seu exército teriam sido presos pelos turcos durante a Sétima Cruzada. Como resgate o sultão exigia uma fabulosa soma em dinheiro, sob a ameaça de cegar 20 reféns a cada dia. Durante 15 dias o ato bárbaro ocorreu, até que a exigência foi aceita e o rei e os prisioneiros libertados. Ao retornar a Paris o rei Luís IX (canonizado como São Luís) criou em 1265 o Quinze-Vingt (15-20), uma instituição para servir de abrigo aos 300 cegos das cruzadas. O rei construiu também a Sainte-Chapelle para abrigar a coroa de espinhos de Cristo. Posteriormente vários mosteiros, hospitais, refúgios, asilos e retiros foram criados na Itália, França, Alemanha e Jerusalém.

O Hospital Quinze-Vingts, em Paris

Os maravilhosos vitrais da Sainte-Chapelle, bem perto da Notre Dame de Paris

Em 1784, Valentin Hauy, o “pai e apóstolo dos cegos”, observou que um cego esmoler no adro da igreja de Saint Germain de Prés conseguia identificar moedas pelo tato. Fundou então o Instituto Nacional de Jovens Cegos, a primeira escola para deficientes visuais baseada na leitura táctil. Quarenta anos após, Louis Braille, aluno do instituto e cego desde os três anos de idade, desenvolveu um método que receberia consagração universal: a leitura táctil de seis pontos.

Escultura no Instituto Nacional de Jovens Cegos, em Paris

O filme O Milagre de Anne Sullivan ( The Miracle Worker ) nos mostra a vida de Helen Keller, cega e surda , cujo treinamento pela dedicada Anne Sullivan representou uma extraordinária conquista até então não conseguida em pessoas tão seriamente incapacitadas. Helen Keller não só aprendeu a ler, escrever e falar, como também obteve excepcional desempenho no curso universitário, graduando-se “cum laude” em filosofia pela Escola Radcliffe.

Cena do filme de 1962 “O Milagre de Anne Sullivan” de Arthur Penn que dirigiu também Bonnie and Clyde e Pequeno Grande Homem

Apesar da séria deficiência, pessoas cegas se destacaram desde a mais remota antiguidade. Homero, John Milton, Jorge Luis Borges, Stevie Wonder, Ray Charles e Andrea Bocelli são alguns exemplos. No Brasil a primeira preocupação oficial com a educação de deficientes surgiu em 1835, através de projeto de lei que criava o cargo de “Professor de Letras” para cegos e surdos-mudos. José Álvares de Azevedo, cego desde o nascimento, convenceu D. Pedro II a fundar uma escola semelhante ao instituto de Paris, onde havia estudado. Em 1854 foi criado o Imperial Instituto para Meninos Cegos, que recebeu o nome de Instituto Benjamin Constant com o advento da República.

José Álvares de Azevedo, o “Patrono da Educação dos Cegos no Brasil”, faleceu vítima da tuberculose em 1854 aos 20 anos de idade, 6 meses antes da inauguração do Instituto para Cegos
Dorina Nowill, cega aos 17 anos de idade, criou em São Paulo o instituto que leva o seu nome
Por Benito Gorini 07/07/2022 - 15:00 Atualizado em 07/07/2022 - 15:22

Uma caminhada de duas horas nos transportará da Place de la Concorde,  local da execução de Luis XVI, Maria Antonieta, Danton e Robespierre, à Ópera Garnier, cenário de grandes espetáculos operísticos. No centro da magnífica Praça encontra-se o Obelisco de Luxor, com 3200 anos de idade. Duas fontes barrocas, semelhantes às da praça em frente à Basílica de São Pedro em Roma, e oito estátuas simbolizando cidades francesas, conferem harmonia à praça. Do local tem-se uma bela vista da avenida Champs Elysées, Jardim das Tulherias, Madeleine e da Assembleia Nacional e Torre Eiffel, na outra margem do Sena. 

Place de la Concorde, com a Torre Eiffel ao fundo

Deixando a praça pela Rue Royale chega-se à Madeleine, igreja em estilo neoclássico semelhante aos templos gregos. Atrás da igreja fica a célebre Fauchon, paraíso gastronômico, onde Jaqueline Kennedy encomendava as iguarias para suas festas na Casa Branca. Pelo Boulevard de la Madeleine e Rue des Capucines adentramos a luxuosa Place Vendôme, com joalherias famosas com Cartier, Rolex, Boucheron, Piaget e, é claro, o suntuoso Hotel Ritz, de onde partiram Lady Di e Dody el Fayed no dia do fatal acidente no Túnel de Alma. No centro da praça, no alto de uma coluna  construída com o bronze derretido dos canhões apreendidos na Batalha de Austerlitz, ergue-se a majestosa estátua de Napoleão Bonaparte.

A Place Vendôme, com a estátua de Napoleão Bonaparte em trajes de imperador romano


A Rue de la Paix nos leva ao requintado Café de la Paix. Mais alguns passos e, voilá, a Ópera Garnier, o magnífico teatro que testemunhou maravilhas do canto lírico como Renata Tebaldi, Maria Callas, Beniamino Gigli e Luciano Pavarotti. O local serviu também de cenário  para a obra  de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera. Atrás do teatro situam-se as Galerias Lafayette, paraíso de compras e muito frequentada por brasileiros.

A abóbada das Galerias Lafayette

 

Por Benito Gorini 30/06/2022 - 15:00 Atualizado em 30/06/2022 - 16:37

“Meu pai e o pai de meu pai, antes de mim, abriram aqui suas tendas. Há doze séculos que os verdadeiros crentes – Deus seja louvado, só eles possuem a verdadeira sabedoria – se estabeleceram neste país e nenhum deles ouviu jamais falar em palácios subterrâneos, nem tampouco os que os precederam. Então, eis que aparece um franco de um país afastado muitos dias de viagem, vai diretamente ao lugar, pega em um bastão e traça uma linha para cá, outra para lá. Aqui, diz ele, está o palácio e lá, diz ele, está o portão; e mostra-nos o que durante toda a nossa vida esteve sob os nossos pés, sem que o soubéssemos. Maravilhoso! Maravilhoso! Aprendeste isso pelos livros, por artes mágicas ou pelos vossos profetas?”.

Kurt Wihelm Marek utilizou o pseudônimo de C.W. Ceram para ocultar seu passado como membro da Wehrmacht, as forças armadas alemãs

 Este discurso descrito no livro “Deuses, Túmulos e Sábios” de C.W. Ceram foi proferido em 1850 pelo sheik Abd-er Rahman em homenagem ao arqueólogo inglês Henry Layard, descobridor das cidades soterradas de Nimrud e Nínive na mesopotâmia.  O interesse de Layard pelo oriente surgiu de suas leituras das  “Mil e uma Noites”, de Omar Kayam e de passagens do velho testamento, transformando em obsessão a sua pesquisa sobre as civilizações desaparecidas. As escavações trouxeram à tona  as enormes esculturas representando os deuses  da civilização assírio-caldaica:  a águia, o touro e o leão alados. Havia vinte e cinco séculos que estavam ocultas aos olhos dos homens e agora ressurgiam em sua antiga majestade.

Ala Sully do Louvre

A descoberta da tumba de Tutankamon deveu-se também à extrema dedicação de outro arqueólogo, Howard Carter, que em 1914, após seis  anos de mal sucedidas escavações finalmente descobriu a entrada principal da tumba do faraó. Os ladrões  já haviam penetrado no corredor e antecâmara mas a câmara principal estava intacta. Carter deparou-se com magníficos tesouros, de valores arqueológicos e materiais inestimáveis, como o   sarcófago de Tutankamon, todo em ouro maciço.

A máscara mortuária de Tutankamon, em ouro e decorada com pedras preciosas, no Museu Egípcio do Cairo

A morte inesperada e misteriosa do financiador do projeto, Lord Carnarvon, e de outros membros da expedição, levantou a hipótese da “maldição dos faraós”.  Uma das versões afirma que uma frase estava escrita no túmulo de Tutankamon: “a morte virá com asas ligeiras para aqueles que perturbarem o sono do faraó”.

As descobertas arqueológicas só se tornaram realidade pela decifração de hieróglifos, escrita cuneiforme, textos antigos e o conhecimento de línguas mortas.   O maior exemplo é Champollion, que aos 16 anos já “conhecia latim, grego, meia dúzia de línguas orientais” e decodificou a Pedra de Roseta, que apresentava o mesmo texto em três grafias diferentes : hieróglifos, demótico e grego antigo.  

A Pedra de Roseta, no Museu Britânico

As maravilhas trazidas à luz por Layard , Carter e outros arqueólogos enriquecem hoje os acervos dos Museus Britânico de Londres, Louvre em Paris, Egípcio do Cairo e o Pergamon de Berlim.

A Ilha dos Museus em Berlim

 

Por Benito Gorini 23/06/2022 - 16:43 Atualizado em 23/06/2022 - 17:04

A bela cidade de Salzburgo atrai uma multidão de cinéfilos a procura dos locais das cenas do filme A Noviça Rebelde, como a Fortaleza de Hohensalzburg, a Abadia Nonnberg, os jardins do Palácio Mirabel e a Fonte dos Cavalos. O Teatro, local onde a familia Von Trapp cantou "Edelweiss", abriga o célebre Festival de Música de Salzburgo, com 5 semanas de duração. 

A Fortaleza de Hohensalzburg no alto da montanha e acessível por funicular 

 

Cena do filme A Noviça Rebelde no centro antigo e nos jardins do Palácio Mirabel

Edelweiss, no Teatro de Salzburgo

Salzkammergut, que significa "Propriedade da Câmara de Sal", fica localizada bem próxima de Salzburgo. Seus 70 magníficos  lagos  circundados por montanhas fazem parte do seleto grupo do Patrimônio Natural da Unesco. Hallstatt, pequena vila com 1000 habitantes e  considerada a mais bela da Áustria, é o cartão-postal da região, de grande importância histórica pela presença das minas de sal, exploradas desde o  segundo milênio a.C. O sal, o "ouro branco", era fundamental na conservação dos  alimentos e conferia grande poder aos locais de exploração. Sua importância era tamanha que representava grande parte da remuneração dos trabalhadores, dando origem ao termo "salário". Hallstatt era um importante centro quando Roma ainda era uma pequena vila.

Hallstatt. A mina de sal ainda está aberta à visitação

 

Outro destino turístico da região é a cidade de  Bad Ischl, importante centro de banhos terapêuticos com água salgada, em um época que a medicina não dispunha de grandes recursos. Tornou-se famosa quando o arquiduque Carlos Francisco e sua esposa Sophia se dirigiram à cidade procurando a cura de sua infertilidade. Nasceram Francisco José e posteriormente mais 2 filhos, conhecidos como os "Príncipes do Sal". Em 1848 o primogênito foi coroado como  Francisco José I e reinou durante 68 anos. Foi casado com Elizabeth da Baviera,a famosa Sissi, que teve um fim trágico apunhalada em Genebra por um anarquista italiano. No museu Correr de Veneza, que pertencia ao Império Austro-Húngaro, e no Hofburg de Viena, existem alas dedicadas à imperatriz.

A Ala Sissi do Hofburg de Viena

 

Trailer da trilogia sobre a vida de Sissi, com Romy Schneider no papel principal

 

Por Benito Gorini 16/06/2022 - 18:28 Atualizado em 17/06/2022 - 11:22

Com a prática das indulgências a Igreja Católica amealhou verdadeira fortuna. Os membros das classes abastadas, à beira da morte, doavam seus bens à igreja, convictos de queestavam assegurando o seu lugar no céu. O dinheiro arrecadado, que a princípio serviu a propósitos humanitários e espirituais, como a construção de hospitais e igrejas, acabou se transferindo para as mãos de membros corruptos do clero, que o utilizaram para finalidades escusas. Na Idade Média a importância de uma igreja estava relacionada com as relíquias que os devotos conseguiam obter, nem sempre por meios lícitos. As cidades tinham enorme interesse em possuir relíquias sagradas, muitas de origem duvidosa, com o intuito de atrair os peregrinos. Em Roma conservavam a cabeça de São João na Basílica de San Giovanni in Laterano, sede do papado por 1 milênio. Em uma capela em frente à basílica encontra-se a Escada Santa, os degraus que Jesus teria subido ao ser condenado no palácio de Pôncio Pilatos e transportada a Roma por Santa Helena, mãe do imperador Constantino.

A “Scala Santa”, em Roma

Na basílica de São Pedro, no altar sob o magnífico baldaquino de Bernini, acha-se a tumba do apóstolo, no local onde teria sido crucificado. Em Assis, o corpo de São Francisco, em Pádua, o de Santo Antônio e em Veneza o de São Marcos. Siena conserva a cabeça de Santa Catarina, mas o seu corpo está exposto na igreja dominicana de Santa Maria Sopra Minerva, ao lado do grande pintor Fra Angelico. São Francisco e Santa Catarina são os padroeiros da Itália.

Igreja de Santa Maria Sopra Minerva, construída sobre um templo pagão, com o Elefante de Bernini e o Obelisco della Minerva

Os corpos dos três Reis Magos - roubados pelos alemães de uma igreja de Milão - conferiu tanto prestígio à catedral de Colônia que os reis germânicos, depois de coroados em Aix-la-Chapelle (Aachen em alemão), dirigiam-se à cidade para se ajoelharem em frente à arca dos três Reis. A Sainte-Chapelle, joia do período gótico com seus magníficos vitrais, foi construída pelo rei Luís IX, posteriormente canonizado, para abrigar os “espinhos da coroa de Cristo”. O preço pago pelos espinhos foi maior que o valor gasto na construção da capela. 

A magnífica catedral gótica de Colônia, que guarda a urna do Reis Magos

Os magníficos vitrais da Sainte Chapelle

Eram tantos os fragmentos da cruz de Cristo expostos nas igrejas que “dariam para construir um barco de pequeno porte”, segundo Cesare Marchi, autor do livro “Grandes Pecadores, Grandes Catedrais”.

Os abusos praticados pelo clero acabaram desencadeando a reforma protestante de Lutero, com suas 95 Teses afixadas nas portas da Igreja de Wittenberg. Houve a reação católica, a contra-reforma, deflagrada  pelo Concílio de Trento ( 1545-1563) e a instalação da Inquisição Renascentista, pior que a medieval, por acrescentar os livros à lista de condenados à fogueira (Index Librorum Proibitorum). Mas os protestantes também cometeram crimes. Miguel Servet, que descreveu a Circulação Pulmonar de Sangue, foi condenado por Calvino à morte na fogueira, em Genebra.

Por Benito Gorini 09/06/2022 - 15:15 Atualizado em 09/06/2022 - 15:49

Em visita à Basílica de São Pedro com um grupo de brasileiros, comentamos sobre obras de arte como o Baldaquino de Bernini, o “Confessio” abaixo do altar-mor e local da tumba do apóstolo e a cúpula de Michelangelo. Observamos também a riqueza arquitetônica dos túmulos de alguns papas. Um senhor nos observava nas proximidades e veio conversar quando o grupo se dispersou. Identificou-se como funcionário aposentado do Vaticano, tendo servido a 5 papas. Falou sobre Pio XII, um papa severo, autoritário e conservador, ciente de seu grande poder como líder dos católicos. Já João XXIII era exatamente o oposto, um papa gentil, carismático e admirado por todos. Não fez muita referência a Paulo VI e disse que gostava muito de João Paulo I, o papa sorriso. Perguntei então sobre a morte do papa e ele respondeu: “Non si può parlare”.

O Baldaquino de Bernini e o “Confessio”
A tumba de São Pedro

O livro “Em Nome de Deus”, do escritor inglês David Yallop, lança sérias acusações sobre membros da cúria romana e outras instituições. João Paulo I pretendia fazer profundas mudanças na igreja, trocando o Secretário de Estado Jean Villot e demitindo o monsenhor Marcinkus, presidente da IOR (Istituto per le Opere di Religione), o banco do vaticano, que estava envolvido em operações bancárias fraudulentas. Segundo Yallop, Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano, Licio Gelli, da Loja PII e Michelle Sindona, da Máfia Siciliana, também estavam envolvidos. Quando João Paulo II assumiu tudo voltou a estaca zero e Marcinkus acabou se tornando Arcebispo. O papa Woytila também manteve o conservadorismo na igreja católica, condenando a Teologia da Libertação. A Congregação para a Doutrina da Fé, herdeira do Santo Ofício medieval, impôs a Leonardo Boff o “silêncio obsequioso”, a proibição de falar em público e de publicar suas ideias, dura pena mas menos cruel que a morte na fogueira dos condenados pelas Inquisição.

O túmulo de João Paulo I na Cripta dos Papas, no subsolo do Vaticano. Como sugestão ver o filme “João Paulo I, o Sorriso de Deus”, da RAI

Interessante é a coincidência de Ângelo Roncalli (João XXIII) e Albino Luciani (João Paulo I) serem naturais de cidades intimamente ligadas com a imigração italiana para a nossa região. Roncalli nasceu em Sotto il Monte, na província de Bérgamo, e Luciani em Canale d’Agordo, na província de Belluno. Luciani foi padre em Belluno e bispo em Vittorio Veneto, cidade-irmã de Criciúma. O pai de Albino Luciani, embora não tenha emigrado, foi obrigado a trabalhar na Suíça para poder sustentar sua família. Pequenas cidades do Veneto e da Lombardia forneceram o principal contingente de imigrantes para o sul-catarinense. Além disso, ambos os papas foram Patriarcas de Veneza.

Monumento em homenagem ao Gemellaggio Criciúma-Vittorio Veneto

 

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