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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Benito Gorini 18/08/2022 - 14:30 Atualizado em 18/08/2022 - 16:33

Os nossos antepassados emigraram para o Brasil em situação de grave penúria, motivados pela grande instabilidade política, religiosa e econômica. As lutas pela unificação da Itália, a perda do poder temporal da igreja e o desemprego, com o consequente empobrecimento da população, foram importantes  fatores da imigração, principalmente no norte da Itália, situado no meio do teatro de operações do conflito contra o império austro-húngaro. Devemos ainda lembrar que a região do Trentino-Alto Ádige só foi anexada à Itália em 1918, após o fim da primeira guerra mundial. Aqui, I nostri antenati enfrentaram toda a sorte de problemas, transformando-se em autênticos desbravadores. Com a força de seus braços, a criatividade e a ousadia empresarial, forneceram o arcabouço para o enorme crescimento econômico e material de nossa região. A gastronomia, as danças folclóricas, o canto coral e a música instrumental contribuíram sobremaneira na preservação das tradições. Outras etnias também deixaram um forte legado, como a polonesa que juntamente com a italiana será homenageada na primeira série de três eventos sobre imigração elaborados pela Comissão Cultural da ACIC.

O evento “O Legado da Imigração – Canto e Dança”, no dia 25 de agosto na ACIC

 Assista, abaixo, o Grupo Folclórico Orzel Bialy:

Agora, o Grupo Folclórico Valsugana:

O Grupo Italiano Eco di Venessia. Assista ao vídeo:

Este importante legado, no entanto, não se fez acompanhar do desejado desenvolvimento de formas mais elaboradas de arte, em virtude das limitadas condições socioculturais de nossos colonizadores. Esta falta de harmonia no crescimento de nossa cidade persiste até hoje, bem evidenciada pela supremacia de valores transitórios e superficiais em detrimento de formas mais elevadas do pensamento humano. Por isso parabenizo a ACIC que há alguns anos vem incentivando e promovendo atividades culturais populares e eruditas, no intuito de aprimorar o conhecimento, permitindo o acesso a eventos só disponíveis nos grandes centros.  

O pintor Luciano Martins, a Comissão Cultural e o presidente Valcir Zanette na Galeria de Arte da ACIC
Apresentação de reproduções de obras-primas de grandes mestres da pintura a alunos de escolas de Criciúma
Por Benito Gorini 11/08/2022 - 13:51 Atualizado em 11/08/2022 - 13:59

O horóscopo será a assunto deste artigo, complementando a abordagem feita no blog anterior sobre os avatares. A astrologia surgiu há aproximadamente 4000 anos, na mesopotâmia, região que corresponde atualmente ao Iraque. A alternância do dia e da noite, do claro e do escuro, sempre condicionou as atividades sobre a Terra. O sol chamou em primeiro lugar a atenção do homem primitivo. A necessidade de se expor ao sol nas frias manhãs ou de se proteger na sombra de uma árvore nas horas mais quentes, foram razões que determinaram esta observação. A possibilidade de caçar e de se orientar em noites claras, fez com que o homem primitivo percebesse a presença da lua. As estrelas só foram objeto de curiosidade bem mais tarde, provavelmente na Babilônia. Os caldeus, grandes estudiosos da abóbada celeste, observaram que determinados grupamentos de estrelas formavam desenhos e pareciam acompanhar o movimento do sol, alternando-se a cada mês. Surgiram então o nome das constelações e como a maioria representava animais o conjunto recebeu o nome grego de zodíaco (zoo:animal).

Os signos do zodíaco

O astrofísico Carl Sagan, em seu livro Cosmos, descreve com propriedade a assunto: “O céu noturno é interessante. Há desenhos. Mesmo sem tentar, podemos imaginá-los. No céu setentrional, por exemplo, há um desenho ou constelação que parece um urso. Alguns povos chamavam-na “A Grande Ursa”. Outros veem imagens bem diferentes. Estes desenhos não são naturalmente reais, nós que os colocamos lá. Fomos caçadores e vemos caçadores e cães, ursos e jovens mulheres, objetos do nosso interesse. Quando os marinheiros europeus do século XVI viram pela primeira vez o céu meridional, transferiram para lá os objetos de interesse deste século, ou seja, tucanos, pavões, telescópios, compassos e popa de navios. Se as constelações tivessem recebido nomes do século XX, suponho que veríamos bicicletas, refrigeradores, astros de rock-and-roll e talvez até nuvens de cogumelo, um novo grupo de esperanças e receios humanos entre as estrelas.”

A excelente série Cosmos, de Carl Sagan

Na antiguidade acreditava-se que os astros exerciam enorme influência sobre as pessoas, o que conferia grande prestígio aos astrólogos junto aos nobres, reis e faraós. A partir do renascimento a astrologia foi desacreditada pelas descobertas astronômicas de Copérnico e Galileo, que refutaram as ideias geocêntricas de Ptolomeu. Isto provocou forte reação da igreja católica, com a condenação à morte de Giordano Bruno e a retratação de Galileo. No entanto, Kepler e Newton sepultaram definitivamente os antigos conceitos.

Os modelos heliocêntrico e geocêntrico

A teoria heliocêntrica de Copérnico

A estátua homenageando Giordano Bruno no Campo dei Fiori, em Roma

 

Já estivemos sob a influência de várias eras. Na era de Touro eram comuns os sacrifícios humanos, como bem demonstram as lendas cretenses sobre os jovens sacrificados ao Minotauro, morto por Teseu . Na era de Áries, as perdas humanas foram substituídas por animais, evidenciadas pelo relato bíblico do Gênesis, no qual Abraão foi detido pela mão do anjo, que substituiu o seu filho Isaac por um cordeiro. Na era de Peixes, a de Jesus, o pescador de almas, conceitos mais elevados surgiram, modificando o “olho por olho, dente por dente” do velho testamento. O próprio nome de Jesus é muito semelhante ao de peixe, em grego , quase um anagrama (Ichthys - Christos). Atualmente, com o advento da era de Aquário, há um novo interesse pela astrologia e assuntos esotéricos. O livro “A Profecia Celestina”, de James Redfield, aborda com profundidade o tema. Praticamente todas as pessoas consultam o horóscopo, conferindo as previsões para o dia. O ano astronômico e astrológico começa em março, no signo de Áries. No entanto, já se sabe há mais de dois milênios, que a disposição dos astros no céu não é a mesma da época em que foi descrita pelos caldeus. Este fenômeno, denominado precessão dos equinócios, foi descoberto por Hiparco no século II a.C. Em outras palavras, os nascidos sob a regência de Áries, por exemplo, hoje pertencem a Peixes, já a caminho de Aquário (por isso a nova era). Resta um consolo a todos nós. Podemos ler dois (ou três) signos e escolher as melhores previsões. Um bom augúrio, caro leitor. 

 

Por Benito Gorini 04/08/2022 - 18:29 Atualizado em 04/08/2022 - 18:36

Avatar é um termo muito antigo, derivado do sânscrito e significa “iluminado” ou também “descido do céu à terra”. Segundo crenças místicas e esotéricas, cada Era se caracteriza pelo surgimento de um Avatar, guia espiritual responsável pelo aperfeiçoamento dos seres humanos.

Na Era de Touro, eram praticados sacrifícios humanos, como bem demonstram as imagens descobertas nas escavações de Creta, realizadas pelo arqueólogo britânico Arthur Evans. Nos labirintos do rei Minos, em Cnossos, habitava, segundo a lenda, o terrível Minotauro, a quem eram oferecidas jovens virgens. Teseu, herói grego, penetrou no labirinto e matou o monstro, auxiliado por Ariadne, filha do rei.

Teseu e o Minotauro, obra do grande escultor Canova, no Museu da História da Arte de Viena

Um relato bíblico nos revela o possível início de uma Nova Era, com o episódio de Abraão prestes a imolar seu filho Isaac em honra a seu Deus. No momento do sacrifício um anjo aparece e detém o braço do patriarca, substituindo o seu filho por um cordeiro. Esta imagem é muito sugestiva da Era de Áries, o apogeu do povo hebreu, com seus profetas, juizes, reis e o magnífico Templo de Salomão, em Jerusalém. O grande legislador Moisés foi a figura primordial deste período, com seu código moral e legal exposto no Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia (a Torah judaica).

Muro das Lamentações, remanescente do Templo de Herodes, no mesmo local do Templo de Salomão

 

Na mesma Era viveu outro grande iluminado, Sidharta Gautama, o Buda, que combateu o injusto sistema de castas do bramanismo. Sua doutrina das Quatro Verdades e dos Oitos Caminhos atraem milhões de adeptos.

Com a advento de Jesus temos o testemunho inequívoco de uma nova era, a de Peixes. A maior parte da vida do Divino Mestre transcorreu próxima ao lago Tiberíades, alguns discípulos eram pescadores e o seu próprio nome em grego é muito semelhante ao de peixes (Christos, Ichthys), quase um anagrama, além de formar um acróstico: “ Iesus Christos Theos Sopher (Jesus Cristo filho de Deus salvador). O peixe também foi importante código secreto de identificação das comunidades cristãs primitivas em Roma. Jesus veio aperfeiçoar a lei mosaica, trazendo a fraternidade e o amor, em oposição ao “olho por olho e dente por dente” do Antigo Testamento.

 

 

O peixe como símbolo cristão

Segundo a astrologia, cada um dos 12 signos ocupa um espaço de 30º na esfera celeste. No entanto, as constelações têm desenhos e tamanhos diferentes, existindo inclusive um 13º “signo”, o de Ofiúco, entre Escorpião e Sagitário. Ou seja, cada era tem duração diferente. Porém, cedo ou tarde, a Era de Aquário chegará e o novo avatar será muito mais incompreendido que Jesus. Se até hoje não conseguimos assimilar e praticar os ensinamentos de Cristo, como poderemos entender as idéias ainda mais elevadas que surgirão ? O novo messias será execrado pela sociedade, na qual preponderam as futilidades e os valores superficiais. O “ter” supera o “ser”, um bom saldo bancário vale mais que a cultura e a sabedoria, um carro importado “ultrapassa” a honestidade e a honra. O egoísmo, a prepotência e a arrogância estão acima do amor ao próximo; a liberalização dos costumes condena nossos jovens às drogas e ao sexo desenfreado, com graves consequências. A busca por padrões estéticos definidos pela mídia, com óbvios interesses comerciais, condena as pessoas a dietas mirabolantes e procedimentos cirúrgicos desnecessários, gerando efeitos adversos como bulimia, anorexia e até o suicídio.

Vai ter muito trabalho, nosso pobre avatar.

 

As constelações zodiacais

Por Benito Gorini 28/07/2022 - 15:00

Existem avenidas e ruas emblemáticas em várias cidades do mundo. Champs-Élysées em Paris, Regent Street, em Londres, Las Ramblas, em Barcelona, Gran Via, em Madri, Via Condotti, em Roma, Ringstrasse, em Viena, 5ª Avenida, em Nova York, Ocean Drive, em Miami,  9 de Julio, em Buenos Aires, Rua Augusta, em São Paulo e Rua da Praia, em Porto Alegre, são exemplos marcantes. A pequena e menos conhecida Drosselgasse, em Rüdesheim, também merece menção pois é a marca registrada da cidade renana. E outro muito especial, o Gran Canale, a grande “avenida” de Veneza.
 

A sempre movimentada Drosselgasse na pequena Rüdesheim, Patrimônio da Humanidade pela Unesco

 

 

A vista do Gran Canale do vaporetto nº 1

 

O início da Via Condotti, com a Fontana della Barcaccia e a Scalinata di Spagna. No alto a igreja francesa Trinità dei Monti

No entanto, nenhuma tem o nome tão bonito como a Unter den Linden (Sob as Tílias), em Berlim. Em um trajeto de 1,5 km da Porta de Branderburgo à Bebelplatz, que pode ser tranquilamente percorrido a pé, encontram-se inúmeras construções históricas, museus, praças e igrejas.

As tílias atrás do Portão de Brandenburgo
O Portão de Brandenburgo e a Pariser Platz, no início da Unter den Linden

Na Pariser Platz encontram-se as embaixadas da Rússia e da Hungria e o Hotel Adlon, que ficou famoso após o filme Grande Hotel, com Greta Garbo. Os Museus Antigo e Novo, a Galeria Nacional, o Museu Bode e o Pergamon, voltado para a Unter den Linden e com a Catedral em frente, situam-se na Ilha dos Museus, formada pelo rio Spree. Na  Bebelplatz, localizada nas proximidades e onde em 1933 foram queimados os livros pelos nazistas, encontramos o Museu dos Livros Queimados e uma placa com a citação  “Onde se queimam livros, acaba-se também queimando pessoas”, do poeta alemão Heinrich Heine.

Turistas no Memorial dos Livros Queimados. Ao fundo a Universidade Humbold

Em Santa Catarina, temos a cidade de Dreizehnlinden, obrigada a trocar de nome para Treze Tîlias no governo de Getúlio Vargas, na segunda guerra mundial.
 

Por Benito Gorini 21/07/2022 - 14:00

O amigo Daniel Garcia, experiente motociclista com muitas viagens internacionais no currículo, me presenteou com a edição 63 da renomada revista inglesa Adventure Bike Rider, especializada em duas rodas.

Daniel Garcia no impressionante Passo dello Spluga (Splugen pass), entre a Suiça e a Itália
A revista inglesa Adventure Bike Rider

Uma reportagem sobre o Brasil me chamou a atenção. O autor, o austríaco Alexander Seger, ficou impressionado as belezas da Região Sul e descreve o roteiro de 16 dias e 3200 km na companhia de 3 casais alemães e o guia brasileiro. Partiram de Ribeirão da Ilha em direção à Vargem do Cedro onde encontraram uma inesperada surpresa alemã : “Em um restaurante chamado Fluss Haus nós encontramos música alpina, as garçonetes em trajes típicos da Baviera e os garçons com as tradicionais lederhosen”. Em seguida subiram a Serra do Rio do Rastro, “uma estrada repleta de curvas que sobe até uma altitude de 1400 m e pode ser facilmente comparada a qualquer passo alpino”. Passaram por locais icônicos para os amantes do motociclismo de aventura, como o Passo do S próximo a Cambará do Sul e estradas de chão batido das Serras Gaúcha e Catarinense, enquanto se dirigiam ao ponto alto da viagem, as Cataratas do Iguaçu.

Amigos motociclistas em Urubici

Passo do S

Ficou muito impressionado com a Região Sul e comentou : “Dia após dia o sul do Brasil surpreendeu a mim e aos meus colegas com paisagens que não correspondem ao estereótipo de samba, sol e carnaval. E quando eu pensava que tinha visto tudo, fui surpreendido ao encontrar o Brasão Nacional da minha querida Áustria no pórtico de entrada de Treze Tílias, que ostenta com orgulho seu nome em alemão, Dreizehnlinden”. Encerraram a viagem com um jantar em uma barraca na orla de uma praia de Florianópolis, admirando o Cruzeiro do Sul bem alto sobre o mar, visão que não é possível no hemisfério norte. Termina a reportagem escrevendo : “ Foi triste dizer adeus aos meus amigos, mas nós compartilhamos uma jornada incrível através de um país magnífico. Thank you Brazil, you´ve been incredible”.

Por Benito Gorini 14/07/2022 - 18:07 Atualizado em 14/07/2022 - 18:13

O modo de encarar o deficiente vem evoluindo no decorrer dos tempos. Portadores de deficiências físicas eram discriminados e os cegos foram considerados seres inúteis durante muito tempo, encarados como uma espécie inferior, totalmente voltada à ignorância.

A França foi o primeiro país a prestar ajuda material aos cegos. De acordo com a lenda, o rei Luís IX e seu exército teriam sido presos pelos turcos durante a Sétima Cruzada. Como resgate o sultão exigia uma fabulosa soma em dinheiro, sob a ameaça de cegar 20 reféns a cada dia. Durante 15 dias o ato bárbaro ocorreu, até que a exigência foi aceita e o rei e os prisioneiros libertados. Ao retornar a Paris o rei Luís IX (canonizado como São Luís) criou em 1265 o Quinze-Vingt (15-20), uma instituição para servir de abrigo aos 300 cegos das cruzadas. O rei construiu também a Sainte-Chapelle para abrigar a coroa de espinhos de Cristo. Posteriormente vários mosteiros, hospitais, refúgios, asilos e retiros foram criados na Itália, França, Alemanha e Jerusalém.

O Hospital Quinze-Vingts, em Paris

Os maravilhosos vitrais da Sainte-Chapelle, bem perto da Notre Dame de Paris

Em 1784, Valentin Hauy, o “pai e apóstolo dos cegos”, observou que um cego esmoler no adro da igreja de Saint Germain de Prés conseguia identificar moedas pelo tato. Fundou então o Instituto Nacional de Jovens Cegos, a primeira escola para deficientes visuais baseada na leitura táctil. Quarenta anos após, Louis Braille, aluno do instituto e cego desde os três anos de idade, desenvolveu um método que receberia consagração universal: a leitura táctil de seis pontos.

Escultura no Instituto Nacional de Jovens Cegos, em Paris

O filme O Milagre de Anne Sullivan ( The Miracle Worker ) nos mostra a vida de Helen Keller, cega e surda , cujo treinamento pela dedicada Anne Sullivan representou uma extraordinária conquista até então não conseguida em pessoas tão seriamente incapacitadas. Helen Keller não só aprendeu a ler, escrever e falar, como também obteve excepcional desempenho no curso universitário, graduando-se “cum laude” em filosofia pela Escola Radcliffe.

Cena do filme de 1962 “O Milagre de Anne Sullivan” de Arthur Penn que dirigiu também Bonnie and Clyde e Pequeno Grande Homem

Apesar da séria deficiência, pessoas cegas se destacaram desde a mais remota antiguidade. Homero, John Milton, Jorge Luis Borges, Stevie Wonder, Ray Charles e Andrea Bocelli são alguns exemplos. No Brasil a primeira preocupação oficial com a educação de deficientes surgiu em 1835, através de projeto de lei que criava o cargo de “Professor de Letras” para cegos e surdos-mudos. José Álvares de Azevedo, cego desde o nascimento, convenceu D. Pedro II a fundar uma escola semelhante ao instituto de Paris, onde havia estudado. Em 1854 foi criado o Imperial Instituto para Meninos Cegos, que recebeu o nome de Instituto Benjamin Constant com o advento da República.

José Álvares de Azevedo, o “Patrono da Educação dos Cegos no Brasil”, faleceu vítima da tuberculose em 1854 aos 20 anos de idade, 6 meses antes da inauguração do Instituto para Cegos
Dorina Nowill, cega aos 17 anos de idade, criou em São Paulo o instituto que leva o seu nome
Por Benito Gorini 07/07/2022 - 15:00 Atualizado em 07/07/2022 - 15:22

Uma caminhada de duas horas nos transportará da Place de la Concorde,  local da execução de Luis XVI, Maria Antonieta, Danton e Robespierre, à Ópera Garnier, cenário de grandes espetáculos operísticos. No centro da magnífica Praça encontra-se o Obelisco de Luxor, com 3200 anos de idade. Duas fontes barrocas, semelhantes às da praça em frente à Basílica de São Pedro em Roma, e oito estátuas simbolizando cidades francesas, conferem harmonia à praça. Do local tem-se uma bela vista da avenida Champs Elysées, Jardim das Tulherias, Madeleine e da Assembleia Nacional e Torre Eiffel, na outra margem do Sena. 

Place de la Concorde, com a Torre Eiffel ao fundo

Deixando a praça pela Rue Royale chega-se à Madeleine, igreja em estilo neoclássico semelhante aos templos gregos. Atrás da igreja fica a célebre Fauchon, paraíso gastronômico, onde Jaqueline Kennedy encomendava as iguarias para suas festas na Casa Branca. Pelo Boulevard de la Madeleine e Rue des Capucines adentramos a luxuosa Place Vendôme, com joalherias famosas com Cartier, Rolex, Boucheron, Piaget e, é claro, o suntuoso Hotel Ritz, de onde partiram Lady Di e Dody el Fayed no dia do fatal acidente no Túnel de Alma. No centro da praça, no alto de uma coluna  construída com o bronze derretido dos canhões apreendidos na Batalha de Austerlitz, ergue-se a majestosa estátua de Napoleão Bonaparte.

A Place Vendôme, com a estátua de Napoleão Bonaparte em trajes de imperador romano


A Rue de la Paix nos leva ao requintado Café de la Paix. Mais alguns passos e, voilá, a Ópera Garnier, o magnífico teatro que testemunhou maravilhas do canto lírico como Renata Tebaldi, Maria Callas, Beniamino Gigli e Luciano Pavarotti. O local serviu também de cenário  para a obra  de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera. Atrás do teatro situam-se as Galerias Lafayette, paraíso de compras e muito frequentada por brasileiros.

A abóbada das Galerias Lafayette

 

Por Benito Gorini 30/06/2022 - 15:00 Atualizado em 30/06/2022 - 16:37

“Meu pai e o pai de meu pai, antes de mim, abriram aqui suas tendas. Há doze séculos que os verdadeiros crentes – Deus seja louvado, só eles possuem a verdadeira sabedoria – se estabeleceram neste país e nenhum deles ouviu jamais falar em palácios subterrâneos, nem tampouco os que os precederam. Então, eis que aparece um franco de um país afastado muitos dias de viagem, vai diretamente ao lugar, pega em um bastão e traça uma linha para cá, outra para lá. Aqui, diz ele, está o palácio e lá, diz ele, está o portão; e mostra-nos o que durante toda a nossa vida esteve sob os nossos pés, sem que o soubéssemos. Maravilhoso! Maravilhoso! Aprendeste isso pelos livros, por artes mágicas ou pelos vossos profetas?”.

Kurt Wihelm Marek utilizou o pseudônimo de C.W. Ceram para ocultar seu passado como membro da Wehrmacht, as forças armadas alemãs

 Este discurso descrito no livro “Deuses, Túmulos e Sábios” de C.W. Ceram foi proferido em 1850 pelo sheik Abd-er Rahman em homenagem ao arqueólogo inglês Henry Layard, descobridor das cidades soterradas de Nimrud e Nínive na mesopotâmia.  O interesse de Layard pelo oriente surgiu de suas leituras das  “Mil e uma Noites”, de Omar Kayam e de passagens do velho testamento, transformando em obsessão a sua pesquisa sobre as civilizações desaparecidas. As escavações trouxeram à tona  as enormes esculturas representando os deuses  da civilização assírio-caldaica:  a águia, o touro e o leão alados. Havia vinte e cinco séculos que estavam ocultas aos olhos dos homens e agora ressurgiam em sua antiga majestade.

Ala Sully do Louvre

A descoberta da tumba de Tutankamon deveu-se também à extrema dedicação de outro arqueólogo, Howard Carter, que em 1914, após seis  anos de mal sucedidas escavações finalmente descobriu a entrada principal da tumba do faraó. Os ladrões  já haviam penetrado no corredor e antecâmara mas a câmara principal estava intacta. Carter deparou-se com magníficos tesouros, de valores arqueológicos e materiais inestimáveis, como o   sarcófago de Tutankamon, todo em ouro maciço.

A máscara mortuária de Tutankamon, em ouro e decorada com pedras preciosas, no Museu Egípcio do Cairo

A morte inesperada e misteriosa do financiador do projeto, Lord Carnarvon, e de outros membros da expedição, levantou a hipótese da “maldição dos faraós”.  Uma das versões afirma que uma frase estava escrita no túmulo de Tutankamon: “a morte virá com asas ligeiras para aqueles que perturbarem o sono do faraó”.

As descobertas arqueológicas só se tornaram realidade pela decifração de hieróglifos, escrita cuneiforme, textos antigos e o conhecimento de línguas mortas.   O maior exemplo é Champollion, que aos 16 anos já “conhecia latim, grego, meia dúzia de línguas orientais” e decodificou a Pedra de Roseta, que apresentava o mesmo texto em três grafias diferentes : hieróglifos, demótico e grego antigo.  

A Pedra de Roseta, no Museu Britânico

As maravilhas trazidas à luz por Layard , Carter e outros arqueólogos enriquecem hoje os acervos dos Museus Britânico de Londres, Louvre em Paris, Egípcio do Cairo e o Pergamon de Berlim.

A Ilha dos Museus em Berlim

 

Por Benito Gorini 23/06/2022 - 16:43 Atualizado em 23/06/2022 - 17:04

A bela cidade de Salzburgo atrai uma multidão de cinéfilos a procura dos locais das cenas do filme A Noviça Rebelde, como a Fortaleza de Hohensalzburg, a Abadia Nonnberg, os jardins do Palácio Mirabel e a Fonte dos Cavalos. O Teatro, local onde a familia Von Trapp cantou "Edelweiss", abriga o célebre Festival de Música de Salzburgo, com 5 semanas de duração. 

A Fortaleza de Hohensalzburg no alto da montanha e acessível por funicular 

 

Cena do filme A Noviça Rebelde no centro antigo e nos jardins do Palácio Mirabel

Edelweiss, no Teatro de Salzburgo

Salzkammergut, que significa "Propriedade da Câmara de Sal", fica localizada bem próxima de Salzburgo. Seus 70 magníficos  lagos  circundados por montanhas fazem parte do seleto grupo do Patrimônio Natural da Unesco. Hallstatt, pequena vila com 1000 habitantes e  considerada a mais bela da Áustria, é o cartão-postal da região, de grande importância histórica pela presença das minas de sal, exploradas desde o  segundo milênio a.C. O sal, o "ouro branco", era fundamental na conservação dos  alimentos e conferia grande poder aos locais de exploração. Sua importância era tamanha que representava grande parte da remuneração dos trabalhadores, dando origem ao termo "salário". Hallstatt era um importante centro quando Roma ainda era uma pequena vila.

Hallstatt. A mina de sal ainda está aberta à visitação

 

Outro destino turístico da região é a cidade de  Bad Ischl, importante centro de banhos terapêuticos com água salgada, em um época que a medicina não dispunha de grandes recursos. Tornou-se famosa quando o arquiduque Carlos Francisco e sua esposa Sophia se dirigiram à cidade procurando a cura de sua infertilidade. Nasceram Francisco José e posteriormente mais 2 filhos, conhecidos como os "Príncipes do Sal". Em 1848 o primogênito foi coroado como  Francisco José I e reinou durante 68 anos. Foi casado com Elizabeth da Baviera,a famosa Sissi, que teve um fim trágico apunhalada em Genebra por um anarquista italiano. No museu Correr de Veneza, que pertencia ao Império Austro-Húngaro, e no Hofburg de Viena, existem alas dedicadas à imperatriz.

A Ala Sissi do Hofburg de Viena

 

Trailer da trilogia sobre a vida de Sissi, com Romy Schneider no papel principal

 

Por Benito Gorini 16/06/2022 - 18:28 Atualizado em 17/06/2022 - 11:22

Com a prática das indulgências a Igreja Católica amealhou verdadeira fortuna. Os membros das classes abastadas, à beira da morte, doavam seus bens à igreja, convictos de queestavam assegurando o seu lugar no céu. O dinheiro arrecadado, que a princípio serviu a propósitos humanitários e espirituais, como a construção de hospitais e igrejas, acabou se transferindo para as mãos de membros corruptos do clero, que o utilizaram para finalidades escusas. Na Idade Média a importância de uma igreja estava relacionada com as relíquias que os devotos conseguiam obter, nem sempre por meios lícitos. As cidades tinham enorme interesse em possuir relíquias sagradas, muitas de origem duvidosa, com o intuito de atrair os peregrinos. Em Roma conservavam a cabeça de São João na Basílica de San Giovanni in Laterano, sede do papado por 1 milênio. Em uma capela em frente à basílica encontra-se a Escada Santa, os degraus que Jesus teria subido ao ser condenado no palácio de Pôncio Pilatos e transportada a Roma por Santa Helena, mãe do imperador Constantino.

A “Scala Santa”, em Roma

Na basílica de São Pedro, no altar sob o magnífico baldaquino de Bernini, acha-se a tumba do apóstolo, no local onde teria sido crucificado. Em Assis, o corpo de São Francisco, em Pádua, o de Santo Antônio e em Veneza o de São Marcos. Siena conserva a cabeça de Santa Catarina, mas o seu corpo está exposto na igreja dominicana de Santa Maria Sopra Minerva, ao lado do grande pintor Fra Angelico. São Francisco e Santa Catarina são os padroeiros da Itália.

Igreja de Santa Maria Sopra Minerva, construída sobre um templo pagão, com o Elefante de Bernini e o Obelisco della Minerva

Os corpos dos três Reis Magos - roubados pelos alemães de uma igreja de Milão - conferiu tanto prestígio à catedral de Colônia que os reis germânicos, depois de coroados em Aix-la-Chapelle (Aachen em alemão), dirigiam-se à cidade para se ajoelharem em frente à arca dos três Reis. A Sainte-Chapelle, joia do período gótico com seus magníficos vitrais, foi construída pelo rei Luís IX, posteriormente canonizado, para abrigar os “espinhos da coroa de Cristo”. O preço pago pelos espinhos foi maior que o valor gasto na construção da capela. 

A magnífica catedral gótica de Colônia, que guarda a urna do Reis Magos

Os magníficos vitrais da Sainte Chapelle

Eram tantos os fragmentos da cruz de Cristo expostos nas igrejas que “dariam para construir um barco de pequeno porte”, segundo Cesare Marchi, autor do livro “Grandes Pecadores, Grandes Catedrais”.

Os abusos praticados pelo clero acabaram desencadeando a reforma protestante de Lutero, com suas 95 Teses afixadas nas portas da Igreja de Wittenberg. Houve a reação católica, a contra-reforma, deflagrada  pelo Concílio de Trento ( 1545-1563) e a instalação da Inquisição Renascentista, pior que a medieval, por acrescentar os livros à lista de condenados à fogueira (Index Librorum Proibitorum). Mas os protestantes também cometeram crimes. Miguel Servet, que descreveu a Circulação Pulmonar de Sangue, foi condenado por Calvino à morte na fogueira, em Genebra.

Por Benito Gorini 09/06/2022 - 15:15 Atualizado em 09/06/2022 - 15:49

Em visita à Basílica de São Pedro com um grupo de brasileiros, comentamos sobre obras de arte como o Baldaquino de Bernini, o “Confessio” abaixo do altar-mor e local da tumba do apóstolo e a cúpula de Michelangelo. Observamos também a riqueza arquitetônica dos túmulos de alguns papas. Um senhor nos observava nas proximidades e veio conversar quando o grupo se dispersou. Identificou-se como funcionário aposentado do Vaticano, tendo servido a 5 papas. Falou sobre Pio XII, um papa severo, autoritário e conservador, ciente de seu grande poder como líder dos católicos. Já João XXIII era exatamente o oposto, um papa gentil, carismático e admirado por todos. Não fez muita referência a Paulo VI e disse que gostava muito de João Paulo I, o papa sorriso. Perguntei então sobre a morte do papa e ele respondeu: “Non si può parlare”.

O Baldaquino de Bernini e o “Confessio”
A tumba de São Pedro

O livro “Em Nome de Deus”, do escritor inglês David Yallop, lança sérias acusações sobre membros da cúria romana e outras instituições. João Paulo I pretendia fazer profundas mudanças na igreja, trocando o Secretário de Estado Jean Villot e demitindo o monsenhor Marcinkus, presidente da IOR (Istituto per le Opere di Religione), o banco do vaticano, que estava envolvido em operações bancárias fraudulentas. Segundo Yallop, Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano, Licio Gelli, da Loja PII e Michelle Sindona, da Máfia Siciliana, também estavam envolvidos. Quando João Paulo II assumiu tudo voltou a estaca zero e Marcinkus acabou se tornando Arcebispo. O papa Woytila também manteve o conservadorismo na igreja católica, condenando a Teologia da Libertação. A Congregação para a Doutrina da Fé, herdeira do Santo Ofício medieval, impôs a Leonardo Boff o “silêncio obsequioso”, a proibição de falar em público e de publicar suas ideias, dura pena mas menos cruel que a morte na fogueira dos condenados pelas Inquisição.

O túmulo de João Paulo I na Cripta dos Papas, no subsolo do Vaticano. Como sugestão ver o filme “João Paulo I, o Sorriso de Deus”, da RAI

Interessante é a coincidência de Ângelo Roncalli (João XXIII) e Albino Luciani (João Paulo I) serem naturais de cidades intimamente ligadas com a imigração italiana para a nossa região. Roncalli nasceu em Sotto il Monte, na província de Bérgamo, e Luciani em Canale d’Agordo, na província de Belluno. Luciani foi padre em Belluno e bispo em Vittorio Veneto, cidade-irmã de Criciúma. O pai de Albino Luciani, embora não tenha emigrado, foi obrigado a trabalhar na Suíça para poder sustentar sua família. Pequenas cidades do Veneto e da Lombardia forneceram o principal contingente de imigrantes para o sul-catarinense. Além disso, ambos os papas foram Patriarcas de Veneza.

Monumento em homenagem ao Gemellaggio Criciúma-Vittorio Veneto

 

Por Benito Gorini 02/06/2022 - 15:00 Atualizado em 06/06/2022 - 12:17

O gênio humano frequentemente se manifesta em descobertas que se baseiam unicamente em um cérebro privilegiado e observador. O matemático Eratóstenes, astrônomo, geógrafo, filósofo, poeta e diretor da  biblioteca de Alexandria , cidade muito conhecida pelo seu famoso farol, uma das maravilhas do mundo antigo, calculou a circunferência da Terra com grande precisão no século III  a.C.  Eratóstenes sabia que no dia 21 de junho, data do solstício de verão no hemisfério norte, o sol do meio-dia não produzia sombras na cidade de Syene,  a atual Assuã, próxima a primeira catarata do Nilo. O reflexo do sol podia ser obtido na água, no fundo de um poço.

Foi uma observação que qualquer outra pessoa teria ignorado. Eratóstenes, no entanto, era um cientista e observou que na mesma hora o sol produzia sombras em Alexandria. Como os raios solares chegam paralelos à Terra, fato já conhecido pelos antigos egípcios, o nosso planeta não poderia ser plano (há 23 séculos a ciência já sabia disso mas os terraplanistas ainda não sabem). Eratóstenes sabia que a distância de Syene a Alexandria era de 800 km pois  havia contratado um homem para medi-la em passos. Com este dado e com o ângulo obtido pela sombra de varetas colocadas verticalmente ao meio-dia em Alexandria, o cientista determinou a circunferência da Terra, através de simples cálculo trigonométrico.   O valor encontrado por Eratóstenes foi de 40.000 km., muito próximo da medida atual. 

A moderna Biblioteca de Alexandria, próxima ao local onde ficava a antiga biblioteca

Galileo Galilei, ao observar a oscilação de um lustre no interior da Catedral de Pisa formulou as leis do movimento pendular. Em 1.609, aperfeiçoando um telescópio desenvolvido na Holanda 1 ano antes, descobriu as luas de Júpiter Io, Europa, Ganimedes e Calisto, corroborando as ideias heliocêntricas de Copérnico. Isso vinha de encontro aos dogmas da igreja católica, de um universo centrado na Terra, com tudo girando ao seu redor. Galileo teve que se retratar, para evitar o destino de um outro grande cientista, Giordano Bruno, condenado a morrer na fogueira em 1.600 no Campo dei Fiori, em Roma. No entanto, nos últimos momentos de sua longa existência, Galileo afirmou : “Eppur si muove”.

Campo dei Fiori, mercado de rua de Roma com o monumento de homenagem a Giordano
Bruno ao fundo
O Batistério, o Duomo e a Torre de Pisa, no Campo dos Milagres

 

A tumba de Galileo Galilei na Igreja de Santa Croce, em Florença, onde estão sepultados Michelangelo, Maquiavel e Rossini

 

Descobertas de Copérnico, Galileo e Newton. Uma boa opção é o filme “A Vida de Galileu”, de Joseph Losey baseado na obra de Bertolt Brecht

Em 1851 no Panteão de Paris, imenso templo construído por Luís XV e onde estão sepultados os grandes de França como Voltaire, Rousseau, Mirabeau, Victor Hugo, Louis Braille, Alexandre Dumas e Emile Zola, foi realizada uma experiência interessante. Pela oscilação de um pêndulo preso à abóbada da igreja e que completou um giro de 360 graus em 24 horas, o físico francês Léon Foucault  comprovou o movimento de rotação da Terra. 

 

Varetas, lustres, pêndulos e cérebros prodigiosos fizeram a diferença.

Por Benito Gorini 26/05/2022 - 14:58 Atualizado em 26/05/2022 - 15:17

Os imigrantes italianos, “i nostri antenati”, deixaram sua amada Itália em um momento extremamente difícil de suas vidas. O desemprego e a pobreza, geradoras de grave penúria material, agravados pela falta do conforto espiritual de um povo de forte religiosidade,  ocasionado por uma igreja em crise, precipitaram as levas de imigração. Devemos lembrar que as guerras pela unificação afetaram sobremaneira o norte da Itália. O Veneto, limítrofe às regiões austríacas do Tirol e Carintia, tornando-se o principal palco das operações bélicas, foi particularmente atingido. A queda de Roma em 1870, com a consequente perda do poder temporal da Igreja veio agravar a situação. A similaridade topográfica contribuiu para fixar os vênetos e lombardos  no sul de Santa Catarina e na serra gaúcha.

"A cabra alpina, a marmota, o sino, os castelos e o relógio-cuco, típicos dos Alpes"

Edelweiss, a flor símbolo dos Alpes. Música composta por Rodgers e Hammerstein para o filme A Noviça Rebelde.

Os agentes recrutadores conheciam as difíceis condições climáticas e agrárias  de Bérgamo e Beluno, origem de muitos imigrantes. Os pré-alpes destas regiões  guardam uma certa semelhança com as colinas e montanhas próximas à Serra Geral. Sabiam que seria menos penosa a adaptação nas novas terras, inóspitas e intocadas , para  um povo acostumado com as adversidades. O importante legado de nossos antepassados, de determinação, perseverança e trabalho árduo logo revelou bons frutos, bem demonstrados pela pujança da indústria e comércio de nossa região. As tradições religiosas, gastronômicas e folclóricas também foram preservadas, evidenciadas pelos inúmeros eventos realizados em praticamente todos os municípios sul-catarinenses. A arquitetura também foi contemplada, com a construção de edificações urbanas e rurais, como igrejas, casas coloniais e de pedra e os muros que delimitavam terrenos, as famosas taipas. O canto alpino me comove sobremaneira, talvez pela minha herança veneto-lombarda. Canções como La Montanara,  Il Testamento del Capitano e Signore delle Cime, embora relembrando tristes eventos, são um vivo testemunho do fascínio que as montanhas exerciam sobre os imigrantes.

A bela canção La Montanara, cantada em italiano e alemão. A região do Trentino Alto-Adige só foi anexada à Itália após a Primeira Guerra Mundial. O alemão é a língua dominante no Alto-Adige.

II Testamento del Capitano: “L’ultimo pezzo alle montagne che lo fioriscano di rose e fior”.

I Crodaioli cantando Signore delle Cime, homenagem de Beppi de Marzi a um amigo morto nas montanhas.

 

Por Benito Gorini 19/05/2022 - 15:00

“Uma noite eu tive a sede de um príncipe, depois a de um rei, depois a de um império, a de um mundo em fogo.” O poema “Açúcar” (Sugar) do norte-americano James Dickey descreve com precisão os sintomas da doença: a sede, a necessidade de urinar várias vezes ao dia e em grandes volumes. A doença era grave, geralmente fatal em jovens. A descoberta da insulina em 1921 por dois pesquisadores da Universidade de Toronto, Frederick Banting e Charles Best, pôs fim a este sofrimento e a morte prematura dos diabéticos. No entanto a sobrevida aumentada trouxe complicações praticamente inexistentes anteriormente, como a cegueira, a insuficiência renal e os distúrbios circulatórios que levam a amputação de dedos, pés e pernas. 

Grande parcela dos portadores da doença não se conscientiza da gravidade do problema, postergando o controle da glicemia , o popular “açúcar no sangue”, bem como do colesterol, triglicerídeos e da pressão arterial, que complicam sobremaneira o prognóstico da enfermidade . Assim procedendo permitem o aparecimento de lesões irreversíveis em pequenos vasos que fazem a nutrição de inúmeros órgãos do corpo humano, em especial dos olhos, rins e membros inferiores. Quando os sintomas aparecem, como a deficiência visual, a doença já está muito avançada e o tratamento mais difícil. Só um controle rigoroso com o endocrinologista e avaliações periódicas com oftalmologista, nefrologista e angiologista pode evitar as graves complicações da doença, que condena pessoas ainda jovens a aposentadorias, benefícios e incapacidades laborativas. 

O processo de formação da visão:

 

As alterações no fundo de olho de pacientes diabéticos:

O custo social das seqüelas da patologia é imenso. Cegos e mutilados não podendo mais desempenhar suas atividades habituais, pacientes com insuficiência renal sendo submetidos à hemodiálise enquanto aguardam o transplante, que provavelmente nunca virá. É bem verdade que as conquistas da medicina, como o raio laser, as cirurgias vasculares, novos medicamentos e equipamentos para controle dos níveis glicêmicos, aparelhos de diálise, próteses, etc, atenuaram em parte o sofrimento causado por esse terrível mal, insidioso, crônico e progressivo.

Podemos resumir em uma palavra a tranqüilidade com que se evitam os “dissabores” : P R E V E N Ç Ã O . Portanto; controle, não para amanhã ou por alguns meses, mas sim desde hoje e por todos os dias, para que eles sejam profícuos.... e bem vividos.

Por Benito Gorini 12/05/2022 - 15:02

O carniceiro Putin, elogiado por Bolsonaro e Lula, (pobre Brasil) acreditou que sua máquina de guerra conquistaria a Ucrânia em uma blitzkrieg de 2 dias. Não contava com a determinação do povo ucraniano e de seu destemido presidente, que liderou a resistência ao opressor russo com risco da própria vida. Zelensky revelou-se também um ótimo comunicador, nos inúmeros contatos com organismos internacionais. A Rússia, de tantas glórias e grande tradição na literatura, música e balé, não merecia tamanha rejeição mundial causada pelas atitudes de seu insano ditador.

A Abertura 1812 de Tchaikovsky, sobre a invasão napoleônica na Rússia, no filme Guerra e Paz, baseado na obra-prima de Tolstói

 

Maya Plisetskaya em A Morte do Cisne, baseado no Carnaval dos Animais, de Camille Saint-Saens

Há certa similaridade com Churchill, o grande primeiro ministro britânico que enfrentou o terceiro reich de Hitler utilizando-se de sua proverbial retórica como arma. Após a primeira guerra mundial os franceses construíram a Linha Maginot - enorme complexo de fortalezas paralelas ao Reno, estendendo-se da Suíça à Bélgica. - que julgavam inexpugnável. Em maio de 1940 as divisões Panzer de Guderian em uma guerra relâmpago invadiram a Bélgica pelas Ardenas, flanqueando a Linha Maginot e encurralando as tropas inglesas e francesas na região dos Altos da França.

A cidade-fortaleza de Neuf-Brisach construída por Vauban, engenheiro militar de Luis XIV e incorporada à Linha Maginot


Inexplicavelmente o Fuhrer ordenou aos seus comandados que detivessem os tanques, permitindo a evacuação de 340 mil soldados na célebre retirada de Dunquerque. Os discursos de Churchill, que seria agraciado com o Prêmio Nobel de 1953 pelo livro Sangue, Suor e Lágrimas, encheram de ânimo o Reino-Unido, até então apavorado com o poderio militar alemão e a capitulação da Holanda, Luxemburgo, Bélgica e França. A reação inglesa possibilitou a continuação da guerra - que parecia perdida - por mais 5 anos, com a derrota final dos nazistas.
Grandes estadistas, Que falta enorme estão fazendo ao Brasil.

O famoso discurso de Churchill “Nós Nunca Iremos nos Render”


 

Por Benito Gorini 05/05/2022 - 15:54 Atualizado em 05/05/2022 - 16:31

Fausto Coppi, il campionissimo, foi um ciclista italiano vencedor de 5 edições do Giro d’Italia. Por ironia do destino, em um esporte com alto risco de acidentes, acabou falecendo precocemente vitimado pela malária. Cima Coppi é o título dado ao passo de montanha mais alto alcançado pelos ciclistas durante a disputa de cada edição do Giro d’Italia. Foi introduzido em 1965 para
homenagear o grande campeão.

O Passo dello Stelvio, com 2.757 m e o mais alto da Itália é o Cima Coppi por excelência, tendo sido utilizado em 9 ocasiões. No entanto, o Passo Pordoi, com 2.239 m, nos dolomitas, detém o
recorde com 13 participações.

O pódio do Cima Coppi no Stelvio

Um grupo de motociclista de Criciúma e região teve a oportunidade de percorrer os 88 tornanti, as fechadas curvas do Stelvio, uma experiência única. No mesmo dia fizemos o Passo Umbrail, com 2.501 m , a estrada pavimentada mais alta da Suíça. Almoçamos em Glorenza, cidade cercada por muralhas e dormimos em Bormio, bela cidade da Lombardia com as magníficas termas Bagni Vecchi, da época do Império Romano.

Beto Rizzotto documentando com precisão o Passo dello Stelvio

A cidade murada de Glorenza

Outro paraíso para os amantes de duas rodas é o Maciço de São Gotardo, na Suíça, o maior divisor de águas da Europa. Três grandes rios nascem nas montanhas próximas mas seus estuários situam-se a grande distância. O Reno dirige-se ao Mar do Norte, o Ródano ao Mediterrâneo e o Ticino é um grande afluente do Pó, com foz no Adriático. O Furka Pass é o mais famoso da região, tendo sido utilizado nas filmagens de 007 Contra Goldfinger.

Alemão Góes e Mazinho Rocha em frente ao Hotel Belvedere, no Furka Pass

 

Sean Connery em 007 Contra Goldfinger, filme de 1964, ano de lançamento do Mustang

O rio Aare, que forma os belos lagos Brienz e Thun, e o Reuss, que contribui para a formação do Lago dos Quatro Cantões, também nascem no maciço mas são rios exclusivamente suíços. De moto percorremos os magníficos passos Oberal, Furka, Nufenen, São Gotardo, Susten e Grimsel em 2 dias.

O grupo do Giro Alpino 2 no Grimsel Pass

 

Por Benito Gorini 28/04/2022 - 10:02

Com este artigo  encerramos a série “Europa em 5 sentidos”.  Nas viagens com freqüência nos defrontamos com desagradáveis sensações olfativas, muitas vezes comprometendo nossas impressões sobre belas cidades. O mau cheiro dos canais de Veneza e dos banheiros próximos à Basílica de São Pedro, o bafo de alho na linha 4 do metrô de Paris, o fedor dos jovens mochileiros, há vários dias sem tomar banho, são exemplos típicos. 
Experiência semelhante tivemos ao visitar Mürren. Rompeu uma mangueira de um reservatório de adubos e por pouco não levamos um banho do “perfumado” conteúdo. 

Mürren, bela cidade dos Alpes Suíços, livre da circulação de carros.

No entanto, as lembranças prazerosas são as que ficam registradas em nossa memória.  Os aromas da Provença são o grande atrativo desta região francesa da costa mediterrânea. Seus campos de lavanda, o perfume de jasmim das colinas de Grasse,  as fragrâncias da Perfumaria Galimard os artigos de toucador da charmosa Saint Paul de Vence, atraem turistas de todo o mundo. O delicioso cheiro  da culinária provençal, temperada com finas ervas, e o bouquet de  um Chateauneuf du Pape, devem ser apreciados com vagar, antecipando as maravilhosas sensações gustativas que virão a seguir.

O vilarejo medieval de Eze, entre Nice e Mônaco

Mercado de ervas da provença em Eze

Outra experiência olfativa ocorre ao adentrar uma grande catedral europeia, como ocorre em Santiago de Compostela,.  O movimento do enorme botafumeiro  inunda  a imensa catedral com  o aroma do incenso, tornando ainda mais solene o grande momento vivido. 

O Botafumeiro na Catedral de Santiago de Compostela


Concluímos nossas impressões sensoriais com os vinhos da Borgonha,  famosos já na idade média, desenvolvidos por monges cluniacenses e cistercienses. Em uma estreita faixa de 45 km, a Cote d´Or, em vinhedos de reduzidas dimensões, são produzidos vinhos de excepcional qualidade, como o  Romanée-Conti, da uva Pinot Noir,  e o Montrachet, da cepa Chardonnay. Em meados de novembro realiza-se em Beaune, cidade medieval localizada no centro dos vinhedos e antiga capital da Borgonha,  um importante leilão de vinhos, que poderão atingir cifras astronômicas alguns anos mais tarde. Um assunto para connaisseurs, como, aliás, tudo o que se refere à ciência e arte da bebida dos deuses.

O Castelo Clos de Vougeot, na Cote d´Or, principal região  vinícola da Borgonhaa
O Boeuf Bourguignon, tradicional prato da Borgonha

 

Por Benito Gorini 22/04/2022 - 09:25 Atualizado em 22/04/2022 - 09:48

Em 1784, Valentin Hauy, o “pai e apóstolo dos cegos”, descobriu um cego esmoler  no adro da igreja de Saint Germain des Prés, que era capaz de identificar os diferentes tipos e valores das moedas pelo tato. Fundou então a primeira escola para deficientes visuais  baseada na leitura tátil. Quarenta anos após, Louis Braille, cego desde os três anos de idade, desenvolveu um método que, embora combatido no princípio, recebeu consagração universal: a leitura de 6 pontos em relevo. Sentado  no Les Deux Magots - na mesa que talvez tenha sido ocupada por Hemingway ou Scott Fitzgerald - ou no Café de Flore - em que Sartre e Simone de Beauvoir eram habitués – ambos localizados em frente à igreja, podemos imaginar a expressão de espanto de Hauy ao dar a esmola ao cego, mais uma descoberta  casual da ciência. 

O Café Les Deux Magots, frequentado por  escritores da “geração perdida” e citado por Hemingway no livro "Paris é uma Festa"

O Museu Rodin, situado ao lado do Dôme des Invalides, local da enorme tumba de Napoleão, foi o cenário de mais uma interessante experiência sensorial. Observamos grupos de cegos, orientados por um monitor, tateando obras previamente selecionadas e emitindo suas impressões sobre esculturas do grande mestre ou de sua aluna e amante, Camille Claudel. As obras O Pensador, As Portas do Inferno e O Beijo fazem parte do acervo do museu, que conta também com um belo jardim repleto de esculturas.

O Beijo, escultura em mármore no Museu Rodin
O Pensador, nos jardins do Museu Rodin

As estações termais europeias desfrutavam de grande prestígio no século XIX, procuradas por reis, nobres, ricos e poderosos em busca do alívio de suas dores reumáticas ou da cura da tuberculose, doença que ceifava a vida de muitos jovens, especialmente os artistas românticos de vida desregrada.  Um banho nas tépidas águas de  St. Moritz, Baden-Baden, Bad Ischl, Karlsbad (Karlovy Vary) e Mariembad, acrescido de massagens com lama terapêutica, proporcionava grande relaxamento e bem estar físico, auxiliando sobremaneira na mitigação do sofrimento.  Experiência semelhante pode ser vivenciada quando, extenuados após uma visita de dia inteiro pelos pontos turísticos europeus, tomamos um relaxante banho de banheira, especialmente ao lado da mulher amada. Mas aí já é outra história, com outros sentidos (ou todos) envolvidos.

Os amigos do Giro Alpino nos Bagni Vecchi de Bormio, da época do Império Romano
Restaurando as energias depois de percorrer de moto os desafiadores Passos Umbrail e Stelvio, na Suiça e Itália

Estruturas de bronze  tornam-se esverdeadas com o passar dos anos. O exemplo típico é o Vert Galant, estátua equestre de Henrique IV na Place Dauphine, na Ile de la Cité. O verde galante refere-se à fama de conquistador do rei francês,  bem evidenciada no filme A Rainha Margot. O interessante é que o bronze, submetido a atrito constante das mãos,  torna-se polido, adquirindo cor dourada.  O pé da estátua de São Pedro no Vaticano, o nariz dos leões na Residenz em Munique, o busto de Julieta em Verona, os signos do zodíaco no pátio do Castelo de Praga, o focinho do porcelino no mercado de Florença, as proeminências de formas fálicas da enorme porta da Basílica de San Giovanni in Laterano em Roma, as mãos de Fernando Pessoa em frente do Café A Brasileira em Lisboa  e aqui em Criciúma o Marcelino Champagnat no pátio do Colégio Marista , são exemplos marcantes. O mais inusitado, no entanto, é o jacente  do escritor Victor Noir, morto por um enciumado sobrinho de Napoleão. A escultura , deitada sobre a lápide no Cemitério Père Lachaise, em Paris, revela partes da anatomia bem polidas, como lábios, tórax e coxas, mas, principalmente, um proeminente volume correspondendo a região dos órgãos genitais. 

Escultura de Victor Noir. O Père Lachaise é o mais famoso cemitério do mundo. Chopin, Allan Kardec, Marcel Proust, Oscar Wilde, Jim Morrison e Edith Piaf são algumas das celebridades do cemitério

 

Por Benito Gorini 14/04/2022 - 07:30 Atualizado em 14/04/2022 - 11:06

O sentido do gosto nos proporciona experiências fascinantes, sendo fonte de enorme prazer mas também de grandes dissabores (com o perdão do trocadilho), como as graves implicações físicas e psíquicas da gula, um dos pecados capitais. 

Os brasileiros viajando pela Europa costumam reclamar das opções gastronômicas, bem diferentes das nossas. A Itália é uma exceção. Come-se bem, a preços mais acessíveis que os demais países. Os italianos, exagerados nos gestos e na comida, gozam certamente de um metabolismo especial, que os permite digerir a enorme quantidade de tortellini, fettuccini, spaghetti, canelloni, ravioli e lasagna que comem... Ah, não podemos esquecer da pizza. E o vinho, é claro. E para arrematar, um bom tiramisù. Isso depois de ter degustado um antepasto de carciofi, oliva, prosciutto e parmigiano. Mamma mia! Em um restaurante da Scalinata di Spagna, em Roma, tivemos a ousadia de desfrutar de tamanha orgia gastronômica (passamos os dois dias seguintes à base de panini e água mineral).   

Carciofi alla Romana, alcachofras com sal, alho, salsinha,
limão, vinho branco e azeite de oliva, tradicional prato de Roma

Se deliciar com um Bacalhau à Sobral, acompanhado de um excelente vinho do Alentejo e um show de fado? Experimentamos a Parreirinha da Alfama, tradicional tasca do famoso bairro lisboeta. Tinhamos subido de elétrico - como é chamado o bonde - a íngreme colina que passa pela Mouraria e conduz ao Castelo de São Jorge, com excepcional vista de Lisboa. Descemos por estreitas e sinuosas ruelas até o restaurante, bem próximo ao Tejo. Atualmente, a qualidade do “Parreirinha” tem deixado a desejar principalmente depois da morte da cantora Tina Santos, que animava a noite com seus belos fados.

Tudo Isto É Fado, com a grande Amália Rodrigues

Jantar no Hofbrauhaus é um dos melhores programas em toda a Europa. Todo o dia, centenas de turistas e locais saboreiam as suas excelentes bratwurst, wienerwurst, sauerkraut, kartoffel e demais pratos da culinária alemã, acompanhados por diversos tipos de chope em canecas de um litro. A centenária cervejaria de Munique, que já abrigou reuniões de Hitler com seus partidários nazistas, encontra-se sempre repleta de um público alegre e barulhento, animado pelas bandinhas em trajes típicos da Baviera, semelhante ao ambiente da Oktoberfest de Blumenau. Aliás, a última vez que lá estivemos comemorava-se o última dia da Oktoberfest original, surgida em 1810, por ocasião do casamento do príncipe Ludwig - futuro rei Ludwig I - com a princesa Teresa.

O ambiente caótico e barulhento da Hofbrauhaus

Os franceses são orgulhosos da variedade e excepcional qualidade de sua gastronomia. No restaurante "Nos Ancêtres les Gaulois", na Ile de St Louis, come-se como um italiano, quantidades pantagruélicas de salada in natura, carnes, queijos, embutidos, sobremesas e vinho, servido diretamente de um grande barril. O ambiente, barulhento e festivo, o local, uma cave medieval, o serviço, anárquico e divertido, e a localização, num dos locais mais nobres de Paris, tornam a experiência única. Sem dúvida, uma opção diferente na noite da Cidade Luz. 

O restaurante "Au Pied de Cochon", aberto 24 horas por dia, é famoso pela sopa de cebola e o pé de porco, como o próprio nome indica. Fica ao lado da enorme igreja de St. Eustache, onde todo domingo pode-se ouvir recitais do magnífico órgão, um dos maiores da França.

Por Benito Gorini 07/04/2022 - 07:30

A audição reina absoluta quando ouvimos uma bela composição musical. O canto gregoriano que se ouve ao adentrar a colossal Basílica de São Pedro, o magnífico som do órgão nas missas dominicais da Notre-Dame de Paris ou mesmo a simples melodia do Hymne a l´Amour, executada por uma violinista em retribuição a modesto óbolo ofertado no metrô, enleva nosso espírito e produz profunda paz interior.

A família na linha 6 do metrô de Paris.
Nas enormes estações interligadas Châtelet-Les Halles
ouve-se música de boa qualidade

Bibi Ferreira interpreta Hymne a L´Amour, no espetáculo Bibi canta Piaf. Confira no vídeo abaixo:

Mozart viveu parte de sua breve existência em Viena. Sua estátua, nos jardins do Hofburg, enorme complexo construído pela poderosa dinastia dos Habsburgos, é destino turístico dos mais concorridos.

Ouvir o Don Giovanni, obra prima do genial compositor austríaco, na Staatsoper, principal casa de ópera de Viena, e imaginar que há pouco mais de 200 anos o imperador José II e toda a sua imensa corte desfrutaram deste imenso prazer, é algo magnífico.

Viena respira música. No seu concentrado centro histórico, jovens vestidos em trajes de época anunciam os espetáculos do dia, muitos, a bem da verdade, de qualidade duvidosa e destinados a turistas desavisados.

Nas principais ruas centrais, exclusivas para pedestres,  é comum a apresentação de grupos ou solistas, como a excelente pianista executando em piano de cauda, peças de Chopin, Lizst, Schubert e Mendelssohn, em frente a famosa confeitaria Demel, na Kohlmarkt.

Na ária Madamina, Leporello enumera as conquistas amorosas de seu amo, o dissoluto Don Giovanni. Ópera de Mozart com libreto de Lorenzo da Ponte. Confira no vídeo:

O monumento em homenagem a Mozart nos jardins do Hofburg

A Igreja de St. Sulpice, celebrizada pela importante participação no enredo do Código da Vinci, recebe hordas de turistas interessados em conferir as informações nem sempre corretas fornecidas pelo autor Dan Brown. O gnomon, instrumento astronômico localizado na extremidade norte do transepto, é o destino de todos, olvidando os belos murais do pintor romântico Delacroix ou as apresentações musicais, frequentes, como os recitais do  magnífico órgão, ou esporádicas, como o Réquiem de Verdi, motivo da nossa visita.

Foi uma noite emocionante. A imensa igreja barroca estava repleta. Só conseguimos nos acomodar atrás de uma enorme coluna, sem visão da orquestra, do coro e dos solistas, apesar de chegarmos com 20 minutos de antecedência. A música, no entanto, nos bastava. Em ambiente tão solene, ela era realmente divina, particularmente as passagens “Recordare”, “Ingemisco” e “Hostias”. 

O Gnomon, na igreja de St Sulpice

As antigas civilizações tinham consciência do poder da música, da sua capacidade de degradar ou fazer evoluir a alma humana. Infelizmente, pouco se questiona sobre o significado das música na sociedade atual. A qualidade deplorável, o ritmo frenético, alucinante e o barulho ensurdecedor do som dos bares, boates e ambientes ao ar livre fazem um mal maior ao espírito que ao próprio ouvido. Um réquiem para a música contemporânea, ou quem sabe um canto do cisne, viriam em boa hora.

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