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Por Benito Gorini 03/08/2023 - 08:53 Atualizado em 03/08/2023 - 09:11

Um sábado ensolarado do dia 25 de maio de 2013, guiando um grupo de familiares e amigos em Roma. Passamos o dia visitando o Vaticano, Castel Sant´Angelo, Piazza Navona, Pantheon e o Forum Romano. Chegamos no hotel no final do dia  e fomos atendidos por um recepcionista muito mal humorado. Por isso resolvi consultar a internet quando decidiram passar no Carrefour onde havia algumas promoções. Entramos nas Vans e nos dirigimos a um outlet nos arredores de Roma. Não encontramos o que estávamos procurando e resolvemos voltar pelo Grande Raccordo Anulare, o  anel viário de Roma, fugindo do caótico trânsito romano. Fizemos uma grande percurso e ainda pagamos pedágio. No retorno encontramos um Carrefour a duas quadras do hotel. Um dos maiores micos da viagem. No outro dia, circulamos por pontos turísticos menos conhecidos, como o Circo Massimo (cena da corrida de bigas em Ben-Hur, com Charlton Heston e direção de William Wyler), a Bocca della Verità (Audrey Hepburn e Gregory Peck em A Princesa e o Plebeu) e o Priorado dos Cavaleiros de Malta, no Aventino, de onde se visualiza a cúpula da Basílica de São Pedro através de um buraco de fechadura.

O que sobrou do “Circo Massimo”. Ao fundo as ruínas do Palatino, local dos palácios imperiais I Foto: Arquivo Pessoal
A Bocca della Verità na igreja de Santa Maria in Cosmedin I Foto: Arquivo Pessoal

 

A cúpula da Basílica de São Pedro vista pelo buraco da fechadura do Priorado dos Cavaleiros de Malta I Fonte: stradadeiparchi.it/san-pietro-dal-buco-della-serratura

Em seguida subimos a colina do Gianicolo para visitar os memoriais de Garibaldi e Anita, no local onde ocorreram grandes batalhas na Tomada de Roma, em 1849. Inicialmente bem sucedidos, os revolucionários foram finalmente derrotados com a chegada das tropas francesas, aliadas do papa Pio IX, que havia fugido para Gaeta. O jovem poeta Goffredo Mameli,  autor do hino italiano, recebeu um ferimento sem gravidade de baioneta,  que acabou infeccionando levando à amputação da perna. Em uma época anterior às vacinas e aos antibióticos   acabou não resistindo e morreu em julho, aos 21 anos de idade.  Anita Garibaldi, na fuga apressada e grávida de oito meses, morreu um mês depois nas proximidades de Ravenna, também muito jovem, aos 27 anos.

Na Igreja de San Luigi dei Francesi, atrás do Palazzo Madama, sede do Senado italiano e bem perto do Piazza Navona, encontra-se um memorial aos franceses mortos na batalha. A igreja também é famosa pelas obras-primas de Caravaggio, A Vocação de São Mateus, O Martírio de São Mateus e São Mateus e o Anjo.

A Vocação de São Mateus na Igreja de San Luigi dei Francesi, com os fantásticos efeitos de luz e sombra I Fonte: ilcentro.it

No final da tarde planejamos visitar a Piazza del Popolo, para visitar a Igreja de Santa Maria, local de outras obras magistrais de Caravaggio, A Crucificação de São Pedro e a Conversão de São Paulo, na Capella Cerasi (Dan Brown, autor de Anjos e Demônios, escolheu a Capella Chigi da igreja como local da morte de um cardeal). Esquecemos no entanto que era dia do clássico romano pela final da Copa da Itália, de grande importância por ser a primeira vez que as equipes se enfrentavam em uma final. A Lazio venceu por 1x0 e a comemoração pelo sexto título foi gigantesca, especialmente por evitar a décima conquista da rival Roma. Ficamos duas horas presos no engarrafamento e não conseguimos visitar a igreja. 

Micos, mas com boas história para contar.

Torcida da Lazio comemorando o sexto título da Copa da Itália I Foto: Arquivo Pessoal

 

Por Benito Gorini 27/07/2023 - 07:00

Um grande programa em muitas cidades é a visita a cemitérios, o que poderia ser considerado estranho em nosso país. Highgate em Londres, Staglieno em Gênova,  Cemitério Judeu em Praga, Zentralfriedhof em Viena, Arlington em Washington e Recoleta em Buenos Aires são alguns exemplos.  No Brasil existem visitas guiadas nos cemitérios da Consolação em São Paulo, São João Batista no Rio e São Miguel e Almas em Porto Alegre.   No artigo “A Calúnia” da semana passada (clique aqui para conferir), sobre o compositor Rossini, fiz referência ao Père-Lachaise, cemitério parisiense visitado por mais de 2 milhões de turistas a cada ano, célebre pela riqueza arquitetônica e pelos personagens históricos ali sepultados. 

Alan Kardec, fundador do espiritismo, Chopin, grande pianista polonês e compositor do período romântico, Marcel Proust, escritor que descreveu brilhantemente a “belle époque” em sua obra “Em Busca do Tempo Perdido”, Edith Piaf, a maior cantora popular da França, Moliére, grande ator e dramaturgo francês, todos repousam no Père-Lachaise.  Sarah  Bernhardt, atriz famosa e grande dama do teatro, o casal do cinema Yves Montand e Simone Signoret, Jim Morrison, líder do grupo The Doors, morto em 1971, figuram entre as celebridades do cemitério.

Túmulo de Chopin, sempre com muitas flores I Foto: Arquivo Pessoal

Além do conteúdo histórico, o acervo arquitetônico do Père-Lachaise é considerável. Elizabeth Demidoff, princesa russa que morreu em 1818, é homenageada com um templo clássico, George Rodenbach, poeta do século 19, é mostrado saindo da sepultura com o braço estendido e uma rosa na mão. O monumento ao escritor Oscar Wilde, que escandalizou os ingleses e foi obrigado a fugir para Paris onde morreu levando uma vida desregrada   e o columbário, espécie de muro com nichos que guarda as cinzas de muitas personalidades francesas, são também pontos de grande atração turística. 

Chama muito a atenção a estátua do jornalista Victor Noir, morto a tiros por Pierre Bonaparte, primo de Napoleão III. Dizem que a escultura de bronze estimula a fertilidade, fato observado pelo polimento e brilho do metal na região que corresponde aos órgãos genitais. 

Jacente de Victor Noir no Père Lachaise I Fonte: segredosdeparis.com

A próposito, a Abadia de Saint Denis, também em Paris e necrópole real francesa, abriga a maior coleção de tumbas e jacentes do mundo. Enfim, um programa diferente para quem deseja visitar Paris e pretende fugir do tradicional roteiro oferecido pelas operadoras. Vale a pena.    

Jacentes de Henrique II e Catarina de Medici, na Abadia de Saint-Denis I Foto: Arquivo Pessoal

 

Por Benito Gorini 20/07/2023 - 07:00

Gioachino Rossini foi um bon-vivant. Natural de Pesaro transferiu-se para a romântica Paris, a capital das artes no século XIX, onde obteve grande sucesso com sua música contagiante. Sua ópera mais conhecida é “O Barbeiro de Sevilha”, baseada na obra de Beaumarchais. Tive a oportunidade de assisti-la em New Haven, no estado norte americano de Connecticut, quando estagiei no serviço de oftalmologia da prestigiosa Yale, uma das maiores universidades do país.  A ária “La calunnia è um venticello” me chamou a atenção, pela descrição perfeita desta lamentável característica de seres humanos invejosos: “A calúnia é um como uma brisa, que parece gentil mas insensível e sutil ela começa a sussurrar; devagar, rasteira, em voz baixa, sibilando, vai rapidamente zumbindo nos ouvidos das pessoas; penetra nas cabeças e nos cérebros e saindo da boca a gritaria cresce e ganha força pouco a pouco”.  E depois de mais algumas considerações conclui dizendo: “A calúnia é uma brisa mas logo se transforma em tempestade e produz uma explosão como um tiro de canhão, um terremoto que faz você tremer; e o coitado do caluniado, abatido, pisoteado, sob público flagelo por grande sorte vai sobreviver”. O efeito torna-se ainda mais impressionante na voz grave do baixo, registro no qual a ária foi escrita. Rossini retirou-se precocemente do mundo da música e viveu muito tempo em Paris, curtindo a vida, recebendo os amigos e degustando um prato que ficou famoso, o “Tournedo Rossini”, um clássico da culinária francesa ( filé mignon  coberto com foie gras e servido com lâminas de trufas no molho de vinho). Faleceu em Paris em 1868 aos 78 anos e mais de 4000 pessoas compareceram ao seu funeral.  Foi sepultado no  Père Lachaise, ao lado de celebridades como Chopin, Oscar Wilde, Proust, Balzac, Delacroix, Pissaro, Modigliani, Edith Piaf e Jim Morrisson, entre centenas de personalidades do mundo da arte. Alan Kardec, o codificador do espiritismo, também está sepultado no famoso cemitério, que recebe mais de dois milhões de turistas todos os anos.

Memorial de Rossini no Père Lachaise I Foto: paris1900lartnouveau.com

Os restos mortais de Rossini foram mais tarde transladados para a Basílica de Santa Croce em Florença - o Panteão das Glórias Italianas -  onde repousa ao lado de Michelangelo, Maquiavel e Galileo Galilei.benito 

Basílica de Santa Croce em Florença | Foto: Divulgação
Tumbas de Galileo Galilei e Michelangelo na Basílica de Santa Croce | Fotos: Arquivo pessoal

Um cenotáfio, monumento funerário homenageando Dante Alighieri, também se encontra na igreja. Os florentinos tentaram a devolução da urna mortuária do autor da Divina Comédia, mas Ravenna respondeu: “Se não o quiseram em vida não o terão depois de morto”. Quanto a Leonardo da Vinci, nem ousaram fazer tal solicitação aos franceses. O genial artista toscano viveu seus últimos anos em Clos Lucé e repousa na Capela de Saint Hubert, no Castelo de Amboise, do Rei Francisco I.

Château du Clos Lucé, em Amboise I Foto: Arquivo pessoal

 

Por Benito Gorini 13/07/2023 - 07:00

O livro “O Segundo Diário Mínimo”, do escritor Umberto Eco, revela um lado novo e igualmente fascinante do romancista, mais conhecido pela obra-prima “O Nome da Rosa”, adaptada para o cinema com Sean Connery no papel principal. Escritas para uma seção de uma revista italiana, as crônicas reúnem observações sobre costumes, fantasias, ficção científica e paródias literárias. Um capítulo muito interessante, na forma de um jogo, procura imaginar de que maneira diversos personagens responderiam à pergunta “Como vai?” O leitor pode participar da brincadeira, tentando identificar os 32 personagens e entender a resposta, conferindo o resultado no final.

Ícaro: “Caí das nuvens”. Prometeu: “Roído”. Teseu: “Contanto que continuem me dando corda...”. Édipo: “Mamãe não tem reclamado”. Príapo: “Cacete”. Homero: “Não estou vendo nada”. Júlio César: “Sabe como é, a gente vive para os filhos”. Noé: “Olha só que mar”. Onan: “Satisfeito comigo mesmo”. Joana D´Arc: “Com muito calor”. São Tomás de Aquino: “Em suma, bem”. Erasmo: “Uma coisa de louco”. Copérnico: “Bem, graças aos céus”. Lucrécia Bórgia: “Quer tomar alguma coisa antes?”. Henrique VIII: “Eu estou bem, mas a minha mulher...”. Galileu: “Sempre girando bem”. Vivaldi: “Depende da estação”. Robespierre: “É de perder a cabeça”. Marat: “Louco por um banho”. Casanova: “Já estou chegando, meu bem”. Goethe: “A luz está fraca”. Beethoven: “O quê ?”. Proust: “Vamos dar tempo ao tempo”. Kafka: “Estou me sentindo um verme”. Madame Curie: “Ando radiante”. Drácula: “Hoje estou de veia”. Picasso: “É tudo uma questão de fase”. Freud: “Diga você”. Matusalém: “Vai-se levando”. Lázaro: “Sinto-me reviver”. Nero: “Olha só que luzes”. Napoleão: “Estou me sentindo meio ilhado”.

Se o seu número de acertos estiver entre 28 e 32: parabéns: você é fera. De 23 a 27: muito bom. De 18 a 22: bom. De 12 a 17: regular. De 6 a 11: ruim. De 0 a 5: péssimo. Você faz parte deste mundo?

Por Benito Gorini 06/07/2023 - 07:00

Assistindo a série "Medici, o Magnífico” me ocorreu de reler “Grandes Pecadores, Grandes Catedrais”, um de meus livros prediletos. No capítulo “Assassinato em Santa Maria del Fiore” o autor, Cesare Marchi, descreve detalhes da construção da catedral de Florença - iniciada em 1294 - e eventos que ali se passaram. Uma vultosa soma foi oferecida à família Bischeri, proprietária de um terreno onde estavam edificadas algumas casas, para iniciar a construção. A família, ávida por dinheiro, recusou a oferta várias vezes e por fim um incêndio, provavelmente doloso, destruiu toda a propriedade. A expressão “Non fare il Bischero” é utilizada até hoje pelos florentinos, significando que quando alguém tenta ser muito “furbo”, pode na realidade perder tudo.

O Duomo de Florença, com sua magnífica fachada em mármore branco de Carrara, vermelho de Siena e verde de Prato, foi testemunha de muitos fatos históricos. Os Pazzi, banqueiros importantes e rivais dos Medici, planejaram a morte de Lorenzo, o Magnífico e de seu irmão Giuliano, dentro da catedral. Giuliano foi apunhalado e não resistiu mas Lorenzo, mesmo ferido, conseguiu bravamente, a golpes de punhal, se refugiar na sacristia. E a reação foi violenta. No dia seguinte os corpos de  Salviati, arcebispo de Pisa, Francesco Pazzi e seu tio  Jacopo apareceram enforcados e expostos no Palazzo Vecchio, no centro histórico de Florença.

A fachada do Palazzo Vecchio, onde ficaram expostos os corpos dos envolvidos na Conspiração dos Pazzi I Foto: Arquivo Pessoal
Cópia do David, de Michelangelo, em frente ao Palazzo Vecchio I Foto: Arquivo Pessoal

O papa Sisto IV, conhecido como construtor da Capela Sistina, suspeito de ser cúmplice da trama, colocou Florença sob interdito, proibindo missas e comunhões. Além disso, solicitou ao seu aliado, o poderoso rei Ferdinando I de Nápoles, a tomada de Florença. Lorenzo, correndo grandes riscos, foi ao encontro de Ferdinando e conseguiu convencê-lo a não invadir Florença, salvando a cidade. Uma invasão era sinônimo de estupros, saques e depredações pelas tropas de mercenários, a exemplo do que ocorreu no saque de Roma em 1527 pelas tropas de Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano Germânico. Curiosamente o papa era Clemente VII, filho de Giuliano de Medici. No episódio, que chocou toda a Europa, morreram 147 guardas suíços, defendendo a vida do papa que fugiu para o Castel Sant´Angelo, pelo corredor que liga o vaticano ao castelo.

Sisto IV reconciliou-se com Lorenzo de Medici após alguns anos e contratou Botticelli,  Luca Signorelli e Ghirlandaio, pintores naturais da Toscana, para decorarem com afrescos as paredes da capela. Perugino, da Umbria, também participou dos trabalhos, que seriam coroados pelo magistral teto (Júlio II) e o Juízo Final (Paulo III), obras-primas de Michelangelo.

“Il Passetto”, o corredor que liga o Vaticano ao Castel Sant´Angelo I Foto: Arquivo Pessoal
O Castel Sant´Angelo I Foto: Arquivo Pessoal

E a guarda havia sido criada poucos anos antes por Júlio II - sobrinho de Sisto IV - que contratou Michelangelo para pintar o teto da capela construída pelo seu tio. O colorido uniforme da Guarda Suíça foi confeccionado a partir de um modelo atribuído ao grande pintor e escultor. Interessantes fatos interligados.

A Florença dos Medici

Palácio Medici-Riccardi
A Viagem dos Reis Magos, afresco de Benozzo Gozzoli na Capela dos Magos do Palácio Medici-Riccardi. Lorenzo lidera o cortejo, cavalgando o cavalo branco I Fonte: wikipedia.org
Igreja de San Lorenzo, com a Capela Medici ao fundo e o famoso mercado de rua
O Duomo de Florença com a cúpula de Bruneleschi e o campanário de Giotto
O mausoléu da Capela dos Medici
Palazzo Vecchio e Museu Uffizi
Corredor de Vasari e a Ponte Vecchio sobre o rio Arno

 

Por Benito Gorini 29/06/2023 - 07:00 Atualizado em 29/06/2023 - 12:44

Com este artigo concluímos a apresentação de sugestões explanadas na Coletânea Percepções, em 2008, algumas já executadas. Os três artigos precedentes podem ser acessados no blog do Portal 4oito. E, se quiser acompanhar “El Poble Espanyol”, uma sugestão recente, clique aqui.

“Com a proximidade da conclusão da duplicação da BR-101, torna-se prioritária a construção de uma Via Rápida para Criciúma, sob pena de perdermos terreno (com o perdão do trocadilho) para cidades circunvizinhas, com melhor localização geográfica em relação à rodovia federal. A transferência da rodoviária para as proximidades da Via Rápida e do Porto Seco e a conclusão do Anel Viário, concentrando a circulação de veículos pesados na periferia da cidade, contribuirão para reduzir um pouco os constantes engarrafamentos na área central da cidade, causados em grande parte por motoristas que insistem na sua utilização mesmo para trajetos curtos (reportem-se, por favor, ao artigo anterior).

BR-101 e o acesso à Via Rápida de Criciúma I Foto: Arquivo/4oito

A escolha de um local para o Centro de Controle de Zoonoses vem se transformando em uma novela interminável, com capítulos se sucedendo sem uma solução definitiva. Como nenhum bairro o quer nas suas proximidades, cabe ao poder público definir o local, após a necessária realização de estudos técnicos, assim como ocorreu com a penitenciária. O que é inegável é a urgência da instalação do CCZ, mas não nos moldes propostos em uma reunião na Prefeitura Municipal, mais um extermínio que um verdadeiro controle da população animal. Através de castrações, doações, campanhas de conscientização e participação das pessoas, controlando a população de seus cães e cooperando com o poder público, em pouco tempo se resolveria o grave problema dos cães de rua na cidade. Como agravante podemos citar o abandono de animais, crime, de acordo com o artigo 32 da Lei Federal nº 9605/98, cometido por indivíduos sem compaixão que merecem o nosso desprezo, repúdio e repulsa. Quanto aos veículos de tração animal, urge uma resolução sensata, que preserve o “ganha-pão” dos mais carentes, mas puna com rigor os maus-tratos aos pobres animais (crime, de acordo com a mesma lei anterior), conduzidos por crianças, adolescentes e adultos sem a menor consideração por quem lhes garante o direito à sobrevivência. 

Núcleo de Bem-Estar Animal de Criciúma I Foto: Arquivo/4oito

Por último, mas não menos importante, a tentativa de modificar os conceitos e mentes dos políticos de toda a Região Sul do Estado. Projetos importantes para o desenvolvimento regional deveriam ser abraçados por todos, com o apoio da Amrec, Amurel e Amesc, independente de cores partidárias ou ideológicas, que, diga-se de passagem, é o que menos interessa aos partidos, preocupados unicamente com o fisiologismo. A preocupação em ser “o pai da criança” tem causado sérios entraves para a efetiva execução dos projetos, com óbvias implicações de cunho eleitoral. Esqueçamos as divergências e problemas pessoais. Elevemos nosso pensamento para esferas mais altas, priorizando o bem-estar da comunidade. Sigamos os ensinamentos contidos nos afrescos de Ambrogio Lorenzetti “O Bom e o Mau Governo na Cidade e no Campo”, estampados nas paredes do Palácio Público de Siena, na magnífica Praça do Campo. Em um dos painéis notam-se os efeitos de uma boa administração, como grandes colheitas, comércio ativo, a construção de casas e a felicidade do povo. No outro, “O Mau Governo”, os crimes, as doenças e as pragas predominam, condenando os governantes ao inferno pelo sofrimento imposto aos seus súditos. As obras de arte estavam expostas no palácio para lembrar aos representantes do povo a sua enorme responsabilidade no desempenho de suas funções, bastante pertinentes para este ano (2008) de eleições municipais.”

A famosa Corrida do Palio na Praça do Campo, em frente ao Palácio Público de Siena I Foto: encantosdaitalia.com

 

Por Benito Gorini 22/06/2023 - 07:00

Nas duas semanas anteriores, publicamos a introdução e a primeira parte de um artigo escrito para o volume V da Coletânea Percepções em 2008. Podem conferir clicando aqui e aqui. Vamos dar continuidade às sugestões.

“A Maria-Fumaça que percorre os municípios de Carlos Barbosa e Bento Gonçalves, no vizinho estado do Rio Grande do Sul, atrai turistas de todo o Brasil. Temos todas as condições técnicas para implantar um modelo similar, que poderia ser chamado de Trem da Cultura, com destino a Tubarão ou Urussanga. Nos diversos vagões poderiam ser desenvolvidas atividades nas áreas da música, literatura, breves peças teatrais, educação ambiental e do trânsito, por exemplo. As antigas estações, restauradas serviriam de palco para apresentações diversas e comercialização de produtos e artesanatos locais, viabilizadas por parcerias entre as prefeituras envolvidas no projeto e a Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina. O exemplo já começou a ser dado por Içara, que revitalizou um outrora feio e abandonado espaço às margens da ferrovia.

A Maria Fumaça na rota Bento Gonçalves - Garibaldi | Foto: Carlos Barbosa

A preservação do Morro do Céu, ainda livre da sanha empresarial, se faz necessária. A construção existente no acesso principal poderia servir de portal para atividades ligadas ao meio ambiente, ao lazer e a cultura. O relevo acidentado torna o local propício para instalação de uma pequena estrutura, nos moldes do enorme anfiteatro romano erigido na colina de Fourvière, em Lyon, centro da gastronomia francesa. Diversos eventos poderiam ser ali realizados, como apresentações musicais, peças teatrais, espetáculos de dança e até mesmo palestras enfatizando a educação ambiental. A ocupação responsável do local, com vigilância cuidadosa de ONGs ligadas ao meio ambiente, fiscalização da prefeitura municipal e respaldo legal do ministério público, que exerce importante atividade de controle dos graves danos ambientais da nossa região, certamente iria impedir maior degradação de um dos “pulmões verdes” da área central de nossa cidade. 

O Teatro Romano na Colina de Fourvière, em Lyon I Fonte: itinari.com

Cidades importantes como Paris, Barcelona, Sevilha e Estocolmo tem seguido o exemplo da moderna e inovadora Amsterdam, com a sua surpreendente utilização de bicicletas. Em Paris foi criado o projeto Velib, com a ligação das bicicletas ao metrô. Na minha última visita à cidade, em maio de 2008, impressionou-me o número de bicicletas em circulação utilizando ciclovias e faixas reservadas aos ônibus, com total respeito de todos os veículos.  Os ciclistas têm preferência na sua faixa de circulação e são protegidos legalmente, na eventualidade de qualquer acidente, até mesmo com pedestres. Em Criciúma, infelizmente, privilegiamos os automóveis em detrimento do eficiente transporte público, pelo menos no eixo da Avenida Centenário, entre os terminais da Próspera e do Pinheirinho. As ciclovias poderiam ser ampliadas, completando o incipiente trajeto entre a Unesc e Santa Luzia. O centro da cidade deveria ser reservado exclusivamente para pedestres, com efeitos salutares tanto na redução de emissão de poluentes como o bem-estar físico das pessoas, que seriam obrigadas a se exercitarem, com grandes benefícios cardiocirculatórios. 

As “Velib” (vélo avec liberté), estacionadas sempre próximas às estações de metrô I Fonte: leparisien.fr

 

Por Benito Gorini 16/06/2023 - 08:36 Atualizado em 16/06/2023 - 08:50

Na semana passada, fizemos a introdução de um artigo publicado na Coletânea Percepções. Podem conferir clicando aqui. Vamos dar continuidade apresentando as sugestões:

“No coração de Criciúma, na Praça Nereu Ramos, dispomos de um excelente local para o desenvolvimento de atividades culturais, atualmente na ociosidade. Trata-se da Casa de Cultura Neusa Nunes Vieira, local ideal para abrigar exposições temporárias, biblioteca e um centro de informações turísticas e culturais. Além disso, poderia ser criada uma agenda com programação anual sobre as diversas vertentes da arte, como escultura, arquitetura, pintura, música, teatro, literatura, cinema, tradição e folclore, acrescidas de história e turismo. Os eventos, na forma de apresentações audiovisuais, poderiam ser mensais e em dia específico, facilitando a divulgação e consolidação, a exemplo do que já vem ocorrendo com algumas atividades culturais da Unesc. A implantação de um centro de informações turísticas do sul catarinense poderia trazer dividendos para Criciúma. A sua posição de polo regional, com boas opções gastronômicas, pujante comércio e rede hoteleira adequada, poderia transformá-la em ponto de partida para excursões por cidades circunvizinhas.

Casa de Cultura Neusa Nunes Vieira, tombada pelo Patrimônio Histórico I Fonte: visitecriciuma.com.br

A revitalização da Mina Modelo, uma das poucas atrações turísticas da cidade, com a criação do museu do carvão e o aperfeiçoamento do “passeio de trenzinho”, a exemplo do que ocorre nas labirínticas caves que serpenteiam por todo o subsolo de Reims e Epernay, na região de Champagne, na França. A Pieper Heidsick, importante produtora de champanhe, introduziu um passeio em um veículo de forma circular para seis pessoas, sobre trilhos, que percorre boa parte das caves, fornecendo informações sobre o processo de produção do champanhe. Poderíamos copiar a ideia, principalmente se houver a participação das carboníferas, que têm a obrigação de realizar medidas compensatórias pelo grave passivo ambiental provocado na região.

Mina de Visitação Octávio Fontana I Crédito: Portal 4oito

O Criciúma Esporte Clube é motivo de orgulho de todo o sul catarinense, tendo divulgado o nome da cidade no Brasil e até no exterior. A paixão pelo tigre, no entanto, acabou monopolizando as atenções para o futebol profissional, relegando o esporte amador a uma posição subalterna, evidenciada pela vexatória participação nos jogos abertos. Uma cidade com o potencial de Criciúma não pode classificar-se, sistematicamente, de forma tão vergonhosa. Algo está errado e uma solução precisa ser encontrada. Como sugestão, por que não integrar os profissionais de educação física de todo o município, criando um planejamento anual baseado em modalidade esportivas passíveis de serem desenvolvidas nas instituições públicas e privadas? Cada professor teria a sua planilha, com o desempenho dos alunos/atletas. Em pouco tempo teríamos uma relação dos mais aptos em cada modalidade, possibilitando o treinamento em centros específicos para desenvolver as potencialidades e habilidades individuais. Os esportes coletivos poderiam ser patrocinados por diversas empresas e instituições, a exemplo do que já ocorre com algumas modalidades.

Criciúma campeão da Copa do Brasil 1991 I Foto : Arquivo Portal 4oito

Na próxima semana, daremos continuidade à série de artigos, com o Desperta Criciúma 3.

Tags: blog Criciúma

Por Benito Gorini 08/06/2023 - 10:00 Atualizado em 08/06/2023 - 10:31

O professor e escritor Ivonilson Magalhães idealizou a Coletânea Percepções, uma série de cinco livros privilegiando escritores locais. Participei de todas as edições e no último volume com “Desperta Criciúma”. O artigo descreve sugestões para a cidade, muitas felizmente realizadas e outras que nem havia pensado como o Parque Astronômico Albert Einstein e o Parque dos Imigrantes no Rio Maina. No blog vamos dividir o assunto em quatro publicações, tendo como fonte o artigo original, de dezembro de 2008. A seguir o primeiro deles:

“Os nossos antepassados emigraram para o Brasil em situação de grave penúria, motivada pela instabilidade política, religiosa e econômica decorrente das lutas pela unificação da Itália, da perda do poder temporal da igreja e do desemprego. Aqui, I nostri antenati enfrentaram toda a sorte de problemas, transformando-se em autênticos desbravadores. Com a força de seu braços, a criatividade e a ousadia empresarial forneceram o arcabouço para o enorme crescimento econômico e material da nossa região. Este importante legado não se fez acompanhar do desejado desenvolvimento cultural, em virtude das limitadas condições socioculturais de nossos colonizadores. Esta falta de harmonia no crescimento de nossa cidade persiste até hoje, bem evidenciada pela supremacia dos transitórios, fúteis e superficiais valores matérias em detrimento de opções mais elevadas do espírito humano. Já é hora, portanto, de despertar para uma realidade mais condizente com a nova mentalidade que desponta no mundo, destinando uma maior atenção para a cultura, o lazer, a consciência ambiental e a educação no trânsito.

Tendo realizado várias viagens de cunho turístico-cultural pelo Velho Mundo, tive a oportunidade de beber em fontes que infelizmente os nossos antepassados não tiveram a ventura de desfrutar. Sinto-me, portanto, capacitado para sugerir algumas ações passíveis de serem implantadas em nosso meio, com a participação de instituições públicas e privadas, sem a necessidade de investir vultosos recursos.”

Parque Astronômico Albert Einstein I Foto: Giovana Bodignon, portal 4oito
Parque dos Imigrantes I Fonte : Portal 4oito - Decom

Na próxima semana continuamos com o artigo, dando início às sugestões.

Por Benito Gorini 01/06/2023 - 07:00

Estive em Porto Alegre no último sábado, dia 27 de maio, depois de alguns anos sem visitar a capital gaúcha. Fiquei hospedado no Centro Histórico, próximo aos museus e teatros para acompanhar a intensa agenda de eventos. A exposição “Lupi, pode entrar que a casa é tua”, no Farol Santander, a peça “Bárbara” com Marisa Orth no Teatro São Pedro, a Sinfonia Titã, de Mahler, na Casa da Ospa e “Sabor e Elegância”, a arte de harmonização de queijos e vinhos na Casa de Cultura Mário Quinta. Não poderia faltar uma visita ao Mercado Público e degustar um delicioso bacalhau no tradicional Restaurante Naval, de 1907. Mas o que mais me impressionou foi o Cais Embarcadero, a área revitalizada nos outrora feios galpões do porto da Avenida Mauá.

E lá nos deparamos com outro evento o “Vinho no Cais”, com a opção de escolha de sete vinhos. Porto Alegre finalmente seguiu o exemplo de grandes cidades que transformaram áreas decadentes, degradadas e abandonadas - como velhas fábricas, instalações portuárias e armazéns tomados pela sujeira e criminalidade - em edifícios residenciais, bares, restaurantes, hotéis, parques, museus e centros de convenções. Essas mudanças, aliadas à despoluição dos rios, têm atraído a indústria do turismo, não poluente e grande geradora de empregos. Cidades como Londres, Hamburgo e Roterdã transformaram suas feias docas em belos espaços turísticos. A construção do Museu Guggenheim mudou a fachada de Bilbao, feioso polo siderúrgico e de estaleiros da Espanha. Outros exemplos de revitalização são Bercy Village em Paris, Parque das Nações em Lisboa, Navigli em Milão, Cidade das Artes e Ciências em Valência, Puerto Madero em Buenos Aires e Museu do Amanhã no Rio de Janeiro.

O Oceanário de Lisboa, um dos maiores do mundo, no Parque da Nações I Foto: Arquivo Pessoal

E no domingo, fechamos o fim de semana circulando pelo “Brique da Redenção”, outro passeio imperdível. E o amigo e leitor assíduo Cláudio Miraglia me pediu para falar sobre o imortal tricolor. Então vamos lá. Na exposição no Santander estavam a letra, a música do Hino do Grêmio e uma foto do autor, o mestre Lupi, vestindo com orgulho a camisa azul, preta e branca. E também a informação de que o “até a pé nós iremos” era uma referência a uma greve dos transportes, que obrigou os fanáticos torcedores a irem dessa forma ao Olímpico. No blog “Os Bondes de Porto Alegre”, publicado em 08/12/2022, e que você pode ler clicando aqui, me refiro a saudosa utilização dos bondes nos jogos do Grêmio.

O Mercado Público de Porto Alegre, bem melhor depois da revitalização. Os bondes, infelizmente, não existem mais I Foto: Foster M. Palmer

 

Por Benito Gorini 18/05/2023 - 16:25 Atualizado em 18/05/2023 - 17:50

Tosca - não confundir com o jogador de efêmera passagem pelo Criciúma - ópera de Puccini, é a um tempo viagem por árias e músicas contagiantes e passeio por alguns pontos turísticos e históricos de Roma.  A sua temática é romântica mas principalmente trágica, como muitas óperas, e também tem momentos de erotismo, como explanados no blog  “O  erotismo na ópera”.

O primeiro ato ocorre na Igreja de Sant’Andrea della Valle, bem próxima à Piazza Navona - com a bela Fonte dos Quatro Rios de Bernini - e ao Campo dei Fiori, animado mercado de rua dos dias atuais mas de triste passado. Ali foi condenado à fogueira o filósofo italiano Giordano Bruno. Na ópera, o pintor Mário Cavaradossi está concluindo o afresco da Madona e canta a bela ária “Recondita Armonia”, em que compara a beleza da Virgem pintada com a da sua amante Tosca, cantora lírica. O dueto “Mario, Mario”, que se continua até o belo final “Ah, quegli occhi” também é interessante.

A Igreja de Sant´Andrea della Valle, da ordem dos Teatinos, com a fonte em frente I Fonte: teatinos.org

No segundo ato Tosca canta no Palácio Farnese, atual sede da Embaixada da França, construído pelo papa Paulo III (Alessandro Farnese) com projeto de Antonio da Sangallo e Michelangelo. A ária “Vissi  d´Arte” é o ponto culminante deste ato, onde Tosca, sempre dedicada à arte e à religião, lamenta a sua sorte de ter que se entregar aos desejos sexuais do poderoso Scarpia para salvar o seu amado Mário. A ária é considerada uma das mais belas de todo o repertório operístico para soprano. Na sequência da trama Tosca acaba matando Scarpia, salvando sua honra mas selando o seu destino.

O Palácio e a Praça Farnese, com a bandeira da França e da União Europeia e as belas fontes I Fonte: artisticadventureofmankind.worpress.com

No terceiro e último ato, Tosca encontra-se com Mário, prisioneiro no Castel Sant´Angelo por ter auxiliado um fugitivo político. A ária “E lucevan le stelle” antecipa o final trágico, bastante frequente no mundo da ópera: o pintor é executado e Tosca suicida-se.

O Castel Sant´Angelo com a ponte do mesmo nome sobre o rio Tibre I Fonte: Romehints.com

O castelo foi construído pelo imperador Adriano para seu mausoléu mas durante a sua história foi prisão, palácio e abrigo de papas em conflito com os imperadores do Sacro Império Romano-Germânico. Em 1527 as tropas de Carlos V invadiram Roma e o papa Clemente VII, membro da famosa família Medici, fugiu para o castelo através de um corredor que o liga aos aposentos papais. Neste episódio, protegendo a vida do papa, morreram 107 guardas suíços, contratados poucos anos antes pelo papa Júlio II (Giuliano della Rovere). Os coloridos uniformes da guarda, mantidos inalterados até hoje, foram concebidos por Michelangelo, que estava pintando o teto da Capela Sistina. O livro Anjos e Demônios, de Dan Brown, descreve o enorme Castel Sant’Angelo e o corredor, conhecido como “Il Passetto” pelos romanos. 

 

Por Benito Gorini 11/05/2023 - 10:00 Atualizado em 11/05/2023 - 13:05

Antônio Vivaldi, nascido em 1678, era conhecido em Veneza como o “padre ruivo”. Suas extraordinárias improvisações ao violino e os magníficos saraus das meninas do conservatório do “Ospedale della  Pietà”, sob sua direção, atraiam os amantes da música de toda a Europa.

A Igreja de Santa Maria della Pietà e o Hotel Metropole, onde se localizava a escola de canto do Ospedalle della Pietà, na Riva degli Schiavoni I Fonte: Visitvenezia.eu

A atitude pouco ortodoxa do músico chocava a sociedade veneziana, descontente com um sacerdote que quase não rezava missa e vivia cercado de mulheres. No entanto, Vivaldi tinha muito prestígio entre os poderosos da “Sereníssima”,  título que a cidade ostentava com orgulho desde a Idade Média.  Quando os soberanos ou embaixadores estrangeiros visitavam Veneza, eram recebidos no Palácio dos Doges, ao lado da Praça São Marcos. A seguir eram embarcados em uma gôndola ricamente decorada, navegando em um curto percurso nas tranquilas águas da laguna até a “Pietà”, para ouvir um concerto do grande compositor.

A sua obra mais conhecida, “As Quatro Estações”, escrita para quarteto de cordas (violino, viola, violoncelo e contrabaixo) e cravo, representava as forças da natureza, as atividades no campo e os eventos sazonais. O popular primeiro movimento (allegro) da “PRIMAVERA” evoca o canto dos pássaros, felizes com a chegada da nova estação. O vigoroso terceiro movimento (presto) do “VERÃO” nos mostra a tempestade, com seus raios, trovões e chuva destruindo as plantações. O melancólico segundo movimento (adagio molto) do “OUTONO”, único momento da obra em que o cravo se destaca da orquestra, simula o sono do camponês, descansando embriagado após o labor da colheita. No belo segundo movimento (largo) do “INVERNO”, os violinos imitam o ruído da chuva em um lindo “pizziccatto”, forma de execução em que as cordas, ao invés de serem friccionadas pelo arco, são dedilhadas.

Há alguns anos a Camerata de Florianópolis, sob a regência do maestro Jeferson Della Rocca  apresentou As Quatro Estações no Teatro Elias Angeloni. A plateia que lotava o teatro aplaudiu com entusiasmo a apresentação da Camerata, provando que a noite de Domingo pode ser uma boa opção para espetáculos na cidade.  E em dezembro passado a Orquestra Sinfônica de Santa Catarina, regida pelo maestro José Nilo do Valle,  apresentou “A Cantata da Luz”, belo espetáculo na Unesc  com a música de Vivaldi incluída no programa.
 

Por Benito Gorini 04/05/2023 - 07:00

Madamina,  il  catalogo è questo, 
                             delle belle que amo il padron mio"

A ópera, embora utilize com freqüência obras trágicas na sua concepção, também possui momentos cômicos, usados nas óperas bufas como “O Barbeiro de Sevilha”, e outros bastante descontraídos e até eróticos, onde a conquista amorosa desempenha um papel importante, como La Bohème de Puccini, Rigoletto de Verdi e o Don Giovanni de Mozart. A ópera do genial compositor austríaco, com libreto de Lorenzo da Ponte, se passa também em Sevilha, no século XVII e conta as aventuras e desventuras do dissoluto Don Giovanni (Don Juan), revelando o seu fantástico desempenho sexual, bem evidente na famosa ária do catálogo, cantada por seu criado Leporello: “senhora, este é o catálogo das mulheres que o meu patrão amou... Na Itália, seiscentas e quarenta, na Alemanha, duzentas e trinta e uma, cem na França, noventa e uma na Turquia, mas na Espanha já são mil e três. Entre elas, camponesas, criadas, citadinas, condessas, baronesas, marquesas e princesas. Há mulheres de todas as classes, de todos os tipos e idades”. Concluindo a ária, faz comentários sobre os atributos das mulheres: “da loura costuma elogiar a gentileza, da morena a constância, da grisalha a doçura. No inverno prefere a gordinha, no verão a mais magrinha. A alta é majestosa, a pequena é encantadora. As velhas, conquista só pelo prazer de por na lista. A sua paixão predominante é pela jovem principiante. Não lhe interessa que seja rica, feia ou bela, pois desde que use saias, já sabes o que ele faz”.

Madamina, conhecida como Ária do Catálogo I Crédito: Glyndebourne

Já o incorrigível Duque de Mântua, grande conquistador do Rigoletto, não tem a menor consideração pelas mulheres, usando-as como mero objetos da sua volúpia, como bem demonstram as árias “Questa o Quella” (“esta ou aquela, para mim são todas iguais”) ou a conhecida “La Donna è  Mobile” (“as mulheres são volúveis como plumas ao vento, mudam de ideia e de pensamento”). 

La Donna è Mobile, ária da ópera Rigoletto I Crédito: Royal Opera House 

A ária “Quando m´en vo soleta per la via”, também conhecida como valsa da Musetta (que rima mais apropriada para o assunto em pauta) da ópera La Bohème, também revela o lado erótico das óperas: “Quando eu vou sozinha pela rua as pessoas param e olham, e a minha beleza todos examinam da cabeça aos pés”. 

Quando m´en vo soletta per la via I Fonte: www.medici – Anna Netrebko

Apesar do caráter machista, as duas óperas fazem parte dos programas dos melhores teatros de todo o mundo, sendo eternizadas na voz de grandes celebridades do canto lírico.

Por Benito Gorini 27/04/2023 - 07:47 Atualizado em 27/04/2023 - 07:58

O Cultura Acic, projeto idealizado há 7 anos,  surgiu com o objetivo de promover atividades culturais populares e eruditas, no intuito de aprimorar o conhecimento e possibilitar  o acesso gratuito a eventos só disponíveis nos grandes centros. Modesto a princípio, tomou grandes proporções e hoje  sem dúvida situa-se entre os maiores promotores da cultura na nossa região e o único desenvolvido por uma entidade empresarial em Santa Catarina. O exemplo foi o evento realizado na noite de gala do feriado do último dia 21 de abril. Embora não fazendo parte da agenda de eventos organizado pelo Cultura Acic, provou que a instituição dispõe hoje de excelente estrutura para espetáculos. O auditório Jaime Zanatta estava completamente lotado, com um público encantado com a apresentação do Grupo Folclórico Orzel Bialy e do Conjunto de Canto e Dança da Escola Politécnica de Varsóvia. Uma noite memorável  só viabilizada pela parceira entre a Fundação Cultural de Criciúma, a Fundação Municipal de Esportes, o Grupo Folclórico Orzel Bialy e a Acic.
 

Foto: Deize Felisberto

 

Foto: Deize Felisberto
Foto: Deize Felisberto

E os amantes da cultura terão  a última  oportunidade de visitar a exposição “Juarez Machado: cidadão do mundo”.  As 20 gravuras produzidas pelo artista em Paris e no Rio de Janeiro estarão expostas na Galeria de Arte da Acic até o dia 29 de abril. 

E no dia 04 de maio teremos a abertura da mostra “Portais”, em busca do  objetivo primordial do Projeto Cultura Acic que é tornar possível o acesso de novos talentos - principalmente de nossa região - ao mundo das artes, sem no entanto  se olvidar de artistas consagrados.

Hoje às 20:00 horas abertura da temporada de espetáculos  da Camerata di Venezia no Teatro Municipal de Nova Veneza, com apoio da Acic.  Imperdível.

Por Benito Gorini 20/04/2023 - 07:00 Atualizado em 20/04/2023 - 10:47

Os mercenários dos séculos XIII a XV, chamados de condottieri, poderiam ser comparados aos políticos de hoje em dia, guardadas as devidas proporções. Eram contratados por reis, nobres ou pelo clero e não tinham o menor sentimento de fidelidade, oferecendo os seus serviços àqueles que lhes proporcionassem as melhores vantagens econômicas, políticas ou sociais. Proliferaram principalmente na Itália, que não possuía um sistema de cavaleiros feudais tão desenvolvido quanto Inglaterra e França, sendo reverenciados e homenageados em várias cidades, apesar das atrocidades que praticavam.

O condottiero inglês John Hawkwood  estava  “ocioso” após o Tratado de Bretigny -assinado em 1360 e que cessara temporariamente as hostilidades entre a França e a Inglaterra na guerra dos cem anos -  e ofereceu seus serviços aos Visconti de Milão, lutando contra Florença. Os florentinos, após algumas derrotas, o contrataram a peso de ouro e em “reconhecimento” o pintor Uccello  o retratou em um afresco na catedral de “Santa Maria del Fiore”, o famoso Duomo de Florença. 

Sir John Hawkwood, afresco de Uccello no Duomo de Florença I Crédito: Wikipedia

No entanto, as obras mais famosas de Uccello se referem “A Batalha de San Romano”, homenageando Niccolò da Tolentino, que liderou Florença na sua vitória contra a eterna rival Siena.  

A Batalha de San Romano, Paolo Uccello, National Gallery, Londres I Crédito: Wikipedia
A Batalha de San Romano, Paolo Uccello, Galleria degli Uffizi, Florença I Crédito: Wikipedia


Em frente à basílica de Santo Antônio, em Pádua, encontra-se a estátua equestre do mercenário Erasmo da Narni, chamado de Gattamelatta, obra magistral de Donatello, a maior peça fundida em bronze da época, resgatando a arte da escultura que estava adormecida desde o Império Romano.

O Condottiero Gattamelata, no Duomo de Pádua, obra de Donatello I Fonte : www.Donatello.net

Em Bérgamo, ao lado da catedral  Santa Maria Maggiore, o condottiero  Bartolomeo Colleoni contratou o arquiteto Amadeo para construir a sua capela, decorada com afrescos de Tiepolo.  Foi homenageado pelos venezianos, a quem prestava serviços, com uma magnífica estátua equestre, obra do escultor Verrocchio, mestre de Leonardo da Vinci. Fora prometido a Colleoni a colocação de sua estátua na praça São Marcos, no coração da bela Veneza. O Doge, no entanto, fez erguer a escultura em frente à igreja de São João e Paulo ( conhecida como Zanipolo pelos venezianos ), ao lado do Hospital São Marcos, cumprindo parcialmente sua promessa (tutti buona gente). 

A Capella Colleoni, na magnífica Piazza Duomo de Bérgamo I Crédito: Visit Bergamo
Escultura equestre de Bartolomeo Colleoni, obra de Verrocchio I Crédito: Britannica Kids

Os mercenários conservaram seu nome na história e apesar da glória que tiveram em sua época foram detestados pela maioria de seus contemporâneos,  a quem infligiram  enormes “malvadezas” (só para lembrar de um político famoso já falecido).

Por Benito Gorini 13/04/2023 - 05:30

Quando o Sr. Edson Arantes do Nascimento chegou ao céu foi recebido por São Pedro que o encaminhou ao purgatório por deslizes cometidos em tempos passados. No entanto foi informado que se tratava de Pelé e prontamente permitiu o acesso, curvando-se em sinal de respeito. Não poderia prescindir de ter o rei da bola no seu time. Agora o maior craque da história do futebol iria se somar à constelação de astros brasileiros, formando uma esquadra imbatível: o grande goleiro Gilmar, Carlos Alberto, Bellini, Mauro e Nilton Santos na zaga; Zito e Didi no meio-campo; Garrincha, Pelé, Alcindo e Canhoteiro, que Pelé considerava um de seus maiores ídolos, juntamente com Zizinho. Tomei a liberdade de incluir o nome de Alcindo, embora talvez não esteja à altura dos demais jogadores. Mas não poderia perder a oportunidade de homenagear o imortal tricolor gaúcho. O “Bugre”, artilheiro do Grêmio, participou da máquina tricolor no heptacampeonato entre 1962-68. Uma das melhores formações era Arlindo, Altemir, Airton, Áureo e Ortunho; Cléo e Sérgio Lopes; Vieira, Joãozinho, Alcindo e Volmir. Não tive a oportunidade de ver o grande Airton jogar.

Também torcia pelo Santos e até hoje lembro de uma escalação da década de 70, quando morava em Porto Alegre : Cejas, Carlos Alberto, Ramos Delgado, Joel e Rildo; Clodoaldo e Lima; Manoel Maria, Douglas, Pelé e Edu. Não cheguei a ver as tabelinhas lendárias da dupla Coutinho-Pelé, mas Pelé sozinho era fantástico. Não perdia os jogos no Olímpico e no recém inaugurado Beira-Rio e só pude comemorar o título do Grêmio em 1977, quando estava saindo de Porto Alegre. Oito anos de sofrimento. Mas ao menos tinha o consolo de ver o conterrâneo Valdomiro fazer sucesso no colorado.

A Federação Catarinense de Futebol homenageou Pelé com a taça da Recopa 2023, título conquistado pelo Brusque.

E para finalizar, parabéns ao Criciúma pela conquista do 11º título estadual.

Grêmio pentacampeão gaúcho 1966 I Fonte: Gremiopedia.com
Santos, campeão mundial de 1962 ao derrotar o Benfica por 5x2 em Lisboa I Crédito: Rede Jfm

Benfica 2 x 5 Santos em Lisboa, com exibição de gala de Pelé I Crédito: ASSOPHIS Wesley Miranda

Por Benito Gorini 06/04/2023 - 09:50 Atualizado em 06/04/2023 - 10:12

Almas vencidas, noites perdidas, sombras bizarras 
Na Mouraria canta um rufia, choram guitarras 
Amor e ciúme, cinzas e lume, dor e pecado
Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”

Do latim “fatum”, que significa destino, geralmente inexorável. É por isso que o fado e tão triste e melancólico. Amor, morte e saudade são os temas principais do fado.

Na nossa primeira viagem a Portugal, há muitos anos, após subir a Mouraria no “elétrico 28” e visitar o Castelo de São Jorge, descemos a íngreme ladeira da Alfama e fomos jantar no famoso “Parreirinha de Alfama”. Estava então no auge, liderado pela proprietária e cantora Argentina Santos. Foi uma noite memorável, com um excelente bacalhau acompanhado por um bom vinho “nacional” e pelos belos fados. Em outras viagens não voltamos mais ao Parreirinha e após a morte de Argentina não sei se o padrão se mantém. Mas só o ambiente romântico da Alfama  já vale a visita.

A vista do Tejo ao descer a ladeira da Alfama I Foto: Acervo pessoal
A Torre de Belém, local de partida de barcos portugueses. Muitos nunca retornaram e serviram de inspiração para os fados I Foto: Arquivo Pessoal

Alfama e Mouraria ainda hoje são bairros onde se preserva a tradição mas o Bairro Alto, no centro de Lisboa, conta com várias casas de fado, algumas verdadeiras armadilhas para turistas. A moçambicana Mariza, embora fiel ao repertório fadista, trouxe modificações ao espetáculo, dançando e movimentando-se pelo palco,  ao contrário da estática forma tradicional e intimista de cantar o fado.

Lisboa e Porto se destacam como grandes centros do fado e em Coimbra os acadêmicos da famosa universidade tem uma maneira diferente de interpretação. Saem em grupos todos vestidos de negro a cantar o fado pelas estreitas ruas da cidade. 

Sugestões

  • Tudo isso é fado, com Cristina Branco;
  • Foi Deus,  Ai Mouraria, Uma Casa Portuguesa e Coimbra,  com a inigualável Amália Rodrigues;
  • Lisboa não sejas francesa, Barco Negro e Oiça Lá ó Sr Vinho, com Mariza;
  • Meu amor é marinheiro, com Gisela João e o grupo Atlantihda;
  • Os Argonautas, música de Caetano Veloso baseado em Fernando Pessoa, com Elis Regina;
  • Mariza no Programa do Jô, cantando Cadeira Vazia,  de Lupicínio Rodrigues.
Por Benito Gorini 29/03/2023 - 11:40 Atualizado em 29/03/2023 - 12:28

O programa comandado por Adelor Lessa, com a presença do Dr Renato Matos, do Secretário da Saúde Acélio Casagrande e de Samuel Bucco, gerente de Vigilância em Saúde de Criciúma, foi muito revelador. Os profissionais da saúde exerceram atividade fundamental na orientação da população, informando sobre importantes medidas sanitárias e combatendo o obscurantismo e as fake news. Foram alvo de fortes críticas, mas se mantiveram firmes na defesa das medidas recomendadas pela ciência e na contraindicação de tratamentos com medicamentos totalmente ineficazes. Salvaram muitas vidas com essas medidas e principalmente com o apoio incondicional às vacinas. Adelor acertou "na mosca" quando escreveu no seu blog sobre o compromisso do Portal 4oito e da Som Maior FM com as pessoas: "Mas por causa disso fomos atacados, xingados e agredidos. Porque misturaram vírus e pandemia com política". Leitura perfeita. 

E fiquei estarrecido quando vi colegas médicos combatendo as vacinas. Houve queda drástica dos óbitos após a vacinação.

Também emiti minha opinião sobre o assunto. No artigo "Cambalache" publicado no blog do portal 4oito em outubro de 2022, escrevi: "É uma crítica explícita à corrupção do século XX, mas a grave crise institucional que estamos vivendo com o congresso legislando em causa própria, o ativismo político do judiciário e os desmandos do executivo, o tornam muito atual. Particularmente, agora, onde teremos que optar entre um candidato que após ser condenado em 3 instâncias teve as sentenças anuladas por manobras e filigranas jurídicas e outro com uma conduta deplorável durante a pandemia, estimulando o descumprimento de normas recomendadas pela comunidade científica internacional. O Brasil, reconhecido mundialmente como modelo de vacinação corre o risco do retorno de doenças que estavam erradicadas".

Em função deste artigo entrei na famigerada "lista negra", tendo sido logo em seguida "inocentado", talvez por influência de alguém que leu e entendeu o conteúdo da mensagem.

Bolsonaro perdeu a grande chance de ser um estadista, ao optar por um discurso de ódio e confronto ao invés de procurar a conciliação e união de um país tão dividido ideologicamente. E Lula vai na mesma balada, com manifestações chulas, revanchistas e vingativas.

"O Tempora, o Mores" como já dizia Cícero. Parece que nesses 2000 anos não aprendemos nada.

Sugestão

Três anos de pandemia, no Programa Adelor Lessa do dia 20/03/2023, com a participação do Dr Renato Matos, Acélio Casagrande e Samuel Bucco. Imperdível. Ouça: 

 

Por Benito Gorini 23/03/2023 - 06:00 Atualizado em 23/03/2023 - 10:11

Herdeiros de Ian Fleming estão autorizando a revisão de seus livros, permitindo a substituição de termos considerados ofensivos pelos novos e chatos tempos “politicamente corretos”. O assunto provocou intensos debates, muitos favoráveis e julgando a medida ainda tímida, e outros frontalmente contrários argumentado que essa era a visão da época e que  alterações iriam  comprometer a compreensão e análise de um período histórico. George Orwell,  na visionária obra “1984” escrita no pós-guerra em 1949, já havia previsto isso. Fleming, autor dos livros sobre o agente 007, deve estar se revirando no túmulo. Mas isso não é novidade no mundo da arte. Biagio di Cesena,  mestre de cerimônias do  papa Paulo III,  criticou severamente o Juízo Final, afirmando que os nus  deveriam ser cobertos e que a obra-prima de Michelangelo na Capela Sistina  era mais apropriada para  banhos públicos e tavernas. O genial pintor se vingou, retratando Biagio no inferno com  orelhas de burro e uma serpente ocultando sua nudez e mordendo a região correspondente ao  pênis. Biagio se queixou ao papa Paulo III mas o pontífice se limitou a sorrir dizendo que sua jurisdição não se estendia até o inferno. Paulo III, da ilustre família Farnese, amante não só das artes (teve quatro  filhos e dois netos foram nomeados cardeais), não iria permitir tal afronta ao grande artista, que inclusive fora  encarregado da construção do magnífico Palácio Farnese, hoje sede da Embaixada da França em Roma.

Biagio di Cesena, retratado por Michelangelo no Juízo Final, na Capela Sistina
Paulo III com seus netos, óleo sobre tela de Ticiano no Museu Nacional de Capodimonte, em Nápoles

E os afrescos permaneceram. Mas não por muito tempo. O Concílio de Trento e a contrarreforma  trouxeram medidas extremamente conservadoras, reativando a inquisição e determinando regras nas produções artísticas. O papa Pio IV  em 1559 promulgou o “Index Librorum Prohibitorum”, uma enorme relação de livros proibidos pela igreja católica. O papa também ordenou que o pintor Daniele da Volterra   vestisse as “partes pudendas” do Juízo Final na Capela Sistina, alguns meses  após a morte de Michelangelo. Daniele passou para a eternidade com a alcunha “Il Braghettone”, o “veste as calças”.  Algumas esculturas anexas ao  “Cortile della Pigna” no Vaticano tiveram seus pênis decepados. Muitas obras de arte tiveram os órgãos genitais cobertos, geralmente com folhas de figueiras.  

O “Cortile della Pigna”, pátio interno dos Museus do Vaticano I Foto: Arquivo Pessoal

E o Terceiro Reich protagonizou episódio semelhante. Em 10 de maio de 1933 os nazistas queimaram livros em Berlim.  Heinrich Heine escreveu : “Isso é um aviso. Onde eles queimam livros logo estarão queimando pessoas”.  E infelizmente esses tempos sombrios, eivados de preconceitos,  intolerâncias e  inverdades nas redes sociais,  estão voltando.

Placa no Memorial dos Livros Queimados, na Bebelplatz, com a citação de Heine. O texto ao lado informa que estudantes nazistas queimaram livros de escritores independentes, jornalistas, filósofos e acadêmicos I Fonte : visitberlin.de

Sugestões

  • A Vida Sexual dos Papas, livro de Nigel Cawthorne
  • Santos & Pecadores – História dos Papas, livro de Eamon Duffy
  • Os capítulos “Os Segredos do Juízo Final” e   “Um Mundo Transfigurado”, do livro “Os Segredos da Capela Sistina”, de Benjamin Blech e Roy Doliner
Por Benito Gorini 15/03/2023 - 07:00 Atualizado em 15/03/2023 - 08:10

O Lago de Garda, o maior da Itália, é circundado por belas cidades que recebem um grande contingente de turistas, principalmente alemães e austríacos. Peschiera, Lazise, Bardolino e Malcesine, situadas no lado oriental pertencem ao Veneto. Torbole e Riva del Garda, no lado setentrional, estão localizadas no Trentino Alto-Adige e as lombardas Sirmione e Desenzano, no lado meridional. Mas a cidade mais impressionante é Limone sul Garda, na chamada Gardesana Ocidentale, também pertencente à Lombardia. É a minha preferida tanto que escolhi como local de pernoite nas duas edições do Giro Alpino, um tour de moto pelas principais estradas dos Alpes na Itália, Suíça, Áustria e Alemanha.

O Lago de Garda I Fonte: tuttogarda.it

Andar pelas ruelas ao lado do lago, repletas de lojas, bares e restaurantes e muito prazeroso. A cidade fica espremida entre o lago e a montanha, com desnível acentuando exigindo um bom preparo físico para enfrentar as fortes subidas como a que nos levava ao Hotel Castell, onde nos hospedamos nas duas ocasiões. A vista do terraço do hotel é magnífica, alcançando até a cidade de Malcesine, no outro lado do lago.

Hotel Castell, Limone sul Garda

As encosta repletas de limoeiros, somadas aos aromas das flores nas sacadas e dos sabonetes, sachês, doces, azeites e o famoso limoncello do comércio na beira do lago conferem a Limone um perfume indescritível. E coroando a visita para os amantes de duas rodas temos uma passarela com ciclovia literalmente pendurada na montanha, ideal para uma “passeggiata” no final de tarde, e a maravilhosa “Strada della Forra”, uma das mais impressionantes que já tive a oportunidade de percorrer nos meus passeios de moto. Churchill se referia a ela como “a oitava maravilha do mundo”. Enfim, uma cidade imperdível, mesmo para quem não gosta de motos ou bicicletas.

Passarela e ciclovia de Limone I Crédito: Osvy Bike

Strada della Forra I Fonte: EPIKDRIVES

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