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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Henrique Packter 02/05/2023 - 08:40 Atualizado em 02/05/2023 - 08:49

O jogador de futebol Cuca, ex-Grêmio Portoalegrense, permaneceu preso por 45 dias em Berna, na Suíça, condenado junto com 3 outros jogadores, em 1989, a 15 meses de cadeia, por estupro. O crime foi cometido contra menina de 13 anos. Defendido pelo departamento jurídico do Grêmio, Cuca esteve detido por 45 dias em prisão suíça, mas sofre ainda hoje o castigo do estupro de 1987. O grande, e inesperado, problema para Cuca é que a história mal contada do estupro foi revisitada e ele não teria mais tranquilidade para trabalhar, como fez por 25 anos, desde 1998, quando assumiu o Uberlândia, passando por Flamengo, Botafogo, Fluminense, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio, Cruzeiro, entre outros clubes.

A CASA DO ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO ou UMA CASA DO ESTUDANTE PARA CRICIÚMA ou O PASSADO NÃO PERDOA

(Baseado no livro O MENINO DE OFICINAS de ARARY CARDOZO BITTENCOURT, médico pediatra em Tubarão/SC, graduado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná em Curitiba. Também baseado em CUCA E OUTRAS CUQUICES).

Formado em 1962, Arary foi colega de Anohar  Zacharias, Antônio Osvaldo Teixeira de Freitas – o Bola -, Luiz |Eduardo dos Santos (todos, mais tarde trabalhando em Criciúma no Hospital Santa Catarina), David Saute (de Carazinho, RS e meu parente longínquo), Isaias Raskin (de Santa Maria e também parente distante),  Paulo Zelter Grupenmacher (Professor de Oftalmologia em Curitiba, Sanito Wilhelm Rocha (respeitado cardiologista em Curitiba), Célio Gama Salles (Professor Clínica Cirúrgica em Florianópolis, falecido precocemente).

Quando ingressei no curso de Medicina em Curitiba(1954), a Casa do Estudante estava localizada no local mais central da cidade, ao lado do Cine Ópera, na Avenida João Pessoa, hoje Av. Luiz Xavier. Mais central, impossível. A Casa do Estudante Universitário do Paraná (CEU) é fundação com 74 anos de história beneficente e personalidade jurídica de direito privado, sem finalidade lucrativa.

CEU proporciona ambiente favorável para estudar e acessível para morar, sendo mantida financeira e administrativamente pelos próprios estudantes residentes, através de trabalho voluntário e contribuições mensais. Também aufere retorno financeiro com locação de espaços para eventos. Hospedagem na CEU também contribui na geração de receitas.

CEU atende estudantes de graduação, pós-graduação, cursinhos pré-vestibulares e do ensino técnico pós-médio, procedentes do interior do Paraná, de cidades dos vários estados brasileiros, assim como intercambistas das mais diferentes partes do mundo. A Fundação promove e apoia atividades de cunho artístico e cultural.

Os beneficiários contam com três refeições diárias: café da manhã diário em cozinha colaborativa, almoço e jantar. Há salas de estudos, jogos, TV, laboratório de informática, quadra poliesportiva, churrasqueira, serviços de portaria e de lavanderia 24 horas e acesso ilimitado à Internet.

Para tornar-se morador, o estudante deve (1) estar regularmente matriculado em instituição de ensino situada em Curitiba (PR), (2) que os pais residam noutra cidade, (3) que se submeta a processo seletivo simplificado/desburocratizado, que considera, basicamente, a vulnerabilidade socioeconômica. Processos ocorrem, geralmente em 3 etapas, no início de cada semestre (fevereiro e julho): inscrição e avaliação de documentos, entrevista individual e integração de calouros.

MOYSÉS LUPION

Moysés Wille Lupion de Troia (1908-1991), industrial, contabilista, empresário e político, governou o Paraná por duas vezes. Agricultura (madeira) era sua praia. 

Lupion era amigo do interventor Manuel Ribas o que lhe granjeou prestígio político e social. Também, sua participação empresarial e comunitária no PR foi notória pela liderança que passou a exercer com novo estilo administrativo. No cenário político elegeu-se pelo PSD a governador do Paraná em 1947 e a senador em 1954. Em 1961, Lupion foi substituído no governo estadual por Ney Braga, que impetrou contra ele vários mandados de prisão, acusando-o de corrupção. Exilou-se então na Argentina, retornando ao Brasil nas eleições de 1962, quando sustentou tríplice candidatura: ao senado, à deputação federal e à Assembleia Legislativa, falhando em todas elas. Chegou a exercer mandato à Câmara dos Deputados como suplente convocado, entre junho/1963 e abril/1964. Todavia, o Regime Militar de 1964 cassou-lhe o mandato, suspendendo seus direitos políticos por 10 anos pelo Ato Institucional Número Um de 9.4.1964.

Sustentada na acusação de corrupção a pena rendeu-lhe confisco de alguns bens e a necessidade de vender outros para sustentar-se. Inocentado pela justiça em 1970 passou a residir no RJ. Ensaiou retorno à política pelo PMDB pretendo disputar cadeira no Congresso Nacional, sem êxito. Faleceu no Rio de Janeiro em decorrência de uma infecção renal.

HERMÍNIA  LUPION

Em seu primeiro matrimônio, Lupion casou-se com Hermínia Rolim, falecida em 4.4.1969. Dona Hermínia foi a criadora da Casa do Estudante Universitário de Curitiba. Alojava, a princípio, estudantes de fora da cidade, submetidos a processo seletivo. A primeira Casa do Estudante foi inaugurada em 1956 para estudantes que enfrentavam dificuldades financeiras e que manifestassem intenção de lutar pela manutenção e melhoria da casa. Uma comissão de admissão vasculhava a vida do candidato que deveria mostrar os predicados e as carências já enumeradas. Havia sempre um parceiro de quarto.

Acomodações tinham pia com água e os móveis indispensáveis. Sanitário e banheiros coletivos bem higienizados, no final dos corredores.  Uma lavanderia atendia a população estudantil cobrando poucos centavos pelo trabalho realizado. Eram servidas três refeições diárias. A mensalidade tinha preços razoáveis e refeições avulsas eram disponibilizadas a custo módico. 

 Pequeno ambulatório operava a amostras grátis, fornecidas pelos laboratórios da indústria farmacêutica e pela boa vontade dos alunos dos últimos anos do curso de Medicina. Arary Cardozo Bittencourt comenta que nem todos que lá moravam tinham conseguido as vagas por suas condições de necessitados. Estudantes apadrinhados, geralmente por políticos inescrupulosos que tinham influencia na distribuição de verbas dirigidas à entidade, amizades familiares com dirigentes ou por outros motivos, faziam ingressar ou lá permanecer quem não merecia. Arary cita conterrâneo seu, filho de um dos maiores proprietários de bens imóveis de Tubarão que ”tentava enganar como necessitado, escondendo-se atrás de atestados de pobreza,  firmado pela Delegacia de Polícia de sua cidade. Causou indignação, asco, reconhecer um daqueles, que disfarçava ser necessitado, tinha sua maldade traída pelas boas roupas que usava e ambientes que frequentava. Por tipos como ele, quantos bons estudantes desistiram de seus cursos por faltar-lhes condições de manutenção na universidade.” (Pág. 426 de O MENINO DE OFICINAS de Arary Cardozo Bittencourt).

Esta atuação criminosa há que ser evitada. Mas, deve-se reconhecer que Casa do (a) Estudante Universitário (a) são boas ideias que, realizadas, viriam facilitar em muito a vida de estudantes do sul catarinense que estudam em Criciúma e residem em outros municípios. Dependem eles, para estudar, de condução diária, ida e volta, para Criciúma. Acidentes com ônibus, conduzindo estudantes já foram registrados no percurso. Causa espanto o número de ônibus, vans, automóveis, motos, nos estacionamentos de nossas universidades. Está na hora de fazer algo pelos estudantes que correm a cursar nossas Universidades. Pessoas que certamente levarão a influência das ideias, da cultura e da política criciumense para suas cidades. 

Henrique Packter, Oftalmologista, Criciúma.

Por Henrique Packter 24/04/2023 - 08:50 Atualizado em 24/04/2023 - 08:54

Quando cheguei a Criciúma no início dos anos 60, o advogado ANTÔNIO BOABAID e família (mulher e seis filhos) aprestavam-se para retornar a Florianópolis, onde ainda ele reside. A esposa Elcy, também advogada, é infelizmente falecida.

Já residente em Florianópolis foi certo dia chamado a Criciúma por Diomício Freitas. Tratava-se de colocar ações da SIDESC, uma siderúrgica para Imbituba. O público alvo era a população de Criciúma, da qual Boabaid era profundo conhecedor e na qual contava com amizades e respeito.

Para o trabalho, praticamente passou a viver na cidade. Na época, o Criciúma Clube era o encontro da melhor sociedade e Boabaid um de seus sócios fundadores. Prefeito da cidade era Ruy Hülse e era verão de muito calor. Domingo, muito sol, hora de almoço, Boabaid devidamente munido de calção de banho procurou o clube para almoçar e relaxar, além de um bom mergulho na piscina da agremiação. É quando surge a figura do zelador, impedindo seu acesso à piscina pois Antônio Boabaid não tinha se submetido ao indispensável exame médico, nem portava o competente atestado.

O pediatra David Boianowsky morava bem próximo ao clube e um telefonema confirmou sua presença na cidade. Em poucos minutos Boabaid estava de volta exibindo o atestado.

O zelador, com o documento numa das mãos, como quem exibe um troféu e batendo ritmicamente no papel com as costas da outra mão, proclamou para os associados presentes:

- Agora sim, com atestado pode nadar!

Pouco depois, com a cara mais limpa do mundo, Boanowsky mais a mulher Rosa Nuch, os filhos Celso e André (hoje oftalmologistas em Brasília), Mauro e Daniela, chegava ao clube para almoço. Boabaid secava-se ao sol e já Boianowsky perguntava se alguém se dera ao trabalho de ler o atestado. Não, para falar a verdade, ninguém tinha lido. Foram atrás do papel. Encontrado, todo o mundo pôde ler: Atesto, para os devidos fins, que Antônio Boabaid é portador de moléstia infectocontagiosa...

Por Henrique Packter 17/04/2023 - 09:05 Atualizado em 17/04/2023 - 09:36

Neste dia, muito lamento o desaparecimento de figuras que marcaram – e muito – nossa pátria e nossas vidas.

Joaquim José da Silva Xavier morreu nesse dia, da forma como a história friamente revela: enforcado, esquartejado, seus despojos jogados por aí. Era 21 de abril de 1972. Morreu, dizem, porque faltou-lhe (e há quase uma unanimidade em torno dessa tese), um hábil advogado. Fosse hoje, Milton Beck & Filho, postos a cuidar da lide, outro teria sido o desfecho desta tragédia do final do século 18.

Tancredo de Almeida Neves, falecido em 21 de abril de 1985, morreu, assegura-se, porque lhe faltou um bom médico. Há um livro que tenta demonstrar essa tese. Tancredo queria porque queria assumir a Presidência da República. Mais que um sonho seu, era o sonho da nacionalidade, coroando o fim do último e melancólico governo militar, do general Figueiredo. Pobre Tancredo, vítima das artimanhas da teia política engendrada nos corredores palacianos do Planalto.

Dizia-se que o sonho principiara no Rio, quando da morte de Getúlio Dornelles Vargas. O presidente preparava-se para seu derradeiro sono, entregando a Tancredo uma caneta de ouro. Teria proferido frase muitos anos depois aproveitada em canção do Rei Roberto Carlos:

- Para um amigo certo nas horas incertas!

Ninguém ainda conseguiu explicar como Tancredo chegara a ser amigo de figuras tão contraditórias como Getúlio e Jango.  Nem se sabe como chegou a ser advogado, e mais do isso, a político hábil e conciliador. Diz-se que tentou um cargo na Marinha de Guerra do Brasil.  Era um concurso com 20 vagas. Tancredo chegou em 25º lugar. Alguém enxergou nele a figura de um médico promissor. Lá foi ele enfrentar um exame vestibular. Eram 100 vagas e Tancredo chegou em 125º lugar. Foi quando decidiu que seria advogado. Aí, levou a vida que todos sabemos: vereador em São João Del Rei, deputado, governador, 1º ministro, senador e – afinal- Presidente da República. Eleito, não chegou a assumir o cargo. Apesar disso seu retrato está lá entre os presidentes, com a concordância de todo o nosso mundo político.

Curioso que Tancredo cinzelou uma frase:

- No Brasil não basta ganhar uma eleição, é preciso garantir a posse!

Pouco depois produziria outra, destinada a ser (mas não foi) seu epitáfio:

- Aqui jaz, muito a contragosto, Tancredo de Almeida Neves...

A família não permitiu.

E assim chegamos ao último herói de minhas vidas passadas, talvez o maior oftalmologista que nosso país tenha produzido, Joviano de Rezende Fº, um dos fundadores do grupo carioca, OCULISTAS ASSOCIADOS, grupo ainda atuante após 38 anos do falecimento de um de seus 2 líderes.

Assisti ao seu enterro, no Rio de Janeiro. Sílvio Provenzano, um dos componentes do grupo de oftalmologistas ASSOCIADOS veio até mim para confidenciar:

- Sabe que em São Paulo estão levando para mais uma cirurgia abdominal o Tancredo?

Não sabia e perguntei a Provenzano:

- Nossa! Coitado... Mas do que vão operar o homem?

- Do ouvido!

Estranhei. Perguntei porque tão extemporânea cirurgia.

- É porque ele está surdo! Jesus tá chamando a ele faz horas e ele nada!  

Por Henrique Packter 10/04/2023 - 08:55 Atualizado em 10/04/2023 - 08:56

Faz 18 anos, acho que em 2005, ou foi em 7 de janeiro de 1981? Numa dessas datas, a capa da revista VEJA chamava a atenção para matéria classificada como de maior importância. Li o artigo, de autoria de jornalista de cujo nome não consigo lembrar, com o título GUERRA CIVIL. Tratava de assunto de alto interesse de nossa sociedade, porque ainda irresoluto.

Já nos habituamos a toda sorte de crimes e de violências, de ocorrência diária em nossas grandes cidades do país. O tristemente célebre assassinato coletivo de crianças e adolescentes e agora até de bebês, chegou a Santa Catarina. Tínhamos um relativo sossego em nossos refúgios citadinos, que ora se esvai. De repente, não mais que de repente, a barbárie explode numa creche em Saudades e agora numa creche em Blumenau.

 A situação é, hoje, de flagelo. Que fazer?

Nós, catarinenses verdadeiros ou adotivos, precisamos nos reunir com autoridades e militares e discutir o assunto SEGURANÇA NAS ESCOLAS E CRECHES. Pessoas tituladas ou simples e ignorados cidadãos precisam saber que nesta GUERRA CIVIL, todos contam, todos são importantes.

A pouco menos de 20 anos do sec. XXI causava espanto o fato de que algumas de nossas áreas urbanas se achavam entre as piores do mundo em matéria de criminalidade. “superando os mais notórios infernos sociais de que se tem notícia”. Pior: a população vai se habituando com isso. Em São Paulo, o programa de notícias do jornalista Datena, retratou uma quadrilha que assalta as pessoas em pleno dia, nas ruas, nos seus automóveis e até em suas casas e apartamentos, para afanar seus celulares, montados em bykes, no centro mais central da megalópole paulista.

Por Henrique Packter 03/04/2023 - 10:58 Atualizado em 03/04/2023 - 11:00

Faz poucos dias, primeiro a nossa UNESC, depois a própria FUNDAÇÃO CULTURAL DE CRICIÚMA, comemoraram em grande estilo os 30 anos de fundação de nossa entidade cultural maior. Na UNESC, até EDUARDO PINHO MOREIRA, ex-prefeito de Criciúma e ex-governador de SC e verdadeiro criador da FCC, além de LILIANE MOTTA DA SILVEIRA, BRIGITE GORINI, ED BALOD e outros, deram o ar de suas graças. LILIANE brilhou intensamente com sua mostra de telas, rotulada como revolucionária pelas autoridades presentes.

O atual diretor-presidente da FCC, o empresário JOSTER FAVERO e o prefeito CLÉSIO SALVARO disseram presente e até discursaram.

Nossa FCC alternou nos 30 anos passados, depressão e euforia, encanto e desesperança, um processo de ciclotimia crônica. Atravessou anos dourados, anos rebeldes e anos de chumbo. Houve do melhor e do pior. Tempos de revolução comportamental, de aventuras existenciais e de flagelos planetários como a violência urbana de incêndios em próprios municipais, aí incluída nossa Fundação Cultural.

Os acontecimentos céleres voam como no soneto do Raymundo, a ciência e a tecnologia desenvolvendo formas de prolongar a vida e, ao mesmo tempo, aprimorando métodos de exterminá-la, numa escala nunca antes imaginada. Tantos são os acontecimentos nestes mais de 60 anos vividos em Criciúma que muitos deles já se vão apagando em nossa memória. Surpreendo-me nos programas de rádio das sextas-feiras na SOM MAIOR, quando ADELOR LESSA e eu trocamos impressões sobre fatos antigos da urbe, ao constatar que a nossa população ignora quase tudo do que falamos.

Desmemoriado confesso para fatos mundanos, consigo ainda escrever para o PORTAL4OITO e participar de programas radiofônicos, suprindo minha amnésia com a imaginação. A romancista espanhola ROSA MONTERO, autora de A LOUCA DA CASA, dividia os autores em memoriosos e amnésicos. Os primeiros lembram de tudo e os últimos se esquecem de quase tudo. Ela classificava a própria memória de catastrófica. Para não fazer de nossos fatos históricos uma enfiada de coisas sem nexo e, pior, puramente frutos de minha imaginação, recorro aos meus arquivos e à memória dos outros, quando a minha falha. Nada disso, no entanto é garantia de fidelidade absoluta e os fatos à distância só existem como versões, o que n&atil de;o deixa de ser uma forma de ficção. A memória que temos de um fato qualquer, cresce com a gente e muda o tempo todo.

Na próxima semana, pretendo voltar ao tema, desde que não tenha completamente esquecido do assunto.

Ah, sim! Já ia me esquecendo: FELIZ PÁSCOA A TODOS!

Por Henrique Packter 27/03/2023 - 10:00 Atualizado em 27/03/2023 - 10:54

A nova sede do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal, que era na Rua Maria Figueiredo, mudou recentemente para a Avenida Paulista, em frente ao Hospital Santa Catarina. Tadeu Cvintal, MD, oftalmologista pelos últimos 55 anos, trabalhou em SP, Brasil, onde batalhou para consolidar as fundações da moderna oftalmologia. Tadeu era paranaense e fomos contemporâneos no curso de Medicina.

Ele já no 6º ano e eu lá atrás, no 3º ano médico. Graduados que fomos na Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, Cvintal foi aos EUA para especializar-se. Formou-se médico (1957 e foi colega de Ernesto Francisco Damerau, o grande cirurgião-geral de Florianópolis, Léo Mauro Xavier, notável urologista em Florianópolis, Manoel Sylvio Maffi, depois anestesista em Santa Maria/RS, Antônio Pasinato otorrino em Curitiba, Humberto Kluppel Pederneiras, médico em Florianópolis, Wladinir Joacy Luz, médico em Araranguá. 

Cvintal, em 1964 tornou-se Fellow da American Academy of Ophthalmology, depois de completar seu programa de residência no Harlem Eye and Ear Hospital, New York, e Retina Fellowship no Boston City Hospital; foi o primeiro Cornea Fellow no Wills Eye Hospital, Philadelphia.

Retornando ao Brasil tornou-se diretor do Departamento de Oftalmologia do Hospital do Estado em SP, onde criou o primeiro programa de residência em oftalmologia no país. Na clínica privada introduziu e popularizou muitas inovações, como as ceratoplastias (cirurgias de transplante de córnea), cirurgia extracapsular da catarata, implante de lente intraocular, ceratotomia radial e LASIK (cirurgias para quem quer aposentar os óculos). Seu centro de Laser trouxe LASIK ao Brasil em1990, e ele treinou muitos cirurgiões tanto de Brasil como dos EUA.

Cvintal criou o Banco de Olhos de SP, o primeiro no Brasil; foi co-fundador da Sociedade Brasileira de Catarata e Lente Intraocular, a Sociedade Brasileira Refrativa e a Sociedade Brasileira de Lentes de Contato.

Estabeleceu sua própria instituição filantrópica, onde treinou cerca de 390 residentes e fellows, que por sua vez trataram gratuitamente de mais de 180,000 pacientes nesses últimos 50 anos. Cvintal proferiu mais de 900 conferências no mundo inteiro e publicou livro sobre complicações no transplante de córnea (2004).

Esteve em Gravatal/SC a meu convite, numa jornada sobre Transplante de Córnea que atraiu profissionais de todo o sul brasileiro. As piscinas naturais de água tépida colocadas em todos os apartamentos do Hotel Termas do Gravatal, fizeram as delícias do casal Cvintal.

Na clínica privada já examinou 120 mil pacientes e compartilhou seu dia a dia com a esposa Maria, e o filho Victor, que é cirurgião de catarata e de transplantes. Cvintal tem 3 netas de Aldo, que tenta ensina-lhe TikTok.

Tendo voltado ao Brasil para evitar que seu filho Victor fizesse o   serviço militar nos EUA, Tadeu alugou consultório na Av. São João, quase esquina com Ipiranga, segundo a letra da canção.

Era região conflagrada, cheia de perigos noturnos. No andar de seu consultório logo se instala com balaio debaixo do braço e o irresistível perfume dos cachorros-quentes sob um pano que já tivera tempos melhores. Baiano era figura folclórica da Paulicéia Desvairada.

Tadeu trabalhava até tarde da noite. As secretárias despediam-se dos clientes, ainda numerosos apesar das horas ermas. Sozinho, Tadeu atendia os pacientes, vindos de todas as partes. Pacientes que conseguiam agendar suas consultas eram atendidos mais cedo; depois das 10 horas da noite eram atendidos todos os demais.  Clientes acomodavam-se nas cadeiras, olhos fixos na porta que se abria de tempos em tempos para desovar mais um retardatário e receber outro esperançoso consulente.

Todos se alinhavam pela hora de chegada.

- Primeiro sou eu, depois aquele ali com cara de índio, depois o bombachudo de bota e lenço no pescoço, depois...

Apesar disso, às vezes, madrugada alta, explodia um conflito. Olho clínico apurado, Tadeu abria a porta para avaliar a situação. Envolvesse a situação dois jovens, o conselho consagrado era:

- Olha, vocês vão lá na frente (o reduto de boates, dancings, casas suspeitas), dão umas dançadas e podem voltar!

Fossem os beligerantes velhos, Tadeu decretava:

- É fome! Vão ali com o Baiano, comam alguns cachorros quentes e logo se acalmam, também!

Por Henrique Packter 20/03/2023 - 09:00 Atualizado em 20/03/2023 - 09:16

No dia 15.09.2020 faleceu no Rio de Janeiro o engenheiro catarinense Jayme Mason, intelectual e membro da Academia Brasileira de Engenharia. Filho mais velho do ex-prefeito de Orleans, Luiz Mason, era irmão de Genésio Mazon, engenheiro-agrônomo e empresário no setor de vinicultura e viticultura. Luiz Mazon foi o 14º Prefeito eleito de Orleans, na inacreditável Coligação PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e UDN (União Democrática Nacional), de 31.01.195 1 a 31.01.1955.

Homem culto, Jayme era poliglota e publicou diversos livros técnicos de cálculos estruturais. Escreveu também leitura amena, VIVÊNCIAS E RECORDAÇÕES e GRANDES MESTRES DA LITERATURA RUSSA, após aprender e dominar o idioma russo. Vai então à URSS e visita os lugares descritos pelos escritores nas suas obras e lê no original russo esses grandes mestres. Seu esforço foi reconhecido e recompensado pelo governo russo que o condecorou com medalha e diploma. A cerimônia foi no Rio de Janeiro e Jayme agradeceu a honraria, discursando na língua de Tolstoi.

Traduziu também as obras do italiano Dante Alighieri e sabia de cor grandes trechos da Divina Comédia que recitava a miúde. Publicou DANTE E A DIVINA COMÉDIA e o Dr. FAUSTO E SEU PACTO COM O DEMÔNIO.

Ando dando uma ajeitada nos meus livros, pondo um arremedo de organização naqueles livros desordenadamente empilhados no chão, na peça que denomino pomposamente de biblioteca. Foi quando me caiu às mãos um dos livros de autoria de Jayme Mason. Prometo comentá-lo e logo. Vale a pena ler as peripécias de nosso autor no Ginásio Lagunense e depois no Colégio Catarinense.

Jayme estudou engenharia na URGS, RS. Na época foi governador do estado gaúcho, o engenheiro Leonel Itagiba de Moura Brizola (Carazinho, 22.01.1922 – RJ, 21.06.2004). Estando Brizola na governança criou premiação para o melhor aluno da Universidade gaúcha a cada formatura que anualmente ocorria. Pois no ano da formatura de Jayme, coube a ele a láurea. Mais que depressa vai à Suíça, onde ficará vários anos e praticará as v árias línguas oficiais dos 26 cantões do país. Saiu do Brasil falando a língua pátria e mais o italiano, aprendido com os imigrantes italianos de sua terra natal. Volta da Europa dominando o francês mais o alemão. Logo aprenderá o inglês e o russo!

Os irmãos Mazon e Mason privilegiavam a viticultura e a vinicultura. Qual é a diferença? Já vou contar. São duas áreas diferentes, mas que se  complementam. A viticultura dedica-se ao plantio, cultivo e colheita da uva, que podem ser usadas para vários fins. (consumo de uva em si, produção de sumos, uvas passas e vinho). Já a vinicultura dedica-se à elaboração dos vinhos.

Profissional bem sucedido, Jayme lecionou no Rio de Janeiro a cadeira de Pontes e Grandes Estruturas na PUC de nossa ex-capital. Com Genésio era sócio-proprietário da Vigna Mazon no Bairro de São Pedro em Urussanga. Como escreveu sua sobrinha, “devemos a esse homem visionário e acima de seu tempo, juntamente com o único irmão, tornar viável estarmos hoje aqui!”

A vinícola fica na Rodovia Genésio Mazon, Km 5, São Pedro, Urussanga, SC, justa homenagem prodigalizada pelo governador e seu amigo pessoal, Vilson Kleinubing, que, aliás, era gaúcho de Veranópolis.

Por Henrique Packter 13/03/2023 - 10:00 Atualizado em 13/03/2023 - 14:57

30 anos da FUNDAÇÃO CULTURAL DE CRICIÚMA (FCC), cujo primeiro Diretor Presidente é o autor dessas mal traçadas.

15 de março de 1993 assinala a data da criação da Fundação Municipal de Criciúma pelo então prefeito Eduardo Pinho Moreira.

Por iniciativa da FCC, Prefeitura de Criciúma, e CALPI (Centro de Atendimento às Línguas Portuguesa e Inglesa), foi instituído o (1º) CONCURSO LITERÁRIO CIDADE DE CRICIÚMA.

No período de 01.04.1994 a 31.05.1994, 358 concorrentes de 48 municípios catarinenses inscreveram-se na FCC. Deles, 29 foram reprovados por não atenderem às exigências do regulamento. Daqueles que foram julgados dentro das normas estabelecidas, 175 eram poemas, 68 crônicas e 86 contos. Numa primeira avaliação pelo CALPI da Professora Iris Guimarães Borges, foram aprovadas 153 obras: 70 poemas, 37 crônicas, 46 contos.

As obras aprovadas pelo CALPI passaram por uma segunda e definitiva análise por comissão julgadora composta pelos Doutores em Língua Portuguesa da UFSC, Tânia Regina de Oliveira Ramos e Lauro Junkes, além de Flávio José Cardoso, editor e jornalista do Diário Catarinense.

A comissão julgadora distribuiu 3 menções honrosas e conferiu os 1º, 2º e 3º lugares aos trabalhos que concorriam nas categorias Poema, Conto e Crônica.

A premiação dos vencedores ocorreu em 27.08.1994, no evento AÇÃO MUNICIPAL, realizada no CAIC da Mina União, Criciúma. Cada autor vencedor recebeu 1% da tiragem total dos volumes impressos. Os primeiros lugares de cada categoria receberam mil reais em espécie.

QUEM GANHOU?

O grande perdedor foi Padre Claudino Biff, natural de Morro da Fumaça, residente em Tubarão. Autor de pelo menos 8 livros, foi penalizado pelo prestígio de ser autor consagrado de livros e de artigos publicados no Diário Catarinense. Criou ele o Jumento Macabeus (Memória de N. Sra. Do Desterro e Seu Jumento Macabeus e Paixão de Jesus Cristo Segundo Seu Jumento Macabeus), extremamente popular. Por esta razão, isto é, pelo personagem popularizado pelo jornal, permitindo sua identificação instantânea, foi desclassificado, seu trabalho para o concurso merecendo apenas o segundo lugar na categoria Conto. Tinha como personagem central o Jumento Macabeus!

Mereceram menção honrosa o Poema “Reduto Missioneiro” de Paulo Sérgio Boita (Xanxerê, SC), a Crônica “Senna” de Claudino Biff (Tubarão, SC) e o Conto“ O Anjo Cansado” de David Silveira (Tubarão, SC).

Primeiro lugar em Poema “Paradoxo Digital” de Marcelo Giovani Barros (Blumenau, SC), em Crônica “Nunca Te Vi Tão Formosa Firenze” de Amilcar Neves, Florianópolis, SC) e em Conto “20 Anos Depois” de Oldemar Olsen, Florianópolis, SC.

Em segundo lugar Poema, “Emblemas” de Carlos Damião Werner Martins, Florianópolis, SC , e “Retalhos da Vida”  Crônica, de Marlene de Souza Soccas Sazan, Morro da Fumaça, SC.

O terceiro lugar, Poema ficou para Marcelo Alves de Biguaçu, SC, com “A Lápide do Sol”; Edneia Janice Pavei de Criciúma, SC, ficou em 3º lugar Crônica com “No Jogo do Bicho” e Ivan Josefat Panchiniak de Florianópolis na categoria Conto também terceiro com “Caso de Devolução”.

Assim se escreve o primeiro e único CONCURSO LITERÁRIO DE CRICIÚMA que colocou nossa cidade como importante polo de cultura no território catarinense. AVE.

Por Henrique Packter 06/03/2023 - 09:00 Atualizado em 06/03/2023 - 09:22

Essa história foi colhida num livro de conhecido jornalista/radialista radicado no norte catarinense, Blumenau ou Itajaí, já não lembro mais. O livro, que tem por título Fatos Pitorescos de nossa história, merece ser conhecido por tantos quanto se interessam por nossos causos e pelos vultos que marcaram nosso desenvolvimento.

Como todo mundo está cansado de saber, nos anos 30 Paulo Carneiro foi indicado por um de seus professores na Faculdade Federal de Medicina da Praia Vermelha, Rio de Janeiro, não só como seu melhor aluno como aquele capaz de resolver os problemas médicos da região da Laguna. E, foi assim mesmo.

Paulo Chega, logo casa com a filha do Provedor do Hospital. Homem culto, apreciador de música erudita, muito auxiliou o desenvolvimento intelectual da região lecionando nas escolas da cidade matérias que dominava. Foi homenageado em vida pela população da cidade, com um busto em praça pública ali, ao lado do Cine Mussi.

Foi prefeito da Laguna três vezes.

Aos domingos eu costumava arrebanhar minha família, mulher e quatro filhos, para almoçar no Restaurante Nice, de Rodolfo Michels, ali, pertinho do museu dedicado à heroína de dois mundos, a nossa Anita Garibaldi.

O prato de resistência do restaurante era a inigualável maionese de camarão, honra e glória da culinária nacional, imbatível prato a engrandecer a nacionalidade. Mais de uma vez lá encontrei Paulo Carneiro, numa delas acompanhado pelo governador Jorge Bornhausen, de quem era amigo e correligionário.

Pois, vai daí que Paulo viaja a Florianópolis para resolver problemas da cidade que administrava. Era um fim de semana e a primeira parada obrigatória foi na Felipe Schmidt para atualizar-se nas novidades da praça e do estado. No Senadinho auscultou o senador Alcides Ferreira, que trajava o indefectível terno branco encimado por chapéu também impecavelmente branco. Como se sabe, Alcides Ferreira tomava seu cafezinho em pé e no pires! Mas, de resto, era um manancial inesgotável de estórias.

Paulo Carneiro ao sair do Senadinho esbarra em conhecido amigo seu e figura folclórica da Laguna, o Gaguinho. O apelido esclarecia como falava o ilustre personagem. Pergunta Paulo Carneiro:

- Gaguinho! Que fazes em Florianópolis?

- Pois nem lhe conto Dr. Paulo! Não é que minha mulher me inscreveu num curso de gagueira!

Paulo Carneiro arregala os olhos de pura indignação:

-  Mas, para que isso homem de Deus? Se tu já gagueja tão bem!

Por Henrique Packter 27/02/2023 - 10:18 Atualizado em 27/02/2023 - 10:20

Em 1959, ano em que me formei em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná, ganhei uma bolsa de 3 meses para estagiar na Santa Casa de Misericórdia de Santos/SP, Serviço de Oftalmologia.

BRÁS CUBAS

Português nascido na cidade de Porto, dezembro de 1507, faleceu na mesma cidade a 10.03.1592;  foi fidalgo e explorador português. Fundador da vila de Santos (hoje cidade) governou por duas vezes a Capitania de São Vicente (1545-1549 e 1555-1556). Teria também fundado Mogi das Cruzes,1560.

Chegou ao Brasil em 1531, aos 25 anos, com a expedição de Martim Afonso de Sousa, fundador da vila de São Vicente. Em 1536, recebeu sesmarias na recém-formada Capitania de São Vicente, onde desenvolveu a agricultura da cana e montou engenho de açúcar. Chegou a ser o maior proprietário de terras da baixada Santista, fundando porto, capela e hospital - a Santa Casa de Misericórdia de Todos os Santos (1543), origem da vila, atual cidade de Santos.

Melhor localizado que o porto de São Vicente, o porto de Santos de Brás Cubas, foi o responsável pela transferência do porto da Ponta da Praia para o Centro, nas cercanias do Outeiro de Santa Catarina.

Capitão-mor de São Vicente (1545), em 1551, foi nomeado por D. João III Provedor e Contador das rendas e direitos da Capitania; em 1552 fez erguer o Forte de São Filipe da Bertioga na ilha de Santo Amaro. Teve participação destacada na defesa da Capitania contra os ataques dos Tamoios, aliados aos franceses. Mais tarde, por ordem do terceiro governador-geral Mem de Sá, realizou expedições pelo interior em busca de ouro e prata. Teria chegado até à chapada Diamantina no sertão da Bahia.

Suas tentativas de escravizar os indígenas resultaram numa revolta que acabou por determinar o surgimento da Confederação dos Tamoios, que só pôde ser parcialmente contida pela atuação dos padres jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta.

Ao falecer, era fidalgo da Casa Real e o senhor mais respeitado da Capitania. O título de Alcaide-mor da vila de Santos passou a seu filho, Pero Cubas.

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

Na obra de ficção Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis, o narrador Brás Cubas conta que seu pai (de sobrenome Cubas), nomeou o filho "Brás" como forma de se passar por descendente do explorador Brás Cubas. No entanto, após os verdadeiros descendentes do explorador português contestarem o Sr. Cubas, ele inventou outra versão para a origem do sobrenome da família, tentando dar-lhe um ar de fidalguia.

O ESTÁDIO DO SANTOS

Quando o estádio santista foi fundado era chamado apenas de “Campo do Santos”, ou “Praça de Esportes do Santos”. Com o passar dos anos, o nome do bairro virou também o apelido do estádio. Em 24.03.1933, morre Urbano Caldeira e o campo passa a se chamar, oficialmente, Estádio Urbano Caldeira.

Em que pese o nome oficial, o estádio do Alvinegro é mais conhecido por Vila Belmiro.

Rei Pelé é o maior artilheiro do estádio santista com 288 gols, seguido por Feitiço (162) e Pepe (152).

MEU IRMÃO ME VISITA EM SANTOS

Quando passei a trabalhar na Santa Casa de Santos, meu irmão, estudante de Medicina na Faculdade Federal de Santa Maria/RS, veio a SP conhecer o nosocômio. Gostou e estendeu sua estadia por mais alguns dias. Tive de resolver problemas no centro da cidade e combinamos de almoçar por lá, de frente para o mar. Havia um local que os estagiários da Santa Casa utilizavam para guardar seus pertences e que se chamava Sereia. O nome do estabelecimento estava gravado em letras nas pedrinhas da calçada da  empresa. Nela havia banheiros e pequenas caixas com chaves para salvaguardar nossos bens. Ao lado da Sereia havia um vistoso e moderno açougue que abria às 10 horas da manhã, pontualmente. Cheguei às 9,45 horas. Logo uma senhora gorda com imenso guarda-sol postou-se atrás de mim e um moço, aparentemente um comerciário, era seguido de outro e mais outro. A fila ainda não andava, mas o número de pessoas era assustador. Esquecia-me de dizer que havia uma espécie de greve com respeito ao comércio de carnes em Santos, de modo que as filas frente a essas casas de comércio eram coisas comuns da paisagem santista.

Chega uma jovenzinha lá de seus 14-15 anos. Posta-se lá no fim da fila lançando olhares ansiosos para os primeiros colocados da longa fila. Finalmente, decide-se e vem saber:

- Essa fila é a fila do açougue?

Ao que eu respondi firme, olho no olho

- Não, essa é a fila para esperar meu irmão!

Por Henrique Packter 22/02/2023 - 10:12 Atualizado em 22/02/2023 - 10:13

Baseado na obra HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO NO SUL DE SC de Agilmar Machado e Osvaldo Torres

Em 1º.5.1979 é fundada a TV Catarinense, primeira emissora da RBS TV em SC. A emissora passa a transmitir a programação da Globo em cadeia com a TV Gaúcha de POA,  substituindo a TV Coligadas de Blumenau que se torna afiliada da Rede Tupi. Ainda em 1979 o Grupo RBS fundaria a TV SC em Joinville, expandindo a rede para o interior (RBS TV Florianópolis 1983-2017).
Em 1983, seguindo a padronização das emissoras da RBS TV, ganha a denominação RBS TV Florianópolis, tornando-se cabeça de rede para SC.

Em 7.3.2016 o Grupo RBS comunica a venda da emissora e das demais operações em SC para os empresários Lírio Parisotto (Videolar) e Carlos Sanchez (Grupo NC). Parisotto logo abandona a sociedade devido ao escândalo com Luiza Brunet  fazendo do Grupo NC e acionistas, proprietários integrais das novas empresas. (NSC TV Florianópolis 2017-presente).

LUIZA BRUNET X LÍRIO PARISOTTO

Conforme se recorda, Luiza Brunet denunciou Lírio Parisotto em julho de 2016, após ter sido espancada por ele, em maio daquele ano, quando o casal estava em Nova York. Ela exibiu os hematomas no rosto. Parisotto negou as acusações, mas após batalha Judicial, o empresário foi condenado a um ano de detenção em regime aberto.

A TV DIGITAL

Em 15.8.2017, a RBS TV de SC completa o processo de transição para a NSC Comunicação, denominando-se NSC TV. A RBS TV Florianópolis então passa a se chamar NSC TV Florianópolis, assim como as demais emissoras do estado.

As enchentes em SC determinariam que a TV digital de Florianópolis, a ser inaugurada em 25.11.2008,   teve o lançamento adiado para 5.2.2009, em sessão especial na Assembleia Legislativa de SC.  O Jornal do Almoço de 6/2, especial sobre a nova tecnologia, foi a primeira produção local a ser transmitida em alta definição.

Transição para o sinal digital

Com base no decreto federal de transição das emissoras de TV brasileiras, do sinal analógico para o digital, a NSC TV Florianópolis, além das outras emissoras de Florianópolis e região metropolitana, cessou transmissões pelo canal 12 VHF em 28.2.2018, seguindo cronograma oficial da ANATEL. A emissora exibiu boletim ao vivo com o repórter Edson Amaral, informando do desligamento e cortou o sinal às 23h59.

Além da instalação de retransmissoras via micro-ondas (utilizadas até hoje pelas filiais no interior), a rede liderada por Florianópolis cresce com a compra da TV Coligadas de Blumenau e da TV Cultura de Chapecó do empresário Mário Petrelli.

(Final para início de história de vida de ANTÔNIO LUIZ, continua)

Por Henrique Packter 13/02/2023 - 09:14 Atualizado em 13/02/2023 - 09:23

Diomício Manoel de Freitas, filho de Manuel Delfino de Freitas e Maria Benvinda de Freitas, foi empresário nascido a 19.04.1911 em Pindotiba, Orleans/SC, falecendo em 29.05.1981 em Cricíúma /SC. Diomício realizou os estudos primários na cidade natal. Com 12 anos de idade trabalhou como telegrafista na Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina, em Tubarão/SC. Foi promovido a Agente de Primeira Classe, atuando na Estação Sangão, em Criciúma. Político, pertenceu primeiro à UDN e depois à Aliança Renovadora Nacional, tendo base eleitoral no Sul de SC.  

Casou com Agripina Francioni de Freitas, com quem teve seis filhos. O atual Deputado Federal Daniel Freitas é bisneto de Diomício, neto de Hilário, seu filho mais velho. Em 1929, integrou a Aliança Liberal, que fazia oposição à candidatura de Júlio Prestes ao cargo de Presidente do Brasil. Apoiava a Getúlio Dornelles Vargas. Na década de 1940, ingressou no ramo carbonífero, atividade que conhecia desde a adolescência; comprou a empresa Carbonífera Caeté Ltda., de Urussanga, em sociedade com Santos Guglielmi. Na década seguinte, os dois empresários adquiriram a Carbonífera Cocal, com uma boca de mina em Cocal/SC e outra em Criciúma/SC, uniram as duas companhias e criaram a Carbonífera Criciúma.

No final da década de 1950, seu grupo criou a empresa de Navegação Catarinense (NAVECAL) e comprou a Carbonífera Metropolitana, detentora da maior reserva de carvão do Estado. Um dos fundadores da União Democrática Nacional (UDN), à qual se filiou desde 1945. Concorreu ao cargo de Deputado Federal por SC em 1962, recebendo 27.512 votos, sendo eleito e assumiu o cargo em fevereiro de 1963 integrando a 42ª Legislatura (1963-1967). No mandato, participou das Comissões Permanentes de Finanças (Suplente), 1963-1964; Minas e Energia (Suplente), 1966; Transportes, Comunicações e Obras Públicas: (Titular), 1963-1966.

Nas eleições de 1978, pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), ficou primeiro suplente do Senador por SC, Lenoir Vargas, eleito indiretamente, Senador Biônico, sem ser convocado. Além de atividades em companhias carboníferas, Diomício foi membro do Conselho Fiscal da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Conselheiro da Companhia Halles de Investimentos, de São Paulo/SP.  Foi Vice-Presidente do Diretório Regional da Arena em SC e membro da Associação Comercial e Industrial de Criciúma, da Associação Nacional de Fabricantes de Azulejos e do Sindicato Nacional da Indústria de Extração de Carvão.

Teve o controle acionário das rádios Eldorado, de Criciúma, Difusora, de Laguna e Araranguá, da TV Eldorado, da Cerâmica CECRISA, e de empresas de diversas áreas. Empregou muita gente nas 18 empresas de seu grupo, também por isto foi considerado um dos 20 catarinenses que marcaram o Século 20 em SC, listado pelo Grupo RBS. No dia 28.05.1981, envolveu-se em um acidente automobilístico na BR-101, próximo a Imbituba/SC, quando seguia para o aeroporto em Florianópolis/SC, onde embarcaria para o RJ, com objetivo de participar de uma reunião na CSN. Faleceu em 29.05.1981 em Criciúma/SC.

Homenageado com seu nome sendo dado ao Aeroporto Diomício Freitas, Criciúma, e a nome de ruas nos municípios catarinense de Içara, Nova Veneza e Siderópolis. É também nome de avenida em Criciúma e Florianópolis: Avenida Deputado Diomício Freitas. 

Deputado Federal, UDN, 15/03/1963 - 22/01/1967, 42ª Legislatura

 O empresário Diomício Freitas será sempre lembrado por uns poucos interessados “pelos 30 anos de ausência e pelo vácuo no panteão das lideranças regionais. Não que faltem líderes políticos ao sul do estado, mas pela inexistência de um perfil aglutinador na raia”. 

No dia 29.05.1981, o empresário morreu por embolia pulmonar, resultado de um acidente na véspera na BR-101. Dirigindo sua Caravan, evitou dois caminhões no sentido contrário perto de Imbituba. Desviou para o acostamento e bateu num terceiro, estacionado. As múltiplas fraturas sofridas no acidente automobilístico ocasionaram desprendimento da gordura dos ossos lesados para os pulmões e morte quase imediata.

Internado no Hospital São José, o fundador de um conglomerado de 29 empresas não passou por UTI porque o hospital não dispunha deste recurso. Faleceu às 18 horas de uma sexta-feira aos 70 anos e foi velado em sua residência na Avenida Ruy Barbosa, hoje ocupada por prosaico comércio.

O sepultamento no sábado foi evento que marcou nossa história. Da casa, o corpo foi levado a pé até a atual Catedral São José para missa celebrada pelo bispo de Tubarão, D. Osório Bebber. Compareceram às exéquias dois governadores, Jorge Bornhausen (SC), e Amaral de Souza (RS).

No Cemitério São Luiz, as despedidas tiveram emocionado discurso do deputado federal Adhemar Ghisi. Por um desses caprichos da vida, justamente o herdeiro político a quem o empresário entregara o bastão em 1966 ao abrir mão da reeleição para a Câmara dos Deputados.

EMPREENDEDOR NATO

Diomício revelou-se um empreendedor talentoso desde a adolescência. Aos 12-13 anos, era telegrafista da Rede Ferroviária Federal. Aos 18, subagente da estatal na Guarda, em Tubarão, onde conheceu e casou com Agripina Francioni. Aos 29 anos, a vez de Criciúma.

Sua primeira mina, a Ouro Fino, foi adquirida em Içara. Anos depois, uniu-se a outro ícone do empreendedorismo local, Santos Guglielmi, erigindo uma potência econômica que até nos gramados deixaria sua marca: o time do Metropol. Desfeita a sociedade no fim da década de 60, optou pela diversificação.

Cecrisa foi o símbolo de magnitude nacional na vida do empresário. Sua menina dos olhos, porém, surgiria em 1978, quando inaugurou a TV Eldorado. A iniciativa se alargaria a mais três regiões do estado, com emissoras de TV em Florianópolis, Itajaí e Xanxerê. Suas rádios AM e FM eram inúmeras.

LEGADO POLÍTICO

Visionário, Diomício sentiu o peso dos anos. Um ano antes do acidente, administrou a partilha dos bens entre os filhos, permanecendo como conselheiro de todos. Dele, dizia-se “Ele nunca dava ordens” e “Bastava recomendar cautela que todos entendiam o recado.”
Trinta anos após sua morte, é no cenário político que a ausência de Diomício Freitas mais se faz sentir: “Fazer política é usar duas das quatro equações”, recita-se, recordando o ensinamento. “Somar e multiplicar sempre, dividir e subtrair jamais.”

LEGADO MÉDICO

A morte inesperada e trágica de Diomício Freitas reacendeu entre classe médica, ordem religiosa mantenedora do Hospital São José, classe política e população, de maneira geral, a discussão sobre a   construção de uma UTI para o Hospital São José. Graças à elevada compreensão e espírito público do prefeito José Augusto Hülse e do presidente da Câmara de Vereadores, Woimir Loch, em três anos inaugurava-se mais esse templo da Medicina Moderna. Hoje a UTI está em outro local da estrutura hospitalar e não sabemos se a placa de inauguração, cuja capa descerrei, foi preservada.

CURIOSIDADES

No dia do sepultamento, pela primeira e única vez na história de Criciúma, viu-se mais aviões no céu do que no aeroporto de Forquilhinha, meses depois batizado com o nome do empresário. Explica-se: o tráfego aéreo de autoridades e amigos foi tão intenso que a torre de controle teve que escalonar as aterrissagens.

A multidão que superlotou o Cemitério Municipal São Luiz foi calculada entre oito e 10 mil pessoas. Um público equivalente, na época, ao do movimento só verificado no Dia de Finados.

A agência dos Correios na Avenida Getúlio Vargas registrou um volume de telegramas superior ao da semana que antecedia o Natal e o Ano-Novo. Um fluxo de correspondências sem paralelo nos anos posteriores.

Dos filhos, somente um não pode comparecer ao sepultamento. Responsável pelo braço metal-mecânico do grupo familiar, o empresário Hilário Freitas estava na França em viagem de negócios.

ÚLTIMOS MOMENTOS

Quando vinha ao meu consultório, aproveitava-me de sua experiência e perspicácia no mundo dos negócios para instruir-me. De certa feita, perguntei-lhe qual seria a solução para problema hospitalar que dependia da aquisição de equipamento de ULTRASSOM. Em essência, após tomar conhecimento das precárias finanças hospitalares, disse-me:

- Não discuta preços, discuta prazos!

Trazido do local do acidente diretamente para o hospital do qual eu era Diretor-Clínico na época, ele foi atendido pelos Drs. João Aparecido Kantovitz, ortopedista já falecido, e pelo Dr. Albino José de Souza Filho, clínico-geral e pneumologista.

Sentamos à mesa para rascunhar o que seria um boletim médico, uma nota, a ser distribuída à imprensa sobre a situação médica de Diomício. Lembro que concordamos em divulgar que, se não houvessem complicações e, após melhora de seu estado geral, cirurgias realizadas para corrigir as fraturas ósseas, poderiam reverter a difícil situação.

Falando com alguns dos filhos, especialmente com Dite Freitas, disse-me ele que se as condições médicas locais fossem insuficientes para tratar do paciente, eles estariam dispostos a removê-lo com o concurso de avião-ambulância. Eu já discutira esse aspecto com os médicos assistentes que consideravam muito difícil removê-lo, sobretudo pelos altos riscos.  

Na tarde do segundo dia de sua hospitalização resolvi subir até o terceiro andar de um dos apartamentos da primeira classe, situado na entrada do Centro Cirúrgico. 

Entrei, a porta entreaberta, apertei sua mão e percebi sua fisionomia crispada pela dor. A um canto do apartamento, seu fiel funcionário de muitos anos, Gilberto João de Oliveira, observava tudo, sentado numa poltrona. A mão de Diomício apertava a minha usando de muita força. Minha mão passou a doer. Fiz sinal para que Gilberto Oliveira chamasse socorro. Diomício vivia seus últimos minutos de vida, sua mão já não mais apertava a minha, seu rosto agora tinha uma estranha serenidade.

(Baseado em artigo do Jornal Correio do Sudeste, domingo, 31.05.1981).

Por Henrique Packter 06/02/2023 - 08:50 Atualizado em 06/02/2023 - 08:52

Todos cantam sua terra,

Também vou cantar a minha,

Nas débeis cordas da lira

Hei de fazê-la rainha  (Casemiro José Marques de Abreu, poeta brasileiro, nascido em Barra de São João, 04.01.1839, morto em Nova Friburgo, RJ, 18.10.1860).

Vida e obra de Casemiro de Abreu

Filho do português José Joaquim Marques de Abreu e de Luísa Joaquina das Neves, ambos fazendeiros, ela de Barra de São João, viúva do primeiro casamento. Com José Joaquim teve 3 filhos. Casimiro nasceu na Fazenda da Prata, na Serra do Macaé, anteriormente localizada no território de Nova Friburgo hoje em Casimiro de Abreu, propriedade herdada por sua mãe em decorrência da morte do primeiro marido, de quem não teve filhos.

A localidade onde viveu parte de sua vida, Barra de São João, era a um tempo território de Macaé e hoje distrito do município de Casimiro de Abreu. Foi batizado na igreja da localidade daí a homenagem. Casemiro recebeu instrução primária dos 11 aos 13 anos, em Nova Friburgo, então cidade de maior porte da região serrana do estado do RJ.

Aos treze anos transfere-se para o RJ  onde trabalhou com o pai no comércio. Com ele, embarcou para Portugal (1853), onde entra em contato com o meio intelectual, escrevendo a maior parte de sua obra. Em Lisboa, foi representado seu drama Camões e o Jau (1856).

Seus versos mais conhecidos são Meus oito anos:

Oh! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Em 1857 retornou ao Brasil para trabalhar no armazém do pai. Escreveu para jornais e fez amizade com Machado de Assis, ambos nascidos no mesmo ano de 1839. Em 1859 editou suas poesias reunidas sob o título de Primaveras.

Tuberculoso, retirou-se para a fazenda do pai, Indaiaçu, hoje sede do município que recebeu seu nome, onde inutilmente buscou recuperação da saúde, vindo ali a falecer. Foi sepultado conforme seu desejo em Barra de São João, estando sua lápide no cemitério da secular Capela de São João Batista, junto ao túmulo de seu pai.

Espontâneo e ingênuo, de linguajar simples, tornou-se um dos poetas mais populares do Romantismo Brasileiro. Como sói acontecer, o sucesso literário dá-se somente após sua morte, com numerosas edições de seus poemas, no Brasil e em Portugal. Sua obra aborda a casa paterna, a saudade da terra natal e o amor. A despeito da popularidade alcançada por sua obra poética, sua mãe e herdeira morreu em 1859 na mais absoluta pobreza, nada tendo recebido em termos de direitos autorais, tanto no Brasil como em Portugal. Ele é patrono da cadeira número 6 da ABL,  fundada por Machado de Assis.

LÍRIO ROSSO

Filho de Antonio e de Maria Pavei, nasceu a 18.12.1933 em Criciúma, vindo a falecer em Florianópolis em 17.06.2011.Viveu 77 anos. Formou-se em Odontologia na Faculfdade de Farmácia e Odonto da UFSC, em 1959. No mesmo ano de 1959 formei-me em Medicina na Universidade Federal de Medicina do Paraná.

Em 1966, data da formatura em Medicina de meu irmão Boris na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria, RS, é também a data em que Boris vem para trabalhar em Criciúma na área de Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia. Assustador, não é? Foi nesse ano que Lírio participou da fundação do PMDB. Até 1982, quando foi candidato a prefeito de Criciúma, ele foi 2 vezes vereador da cidade. Deputado estadual em 1987-1991, relator adjunto da Constituição da Assembleia Estadual Constitucional em 05.10.1989.

Lírio reelegeu-se deputado estadual pelo PMDB até 1995, ano em que eu passei a atender na áfrea da Oftalmologia, em Florianópolis no Hospital de Caridade. Firmei compromisso de atender por 10 anos, naquele local, promessa plenamente cumprida.  Lírio foi Secretário de Saúde de Criciúma de 1992-1996. Em 1994 é primeiro suplente a deputado federal. Também foi Secretário de Estado da Articulação Estadual nos governos Luiz Henrique da Silveira e Raymundo Colombo.

HOMENAGENS

Que se saiba, LÍRIO cedeu seu nome a um obscuro viaduto na BR101, proximidades de Criciúma. Uma grande injustiça cometida a homem que exerceu a arte política sem sujar as mãos. Uma figura exemplar no exercício da Odontologia, do Comércio e da Política.

UMA CURIOSIDADE

Em 1982 findo o período do bipartidarismo ARENA-PMDB, ambos esses partidos disputam a prefeitura de Criciúma com dobradinhas: JOSÉ AUGUSTO HÜLSE e ROSEVAL JOSÉ ALVES, do PMDB são prefeito e vice (34% dos votos), NEREU GUIDI e ENO STEINER, da Arena (30% dos votos), LÍRIO ROSSO e LUIZ DAL FARRA, também pelo PMDB, votação pouco expressiva e,  fechando a voz das urnas, inacreditavelmente, ADDO VIEIRA DE A.GUIMARÃES, do PTB.

Sim, e por que associar nomes aparentemente tão díspares como Casemiro de Abreu e Lírio Rosso? Em grande parte porque Lírio conhecia de cor os  versos maiores de nosso grande poeta.

Por Henrique Packter 23/01/2023 - 10:00 Atualizado em 23/01/2023 - 10:52

Síndrome do Transtorno Explosivo Intermitente ou Síndrome do Pavio Curto, ou de Hulk, Síndrome do Transtorno Explosivo Intermitente: é característica da pessoa que se irrita com facilidade; qualidade de quem se enfurece ou se enraivece facilmente.

Pavio curto é sinônimo de agressivo, irritadiço, genioso, irascível, colérico.

Cresce o número de assassinatos no Brasil, hoje em torno de 41 mil mortes anuais. Talvez em grande parte fruto da guerra de facções, fomentado por usuários que não veem o sangue escorrer quando cheiram uma carreira de cocaína.

Dados do Itamaraty em 2020 davam conta que 4,2 milhões de brasileiros estão lá fora, isto que somente no primeiro trimestre de 2021, 10 mil brasileiros correram a buscar refúgio no exterior.

O abismo se aprofunda após bebermos da cultura do medo, com a corrupção, a leniência com bandidos, a inoperância de certos órgãos ditos público (hoje siglas partidárias como tantas outras), os presídios lotados, contra a glamourização das drogas e a desimportância à educação, uma imprensa esquecida dos grandes problemas pátrios.

O governador em exercício no RS, Ranolfo não queria ficar muito tempo longe do estado porque não tinha vice. O próximo na linha de sucessão, o presidente da Assembleia, era candidato à reeleição, como deputado. Na ausência do governador o Executivo ficaria nas mãos da desembargadora Iris Helena Nogueira, presidente do Tribunal de Justiça.

Em SC já aconteceu fato similar. Sendo governador Espiridião Amin e vice Henrique Córdoba, viajam ambos ao exterior. O Executivo deveria, pela ordem sucessória caber a Epitácio Bittencourt, presidente da Assembleia, que também viaja imediatamente para não ficar inelegível. Assume, então, Francisco May Filho, presidente do Tribunal de Justiça, por pouco menos de 1 semana. Na sexta-feira à tarde, vê-se ele sem qualquer dinheiro nos bolsos e resolve sair do Palácio Cruz e Souza, atravessar a praça e recorrer ao Banco do Brasil, exatamente em frente e ter algum numerário para o fim de semana.

Imediatamente o chefe da Casa Militar do governo do Estado posta-se atrás do governador advertindo-o que ele não pode sair sem escolta ou sem a sua guarda pessoal. Francisco May Filho não era pessoa muito fácil. Olha o militar de cima abaixo e diz:

- Se você me seguir, um passo que seja, considere-se demitido! Sabe lá o que é aguentar a gozação dos manezinhos nos meses que virão?

BITTENCOURT, Epitácio - dep. fed. SC 1983-1986. Nascido em Imaruí (SC) em 30.11.1928, filho de Pedro Bittencourt e de Margarida Matos.

Em Florianópolis formou-se técnico em contabilidade pela Academia de Comércio de SC. Foi professor primário em Imaruí e tesoureiro dos Correios na capital catarinense. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de Florianópolis. Iniciou sua trajetória política em 1951, vereador de Imaruí pela legenda do Partido Social Democrático (PSD). Em janeiro desse mesmo ano assumiu a presidência da Câmara Municipal, função que exerceu até dezembro de 1954. Na qualidade de presidente da Câmara, esteve à frente da prefeitura de março de 1951 a dezembro de 1954, em virtude de licença do prefeito Pedro Manuel Albino para tratamento de saúde.

Deputado estadual pelo PSD (1954), iniciou seu mandato em 1955, reelegendo-se em 1958 e 1962 na mesma legenda. Com a extinção do pluripartidarismo e a instalação do bipartidarismo (Ato Institucional nº 2 – 27.10.1965), filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de apoio ao regime militar instaurado no país em abril de 1964. Nessa legenda foi reeleito para mais quatro mandatos consecutivos.

Durante esse período, foi líder da Arena na Assembleia Legislativa de SC entre 1972 e 1973; ocupou, por alguns meses, o cargo de secretário estadual de Justiça em 1974 e foi terceiro-secretário da Assembleia em 1975 e 1976. Findo o bipartidarismo e a consequente reorganização do quadro partidário em novembro de 1979, ingressou no Partido Democrático Social (PDS), agremiação de apoio ao governo que reuniu a maioria dos antigos arenistas. Nessa legislatura, entre 1980 e 1981 foi líder do partido na Assembleia e também presidente da casa. Entre 10 e 27.01.1982, quando presidia a Assembleia, exerceu interinamente o governo de SC, no impedimento do governador em exercício Henrique Córdova (1982-1983).

Em novembro de 1982 foi eleito deputado federal pelo PDS, empossado em 1º.02.1983. Ausentou-se da sessão da Câmara de 25.04.1984, quando foi votada a emenda Dante de Oliveira, que propunha o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República em novembro daquele ano. A emenda não obteve número de votos indispensáveis à sua aprovação, faltando 22 para que o projeto pudesse ser encaminhado à apreciação pelo Senado. No Colégio Eleitoral, reunido em 15.01.1985, Epitácio Bittencourt votou no candidato do regime militar, Paulo Maluf, derrotado pelo oposicionista Tancredo Neves, eleito novo presidente da República pela Aliança Democrática, união do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) com a dissidência do PDS abrigada na Frente Liberal. Adoecendo, Tancredo não chegou a ser empossado na presidência, falecendo em 21.04.1985. Seu substituto, o vice José Sarney, já vinha exercendo interinamente o cargo desde 15 de março.

Nomeado para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) de SC, Epitácio Bittencourt cedeu a Francisco Bastos sua vaga na Câmara dos Deputados em junho de 1986. Vice-presidente do TCE catarinense em 1988 e presidente entre janeiro de 1991 e janeiro de 1993.

Faleceu em Florianópolis no dia 10.07.1995.

Era casado com Helena Prada Bittencourt, com quem teve quatro filhos. Um deles, Pedro Bittencourt Neto, também seguiu a carreira política, exercendo mandato de deputado estadual entre 1983 e 1999, ano em que foi eleito deputado federal.

FRANCISCO MAY FILHO  Nasceu em 18 de junho de 1924, em Lages/SC.

Bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Catarina, no ano de 1951.

Concluída a formação, ingressou na magistratura e atuou como Juiz Substituto na comarca de Chapecó/SC. Posteriormente, foi Juiz nas comarcas de: Joaçaba; Concórdia; Curitibanos; Criciúma; e Florianópolis.

Em 1971, recebeu nomeação para o cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), sendo Presidente do Tribunal no biênio 1982-1984. 

Na condição de Presidente do TJSC, governou interinamente o Estado catarinense por alguns dias no ano de 1982, na ausência do titular, Henrique Córdova, que se encontrava em viagem ao exterior.

Entre 1979 e 1982, presidiu o Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC).

Faleceu em 15.04.2018, em Florianópolis/SC, aos 94 anos de idade.

Por Henrique Packter 16/01/2023 - 09:00 Atualizado em 16/01/2023 - 09:18

Alguém que ainda passa pela vida com extrema curiosidade, olhos e ouvidos bem afilados, na ânsia de aprender alguma coisa, e, em sendo útil esse conhecimento, transmiti-lo e, se possível, praticá-lo.  

Sofremos influência de toda ordem durante nossa curta existência de poucas décadas. O cinema, melhor dizendo, os filmes educaram gerações. In loco parentis (em lugar do pai), como falou Al Pacino em Perfume de Mulher. Falar nele, você lembra ainda da informação que ele passou a Diane Keaton sobre seu (dele) pai cinematográfico, no Poderoso Chefão, Marlon Brando?

- Meu pai fez a ele uma proposta irrecusável...

Orson Welles em Cidadão Kane disse, numa linguagem ainda muito atual:

- As pessoas vão pensar o que eu disser para elas pensarem!

Claude Rains, em Casablanca, apresenta-se a Humphrey Bogart:

- Eu sou apenas um pobre oficial corrupto!

Logo depois, ordena a um subalterno seu:

- Prenda os suspeitos de costume.

Marlon Brando interpreta um boxeador outrora promissor, agora um infeliz sonado, conversando com seu próspero e corrupto irmão (cinematográfico), banco traseiro de um taxi:

- Eu podia ter sido alguém... Eu podia ser um competidor. Eu podia ter classe e ser alguém. Classe de verdade e não um vagabundo que é o que eu sou. Foi você Charlie.

A cena teve de ser repetida inúmeras vezes. A genial interpretação de Brando era de tal forma comovedora que o grande Steiger chorava incontrolavelmente a cada vez que ouvia a fala de Marlon. Foi o fantástico Sindicato de Ladrões. 

Teve também Roy Scheider informando a Robert Shaw depois de ver o tamanho do bicho, em Tubarão:

- Vamos precisar de um barco maior...

Woody Allen conversa com sua última conquista, uma condessa, em A Última Noite de Boris Grushenko. Ela elogia:

- Foste o melhor amante que eu já tive!

- Bom, a verdade é que eu pratico muito quando estou sozinho!

Estelle Reiner, mãe do diretor de cinema Rob Reiner, pede ao garçon depois de ver Meg Ryan simular um orgasmo na mesa ao lado, no restaurante no qual almoçava:

- Eu vou querer o mesmo que ela! O filme é Harry e Sally, feitos um para o outro.

As pessoas só vão deixar que essas impressões de som, formas e imagens a conduzam se, em suas estruturas, estiverem presentes elementos capazes de gerar emoções.

A música é geralmente reconhecida como modalidade capaz de desenvolver a mente humana, promover o equilíbrio, proporcionar agradável estado de bem estar , facilitar a concentração e o incremento do raciocínio, em especial em questões reflexivas,  voltadas para o pensamento. A música verbaliza a emoção e contém quase sempre três elementos: as palavras, harmonia e ritmo.

Tem também o segundo movimento da Sinfonia Júpiter, Potato Head Blues com Louis Armstrong, Tocata e Fuga em Ré menor de Bach, Cézanne e suas incríveis peras e maçãs, A Dama de Azul de Modigliani, a escultura de Moisés por Michelangelo Buonarroti, A Vênus de Milo e Mona Lisa, esta  de Leonardo da Vinci, no Louvre. O Pensador de Rodin, o soneto de Manuel Bandeira dedicado ao poeta e soldado Camões:

Não morrerá sem poetas nem soldados,

A língua em que cantaste rudemente,

As armas e os barões assinalados!

E as Pombas de Raimundo Correia, talvez o mais belo soneto de nossa língua:

Também dos corações onde abotoam,

Os sonhos, um a um, céleres voam,

Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam, fogem...

Mas, aos pombais as pombas voltam,

E eles, aos corações não voltam mais.

Por Henrique Packter 06/01/2023 - 12:54 Atualizado em 06/01/2023 - 12:55

FELIZ ANO NOVO A TODOS!

BEM QUE GENTE JÁ FEZ POR MERECER!

Dona Virgínia era casada com o minerador de carvão mineral em Criciúma, Pedro Milanez.  O casal era adepto de viajar para outros continentes, especialmente a velha Europa e muito, muito especialmente para a Itália, no velho continente.

Pedro era governador Distrito 465 do Rotary e nesta qualidade, muito voou. Pedro deixou muita coisa escrita o que lhe valeu, merecidamente, dar seu nome ao ARQUIVO HISTÓRICO, órgão da FUNDAÇÃO CULTURAL DE CRICIÚMA.

Dos livros escritos por dona Virgínia, avulta DESCORTINANDO O MUNDO, texto de viagens, muito bem recebido aqui e além fronteiras.

Corria o ano de 1966 e meu irmão, Boris Pakter (assim mesmo, sem o C antes do K), aprestava-se para vir a Criciúma, onde juntos trabalharíamos no Hospital São José, as especialidade de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia. Naquela época era assim mesmo. Havia colegas médicos que exerciam legalmente todas essas quatro especialidades.  Com sua chegada Frida e eu partiríamos para nosso primeiro voo para a Europa onde eu pretendia participar do Congresso Europeu de Oftalmologia, reunião médica de grande prestígio naqueles dias.

Iriamos nos hospedar no Hotel São Petersburgo, de propriedade de uma família portuguesa e localizado a apenas 5 minutos a pé da Ópera Garnier e de La Madeleine. O Hôtel Saint-Pétersbourg Opéra de Paris, era próximo de tudo e dispunha de quartos com ar-condicionado e isolamento acústico.

O Hotel Saint-Petersbourg Opera estava a 200 m da Estação de Metrô Havre - Caumartin. As famosas lojas de departamento Printemps e Galeries Lafayette ficavam a apenas 5 minutos a pé.

Ainda existirá?

Numa outra ocasião, exatamente no dia em que os Aiatolás apearam do poder o Xá da Pérsia e sua adorável esposa Farah Diba. Frida e eu estávamos hospedado no hotel; era 11.02.1979. A aviação americana tentou resgatar reféns americanos homiziados na Embaixada Americana em Teerã, operação que representou por muito tempo em descrédito para o militarismo gringo, pelo seu fracasso.

Farah Pahlavi, nascida Farah Diba  (Teerã, 14.10.1938), viúva do último xá do Irã, Mohammad Reza Pahlavi,  foi a imperatriz consorte do Irã de 1959 a 1979.  Era mulher belíssima e estudou arquitetura em ParisFrança, na École Spéciale d'Architecture, onde foi aluna de Albert Besson. Enquanto estudante, foi apresentada ao Xá Mohammed Reza Pahlavi. Após algum tempo, o Xá a pediu em casamento e os dois contraíram núpcias em 21.12.1959.   Com o Xá, Farah deu à luz quatro filhos. Os dois primeiros casamentos do Xá não produziram filhos — necessário para a sucessão real.

Ao contrário do que ocorre hoje, quando as mulheres têm seu acesso negado nas escolas do país, Farah Diba fundou a primeira universidade de estilo americano do Irã, permitindo que mais mulheres lá se tornassem estudantes.

Em 1978, a crescente agitação anti-imperialista, alimentada pelo comunismo, socialismo e islamismo no Irã mostrava sinais claros de revolução iminente. O Xá e a imperatriz deixaram o país em janeiro de 1979 sob ameaça de sentença de morte.

Por esse motivo, a maioria dos países relutou em abrigá-los, sendo uma exceção o Egito de Anwar Al Sadat. O Xá morreu no exílio, julho de 1980. Na viuvez, Diba dividiu seu tempo entre Washington, D.C.EUA e Paris.

Farah Pahlavi até lançou um livro sobre seu casamento com o Xá, cujo título em inglês é An Enduring Love: My Life with the Shah- A Memoir.

Voltando no tempo a 1966, data de minha primeira viagem ao exterior para participar de um congresso, num sábado à tarde, Dona Virgínia Milanez fez-nos visita de surpresa. Vestia-se com grande simplicidade, como de costume. Despojada de joias, um anel de ouro no anular esquerdo, sapatos sem salto, vestido que primava por ser muito simples, velha bolsa de couro debaixo do braço, nenhum colar ou broche. De pé, encarou Frida:

- A senhora está vendo como me apresento em público no exterior. Minhas amigas, que fazem questão de apresentar-se com apuro e riqueza, já foram quase todas assaltadas em suas viagens; eu, até esmola já recebi na Itália.

Por Henrique Packter 19/12/2022 - 09:35 Atualizado em 19/12/2022 - 09:39

Zilda Arns, José Rogério Peressoni de Castro, Léo Cassetari e eu, nos graduamos em Medicina, na Universidade Federal do Paraná, todos na mesma turma 1959.

Zilda, médica pediatra e sanitarista, foi fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança, organismo de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, das maiores personalidades da Igreja Católica no mundo, Dom Paulo permaneceu 28 anos à frente da segunda maior comunidade católica do mundo, a Arquidiocese de São Paulo, na época com 7,8 milhões de fiéis. Assumindo o cargo de arcebispo em 1970, vendeu o Palácio Episcopal por 5 milhões de dólares, empregando o dinheiro na construção de 1.200 centros comunitários na periferia da cidade.

- Quem tiver dinheiro para comprar carne, em nome de Deus, eu libero para comê-la na Sexta-feira Santa, dizia.

Durante o governo militar em nosso país, impressionou o mundo na defendendo os direitos humanos, agindo corajosamente em favor das vítimas da repressão. Apoiou movimentos em defesa das eleições diretas e contra o desemprego. Lutou com desassombro pelo direito dos pobres e pelo fim da desigualdade social. Todas essas ações valeram-lhe conquistar títulos de doutor Honoris Causa em inúmeras Universidades norte-americanas, Alemanha, Canadá e Holanda. Prêmio de Alto Comissariado da ONU para refugiados (1985), do Fundo da ONU para a Infância (Unicef), entre outros.  

Filho de pequenos agricultores, nasceu em Forquilhinha em 14.9.1921, ordenando-se padre em 1945. Doutor em Letras pela Sorbonne, Paris, 1952, voltando ao Brasil, em Petrópolis foi professor de Teologia, vigário e jornalista. Bispo em 1966, é nomeado Arcebispo de São Paulo em 1970 e cardeal em 1973.

II

ZILDA é de 25.8.1934 em Forquilhinha, filha de Gabriel Arns e de Helena Steiner Arns. Viúva em 1978, Zilda foi mãe de 5 filhos, sendo Nelson Arns Neumann, médico como a mãe. Ele é Mestre em Epidemiologia, Doutor em Saúde Materno-Infantil.  Tese de Mestrado (Universidade Federal de Pelotas) e Doutorado na USP sobre “Qualidade de atenção prestada às gestantes em serviços públicos de acordo com seu nível econômico-social”.  

Em 1959, ano de nossa formatura, tínhamos a cadeira de Pediatria no sexto-ano de Medicina. Zilda desdobrava-se no afã de atender aquelas jovens vidas e de aprender sobre a especialidade. Pediatria Social era seu principal interesse. Meu interesse era dominar a técnica de Sluder para remoção extremamente facilitada das amígdalas e adenoides e aprender Oftalmopediatria com o Dr. Feliciano Leite Ferreira.

Cerca de 1900 Curitiba contava com 50.124 habitantes, em 1920 já tinha 78.896 moradores. As condições de higiene não eram boas; havia falta de água tratada e sistema de coleta de esgotos; o uso das famosas “casinhas”, muitas vezes próximas dos poços d’água, sujeira espalhada pelas ruas e animais vagando. A mortalidade infantil era bem alta. No caso específico das crianças, boa parte da mortalidade estava relacionada a questões de higiene. Cinquenta por cento das mortes registradas na cidade eram de crianças com menos de cinco anos de idade.

Curitiba possuía diversos grêmios de senhoras da sociedade (quase todos com nome de flores), muitos deles dedicados à filantropia. Grêmios que organizavam chás, bailes, coisas assim, alguns com preocupações culturais, educativas e assistenciais. Sob a liderança de um deles, o Grêmio das Violetas e apoio do Grêmio Bouquet, em 22.04.1917 fundaram a Cruz Vermelha Paranaense, cuja primeira diretoria era constituída exclusivamente por mulheres. Após a legalização da instituição e estatuto nos conformes com a instituição nacional, em 28.05.1917 foi eleita diretoria com 15 senhores e 15 senhoras. Mas isso já é outra história.

A Cruz vermelha teve notável atuação no auxílio aos menos favorecidos durante as epidemias de 1917 (febre tifoide) e 1918 (gripe espanhola).

Em outubro de 1919 a Cruz Vermelha, apoiada pelo Grêmio das Violetas, abriu o Instituto de Higiene Infantil, Rua Barão do Rio Branco, 96, num prédio emprestado pela família Gomm. O Instituto era dedicado ao atendimento de crianças, com consultas, distribuição de remédios, alimentos e vacinação. Desenvolveu também programa de educação das mães, informando-as sobre a importância de questões de higiene e da alimentação das crianças, dando ênfase ao aleitamento materno (além do leite de vaca e outros animais, tinha a questão das amas de leite), o que foi feito pela Escola de Puericultura. Cre scia a ideia de um hospital infantil e em janeiro de 1920, por sugestão de Margarida Laforge, foi criada comissão para a aquisição de terreno para o Hospital das Crianças.

Em 1920 o terreno para a instalação do hospital foi comprado pela Cruz Vermelha na Avenida Silva Jardim com pedra fundamental do futuro hospital lançada em 25.12.1922. O projeto do prédio foi elaborado por João Moreira Garcez, então prefeito de Curitiba.

Final de 1928, início de 1929, as instalações do Instituto de Higiene Infantil e da Escola de Puericultura (a Escola de Mãezinhas) foram transferidas para a Avenida Silva Jardim, inaugurada em 2.02.1930. A administração do hospital passou a ser feita por três membros indicados pela Cruz Vermelha do Paraná e outros três indicados pela Faculdade de Medicina do Paraná.

Em 1932 foram inauguradas as três primeiras enfermarias, com o início dos internamentos hospitalares. Ao longo dos anos o hospital sofreu várias ampliações, construído lentamente, na base de doações, listas de subscrições, rifas, sorteios e também com subvenções do poder público.

Em 1935 a Cruz Vermelha Paranaense passa, mediante contrato de uso e fruto, o hospital para a Faculdade de Medicina. Em 1937, durante o governo do interventor Manoel Ribas, o controle do hospital passa para o Estado do Paraná.

Em 1951 passou a chamar-se Hospital de Crianças César Pernetta, homenagem a um dos grandes pediatras do país e que foi diretor do hospital de 1937 a 1939. Em 1956 foi criada a Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro, com a finalidade de ajudar na manutenção do hospital.

Em 1971 foi inaugurado ao lado do Hospital de Crianças César Pernetta, o Hospital Pequeno Príncipe. Realização patrocinada pela mesma Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro. Em 1979 essa Associação Hospitalar, recebe em comodato a administração Hospital de Crianças e passa a integrá-lo com o Pequeno Príncipe.

Em 1990 o Hospital de Crianças César Pernetta é transferido de forma quase definitiva para a Associação Hospitalar de Proteção à Infância. A lei que autoriza o governo do estado a fazer a doação impõe algumas condições: “cláusula de inalienabilidade que deverá constar do respectivo título e será destinado ao atendimento médico hospitalar pediátrico multidisciplinar, ambulatorial e de internamento, …”, além de outras.

O prédio, Unidade de Interesse de Preservação, é simples, mas esteticamente bem aceitável, com detalhes decorativos típicos da época em que foi projetado. Sua parte central, na entrada principal, nesse aspecto é inigualável.

III

Houve um dia no qual Luiz Alencar de Moraes, dileto amigo e colega de turma, e eu, nos aprestávamos para adentrar no Hospital de Pediatria César Pernetta de Curitiba. Alencar planejava instalar-se em Dracena, cidade do interior de São Paulo, onde seria o primeiro pediatra. Era o final de 1959, ano de nossa formatura. Zilda, por sua vez, denotando grande cansaço por uma noite indormida, deixava o hospital.

Vendo-nos, animou-se. Dirigindo-se mais a Alencar que a mim, convidou-o a ver um caso admirável sob todos os aspectos. Era Adãozinho, que ganhara esse nome pela semelhança física com um grande centroavante gaúcho do glorioso Internacional de Porto Alegre. Menino de seus 5­-6 anos, preto, barriga saliente, pernas cambotas e pequenas, braços longos, cabeça enorme, tinha uma síndrome complicada e viveria pouco tempo. Na verdade estava em situação de ter alta hospitalar, mas sua situação em casa era problemática. Viviam todos com a mãe, 7 ou 8 filhos. O pai sumira e o sustento da casa vinha das faxinas que a mãe fazia em casas próximas. Nessas ocasiões as crianças não tinham quem olhasse por elas. A co mida às vezes vinha, mas, quase sempre, não. Os banhos no frio curitibano careciam de água quente, o que fazia os petizes tomarem chá de sumiço quando eram intimados a serem banhados.

Adãozinho pressente algo ruim ao ver Zilda voltar.

- Doutora, fiz alguma coisa errada? Não me mande para casa, por favor. Deixe-me ficar aqui. É tão bom! A água é quentinha e o sabonete cheiroso. Como todos os dias! Se quiser posso até repetir o prato. Eu não incomodo quase nada e minha mãe coitada nunca vem porque precisa trabalhar...

Tomou fôlego para continuar:

- Olhe minha roupa! É nova e limpinha e quase do meu tamanho! Sou tão feliz aqui com meus amiguinhos. Sabe, ontem esteve aqui o doutor Raul (Carneiro) e ele me deu um chocolate inteirinho, só para mim!

Por Henrique Packter 12/12/2022 - 08:20 Atualizado em 12/12/2022 - 08:26

Uma taça de vinho diariamente pode ser benéfico para o coração, informação que une o útil ao agradável e que, salvo melhor juízo, é endossada pelo ADELOR LESSA todas as sextas-feiras ao término de seu matinal programa diário. No início de 2022 a Federação Mundial de Cardiologia disse que não há nível seguro de álcool para o coração. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) ligada à OMS, álcool seria, possivelmente, a causa de mais de 200 doenças e lesões. O álcool causaria mais de 3 milhões de mortes/ano no Brasil sem mencionar os efeitos sociais e ligados à violência. Com respeito à metodologia científica, outros hábitos do grupo pesquisado e não o consumo de álcool seriam responsáveis por um efeito protetivo/positivo para a saúde.

15 míseros mililitros de vinho inundam seu organismo de prazerosa chuva de dopamina. Áreas dopaminérgicas brilham intensamente ao contrário do que quando se bebe água quando nada se modifica.

BEBIDA DEIXA A PESSOA MAIS CRIATIVA

Um teste envolvendo pessoas sóbrias e embriagadas resultou em que pessoas meio bêbadas acertaram 40% a mais nos testes, responderam mais rapidamente (12 segundos contra 15,5). Álcool reduz trabalhos de coordenação motora, mas alarga a criatividade. Sobriedade auxilia nos processos de problemas analíticos.

Lee Friedman, professor de Saúde Pública da Universidade de Illinois estudou pessoas acidentadas estando elas alcoolizadas ou não. Constatou, examinando mais de 190 mil acidentados entre 1995 e 2009, com algum tipo de traumatismo e que foram submetidas a exame para medir o nível alcoólico no sangue (todos estavam entre 0 e 500 mg/dl). Os mais embriagados tinham até 50% a mais de chances de sobreviver, sobretudo se algum objeto metálico (faca ou bala) tivesse penetrado o corpo, causando lesões internas, principalmente na medula, tronco e espinha. Não se sabe o motivo, especula-se que ao se machucar, o organismo desencadeia uma série de respostas fisiológicas que são melhores na pessoa alcoolizada.       

VINHO TINTO E DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA

Seriam os polifenóis (como o resveratrol), responsáveis pelas ações antioxidante e de resistência à insulina e a diminuição do LDL (o colesterol ruim)?

O resveratrol age contra os radicais livres produzidos pelo corpo que, em excesso causam lesões celulares e favorecem o desenvolvimento do Alzheimer e a aterosclerose. A vitamina C também age assim, mas não se pode  garantir que tudo se resolva com kiwi. Hábitos e alimentação saudáveis podem ser responsáveis pela proteção cardiovascular atribuída ao álcool consumido.

Em países produtores e consumidores de vinho como a Itália e a França, a dieta mediterrânea é reconhecida pela riqueza em alimentos frescos e antioxidantes como uva, peixe, azeite de oliva,  oleaginosas. Fábio Fernandes, diretor do grupo de miocardiopatias do Instituto do Coração, em artigo deste ano publicado no JAMA disse que não há nível de consumo de álcool totalmente seguro  para o coração. Disse mais: o risco seria pequeno consumindo em média 7 doses semanais, em  comparação com nenhuma dose.

Na medida em que a quantidade aumenta, cresce o risco. O trabalho avaliou quase 400 mil pessoas com idade  média de 56 anos e consumo médio de 9,2 doses por semana. Consumir álcool com moderação protege o coração porque bebedores moderados têm menos doenças cardíacas do que quem bebe muito ou não bebe. Bebedores moderados tendem a ter hábitos saudáveis como não fumar, exercitar-se e pesar menos daqueles que bebem mais ou não bebem.

Não se sabe porque bebedores moderados tendem a ser mais saudáveis do que aqueles que não bebem. Alguém já afirmou que a ação dos parafenois dos vinhos inibe a ação dos vírus, incluindo o tristemente célebre covid 19.  Que o polifenol tanino auxiliaria a controlar a carga viral do Sars-CoV-2 comprometendo a atividade enzimática e impedindo sua entrada nas células.

Não existe nenhum consumo de álcool totalmente isento de risco.

Pessoas metabolizam o álcool de maneiras diferentes. Diabéticos, ou com níveis altos de triglicérides terão alterações metabólicas importantes.  

Saúde! Salute! Prosit!  

Por Henrique Packter 05/12/2022 - 09:00 Atualizado em 05/12/2022 - 10:34

Vocês estão lembrados, não é? Estou tentando mostrar para a sociedade do sul de SC quem foi OCTÁVIO BESSA Jr, lagunense, formado em Medicina na FMUFPR em 1956. Nascido em 1931, certamente nasceu pelas mãos do célebre médico PAULO CARNEIRO que veio para trabalhar na cidade de Anita Garibaldi em 1930.

BESSA, do espanhol Baezo, foi médico internista em Osprey, Florida, EUA. Perfilou em sua formação médica o Stamford Hospital, Columbia University, College of Physician and Surgeon Stamford Hospital, Internship, 1962-1963. Também o Jacobi Medical Center, Albert Einstein College of Medicine, Residency, Internal Medicine, 1958-1959.

Escreveu, entre muitas outras coisas: 5 Fashion Choices That Are Bad For Your Health em 23.6.2015 (5 más escolhas de moda para sua saúde) e  Skinny Jeans Dangerous Fashion Sends Woman to the ER (Jeans apertados levam mulheres para o Pronto Socorro).

VARIZESA progesterona, hormônio feminino, produz dilatação das veias, favorecendo o surgimento de  varizes. Com o uso frequente de roupas apertadas a circulação fica prejudicada e contribui para o surgimento de veias nas pernas. Além disso, quem tem predisposição genética ou toma algum tipo de contraceptivo hormonal, tem mais chances de desenvolver o problema. Sapato salto alto provoca varizes nas pernas? A resposta é NÃO. Varizes são comuns em jovens e salto alto ajuda a prevenir.

Especula-se que forçar a perna sobre os saltos é prejudicial para a circulação e seria esse o motivo das varizes, porém, está comprovado que usar salto alto não prejudica, e até pode melhorar em 30% o bombeamento do sangue. Graças à contração que a musculatura da panturrilha faz para se manter em cima do salto, o sangue ganha mais força para ser impulsionado para cima, melhorando a circulação sanguínea.

Salto alto pode ser inimigo ortopédico, mas não vascular. Varizes são causadas por problemas de circulação, perda de tonicidade dos vasos e pré-disposição genética: salto não causa esta doença. Causas das varizes podem ser, também, gravidez, sobrepeso, sedentarismo, anticoncepcional e, sobretudo, herança genética.

Pode ocorrer, sobretudo em mulheres que muito usam saltos altos, surgimento de dores nas pernas pela posição e má distribuição do peso do corpo nos pés; porém, varizes não tem relação com uso de salto!

CINTO APERTADO pode aumentar o risco de câncer. Bessa acreditava, devidamente assessorado por minuciosas estatísticas pessoais, que usar cinto pode forçar o ácido clorídrico do estômago para o esôfago, danificando células e aumentando risco de câncer de esôfago. Pessoas com sobrepeso estão em maior risco.

CELULITE:  Roupa apertada piora celulite e pode causar azia. Traje muito justo aumenta retenção de líquidos e toxinas, risco de celulite e depósito de gordura em partes do corpo. Celulite prejudica a circulação sanguínea e, com o uso de roupas justas, a passagem do sangue fica mais comprometida e pode contribuir para a evolução do grau da celulite. Ou seja, quem tem celulite de grau 1 pode passar a ter o grau 2 ou 3. Além da ca lça jeans, muitas mulheres ainda usam cinta modeladora apertada que pode lesionar a pele e impedir a passagem do sangue na região abdominal, gerando problemas de circulação. Roupas justas, cinta modeladora e cintos apertados, prejudicam a circulação, causam azia e agravam o quadro da celulite.

DIFICULDADE PARA RESPIRAR também pode estar relacionada a roupa apertada. Às vezes a pessoa sente dores na coluna e tem dificuldade para respirar, notando algumas mulheres, corrimento vaginal. Esse tipo de roupas, especialmente jeans, não só prejudica a circulação como contribui para o surgimento de coágulos sanguíneos responsáveis por infartos pulmonares. Falta de ar, causada de uma hora para outra, pode estar associada ao uso de roupas justas. Não s&oacu te; calça jeans, mas cintos apertados impedem a passagem do ar pelo corpo, sem contar que o ar só consegue chegar à parte alta do tórax.  Esse processo é chamado de respiração curta, pois deixa o cérebro sem oxigênio e provoca diminuição de concentração e ansiedade.

CINTA MODELADORA APERTADA pode lesionar a pele e impedir a passagem do sangue na região abdominal, gerando problemas de circulação.

EMAGRECER utilizando cinta modeladora: boa parte das mulheres acredita nisso. Ledo engano. Cinta deve ser utilizada em pós-operatórios, pois auxiliam na cicatrização, reforçam a musculatura, diminuindo o inchaço, impedindo sangramentos ou deslocamento da pele. Havendo recomendação do uso de cinta modeladora, evite comprar número menor: o resultado pode ser indesejado.

DOR NA COLUNA com frequência, dificuldade de respirar e corrimento vaginal. Se não houver mudança no hábito de usar objetos apertados, esses sintomas podem se agravar e desencadear doenças. A vaidade pode custar caro para a saúde. Camisas que impedem o movimento dos braços ou combinação de roupas justas, exigem maior esforço para realizar um movimento.

DORES NAS COSTAS: camisas que impedem o movimento dos braços ou uma combinação de roupas justas, sobrecarrega os músculos e as vértebras, exigindo maior esforço na hora de realizar um movimento. Por isso, muitas vezes a pessoa reclama de dor na coluna, sensação de peso, ardência e formigamento nos ombros. Além da calça jeans, muitas mulheres ainda usam cinta modeladora apertada que pode machucar a pele e impedir a passagem do sangue na região abdominal, podendo gerar problemas de circulação.

MÁ DIGESTÃO: acessórios que apertam muito o estômago dificultam a digestão. A pressão dessas roupas pressiona o estômago, causando azia e refluxo. 

Bessa advogava o uso de suspensórios e implicava com seus pacientes que continuavam a usar cintos abdominais apertados.   

Por Henrique Packter 29/11/2022 - 08:45 Atualizado em 29/11/2022 - 08:48

Como todo mundo sabe, sou graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná em 1959. Já falei de vários colegas meus, entre eles, ZILDA ARNS, WALDYR MENDES ARCOVERDE (ministro da Saúde do Presidente Figueiredo), AFONSO ANTONIUK (professor de Neurocirurgia da FMUFPR), CORIOLANO CALDAS SILVEIRA DA MOTA (professor de Clínica de Doenças Infecciosas e de Higiene  e Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de SC; Livre Docente, depois professor titular de Higiene, Medicina Preventiva e Medicina do Trabalho, cadeira que foi subdividida em 3 outras: Epidemiologia, Medicina Preventiva e Medicina do Trabalho todas elas sob sua direção na FMUFPR, em Curitiba), LINO LIMA LENZ (professor de Urologia da UNI-RIO), além de outros sobre os quais falarei se oportunidade houver. De todos esses citados colegas apenas Antoniuk vive.

Há também outros colegas de outras turmas com os quais convivíamos e que adquiriram grande notoriedade dentro e fora de nosso país. Alguns deles eram originários de cidades próximas a Criciúma. Local de sociabilidade fácil era o DIRETÓRIO ACADÊMICO NILO CAIRO (DANC) na rua Monsenhor Celso, Curitiba. Além de ter bela quadra de basquete dotada de iluminação para jogos noturnos, o DANC era palco de animadas e concorridas reuniões dançantes, dispondo para isso de um conjunto o RITMOS MEDICINA, composto por seis colegas, sendo três de nossa turma: Carlos Roberto Roquete Lima (Betão, pianista) e os ritmistas Sebastião Farajala Bacila e Aramis Cavichiolo. Todos são falecidos.

Além disso, o DANC fornecia almoço e jantar para estudantes de Medicina, Odontologia e Farmácia. Comida limpa, gostosa, caseira, a preços módicos, sob a batuta de seu João, sequelado de AVC, locomovendo-se com a característica marcha ceifante desses pacientes.

Entre 1954 e 1959, anos em que fui aluno do curso de Medicina na federal do PR, utilizei-me do DANC, que servia refeições a um número limitado de colegas, em seu endereço, centro de Curitiba. Obviamente, chegava-se para a refeição e, em geral, todos os assentos estavam ocupados. Cada estudante dispunha de um cartão identificador que era depositado ao lado de colega que fazia placidamente sua refeição. Significava que se reservava o assento à mesa, assim que desocupado fosse.

Que fazer enquanto isso?

HERMES MACEDO, MIGUEL NAJDORF, MAURO ATHAYDE

Havia várias mesas para jogar xadrez, logo ocupadas por aqueles que aguardavam. Eram disputas ferozes, com assistentes idem.  Alguns “atletas” eram praticamente invencíveis. MAURO DE ATHAYDE, de Lages, SC, formado em 1960 era um desses. A princípio foi nosso colega de turma, mas sua dedicação ao xadrez era tamanha que, para participar de torneio internacional, perdeu um ano, formando-se em 1960. Foi tricampeão paranaense de xadrez em nossa época e disputou simultânea às cegas no Clube de Xadrez do Paraná, com o Grande Mestre MIGUEL NAJDORF, altos da Loja HERMES MACEDO, na XV de novembro, firma que não mais existe, mas que patrocinou o esporte por longos anos no Paraná.

Mieczysław Najdorf (5.4.1910, VarsóviaPolônia, 4.7.1997 Málaga, Espanha). Sua mais importante contribuição para a teoria das aberturas é a variante Najdorf da Defesa Siciliana, considerado um dos sistemas mais populares no enxadrismo moderno. Najdorf foi também respeitado jornalista que escrevia uma coluna sobre xadrez no jornal Buenos Aires Clarin.

NAJDORF, polonês naturalizado argentino, era enxadrista campeão mundial em simultâneas às cegas. Na verdade, a notável exibição de NAJDORF em Curitiba, no Clube de Xadrez, revestiu-se de lances inusitados. Ele observou cuidadosamente para saber em qual tabuleiro, Hermes Macedo jogava e logo perguntou se ele lhe concedia o empate. Najdorf estava em posição muito superior e logo venceria a partida. Já Mauro Athayde chamou várias pessoas para o seu tabuleiro e mostrou molecagem que pretendia fazer para demonstrar as qualidades de memória inigualáveis de grande mestre. Reintroduziu no tabuleiro uma torre que estava fora do jogo, eliminada pelo grande campeão. Najdorf pareceu hesitar por um momento. Depois, disse:

- Um momento!

Pensou por um instante, sentado em sua cômoda poltrona, pernas cruzadas, mão direita espalmada sobre a face do mesmo lado, dois dedos mais elevados e, logo falou:

- Impossível! Esta peça foi tomada por mim no 19º lance!

Reconstituíra toda a partida, daquele tabuleiro, em poucos minutos em sua memória! Aplaudido com entusiasmo a simultânea às cegas acabou apoteoticamente.

OCTÁVIO BESSA Jr, DA LAGUNA PARA O MUNDO

Mas, não era sobre isso que eu queria falar, mas sim sobre OCTÁVIO BESSA Jr, médico natural da Laguna, SC, (26.7.1931 e falecido aos 88 anos (17.5.2020) em Forth Myers, Flórida, EUA.

Bessa era formado em 1956 na FMUFPR e foi colega de grande número de colegas médicos de expressão. Entre eles, Francisco Ernesto Saboia (médico por muitos anos no Sombrio, SC), José Ramos May (irmão do juiz em Criciúma e depois desembargador em SC, Francisco May Filho), Joubert Barros de Almeida (um dos primeiros otorrinos e oftalmologistas em Lages), Luiz Fernando Bittencourt Beltrão  (natural de Santa Maria, RS, primeiro otorrino e oftalmologista em Joaçaba), Paulo  Dias Fernandes (de Santa Maria, RS, escritor, primeiro otorrino em Erechim, RS), Raul do Nascimento Athayde da Rosa (médico por muitos anos em Urussanga, SC), Thomaz Reis Mello (médico por muitos anos em Criciúma), Edmundo Castilho (fundador da UNIMED no Brasil), João Conrado Leal (anestesista em Criciúma por muitos anos), Klaus Wolffenbuttel (casado por algum tempo com minha colega Ayesha Batista de Assis).

Bessa, cujo telefone era (203) 323 -8700, na Flórida, e cujo divórcio com esposa americana que se dedicou à enfermagem foi ajuizado em 20.03.2017, notabilizou-se por artigo que publicou em revista médica nos EUA e cuja repercussão assegurou-lhe reconhecimento e fortuna.

Qual foi o assunto do artigo?

O hábito de usar cintos apertados, estrangulando a cintura.

(Continua próxima semana)

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